sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Back To Square One

Estou evitando utilizar expressões estrangeiras nos meus textos porque nossa língua portuguesa (do Brasil!) é muito rica e consegue segurar a barra sozinha. Não gosto de ficar falando ou escrevendo em inglês à toa só para parecer culto que nem algumas pessoas fazem. Mas hoje farei uma exceção utilizando uma expressão em inglês. Caso contrário me igualaria aos gênios criadores de títulos de filmes traduzidos toscamente com adjetivos como “do barulho”, “da pesada” e similares que você já cansou de ver na Sessão da Tarde. Enfim, “back to square one” é uma expressão muito utilizada na língua inglesa que traduzida significa literalmente “de volta ao quadrado um”, voltar ao começo. Entendeu xongas? Deixe-me situar você melhor. Todo mundo já deve ter jogado algum jogo de tabuleiro na sua vida. Nesse tipo de jogo, começamos jogando na casa (ou quadrado) número um. A expressão se relaciona em parte, justamente com esses jogos de tabuleiro, cujo jogador em uma jogada de má sorte pode acabar vir a voltar uma ou mais casas, regressando até o ponto de início do pontapé inicial, o bendito “square one”. Tal situação deixa até mesmo o cara mais tranqüilo da galera, no mínimo, um pouco frustrado. A punição para o seu erro é começar tudo de novo. Não importando mais o que se conquistou no meio do caminho nem as acertadas jogadas anteriores; seu progresso anterior de sucesso é substituído por um reinício enigmático. Daí dias opções: fracasso ou sucesso novamente.


Mais um ano terminou e mais uma vez regressaremos ao dia primeiro de janeiro. Perdoe-me pela piadinha cretina, mas o que ocorre nessa hora é o grande Restart geral, o começar do zero de um ano novinho em folha que se aproxima. Só que no mundo real esse regresso não significa algo negativo como nos jogos de tabuleiro, embora sejam semelhantes. Afinal não temos certeza do que vai acontecer em nossas vidas no ano que vai chegar, assim como nos jogos não temos certeza do que vai acontecer. Ao contrário do descontentamento, causado pelo reinício de uma partida do zero, nessa época de final de ano todos costumam ficar mais felizes, mais esperançosos com o próximo ano que se aproxima. Tem novas esperanças, novos sonhos simplesmente por causa da transição de um ano para outro. Fazem promessas que não podem ou não irão cumprir. Todo ano eu prometo uma coisa ou outra para mim mesmo. Geralmente são promessas relativas a minha conduta pessoal. “Esse ano serei assim”, esse tipo de coisa. Como sei que não vou cumprir esse ano nem vou prometer nada. Chega de se enganar, chega de se iludir. Percebi que serei “Delocco” para toda vida e venho que me adaptando a isso. Mas pelo menos alguns dos meus pedidos se realizaram e estou feliz por isso.  Digamos que 1/3 dos meus objetivos pretendidos tenham sido realizados. Os restantes são relativos à fantasias eróticas e assuntos amorosos não resolvidos. Melhor mudar de assunto. Próximo parágrafo, por favor...


Eu parando pra pensar bem cheguei à conclusão que para mim nada muda de um ano para outro. Passaram-se mais 365 dias da minha vida, mas continuo o mesmo idiota de sempre, morando na mesma casa, na mesma vida, com a mesma conta bancária de R$ 0,00. Vejo todo mundo mudando. Amigos, inimigos, conhecidos, desconhecidos. Mas continuo aqui estagnado. Seria eu eterno que nem o Pelé?  


O tempo existe mesmo é nas cabeças das pessoas. Algumas lembranças minhas de 4 ou 5 anos atrás estão mais vivas do que lembranças mais recentes. O que é insignificante acabo esquecendo para não sobrecarregar o HD que chamo de cérebro.


Esse ano até que foi bacana. Se bem que depois do ano traumatizante que tive em 2009, qualquer coisa ruim que pudesse me acontecer nesse ano estaria preparado mentalmente para lidar com isso. Mas agradeço por isso nada disso ter acontecido esse ano. Não vou dizer que foi um ano maravilhoso e lindo porque não foi. Realidade nenhuma é só flores, sempre há os espinhos. Pior: por culpa minha. Continuei tendo algumas atitudes inexplicáveis que nem eu mesmo sei explicar a razão. Talvez por eu ser a maior parte do tempo irracional... Nas palavras de minha avó, tenho uns parafusos a mais e outros a menos.
2010 enfim vai embora. Exatamente há um ano atrás em 2009 eu dizia “já vai tarde, ano maldito escroto do carvalho”. Esse ano não poderia dizer isso. Até que gostei das minhas solitárias e desastradas aventuras, algumas aqui narradas, outras não. Gostei de todo conteúdo cultural que consegui absorver, seja ele proveniente de mangás, músicas, games, livros e até mesmo do mundo acadêmico (e olha que odeio estudar). E, sobretudo gostei das pessoas que tive a oportunidade de conhecer ou reencontrar esse ano. E foram muitas. Estava bem decepcionado com os seres humanos desse mundo e vocês me deram um pouco mais de fé e esperança na humanidade. Esperava em relação às pessoas que conheceria inevitavelmente esse ano, coisas bem piores. Que bom que eu estava enganado. Não sou o melhor amigo que vocês podiam ter, mas vocês sem dúvida são os melhores que eu poderia ter. Mais uma vez, coincidência ou não, em um ano de Copa do Mundo, consegui me reinventar (parcialmente, vai...) para melhor, devido à convivência com pessoas maravilhosas (incluindo até vocês desconhecidos do MSN) as quais fui apresentado pelo destino. Por isso vamos lá “back to square one” rumo a um novo e ao mesmo tempo mesmo mundo de sempre, das incertezas sobre coisas boas ou ruins nesse (espero) extenso jogo chamado vida. Obrigado a todos!

PS2: Esse texto além de ser o último do ano é o último dessa primeira temporada de Crônicas Faraônicas. Só voltarei a escrever em março, afinal vagabundo também tira férias... Muito obrigado por lerem minhas bobagens e nos vemos em breve. Abraços!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Destrinchando Medicina

Para quem não sabe adoro cultura japonesa e sou viciado em mangás há anos, os quais hoje em dia, por economia, leio on-line. Até assistiria animes na web (o que certamente me pouparia bastante tempo), mas como minha internet é discada seria uma missão bem difícil. Nesses dias eu estava procurando algum mangá diferente dos que leio atualmente (One Piece, Gintama, Bakuman, etc) para variar um pouco. Tive a sorte de encontrar Black Jack, mais longo e pessoal trabalho do lendário mangaka Osamu Tezuka, The God Of Manga, figura que popularizou os mangás, criando obras famosas como Astro Boy, Kimba o Leão Branco, A Princesa e o Cavaleiro, dentre outras. Há tempos estava procurando algum mangá do Tezuka para ler, mas por alguma razão provavelmente relacionada a direitos de propriedade intelectual, encontrá-los gratuitamente na internet e em algum dos dois idiomas que sei ler, sempre foi uma missão bastante complicada.
Enfim, tive esse oportunidade e não deixei ela escapar, já lendo o primeiro volume de mais de 200 páginas no mesmo dia em que o encontrei. Como eu disse no parágrafo abre-alas, esse é um trabalho bastante pessoal de Tezuka. Isso porque ele utilizou parte de sua experiência acadêmica (ele era formado em Medicina) para dar mais detalhes a história. Ótimo momento para falar sobre ela. Black Jack é um médico-cirurgião, considerado o melhor do mundo, que opera sem licença, cobrando preços exorbitantes pelos seus serviços. É um homem solitário marcado por inúmeras cicatrizes no corpo causadas por um acidente na infância, na qual a que mais se destaca é a cicatriz do seu rosto, que o divide, unindo sua pele natural a uma outra, de tonalidade diferente, tornando uma figura sinistra diante de desconhecidos que não sabem que na verdade ele é uma boa pessoa.


Os capítulos são muito independentes, não havendo muita ligação entre si. Como é um mangá médico, a cada historia apresentada ele trata de um  paciente com um diagnóstico diferente. Na verdade, pelo que li, todo dia acontece uma desgraça. Tezuka não poupa ninguém, acidentando crianças mulheres e idosos para colocá-los depois em uma mesa de operações. Black Jack até me fez lembrar dessa enxurrada de séries médicas da TV à cabo que temos hoje em dia, como a do doutor House, por exemplo. Será que os ocidentais plagiaram o grande mestre Osamu Tezuka? Só sei que Black Jack é bem mais antigo do que House.


Lógico que o mangá é bem mais fantasioso, como não poderia deixar de ser, mostrando o sucesso de cirurgias irrealizáveis na vida real. O que quero destacar na verdade é o ponto que esse tipo de narrativa é capaz de apresentar que é a experiência cotidiana de uma profissão bem delicada.
Meu ponto de vista sobre os médicos sempre foi bem definido: sempre os considerei como loucos. Loucos por lidar com uma profissão que brinca com a vida e quererem todo dia ir trabalhar onde a única certeza que você tem é que verá gente doente. Não é um jogo de azar; se lida com a morte de uma maneira que qualquer erro pode ser fatal. Trapalhão do jeito que sou nunca poderia seguir uma carreira dessas. Até por isso, antes mesmo de decidir de forma definitiva qual seria minha carreira profissional, prometi a mim mesmo que não escolheria nada que afetasse diretamente a vida das pessoas. Meus erros são muitos e eu não suportaria ter que lidar com a morte de terceiros por conta disso. Se fosse médico, na primeira perda humana que eu tivesse sobre minha responsabilidade, entraria em uma profunda depressão, mesmo sabendo que tivesse feito tudo de forma correta, tudo o que eu poderia fazer. Sou o tipo de gente que fica mais triste quando prejudica os outros do que quando prejudica a si mesmo. De certo modo fui altruísta, prevendo-me antecipadamente de realizar futuras cagadas. Renunciei a Medicina, preventivamente por covardia: nem quis tentar. Mas sei que é necessário que alguém exerça essa profissão.
Particularmente falando nunca fui um grande fã desse tipo de série médica, assim como as séries policiais. Isso porque elas sempre ficam mostrando o lado cru da vida; você sabe, antes mesmo de ver, que não irá assistir nada agradável visualmente. Aquele monte de gente fria e insensibilizada, cutucando e revirando defuntos, doentes e moribundos como se fosse a coisa mais normal do mundo. Em Black Jack, freqüentemente o protagonista pega o seu bisturi e corta os pacientes na sala operação como se estivesse destrinchando um peru de natal com uma faca de cozinha.


Só que a ficção ilustrando o cotidiano da vida de um médico acaba nos deixando com o tempo, mais acostumados com esse tipo de situação. Pessoas sadias feito eu, que raramente ficam doentes e justamente por isso, não freqüentam regularmente os hospitais, ficam um tanto chocadas por verem sangue, tripas e viscosidades. Para nós é um espetáculo grotesco do qual queremos distância. Mas para o pessoal que trabalha com isso tudo é perfeitamente normal, fruto do seu cotidiano característico de ambiente de trabalho. Com a ficção, o choque inicial de certa forma vai-se diluindo com o tempo. Vamos nos adaptando à aquela realidade. Acredito que na vida real também seja assim; os médicos novatos devem tomar um susto inicialmente, mas com o tempo se acostumam. Aí começa a perda de sensibilidade.
Lendo percebi o quanto nós seres humanos somos frágeis. Não quero deixar ninguém com paranóia, mas os tipos de situações de vida ou morte causadas por enfermidades ou acidentes podem ocorrer a qualquer momento com qualquer um de nós. Deveríamos, desde já nos acostumar com elas.  Afinal de contas, de outra forma não morreríamos.
Aí entra o prestígio do médico. Diferente de nós eles não tem escolha. Tem que lidar com a vida e a morte e interferir, de preferência a favor da vida. Não podem se recusar e nem ter “nojinho” de qualquer besteira que possa surgir durante o procedimento. Não sou ingênuo. Sei que nessa profissão não existe só o heroísmo; tem quem a escolha por causa do dinheiro e do prestígio social que ela oferece, assim como na advocacia. Mas há quem escolha ser médico porque sabe que o que faz é algo importante, uma profissão bonita que exige muito amor para realizá-la. É uma profissão que se diferencia das demais porque permite que pequenos e grandes milagres aconteçam. Algumas doenças até se curam sozinhas pelo nosso organismo, mas outras exigem intervenção médica, caso contrário a sentença de morte é certa. Consigo imaginar a humanidade sem inúmeras profissões, inclusive algumas acadêmicas, mas jamais incluiria nessa lista a medicina. Não é fácil se tornar médico e aos olhos de meros mortais que não agüentam ver gente doente como eu, seria uma profissão bastante incômoda que afetaria o bem estar psicológico de nossas vidas pessoais, mas enfim: cada um sabe bem o que faz e felicito as pessoas que escolheram a medicina pelos motivos certos. Obrigado doutor Osamu Tezuka por me mostrar tudo isso através de suas histórias de desenhos simples e narrativas dotadas de grande sensibilidade e humanidade. Mesmo após mais de 20 anos de sua morte o grande mestre ainda tem lições para nos ensinar e de certo modo me curou, fazendo-me refletir sobre certas coisas. Descanse em paz, onde quer que você esteja.


PS: Leia o mangá Black Jack on-line (em inglês) aqui:
Até compraria mas não lançaram aqui no Brasil...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natais Cruéis

Enfim chegou mais uma vez com toda intensidade a época do Natal. O que me inspirou para escrever esse texto foi um comentário feito pela minha avó há semanas atrás. Acontece o seguinte: todo ano, a televisão em dezembro mostra aglomerações de pessoas saindo às ruas para comprar os seus presentes. Sobre isso, minha avó falou o quanto é irritante ter que ficar assistindo isso, quando sua situação financeira não lhe permite comprar tanto ao até mesmo não lhe permite comprar nada. Na verdade, há tempos atrás já havia pensado a respeito disso. Esse comentário da minha avó me permitiu lembrar e refletir, fazendo uma abordagem mais profunda sobre a temporada natalina na nossa sociedade. Isso com a minha pseudo-seriedade de sempre é claro.


Semana passada, fui um desses abilolados que sai na rua para comprar presente. Como sei que ninguém vai me dar nada fui comprar algo para mim mesmo, como de costume. Brincadeira... Explico melhor. O que acontece na verdade é que todo ano minha mãe me dá uma grana para comprar um novo par de tênis e umas roupas novas. Então de certa forma ganho um presente de alguém; um dinheiro que serve para comprar um presente. Se dependesse só de mim eu não compraria nada, não por avareza, mas por viver liso, de bolsos vazios e acabado, não só nessa época como no ano inteiro..


Deixe-me continuar a narrar minha pequena aventura que se reprisa todo fim de ano. Minha missão nesse ano, mais uma vez, foi comprar uma calça e um par de tênis para mim mesmo. Aí aconteceu o mesmo problema de sempre: as lojas em que eu ia não tinham o meu tamanho. O que isso acarreta é que fico estressado e compro logo as primeiras coisas que servem em mim. Como eu disse outra vez aqui nesse mesmo blog, certas pessoas devido ao seu corpo, digamos mais avantajado, não têm direito de escolha, ou compram as poucas opções que as lojas oferecem ou não compram nada. Parece até que eles querem que andemos pelado e descalços. Indiretamente, toda loja de departamentos é preconceituosa. Parece que o tempo todo o que eles querem dizer, exibindo tamanhos e modelos minúsculos é simplesmente “Você é gordo, vá emagrecer para comprar aqui!”.
Esse ano nessa minha jornada, não fui em nenhum shopping para não ter que ter o desprazer de ver o Papai Noel. Para mim a imagem que ele representa hoje em dia é a de um velho cruel, safado e desgraçado. Usa roupas vermelhas quando deveria mais era usar roupas verdes. Segundo a Wikipédia verde até era a cor original das suas roupas (e a mudança não é culpa do Coca-Cola. Wikipédia me educando...). Sendo vermelho a cor do comunismo e verde a cor do dinheiro acho que combinaria melhor porque de comunista o Natal não tem nada. Se fosse para ser assim o Karl Marx nesse quesito faria um cosplay perfeito de São Nicolau, fantasiado de vermelho. A barba pelo menos seria natural.


Como deu para perceber tenho enorme antipatia com o “bom velhinho”. Não gratuitamente, claro. Tenho uma historia traumatizante que justifica esse meu desprezo. Lá nos anos 90, quando eu era um ingênuo menino que queria salvar o mundo, fui no shopping e encontrei o Papai Noel com aquela longa barba branca e vestindo os trajes vermelhos característicos. Hoje em dia sinto até pena desses senhores. Ficar vestido dessa maneira, em pleno verão carioca é puro heroísmo. Um Papai Noel brazuca deveria andar de bermuda e óculos escuros. Tudo culpa do imperialismo cultural. Lojas com enfeitadas com bonecos de neve, pinheiros de Natal, roupas de lã. Só eu percebo que a gente mora no Brasil e aqui não tem nada disso? Deveria ter coqueiro de natal e não pinheiro por essas bandas.
Voltando ao assunto, como sempre, havia me comportado o ano inteiro como um bom menino e estava ansioso pela recompensa. Sentei no colo dele (sem piadinhas, por favor. Todo mundo já fez isso) e ele perguntou o que eu queria ganhar de Natal. Eu falei que queria um Nintendo 64, na época o videogame mais badalado do momento. O coroa olhou nos meus olhos e disse que eu iria ganhar um na manhã de Natal. Pior que acreditei. Quando acordei na manhã de Natal, nada de Nintendo 64: ganhei um daqueles minigames de pilha. Desigualdade social me ownando novamente... Tudo bem eu não ter ganhado, mas porque mentir para uma criança? Papai Noel malévico, mentiroso. Talvez, por isso hoje em dia eu seja tão revoltado.


Eu não vou à igreja há dois anos, mas pelo que me lembro o Natal serve para celebrar o nascimento de Jesus Cristo. As pessoas (nas quais eu me incluo) parecem que se esqueceram disso. Só se importam com presentes e com a comilança, quando na verdade deveriam estar celebrando a paz.
Hoje para o encerramento não irei dar uma mensagem moralista como de costume, porque eu sei muito bem que vocês assim como eu, não irão mudar. Consumismo natalino vai existir sempre assim como os seus valores desvirtuados do sentido original das festas. O que tenho para dizer é aproveite bem essa época. É tempo de estar com a família e amigos e celebrar. Mensagem final dada. Agora peço licença para sair porque provavelmente, como todo ano faço, vou ficar aqui em casa me empanturrando, comendo pra caramba até passar mal e esperar passar filmes de Natal que gosto muito como O Grinch e O Estranho Mundo de Jack (adoro as músicas desse filme). Bom Natal ou bom Chanukah se você for judeu (só conheço essas duas celebrações, perdão as outras religiões). Enfim... Boas festas a todos!

PS: Uma tirinha natalina do site Malvatrix de presente para vocês.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Tirando O Foco Do Principal

No ramo do entretenimento geralmente as mídias focalizam em uma só pessoa, para simplificar o processo de assimilação visual e criar uma identidade clara para o produto oferecido. No cinema e no teatro sempre está lá aquela pessoa chamada protagonista, cuja história da trama gira ao seu redor; o resto são apenas coadjuvantes orbitantes. Na televisão o apresentador comanda um programa atraindo toda a atenção para si, observando de forma panorâmica o conteúdo que seus assistentes (repórteres, por exemplo) tem a oferecer para complementar a sua atração, seu espetáculo. No ramo da música, geralmente essa pessoa de maior visibilidade é o vocalista, o frontman da banda. Ele que é o porta-voz e dá mais entrevistas, o que aparece mais nos videoclipes e o que é mais famoso (por isso, costuma a ser o mais “pegador”). Guitarristas vêm em segundo lugar. Baixistas e bateristas, coitados, raramente um fã não muito ardoroso conhece o seu nome. Como a desciclopédia diz  "o baixista (como se chama o cara que toca a guitarra de 4 cordas) está sempre (ou quase sempre) acompanhado de seu grande amigo baterista, que como ele, é inconformado por nunca aparecer em nada". Acho até que os baixistas são menos percebidos do que os bateristas, por causa do instrumento que tocam. Até eu admito que somente recentemente consegui enfim escutar o som do contrabaixo nas músicas que mais gosto. Tem bandas cujo som desse instrumento passa inaudível devido a distorções na guitarra e batidas alucinadas na batera. Pobres baixistas...


Lógico que há exceções. Sei muito bem que há casos em que a atenção entre todos os componentes de uma equipe é distribuída, digamos, mais democraticamente. Mas consideremos hoje especificamente situações como as que eu apresentei no parágrafo anterior.
Eu como sou um ser do contra desde sempre, tinha e tenho certa aversão aos artistas ou personagens principais. Sempre achava eles muito chatos, muito idealizados e certinhos. Em Cavaleiros do Zodíaco, por exemplo, eu como outros milhares de outros fãs odiava o Seiya; queria mesmo que o Saga matasse ele, tanto que “Morra Seiya” virou bordão de muita gente (como eu). Dentre os cavaleiros de bronze meu favorito era o Ikki. Tipicamente um representante da categoria anti-herói, que luta pelas suas próprias razões pessoais e não para salvar a terra ou algo do tipo. O Vegeta de Dragon Ball Z também se inclui nessa categoria. Era mais fã dele do que do Goku, embora não o odiasse assim como o Seiya. Interessante do Goku é que ele em dado momento da série perde a importância; Gohan vira protagonista, mas como o Goku era mais popular o Akira Toriyama resolveu colocar o foco nele novamente.


Agora falemos da música em particular. Como eu disse acima o vocalista geralmente é o líder da banda; os holofotes caem sobre ele e os outros membros ficam na penumbra. Em algumas bandas o vocalista principal até é o meu favorito em outras nem tanto. No Blink-182, por exemplo, sempre gostei mais do Mark Hoppus (baixista) do que de Tom DeLonge (guitarrista) nos vocais. Tudo bem que em algumas músicas o Hoppus faz a voz principal, porém na maioria delas quem faz isso é o DeLonge. Gosto dele também, mas sua voz é meio irritante e aguda demais. Por isso, quando eles se separaram eu ouvia mais +44 (banda do Hoppus) do que Angels and Airwaves (do Tom). No Linkin Park também para mim acontece algo semelhante; prefiro mais a voz do rapper Mike Shinoda do que a do Chester Bennington. Tanto que dos projetos paralelos à banda me tornei fã do Fort Minor de Mike, enquanto que até hoje não ouvi Dead by Sunrise do Chester. Não sou muito fã dos seus berros histéricos característicos. Deu para perceber que eu me amarro em uma segunda voz, mais tranqüila.


Minha lista de exemplos continua com bandas como Rage Against The Machine e System Of A Down, mas vou parar por aí porque pretendo mudar de assunto. Com toda essa atenção tal pessoa, tão visualizada, acaba se achando muito mais importante do que os demais. Um claro exemplo é o do surgimento de carreiras solos dos artistas que pertenciam a um grupo. Eles geralmente usam o argumento de que carregavam os companheiros nas costas, chamando-os de oportunistas o que nem sempre é verdade; todos participam de uma banda, mas infelizmente a imagem do vocalista é muito importante para a identidade do grupo, sem ele o grupo perde gradativamente sua popularidade. Um dos poucos grupos que eu acho que a vocalista merece somente uma carreira solo é o das Pussycats Dolls. Nem sou muito fã (no sentido de acompanhar as músicas) mas pelo que vejo, dava a impressão que só a moreninha (Nicole... alguma coisa) cantava, enquanto as outras apenas ficam rebolando de forma coreografada. Aí sim: uma debandada por parte seria plausível.


O que dá para concluir é que nós temos possibilidade de escolha; podemos focalizar em quem bem quisermos independente do que a mídia determina. Nossos favoritos, por serem secundários, podem aparecer menos, mas cada aparição deles é bastante significativa para nós. Existem vários exemplos de coadjuvantes que conseguiram o estrelato porque tiveram a oportunidade de ingressar em uma empreitada solo. Isso devido a um reconhecimento do público que foge dos padrões hegemônicos que determinam o que é popular. Por isso, caros secundários os saudamos!

PS: Detalhe que a primeira foto do texto foi dificílima de encontrar. Coloquei juntos no Google os nome do baterista Tré Cool e do baixista Mike Dirnt da banda Green Day e a maioria das fotos que apareceram tinham o vocalista Billie Joe Armstrong no centro como intruso. Como eu disse: em uma banda tirando o vocalista, os outros são meros coadjuvantes sem espaço próprio. Acontece...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Eternidade

Não irei falar neste texto sobre a eternidade no sentido religioso de vida após a morte. Até onde sei, nunca morri para ter a capacidade de comentar o pós-vida detalhadamente e muito menos sou um médium como o Chico Xavier, que conversava com espíritos desencarnados. Acho até muito bonito esse tipo de eternidade que ultrapassa a vida terrena e com freqüência aparece em canções relacionadas ao amor, como em Eien do L’Arc~en~Ciel. Na prática o “para sempre” para certas pessoas não duram nem alguns meses. Bom, o assunto que pretendo explanar nas próximas linhas refere-se à eternidade mundana entre os homens. A possibilidade de vida eterna (sempre que escrevo “vida eterna” lembro do Mumm-Rá dos Thundercats...) na terra e as suas conseqüências. Agora que já foram fornecidas as devidas explicações iniciais, vamos ao que interessa.
Em um certo de dia de 2009, ano em que eu praticamente vivi “exilado” do imaginário social trancafiado dentro de casa, assisti a um vídeo musical do anime One Piece. Antes que você torça o nariz, fazendo comentários como “anime é coisa de criança” saiba que isso não é bem verdade. Já li e assisti capítulos de diversas séries nipônicas que muito bem desempenharam o papel de apresentar à um público leitor jovem, ainda em formação moral, situações  que levavam a uma reflexão séria sobre coisas importantes relacionadas a vida. Coisa que muita novelinha besta que a gente, povo, teve o desprazer de assistir, diz fazer, sendo que o interesse é outro. Por mais fantasiosas ou fictícias que sejam as histórias de mangás, extraio muitas lições desse tipo de mídia e reflito sobre elas também. Se o conteúdo é bom isso deveria bastar, mas infelizmente existe o preconceito. Não digo que anime é coisa séria, porém não é feito somente de infantilidades o tempo todo.
Voltando ao assunto, lá estava eu, em um pleno dia de meio de semana sozinho em casa, quando resolvo entrar na internet e assistir ao tal vídeo. Na verdade eu somente queria ouvir a música Bink’s Sake (Saquê do Bink’s), cantada pelo esqueleto Brook, só que acabei me envolvendo com a história por trás da música e corri atrás de mais informações. Nesse mundo frenético em que vivemos, nunca temos tempo para nada e é costume nosso apreciar o entretenimento de forma fragmentada, só que dessa vez me permiti envolver-me mais com aquilo que estava assistindo. Como é característico dessa série, a maioria dos personagens apresentados tem um flashback que mostra uma história de seu passado, geralmente não muito feliz. Nesse caso não era diferente. Comendo a fruta Yomi Yomi no Mi, Brook ganhou o poder de se tornar um imortal, um morto vivo capaz de voltar a vida depois de ser morto (fui redundante demais nessa minha explicação?). Em meio às aventuras pelo oceano, a tripulação dos Piratas Rumbar, do qual era Brook era membro, acabou adquirindo uma doença letal que aos poucos foi matando um a um, até restar somente ele, que por ser imortal não podia morrer. Como todos sabiam o que lhes esperavam, resolveram morrer cantando a tal música e de forma tocante o imortal chora olhando seus companheiros falecendo diante de seus olhos.


Até esse dia eu sempre enxergava a imortalidade mais pelo aspecto positivo de viver para sempre do que pelo negativo. Não que eu tivesse um desejo de viver eternamente só que enxergava a questão por esse lado e mudei de lado, prevalecendo desde então o aspecto negativo. É fácil enxergar o beneficio da eternidade que é o de ter esse privilégio de viver para sempre. Mas pensando melhor não é nenhum privilégio assistir, todo mundo que você verdadeiramente aprecia, morrendo. O fato de que todo mundo morre um dia de um certo modo pode vir a ser um consolo para aqueles que crêem em algo além da vida na terra. Viver eternamente seria terrível por ter de se viver eternamente só. Com o passar do tempo, o tal imortal perceberia que a melhor forma de não se entristecer continuamente, seria evitando fortes relações com outras pessoas porque ele saberia que ele assistiria o seu fim. Levar tamanha carga emocional consigo seria bem difícil.
Sei que a temática da vida eterna não foi exclusiva de One Piece e que já foi usada em um monte de filmes, séries e livros. Justamente por isso meu temor é a glamourização desse tema. Eternidade seria boa se repartida com as pessoas que você ama, e mesmo assim seria ainda ruim pela aura egoísta que uma idéia como esta forma compartilhada sugere. Nem sempre isso é bem definido em tais obras. O que acho legal é quando caracterizam fisicamente esse tipo de personagem de uma forma deteriorada, com marcas do tempo ou mostrando-o não de uma forma bela, como monstros. Davy Jones que o diga. Yohohoho!


PS1: Citei a música Eien do L’Arc~En~Ciel porque “Eien” significa eternidade, palavra que me inspirou para escrever algo hoje. Nada mais justo do que uma homenagem. Clicando aqui dá pra ler a tradução. Não vou dizer onde baixar, porque se você ainda não sabe onde procurar músicas na internet, és muito burro! Brincadeira...

PS2: Rumbar Pirates in memorium. Abaixo o link da sua última canção juntos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Maldito Mercado De Trabalho

Quem quer dinheiro? Eu não. Se minha opinião valesse alguma coisa e eu pudesse mudar, ou melhor, extinguir o uso das moedas para trocas comerciais, eu o faria.
Odeio o dinheiro de muitas formas. Ele corrompe as pessoas fomentando a ganância, um germe invisível que faz com que um homem perca os seus escrúpulos e passe por cima dos outros para ter sucesso em suas ambições pessoais. No entanto, o que mais odeio no dinheiro é ter que precisar dele, mesmo não gostando.
Como sei que não posso mudar o mundo tenho que me adequar a ele. Infelizmente sou um ser humano e meu corpo exige certas coisas para um bom funcionamento biológico, físico e mental, como comer e dormir. Por isso, como qualquer outra pessoa, preciso trabalhar para arrumar dinheiro.


Sou um preguiçoso profissional. Sinceramente detesto trabalhar, mas sei que é necessário. Chame-me de vagabundo se quiser. Não ligo. Não acredito que o objetivo de nossas vidas seja trabalhar e ter sucesso profissional. Pouco me importo em ser patrão ou empregado no futuro. Não serei aquele que para se definir usa como identidade o seu ofício. Sei muito bem quem eu sou; não será um diploma ou título que me definirá. Se trabalho é para viver, não vivo para trabalhar. Isso se eu trabalhasse...
Culpa do maldito mercado de trabalho. Assim como nas relações sociais tenho dificuldades em me adaptar a ele. Vivo em um círculo vicioso. Não consigo emprego porque não tenho qualificações e não tenho qualificações porque não arrumo um emprego que me permita pagar por elas. Empresas desgraçadas. Pedem experiência para tudo. Até hoje tento descobrir como uma pessoa se torna digitadora. Todas as vagas que vi até hoje na minha vida pedem experiência de pelo menos dois anos. Certas contratações fazem exigências surreais. Outro dia eu vi uma vaga de garçom bilíngüe. Sem querer menosprezar o nobre ofício de servir mesas e atender clientes, mas duvido que uma pessoa que fale duas línguas se interesse por tal serviço. Pelo menos por um longo período.
Essa exigência de pleno conhecimento de um idioma estrangeiro foi algo que sempre me irritou profundamente. E não vejo nenhuma inquietação das outras pessoas em relação a isso. Será que é um (mais um) incômodo exclusivo meu? Amo outras culturas como a estadunidense e a japonesa, só que acho muito radical não contratar pessoas por desconhecerem tais idiomas. Afinal moramos no Brasil! Falamos a língua portuguesa! Porque isso não é o suficiente? Será que tais vagas realmente necessitam de um exímio bilíngüista? Ou seria apenas capricho dos headhunters corporativos a fim de afunilar ainda mais o processo seletivo?
Eu nem consigo imaginar como essas pessoas vivem. Eu não suportaria ter uma profissão desse tipo, que barra as pessoas. “Você vai. Você não vai. Você passou. Você não”. Eu iria me sentir culpado por ser o responsável por acabar com as aspirações profissionais de uma pessoa de imediato. Trabalhar recrutando pessoas deve ser difícil embora não pareça. Dizendo não você deixa a pessoa magoada. E a responsabilidade pelo encaminhamento fica por conta dos recrutadores; caso não de certo a responsabilidade fica por conta de quem indicou. Dependendo podem até perder os empregos por causa de uma má indicação. Como que essas meninas de Rh vivem sorrindo?


Outra coisa que me irrita são as qualidades pessoais que eles exigem. Não é segredo que o mercado de trabalho é preconceituoso em relação a critérios físicos e de comportamento. Evitam negros, idosos, favelados, homossexuais. Quando falam que é preciso boa aparência, nem faço o esforço de comparecer a tal entrevista. Fora de forma, cravos e espinhas no rosto cara, cabelo natural descabelado... Preciso dizer o porquê do meu não comparecimento? Você pode ser o cara mais eficiente do mundo mas se aparecer em um entrevista que nem o Nick Nolte nunca será contratado. O mundo é de aparências.


Outro dia vi um documentário no qual um jovem do tráfico falava que o mercado de trabalho o discriminava. Pura verdade. Se a pessoa chega falando com todo aquele vocabulário e entonação, típicos do cotidiano da favela, certamente é menosprezado e não consegue emprego. Falam tanto em diversidade, mas não a aceitam no dia-a-dia. Quer um exemplo? Assista os noticiários da noite na televisão. Todos os profissionais falam como, genuinamente, pessoas brancas paulistanas. Você pode ser nordestino, mas se tiver o sotaque da sua terra natal sem chance de ganhar espaço em rede nacional.
Perdoe toda a minha raiva. Esse texto foi escrito em uma semana que começou muito mal. Acordei seis da manhã (uma verdadeira odisséia pra um dorminhoco feito eu), fui no centro às oito da manhã procurar trabalho, a entrevistadora chegou atrasada, me deu encaminhamento para um shopping na Tijuca no mesmo dia, fui lá, aguardei a outra entrevistadora, que chegou atrasada (para variar), fui atendido às quatro e por fim não fui contratado, mais uma vez. Incompatibilidade com meu horário na faculdade. Perdi um dia de aula por conta disso e voltei para casa a pé, da Tijuca até São Cristovão. Afinal estou falido e sem paitrocínio; as passagens de ônibus pesam no bolso. É preciso economizar. Enquanto a sociedade não se ajusta à vida simples de pegar fruta no pé e beber água no rio, devo me ajustar a ela. 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Não Há Lugar Melhor Que O Nosso Lar

“Não há lugar melhor que o nosso lar” é uma conhecida frase dita pela Dorothy no filme “O Mágico de Oz” de 1939. Faz tempo que vi esse filme, mas pelo o que me lembro ela diz isso quando finalmente regressa a sua casa após as suas peripécias em um mundo de fantasia. A conclusão é clara: o conforto de nossa casa é inigualável.


Todo mundo sente isso. Pessoas que permanecem muito tempo em um mesmo local, criam um elo com ele e sentem que o tal lugar faz parte delas. Sem o seu cantinho especial se sentem incompletas e esse laço dificilmente é rompido.
Na série de mangá e anime Naruto esse elo é muito bem explorado. Ocasionalmente, algum personagem ressalta a importância de defender a Aldeia da Folha, onde residem as pessoas que eles tanto amam. A devoção é tanta que os ninjas se sacrificam para proteger aquela terra. O valor que dão ao seu lar é manifestado pela força bruta, mas nem por isso é menos significativo.


Obviamente eu não sou um ninja, nem mesmo um desenho animado. Não chegaria a tais sacrifícios. Mas de uns tempos para cá percebi algo. Morei toda a minha vida em São Cristóvão. Melhor dizendo: vivi toda a minha vida em São Cristóvão. Lógico que eu já fui a outros bairros, mas eram ocasiões especiais. Não faço idéia de como é morar em outro lugar. Estudei a vida toda aqui, do C.A. ao último ano de ensino médio, sempre fui nos hospitais daqui, etc.
E o que dizer das pessoas? Tem gente que nem conheço pessoalmente, mas que reconheço de vista e vi crescer. Provavelmente alguns me reconhecem também, só de vista. Pra quem não sabe, meu bairro fica na zona norte, próximo ao Centro e o Maracanã. Como bairro da zona norte dá pra imaginar os tipos físicos da maioria das pessoas que aqui habitam: gente feia, descabelada, sem maquiagem, sem roupa de grife, de espinha no rosto e por aí vai. Não que pessoas de perfil semelhante sejam exclusivas dos subúrbios. Só que, e acredito que você vai concordar comigo, na zona sul os habitantes têm uma aparência melhor. Aquelas pessoas que são sempre representadas nas novelas: gente bonita, sarada, bem vestida. Entenda-me que não guardo nenhum tipo de rancor com um grupo de pessoas específico sem conhecê-las antes. Em outra palavras procuro dar uma merecida chance ao ser humano. Não sou um maldito segregador. Afinal no fundo somos todos humanos apesar das inevitáveis diferenças. Mas que há uma certa divisão do rio entre elite e povão isso há e negar isso seria tolice.
Quando saio da faculdade, que fica na zona sul e entro no ônibus 472 (que nunca para no ponto...) meio que já me sinto em casa. As pessoas da zona norte são mais feinhas mais são mais calorosas, simpáticas, engraçadas e carismáticas. Sem preconceitos quanto aos “sulistas” mas é o que eu penso, na minha simples e modesta opinião que não tem citação de nenhum filósofo francês.
Às vezes eu penso no meu futuro. Amo minha cidade, meu bairro, minha rua (bom, a rua nem tanto assim... Vizinhos desgraçados!) só que acho que se pudesse optar, não construiria uma família aqui no Rio. Do jeito que estão as coisas fica difícil se sentir seguro. Os problemas vocês sabem quais são: as drogas, a violência urbana, o congestionamento no trânsito e outros transtornos cotidianos na capital fluminense. Por causa de tais motivos, ambiciono há tempos uma vida pacata interiorana no futuro. Até contasto isso pelo MSN quando teclo com algumas garotas do interior. Elas por alguma razão sobrenatural são gatíssimas e me entendem. Mundo injusto...
O interior combina mais com a minha personalidade. Sempre me senti um peixe fora d’água por essas terras cariocas. Lugar de samba, funk, gente descontraída e praieira, características que não fazem parte do meu ser. Sinto-me a antítese de um carioca genuíno, um eterno desajustado. Não que as pessoas me tratem mal e que eu as considere como inimigas, mas me aparentam ser tão diferentes de mim que fico me sentindo mal com o mundo que me rodeia.. Parece até algum tipo de maldição que todo escritor tem, ser introvertido e desajustado. Vá entender o porquê. O lado ruim é que eu não ainda não tenho sucesso. E duvido que irei ter algum dia...
Deu pra entender que meu problema é mais com as pessoas do que com o lugar. Não significa dizer que odeio todo mundo e que desejaria esquecer a vida que aqui tive. Verdade seja dita: eu não seria o mesmo cara que sou se não tivesse morado a vida toda em São Cristovão. As experiências foram únicas, guardo com carinho até as piores delas e esse tipo de memória se incorpora na gente. Como disse antes, minha vida toda girou por essas bandas. Fui assaltado na rua General Argolo e atropelado por uma bicicleta na Quinta da Boa Vista, por exemplo. Todas as minhas aventuras por mais patéticas, desastrosas e até raramente felizes que tive, se encerravam por aqui no caminho de volta para casa. Esse ano, quando olhei a capa do CD Recovery, novo disco do rapper Eminem, na qual aparece ele caminhando solitariamente em uma estrada, fiz logo a associação, me imaginando andando pela rua São Januário após um longo dia cansativo. A caminhada por uma lonely road é um símbolo clássico do retorno ao lar ao qual pertencemos.


Meu bairro esteve comigo em todos os meus momentos. Aconteça o que acontecer no futuro, estará para sempre guardado em meu coração. Por isso digo; te amo, imundo bairro da zona norte com nome de santo. Para onde quer que a vida me leve eternamente serás meu porto seguro.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Al Pacino

Na televisão, principalmente na TV aberta, quando a programação anuncia algum filme que será exibido na emissora, usa-se o recurso de mencionar quais as estrelas estarão presentes na atração. Eu nasci nos anos 90. Minha bagagem cinematográfica foi construída assistindo Sessão da Tarde e Cinema em Casa. Não tinha vídeo, nem DVD, nem TV à cabo e ia pouco ao cinema. Conseqüentemente, na minha infância fiquei refém das atrações de tais programas: filmes das décadas de 90 e 2000 e alguns clássicos da década de 80. 
Naturalmente uma pessoa acompanha a carreira dos astros nas décadas em que ela vive. Sabe que tipo de filme um ator costuma fazer. Um moleque dos anos 80 sabia que Stallone era ator de ação e dos anos 90 sabia que Jim Carrey era ator de comédia. E eram bons nisso. Só que antes deles já existiam outros atores talentosos com papéis esteriotipados ou não.
Voltando aos comerciais, o que sempre me causou estranhamento eram aqueles atores mais velhos que passavam dos 50 anos, que apareciam como atração nos comerciais e tinham geralmente participação mínima nos filmes. O passado de sua carreira é que salvava o seu nome e resgatava a memória dos programadores das emissoras. Eu sempre me perguntava "quem é esse cara?"
A mídia privilegia a juventude, os rostos jovens, bonitos, corpos sarados. Como se o mundo só fosse formado de pessoas assim. É só olhar os comerciais de televisão. Quando se envelhece perde-se espaço. No cinema isso significa participações especiais menores, papéis menos intensos ou secundários. Quem no passado interpretava a donzela se torna a matriarca; o policial torna-se comandante e por aí vai. Os papéis naturalmente mudam, amadurecem de acordo com a idade do ator que passa a interpretar de acordo com sua aparência física.
Al Pacino para mim até metade da minha adolescência era o cara que interpretava Satanás em O Advogado do Diabo e um diretor de cinema em S1m0ne. Filmes de 97 e 2002 respectivamente. Percebe? Para mim a imagem de Pacino estava associada a esses filmes porque eu era nascido nesta época. Gostei dos filmes, mas nem de longe são os melhores dele. O auge do velho Al foram os anos 70 e 80. Graças ao canal TCM, tive o privilégio de assistir ao "Classic Pacino"  em filmes como Serpico, Um Dia de Cão, Justiça Para Todos, Scarface. Filmes de interpreações intensas em que você não consegue tirar os olhos da tela.Virei fã sem perceber. Impressionante o carisma dele interpretando personagens incomuns que em certos casos eu até me identificava. Em alguns desses filmes Pacino é aquele cara que tem ética, faz as coisas de forma correta, mas que sofre porque as pessoas ao seu redor são incapazes de enxergar o correto a ser feito, se acomodando a corrupção policial ou a morosidade do sistema judiciário, por exemplo. Ao contrário de mim que me controlo, ele surta nos filmes e me serviu de inspiração nestes momentos.




Sei que ele é apenas um ator e acredito que não colaborava para a criaçao dos personagens. Mas as interpretações são magníficas e se conectam de certo modo. Após ver alguns filmes de Pacino você percebe alguns traços típicos de seus personagens. O carisma, o sarcasmo, os palavrões. Coisas que o caracterizam e lhe atribuem ares únicos. O que me chama a atenção é o descontentamento. Acho que todo mundo que se importa com algo de verdade sente isso. Quer mudar o mundo e torná-lo um lugar melhor e não consegue. como eu disse anteriormente Pacino el algum momento surta e começa a gritar falando alto um monte de verdades. Situações de protesto que mostram o quão ridícula e hipócrita é a nossa sociedade. Barbarizar às vezes é a unica forma de atingir os bárbaros.
Queria eu brincar de Al Pacino algum dia na vida real. Sem as armas, claro. Os gritos e palavrões me seriam suficientes.



PS: Não mencionei o Poderoso Chefão de propósito. Na trilogia, o Michael de Pacino não era o meu personagem favorito. Meus prediletos eram o Don Corleone e o Sonny. Pena que morreram no primeiro filme...



PS 2: Para quem pretende atuar que nem o tio Al aí vai uma dica de site que explica direitinho o método de atuação. Está em inglês, mas vale a pena.
The Al Pacino Academy of Shouting

PS 3: Algumas cenas de Pacino que adoro:
Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon)
Attica! Attica! Attica!
Justiça para Todos (... and Justice For All)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Dizer O Que Se Pensa

Comunicar-se oralmente é uma das maneiras mais comuns que o ser humano utiliza para se expressar. Não é a única. Pode-se observar que a expressão de idéias e sentimentos manifesta-se em outros meios diversos, tais quais as artes plásticas, a música, a escrita etc. Há algo em comum, decorrente da nossa racionalidade: antes de tudo, pensamos. Não importa que a duração de nossos pensamentos ocorram em poucos segundos. A expressão não é algo imediato, automático. Sabendo que temos o direito de livre expressão, é necessário pensar duas vezes antes de manifestar publicamente o que se tem a afirmar sobre qualquer coisa.
Recentemente pudemos acompanhar pelos noticiários, um episódio lamentável. Após a vitória de Dilma Rousseff ao cargo de presidente da república, uma estudante de direito, via Twitter, incitou a violência contra nordestinos, responsabilizando-os pela vitória da presidenta eleita. Tudo bem a garota ter se indignado com tal vitória e expressar sua opinião contrária ao governo atual. O que não pode acontecer é ser ofensivo contra alguns grupos regionais, por puro preconceito e ignorância. Na verdade, creio que várias pessoas concordam com a opinião dessa pessoa. Sem querer, a estudante virou uma porta voz de um grupo social pequeno, porém poderoso.


Gente da classe média alta, que é egoísta e tem pinta de intelectual e que, por tal qualidade, acredita que é o único com consciência, capaz de por o país rumo ao progresso, tachando a população em geral de bastardos ignorantes. Tal elite, não consegue aceitar que a democracia é de todos e que a maioria, no caso os mais humildes, são dependentes do assintencialismo do governo. Pelo voto, elegem tais governantes, à favor de interesses vitais para sua sobrevivência.
A classe média é omissa e a eles pouco importa que o pobre não tenha comida em casa ou durma na rua feito mendigo. Vira as costas para os problemas de nossa sociedade, só se mobiliza quando é atingida (tal qual é mostrado em Tropa de Elite), em prol do seu pseudomundinho perfeito, cercado de viagens e curtições. Direito deles. Posso dizer que eu, especificamente, se vivesse em condições melhores, teria mais vergonha na cara. Viveria mais parcamente e doava o excesso. Quantos quilos de feijão se compram com o preço de uma lata de caviar? Longe de mim dizer que seria um voluntário-mobilizador, mas pelos menos faria minha parte.
Agora que já falei mal da classe média (virou uma espécie de passatempo...), pegarei mais leve usando um exemplo do mundo pop. Recentemente li que Jay Kay, vocalista da banda britânica Jamiroquai, ofendeu duas juradas do programa de televisão X Factor, uma espécie de Ídolos que tem por aquelas bandas. O cantor, antes da apresentação, disse que as duas eram inúteis que nunca haviam feito nada de aproveitável e que eram bonitinhas e “pegáveis” (para não dizer outro termo). Tirando esse comentário machista, até concordo com ele. Não sei se é só impressão minha (e do Jay Kay), mas nunca fui com a cara dos jurados desse tipo de programa. Um bando de desconhecidos do cenário musical que ficam ali, criticando aspirantes,  que em alguns casos são até melhores que eles. Invejosos, que descontam sua frustração pela falta de sucesso em jovens talentos esperançosos. Enfim, na minha opinião Jay Kay disse tudo aquilo que o público sempre quis dizer. Vingou muita gente. Só errou por ser ofensivo. Se bem que o Jay Kay se amarra em uma confusão...


Com os dois exemplos pretendi ilustrar essa questão de dizer o que se pensa por dois lados. Aceitação  ou não. Principalmente em questões polêmicas, enxergamos os dois lados; concordamos com ou com outro. É portanto, primordial pensar antes de se posicionar sobre qualquer assunto, principalmente se for publicamente. Sua imagem pode ficar rotulada para sempre por causa de uma opinião polêmica. Livre expressão é direito de todos, mas não deve ser usada para fazer discriminações e ofensas. É possível ser sincero sem ser ácido e cínico; basta ter um pouco de auto-crítica. Opine sempre, mas com responsabilidade.

PS: Neste fim de semana ouvi o novo álbum do Jamiroquai “Rock Dust Light Star”. Muito bom, recomendo.


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Criatura E Criador

Estou aqui, mais uma vez, fazendo uma brincadeira com o título do post. Geralmente, pelo menos onde volta e meia leio tais palavras escritas juntas, o substantivo criador antecede o também substantivo criatura.  Uma espécie de hierarquização, segundo o grau de importância. Compreensível, afinal sem o criador a criatura inexistiria. A segunda deveria ser dependente da primeira.
Já deu para perceber o ponto em que pretendo chegar. A criatura vem tomando o lugar do criador. Não em relação a sua gênese, porque ela ainda é mérito do criador. Refiro-me a importância, a atenção que ela conseguiu atrair para si. Um relativo distanciamento entre os dois.
Um exemplo clássico é o de Frankstein, clássico de terror da cultura popular. A maioria das pessoas se equivoca. Pensa que Frankstein é o monstro. Frankstein na verdade é o nome do doutor que reuniu partes de diversos defuntos e deu vida ao monstro. Por conta desse engano o monstro usurpa o lugar do doutor e é bem mais famoso. Os erros de adaptações também contribuem para esse equivovo em relação a obra de Mary Shelley.



Voltemos a questão do distanciamento. Já senti isso na pele. Anteriormente, mencionei em outros posts que escrevia histórias em quadrinhos sem fins lucrativos (obviamente: quem iria pagar por desenhos toscos acompanhados por dezenas de palavrões?) em um passado não muito distante. O que acontecia lá era semelhante ao que acontece aqui: a situação se inverte e a criação ganha mais importância que o criador.
Pharaoh é o nome do meu eu lírico. Faz parte de mim, mas de fato não sou eu de verdade. É uma criação minha, uma personagem oriunda do meu confuso mundinho abstrato semi-esquizofrênico. Serve para por a casa (leia-se cabeça) em ordem. A famigerada pessoa cujo nome começa com a letra C, em seu dia-a-dia é um pé no saco. Nem eu me agüento às vezes. Sou preguiçoso, falo pouco, não me expresso, vivo de uma forma desinteressante e estou sempre desinteressado (aparentemente, pelo menos...) por tudo o que rola ao meu redor. Pelo blog, Pharaoh se encarrega disso de forma eficaz e atrai para si toda a atenção. É triste mas admito: meu carisma literário é maior do que meu carisma real. Verifico isso até no MSN, porque lá, vá entender, as desconhecidas as quais às vezes costumo adicionar, me adoram, me acham divertidíssimo. Vá entender. Impressionante como consigo ser mais engraçado escrevendo do que falando. Resumindo: sou melhor companhia quando não estou fisicamente presente.
Nos quadrinhos em que eu escrevia, meu personagem Grotesco-Man se tornara mas importante que eu. E isso extrapolava para a realidade. Chegava ao ponto de eu andar e perguntarem “E aí como vão as histórias?” Nem enxergava maldade neste tipo de colocação. Sentia que era um incentivo carinhoso da parte do público, meus colegas para me estimular o meu talento (se é que se pode chamar escrever quadrinhos esculhambados de talento). Mas não dá para dizer que não me sentia mal com isso. Normalmente, quando você encontra uma pessoa, se pergunta como ela está, não como está o personagem a qual ela escreve. Deu para entender meu drama? Talvez até por isso eu tenha me desinteressado em escrever mais histórias, largado os desenhos e ter me concentrado somente nos textos. Por conta de um ciúme bobo do meu próprio personagem. O ego de um ser humano é uma desgraça...
Nesses meus 20 anos de vida percebi que a coisa melhorzinha que consigo fazer é escrever. Duvido viver essencialmente disso no futuro, principalmente vivendo aqui no meu amado Brasil, onde o hábito de leitura não está muito enraizado na população como um todo. Mas adoraria viver disso. Percebi que para ser um bom escritor é necessário abdicar-se de si mesmo, principalmente quando se está escrevendo alguma ficção. Ninguém fala "Eu li  J.K. Rowling", diz-se "Eu li Harry Potter"; ninguém fala "Eu li Tolkien", diz-se " Eu li O Senhor dos Anéis" e por aí vai. É natural: a autoria ganha menor importância e torna-se refém do personagem ou da obra. Se o escritor tiver um ego enorme, e estiver louco para falar de si não dará muito certo. Por isso que ninguém lê muito auto-biografias. Se tenho um sucesso relativo aqui é porque falo mal de mim mesmo. Portanto meu recado final vai para os que ambicionam ser algum dia escritores-criadores: abaixem a bola e criem personagens mais interessantes que vocês mesmos. É o segredo do sucesso.




PS: Em relação a esse tema, tenho que fazer uma ressalva à Eiichiro Oda, autor do mangá One Piece. O cara não é Robert, nunca faz citação de si mesmo nos seus próprios mangas. Nem mesmo aparece de forma caricata. Mesmo assim,  por votação popular dos próprios leitores da Shonen Jump, foi escolhido como o 48º personagem favorito dos leitores. Esse é o cara!