quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Maldito Mercado De Trabalho

Quem quer dinheiro? Eu não. Se minha opinião valesse alguma coisa e eu pudesse mudar, ou melhor, extinguir o uso das moedas para trocas comerciais, eu o faria.
Odeio o dinheiro de muitas formas. Ele corrompe as pessoas fomentando a ganância, um germe invisível que faz com que um homem perca os seus escrúpulos e passe por cima dos outros para ter sucesso em suas ambições pessoais. No entanto, o que mais odeio no dinheiro é ter que precisar dele, mesmo não gostando.
Como sei que não posso mudar o mundo tenho que me adequar a ele. Infelizmente sou um ser humano e meu corpo exige certas coisas para um bom funcionamento biológico, físico e mental, como comer e dormir. Por isso, como qualquer outra pessoa, preciso trabalhar para arrumar dinheiro.


Sou um preguiçoso profissional. Sinceramente detesto trabalhar, mas sei que é necessário. Chame-me de vagabundo se quiser. Não ligo. Não acredito que o objetivo de nossas vidas seja trabalhar e ter sucesso profissional. Pouco me importo em ser patrão ou empregado no futuro. Não serei aquele que para se definir usa como identidade o seu ofício. Sei muito bem quem eu sou; não será um diploma ou título que me definirá. Se trabalho é para viver, não vivo para trabalhar. Isso se eu trabalhasse...
Culpa do maldito mercado de trabalho. Assim como nas relações sociais tenho dificuldades em me adaptar a ele. Vivo em um círculo vicioso. Não consigo emprego porque não tenho qualificações e não tenho qualificações porque não arrumo um emprego que me permita pagar por elas. Empresas desgraçadas. Pedem experiência para tudo. Até hoje tento descobrir como uma pessoa se torna digitadora. Todas as vagas que vi até hoje na minha vida pedem experiência de pelo menos dois anos. Certas contratações fazem exigências surreais. Outro dia eu vi uma vaga de garçom bilíngüe. Sem querer menosprezar o nobre ofício de servir mesas e atender clientes, mas duvido que uma pessoa que fale duas línguas se interesse por tal serviço. Pelo menos por um longo período.
Essa exigência de pleno conhecimento de um idioma estrangeiro foi algo que sempre me irritou profundamente. E não vejo nenhuma inquietação das outras pessoas em relação a isso. Será que é um (mais um) incômodo exclusivo meu? Amo outras culturas como a estadunidense e a japonesa, só que acho muito radical não contratar pessoas por desconhecerem tais idiomas. Afinal moramos no Brasil! Falamos a língua portuguesa! Porque isso não é o suficiente? Será que tais vagas realmente necessitam de um exímio bilíngüista? Ou seria apenas capricho dos headhunters corporativos a fim de afunilar ainda mais o processo seletivo?
Eu nem consigo imaginar como essas pessoas vivem. Eu não suportaria ter uma profissão desse tipo, que barra as pessoas. “Você vai. Você não vai. Você passou. Você não”. Eu iria me sentir culpado por ser o responsável por acabar com as aspirações profissionais de uma pessoa de imediato. Trabalhar recrutando pessoas deve ser difícil embora não pareça. Dizendo não você deixa a pessoa magoada. E a responsabilidade pelo encaminhamento fica por conta dos recrutadores; caso não de certo a responsabilidade fica por conta de quem indicou. Dependendo podem até perder os empregos por causa de uma má indicação. Como que essas meninas de Rh vivem sorrindo?


Outra coisa que me irrita são as qualidades pessoais que eles exigem. Não é segredo que o mercado de trabalho é preconceituoso em relação a critérios físicos e de comportamento. Evitam negros, idosos, favelados, homossexuais. Quando falam que é preciso boa aparência, nem faço o esforço de comparecer a tal entrevista. Fora de forma, cravos e espinhas no rosto cara, cabelo natural descabelado... Preciso dizer o porquê do meu não comparecimento? Você pode ser o cara mais eficiente do mundo mas se aparecer em um entrevista que nem o Nick Nolte nunca será contratado. O mundo é de aparências.


Outro dia vi um documentário no qual um jovem do tráfico falava que o mercado de trabalho o discriminava. Pura verdade. Se a pessoa chega falando com todo aquele vocabulário e entonação, típicos do cotidiano da favela, certamente é menosprezado e não consegue emprego. Falam tanto em diversidade, mas não a aceitam no dia-a-dia. Quer um exemplo? Assista os noticiários da noite na televisão. Todos os profissionais falam como, genuinamente, pessoas brancas paulistanas. Você pode ser nordestino, mas se tiver o sotaque da sua terra natal sem chance de ganhar espaço em rede nacional.
Perdoe toda a minha raiva. Esse texto foi escrito em uma semana que começou muito mal. Acordei seis da manhã (uma verdadeira odisséia pra um dorminhoco feito eu), fui no centro às oito da manhã procurar trabalho, a entrevistadora chegou atrasada, me deu encaminhamento para um shopping na Tijuca no mesmo dia, fui lá, aguardei a outra entrevistadora, que chegou atrasada (para variar), fui atendido às quatro e por fim não fui contratado, mais uma vez. Incompatibilidade com meu horário na faculdade. Perdi um dia de aula por conta disso e voltei para casa a pé, da Tijuca até São Cristovão. Afinal estou falido e sem paitrocínio; as passagens de ônibus pesam no bolso. É preciso economizar. Enquanto a sociedade não se ajusta à vida simples de pegar fruta no pé e beber água no rio, devo me ajustar a ela. 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Não Há Lugar Melhor Que O Nosso Lar

“Não há lugar melhor que o nosso lar” é uma conhecida frase dita pela Dorothy no filme “O Mágico de Oz” de 1939. Faz tempo que vi esse filme, mas pelo o que me lembro ela diz isso quando finalmente regressa a sua casa após as suas peripécias em um mundo de fantasia. A conclusão é clara: o conforto de nossa casa é inigualável.


Todo mundo sente isso. Pessoas que permanecem muito tempo em um mesmo local, criam um elo com ele e sentem que o tal lugar faz parte delas. Sem o seu cantinho especial se sentem incompletas e esse laço dificilmente é rompido.
Na série de mangá e anime Naruto esse elo é muito bem explorado. Ocasionalmente, algum personagem ressalta a importância de defender a Aldeia da Folha, onde residem as pessoas que eles tanto amam. A devoção é tanta que os ninjas se sacrificam para proteger aquela terra. O valor que dão ao seu lar é manifestado pela força bruta, mas nem por isso é menos significativo.


Obviamente eu não sou um ninja, nem mesmo um desenho animado. Não chegaria a tais sacrifícios. Mas de uns tempos para cá percebi algo. Morei toda a minha vida em São Cristóvão. Melhor dizendo: vivi toda a minha vida em São Cristóvão. Lógico que eu já fui a outros bairros, mas eram ocasiões especiais. Não faço idéia de como é morar em outro lugar. Estudei a vida toda aqui, do C.A. ao último ano de ensino médio, sempre fui nos hospitais daqui, etc.
E o que dizer das pessoas? Tem gente que nem conheço pessoalmente, mas que reconheço de vista e vi crescer. Provavelmente alguns me reconhecem também, só de vista. Pra quem não sabe, meu bairro fica na zona norte, próximo ao Centro e o Maracanã. Como bairro da zona norte dá pra imaginar os tipos físicos da maioria das pessoas que aqui habitam: gente feia, descabelada, sem maquiagem, sem roupa de grife, de espinha no rosto e por aí vai. Não que pessoas de perfil semelhante sejam exclusivas dos subúrbios. Só que, e acredito que você vai concordar comigo, na zona sul os habitantes têm uma aparência melhor. Aquelas pessoas que são sempre representadas nas novelas: gente bonita, sarada, bem vestida. Entenda-me que não guardo nenhum tipo de rancor com um grupo de pessoas específico sem conhecê-las antes. Em outra palavras procuro dar uma merecida chance ao ser humano. Não sou um maldito segregador. Afinal no fundo somos todos humanos apesar das inevitáveis diferenças. Mas que há uma certa divisão do rio entre elite e povão isso há e negar isso seria tolice.
Quando saio da faculdade, que fica na zona sul e entro no ônibus 472 (que nunca para no ponto...) meio que já me sinto em casa. As pessoas da zona norte são mais feinhas mais são mais calorosas, simpáticas, engraçadas e carismáticas. Sem preconceitos quanto aos “sulistas” mas é o que eu penso, na minha simples e modesta opinião que não tem citação de nenhum filósofo francês.
Às vezes eu penso no meu futuro. Amo minha cidade, meu bairro, minha rua (bom, a rua nem tanto assim... Vizinhos desgraçados!) só que acho que se pudesse optar, não construiria uma família aqui no Rio. Do jeito que estão as coisas fica difícil se sentir seguro. Os problemas vocês sabem quais são: as drogas, a violência urbana, o congestionamento no trânsito e outros transtornos cotidianos na capital fluminense. Por causa de tais motivos, ambiciono há tempos uma vida pacata interiorana no futuro. Até contasto isso pelo MSN quando teclo com algumas garotas do interior. Elas por alguma razão sobrenatural são gatíssimas e me entendem. Mundo injusto...
O interior combina mais com a minha personalidade. Sempre me senti um peixe fora d’água por essas terras cariocas. Lugar de samba, funk, gente descontraída e praieira, características que não fazem parte do meu ser. Sinto-me a antítese de um carioca genuíno, um eterno desajustado. Não que as pessoas me tratem mal e que eu as considere como inimigas, mas me aparentam ser tão diferentes de mim que fico me sentindo mal com o mundo que me rodeia.. Parece até algum tipo de maldição que todo escritor tem, ser introvertido e desajustado. Vá entender o porquê. O lado ruim é que eu não ainda não tenho sucesso. E duvido que irei ter algum dia...
Deu pra entender que meu problema é mais com as pessoas do que com o lugar. Não significa dizer que odeio todo mundo e que desejaria esquecer a vida que aqui tive. Verdade seja dita: eu não seria o mesmo cara que sou se não tivesse morado a vida toda em São Cristovão. As experiências foram únicas, guardo com carinho até as piores delas e esse tipo de memória se incorpora na gente. Como disse antes, minha vida toda girou por essas bandas. Fui assaltado na rua General Argolo e atropelado por uma bicicleta na Quinta da Boa Vista, por exemplo. Todas as minhas aventuras por mais patéticas, desastrosas e até raramente felizes que tive, se encerravam por aqui no caminho de volta para casa. Esse ano, quando olhei a capa do CD Recovery, novo disco do rapper Eminem, na qual aparece ele caminhando solitariamente em uma estrada, fiz logo a associação, me imaginando andando pela rua São Januário após um longo dia cansativo. A caminhada por uma lonely road é um símbolo clássico do retorno ao lar ao qual pertencemos.


Meu bairro esteve comigo em todos os meus momentos. Aconteça o que acontecer no futuro, estará para sempre guardado em meu coração. Por isso digo; te amo, imundo bairro da zona norte com nome de santo. Para onde quer que a vida me leve eternamente serás meu porto seguro.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Al Pacino

Na televisão, principalmente na TV aberta, quando a programação anuncia algum filme que será exibido na emissora, usa-se o recurso de mencionar quais as estrelas estarão presentes na atração. Eu nasci nos anos 90. Minha bagagem cinematográfica foi construída assistindo Sessão da Tarde e Cinema em Casa. Não tinha vídeo, nem DVD, nem TV à cabo e ia pouco ao cinema. Conseqüentemente, na minha infância fiquei refém das atrações de tais programas: filmes das décadas de 90 e 2000 e alguns clássicos da década de 80. 
Naturalmente uma pessoa acompanha a carreira dos astros nas décadas em que ela vive. Sabe que tipo de filme um ator costuma fazer. Um moleque dos anos 80 sabia que Stallone era ator de ação e dos anos 90 sabia que Jim Carrey era ator de comédia. E eram bons nisso. Só que antes deles já existiam outros atores talentosos com papéis esteriotipados ou não.
Voltando aos comerciais, o que sempre me causou estranhamento eram aqueles atores mais velhos que passavam dos 50 anos, que apareciam como atração nos comerciais e tinham geralmente participação mínima nos filmes. O passado de sua carreira é que salvava o seu nome e resgatava a memória dos programadores das emissoras. Eu sempre me perguntava "quem é esse cara?"
A mídia privilegia a juventude, os rostos jovens, bonitos, corpos sarados. Como se o mundo só fosse formado de pessoas assim. É só olhar os comerciais de televisão. Quando se envelhece perde-se espaço. No cinema isso significa participações especiais menores, papéis menos intensos ou secundários. Quem no passado interpretava a donzela se torna a matriarca; o policial torna-se comandante e por aí vai. Os papéis naturalmente mudam, amadurecem de acordo com a idade do ator que passa a interpretar de acordo com sua aparência física.
Al Pacino para mim até metade da minha adolescência era o cara que interpretava Satanás em O Advogado do Diabo e um diretor de cinema em S1m0ne. Filmes de 97 e 2002 respectivamente. Percebe? Para mim a imagem de Pacino estava associada a esses filmes porque eu era nascido nesta época. Gostei dos filmes, mas nem de longe são os melhores dele. O auge do velho Al foram os anos 70 e 80. Graças ao canal TCM, tive o privilégio de assistir ao "Classic Pacino"  em filmes como Serpico, Um Dia de Cão, Justiça Para Todos, Scarface. Filmes de interpreações intensas em que você não consegue tirar os olhos da tela.Virei fã sem perceber. Impressionante o carisma dele interpretando personagens incomuns que em certos casos eu até me identificava. Em alguns desses filmes Pacino é aquele cara que tem ética, faz as coisas de forma correta, mas que sofre porque as pessoas ao seu redor são incapazes de enxergar o correto a ser feito, se acomodando a corrupção policial ou a morosidade do sistema judiciário, por exemplo. Ao contrário de mim que me controlo, ele surta nos filmes e me serviu de inspiração nestes momentos.




Sei que ele é apenas um ator e acredito que não colaborava para a criaçao dos personagens. Mas as interpretações são magníficas e se conectam de certo modo. Após ver alguns filmes de Pacino você percebe alguns traços típicos de seus personagens. O carisma, o sarcasmo, os palavrões. Coisas que o caracterizam e lhe atribuem ares únicos. O que me chama a atenção é o descontentamento. Acho que todo mundo que se importa com algo de verdade sente isso. Quer mudar o mundo e torná-lo um lugar melhor e não consegue. como eu disse anteriormente Pacino el algum momento surta e começa a gritar falando alto um monte de verdades. Situações de protesto que mostram o quão ridícula e hipócrita é a nossa sociedade. Barbarizar às vezes é a unica forma de atingir os bárbaros.
Queria eu brincar de Al Pacino algum dia na vida real. Sem as armas, claro. Os gritos e palavrões me seriam suficientes.



PS: Não mencionei o Poderoso Chefão de propósito. Na trilogia, o Michael de Pacino não era o meu personagem favorito. Meus prediletos eram o Don Corleone e o Sonny. Pena que morreram no primeiro filme...



PS 2: Para quem pretende atuar que nem o tio Al aí vai uma dica de site que explica direitinho o método de atuação. Está em inglês, mas vale a pena.
The Al Pacino Academy of Shouting

PS 3: Algumas cenas de Pacino que adoro:
Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon)
Attica! Attica! Attica!
Justiça para Todos (... and Justice For All)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Dizer O Que Se Pensa

Comunicar-se oralmente é uma das maneiras mais comuns que o ser humano utiliza para se expressar. Não é a única. Pode-se observar que a expressão de idéias e sentimentos manifesta-se em outros meios diversos, tais quais as artes plásticas, a música, a escrita etc. Há algo em comum, decorrente da nossa racionalidade: antes de tudo, pensamos. Não importa que a duração de nossos pensamentos ocorram em poucos segundos. A expressão não é algo imediato, automático. Sabendo que temos o direito de livre expressão, é necessário pensar duas vezes antes de manifestar publicamente o que se tem a afirmar sobre qualquer coisa.
Recentemente pudemos acompanhar pelos noticiários, um episódio lamentável. Após a vitória de Dilma Rousseff ao cargo de presidente da república, uma estudante de direito, via Twitter, incitou a violência contra nordestinos, responsabilizando-os pela vitória da presidenta eleita. Tudo bem a garota ter se indignado com tal vitória e expressar sua opinião contrária ao governo atual. O que não pode acontecer é ser ofensivo contra alguns grupos regionais, por puro preconceito e ignorância. Na verdade, creio que várias pessoas concordam com a opinião dessa pessoa. Sem querer, a estudante virou uma porta voz de um grupo social pequeno, porém poderoso.


Gente da classe média alta, que é egoísta e tem pinta de intelectual e que, por tal qualidade, acredita que é o único com consciência, capaz de por o país rumo ao progresso, tachando a população em geral de bastardos ignorantes. Tal elite, não consegue aceitar que a democracia é de todos e que a maioria, no caso os mais humildes, são dependentes do assintencialismo do governo. Pelo voto, elegem tais governantes, à favor de interesses vitais para sua sobrevivência.
A classe média é omissa e a eles pouco importa que o pobre não tenha comida em casa ou durma na rua feito mendigo. Vira as costas para os problemas de nossa sociedade, só se mobiliza quando é atingida (tal qual é mostrado em Tropa de Elite), em prol do seu pseudomundinho perfeito, cercado de viagens e curtições. Direito deles. Posso dizer que eu, especificamente, se vivesse em condições melhores, teria mais vergonha na cara. Viveria mais parcamente e doava o excesso. Quantos quilos de feijão se compram com o preço de uma lata de caviar? Longe de mim dizer que seria um voluntário-mobilizador, mas pelos menos faria minha parte.
Agora que já falei mal da classe média (virou uma espécie de passatempo...), pegarei mais leve usando um exemplo do mundo pop. Recentemente li que Jay Kay, vocalista da banda britânica Jamiroquai, ofendeu duas juradas do programa de televisão X Factor, uma espécie de Ídolos que tem por aquelas bandas. O cantor, antes da apresentação, disse que as duas eram inúteis que nunca haviam feito nada de aproveitável e que eram bonitinhas e “pegáveis” (para não dizer outro termo). Tirando esse comentário machista, até concordo com ele. Não sei se é só impressão minha (e do Jay Kay), mas nunca fui com a cara dos jurados desse tipo de programa. Um bando de desconhecidos do cenário musical que ficam ali, criticando aspirantes,  que em alguns casos são até melhores que eles. Invejosos, que descontam sua frustração pela falta de sucesso em jovens talentos esperançosos. Enfim, na minha opinião Jay Kay disse tudo aquilo que o público sempre quis dizer. Vingou muita gente. Só errou por ser ofensivo. Se bem que o Jay Kay se amarra em uma confusão...


Com os dois exemplos pretendi ilustrar essa questão de dizer o que se pensa por dois lados. Aceitação  ou não. Principalmente em questões polêmicas, enxergamos os dois lados; concordamos com ou com outro. É portanto, primordial pensar antes de se posicionar sobre qualquer assunto, principalmente se for publicamente. Sua imagem pode ficar rotulada para sempre por causa de uma opinião polêmica. Livre expressão é direito de todos, mas não deve ser usada para fazer discriminações e ofensas. É possível ser sincero sem ser ácido e cínico; basta ter um pouco de auto-crítica. Opine sempre, mas com responsabilidade.

PS: Neste fim de semana ouvi o novo álbum do Jamiroquai “Rock Dust Light Star”. Muito bom, recomendo.


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Criatura E Criador

Estou aqui, mais uma vez, fazendo uma brincadeira com o título do post. Geralmente, pelo menos onde volta e meia leio tais palavras escritas juntas, o substantivo criador antecede o também substantivo criatura.  Uma espécie de hierarquização, segundo o grau de importância. Compreensível, afinal sem o criador a criatura inexistiria. A segunda deveria ser dependente da primeira.
Já deu para perceber o ponto em que pretendo chegar. A criatura vem tomando o lugar do criador. Não em relação a sua gênese, porque ela ainda é mérito do criador. Refiro-me a importância, a atenção que ela conseguiu atrair para si. Um relativo distanciamento entre os dois.
Um exemplo clássico é o de Frankstein, clássico de terror da cultura popular. A maioria das pessoas se equivoca. Pensa que Frankstein é o monstro. Frankstein na verdade é o nome do doutor que reuniu partes de diversos defuntos e deu vida ao monstro. Por conta desse engano o monstro usurpa o lugar do doutor e é bem mais famoso. Os erros de adaptações também contribuem para esse equivovo em relação a obra de Mary Shelley.



Voltemos a questão do distanciamento. Já senti isso na pele. Anteriormente, mencionei em outros posts que escrevia histórias em quadrinhos sem fins lucrativos (obviamente: quem iria pagar por desenhos toscos acompanhados por dezenas de palavrões?) em um passado não muito distante. O que acontecia lá era semelhante ao que acontece aqui: a situação se inverte e a criação ganha mais importância que o criador.
Pharaoh é o nome do meu eu lírico. Faz parte de mim, mas de fato não sou eu de verdade. É uma criação minha, uma personagem oriunda do meu confuso mundinho abstrato semi-esquizofrênico. Serve para por a casa (leia-se cabeça) em ordem. A famigerada pessoa cujo nome começa com a letra C, em seu dia-a-dia é um pé no saco. Nem eu me agüento às vezes. Sou preguiçoso, falo pouco, não me expresso, vivo de uma forma desinteressante e estou sempre desinteressado (aparentemente, pelo menos...) por tudo o que rola ao meu redor. Pelo blog, Pharaoh se encarrega disso de forma eficaz e atrai para si toda a atenção. É triste mas admito: meu carisma literário é maior do que meu carisma real. Verifico isso até no MSN, porque lá, vá entender, as desconhecidas as quais às vezes costumo adicionar, me adoram, me acham divertidíssimo. Vá entender. Impressionante como consigo ser mais engraçado escrevendo do que falando. Resumindo: sou melhor companhia quando não estou fisicamente presente.
Nos quadrinhos em que eu escrevia, meu personagem Grotesco-Man se tornara mas importante que eu. E isso extrapolava para a realidade. Chegava ao ponto de eu andar e perguntarem “E aí como vão as histórias?” Nem enxergava maldade neste tipo de colocação. Sentia que era um incentivo carinhoso da parte do público, meus colegas para me estimular o meu talento (se é que se pode chamar escrever quadrinhos esculhambados de talento). Mas não dá para dizer que não me sentia mal com isso. Normalmente, quando você encontra uma pessoa, se pergunta como ela está, não como está o personagem a qual ela escreve. Deu para entender meu drama? Talvez até por isso eu tenha me desinteressado em escrever mais histórias, largado os desenhos e ter me concentrado somente nos textos. Por conta de um ciúme bobo do meu próprio personagem. O ego de um ser humano é uma desgraça...
Nesses meus 20 anos de vida percebi que a coisa melhorzinha que consigo fazer é escrever. Duvido viver essencialmente disso no futuro, principalmente vivendo aqui no meu amado Brasil, onde o hábito de leitura não está muito enraizado na população como um todo. Mas adoraria viver disso. Percebi que para ser um bom escritor é necessário abdicar-se de si mesmo, principalmente quando se está escrevendo alguma ficção. Ninguém fala "Eu li  J.K. Rowling", diz-se "Eu li Harry Potter"; ninguém fala "Eu li Tolkien", diz-se " Eu li O Senhor dos Anéis" e por aí vai. É natural: a autoria ganha menor importância e torna-se refém do personagem ou da obra. Se o escritor tiver um ego enorme, e estiver louco para falar de si não dará muito certo. Por isso que ninguém lê muito auto-biografias. Se tenho um sucesso relativo aqui é porque falo mal de mim mesmo. Portanto meu recado final vai para os que ambicionam ser algum dia escritores-criadores: abaixem a bola e criem personagens mais interessantes que vocês mesmos. É o segredo do sucesso.




PS: Em relação a esse tema, tenho que fazer uma ressalva à Eiichiro Oda, autor do mangá One Piece. O cara não é Robert, nunca faz citação de si mesmo nos seus próprios mangas. Nem mesmo aparece de forma caricata. Mesmo assim,  por votação popular dos próprios leitores da Shonen Jump, foi escolhido como o 48º personagem favorito dos leitores. Esse é o cara!