domingo, 26 de junho de 2011

Sobre Paternidade

Recentemente (terceiro domingo de junho, segundo a Wikipédia) o Dia dos Pais foi celebrado nos Estados Unidos e em alguns outros países do mundo. Não aqui, pois comemoramos essa data só no mês de agosto, que por sinal, amo bastante (estou sendo irônico). Não estou querendo ser puxa-saco de gringo. Só quis aproveitar a oportunidade para escrever um pouco sobre os pais. Acho até melhor escrever agora do que esperar pelo nosso "Dia dos Pais" nacional porque minha intenção aqui hoje é mais de criticar os maus pais do que elogiar os bons pais. Os ruins são maioria. Existem muitos caras por aí que se ausentam por toda a vida dos filhos e aparecem num dia qualquer dizendo “Luke, I’m your father”, como se ausentar-se da vida dos filhos fosse a coisa mais normal do mundo. Vá entender certas pessoas... Vamos a crítica.


Vou começar pelo processo da criação da paternidade. Todo mundo aí já ouviu falar em sexo, não é mesmo? Para ser pai, no sentido biológico pelo menos, é necessário fazê-lo, a não ser que você seja um desses figurões que pagam uma nota para uma clinica que realiza inseminação artificial no óvulo de uma desconhecida "mãe de aluguel". Onde está o amor, minha gente... Para ser pai, novamente no sentido biológico do termo, caso você não seja um estuprador, você deve cortejar uma senhorita fértil em idade reprodutiva e conseguir seduzi-la, para só então levá-la para cama e fazer sexo sem camisinha com ela, bem do jeito que o pessoal do Vaticano recomenda. Se der tudo certo nove meses depois nasce um bebê e você vira papai. Caso tenha dúvidas sobre a conduta moral da sua parceira e esteja incerto sobre a sua paternidade, você sempre tem a opção de ir ao Programa do Ratinho pra fazer um teste de DNA. Aí vira uma questão de sorte, "cara ou coroa", ou melhor dizendo, de pagamento de pensão ou do uso eterno de um par de chifres de corno.


É lógico que eu simplifiquei tudo aí em cima. Nem toda gravidez é desejada, muito menos toda paternidade. Incidentes acontecem o tempo todo, que nem naquele filme bacaninha Knocked Up (Ligeiramente Grávidos). Só que não se trata de um mero “incidente”; trata-se de uma vida nova que vai nascer. A gravidez é um caminho sem volta (se desconsideramos aquela palavra que começa com ”a”). Transar e engravidar uma mulher não te torna mais homem e não te torna automaticamente apto a ser considerado como pai. É fácil ser pai em uma certidão de nascimento, difícil é ser pai pelo resto da vida daquele ser, que se tornou de sua inteira responsabilidade. Alguns não tomam essa responsabilidade para si e de imediato somem, deixando as mães sozinhas com as crianças. Outros até chegam a ficar, porém não desempenham muito bem o seu papel de pai.


O mundo está cheio de pais despreparados, o que é compreensível porque em uma era de inseguros como a nossa, não existe um curso ou manual que ensine de uma forma eficaz e abrangente como se tornar pai da noite para o dia. Isso é algo que se aprende na prática. O problema é que alguns caras nunca chegam a aprender o que é ser pai de verdade. Talvez nem compreendam direito que são pais; certas pessoas vivem demais centradas em si mesmas. O que contraria a idéia de ser um bom pai, que ao meu ver, é dar mais prioridade a vida do filho do que a sua própria.
Neste país criticamos os pobres em demasia. Sempre que vemos, e eu me incluo nesse grupo, uma família de gente pobre com vários filhos nos questionamos se não seria melhor, para a erradicação da pobreza, se os patriarcas de tais famílias parassem de “fabricar” mais crianças junto a suas esposas. Enxergar essas pessoas desse jeito é errado e preconceituoso. Esquecemos a necessidade humana de querer não estar só e de querer constituir uma família, por mais difícil que isso seja. Afinal ser pobre não significa não saber o que é viver. Imaginar que as pessoas vão passar a vida inteira esperando a estabilidade financeira chegar nas suas vidas para só então constituir família é uma utopia.


A partir do momento em que seu filho nasce você não pode escolher momentos  específicos para ser pai. Diferente dos empregos que você tem ao longo da vida, ser pai é um trabalho em tempo integral. Tem gente que se considera o máximo como pai porque constantemente está fornecendo bens materiais e intelectuais aos filhos. Outros fazem isso apenas esporadicamente. Não importa. Isso não é o suficiente. O pior de tudo é que além de se vangloriarem, jogam na cara dos filhos despesas que eles geram, como se fossem culpa deles. Sei que a frase é velha mas é verdadeira: ninguém pediu para nascer. Não estou de acordo com os mimos, mas se você colocou uma pessoa no mundo você deve proporcionar a ela a melhor vida que puder. Ao filho cabe o agradecimento e futuramente a sustentação daquele que o criou.
Tenho consciência de que fui um tanto quanto pessimista nesse texto. Qual seria a razão? Se vocês pensarem direitinho não fica difícil de imaginar. Para ajudá-los a compreender melhor essa minha derradeira pergunta retórica, encerrarei a pauta dizendo que caso algum dia no futuro eu encontre uma louca que aceite ter um filho meu e eu for pai, pelo menos terei as minhas singelas noções do que não devo fazer. Pois o que devo fazer, que atitudes devo tomar dali por diante... Não sei mesmo. Na pior das hipóteses, se eu fracassar como pai, o moleque pode escrever no futuro algo ruim a meu respeito em algum desses blogs presunçosos e egocêntricos que existem na internet. Sem ressentimentos.

PS: Até hoje, pelo que sei, não engravidei ninguém.
PS2: Só volto a escrever em agosto porque blogueiro vagabundo também tira férias. Abraços!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Dois Meses De Facebook

Na verdade, esse título aí de cima é mentiroso. Explico. Possuo uma conta no Facebook desde meados de 2010. Afirmar possuir algo é bem diferente de afirmar utilizar tal coisa. O que estou tentando dizer é que eu tinha uma conta no Facebook, mas não a utilizava. Criei uma só por fanfarronice mesmo, só para dizer que tinha uma. Afinal de contas eu já possuía uma conta no Orkut, para que diabos então iria usar outra rede social para me comunicar com os meus conhecidos?
Não, não comecei a utilizar “de verdade” o Facebook por influência do filme sobre o Zuckerberg. Nem assisti esse filme ainda. Comecei a utilizar tal rede social, há mais ou menos dois meses atrás, só para entrar em contato com uma pessoa específica, a qual não conseguia falar no Orkut. Pensei em duas possibilidades: ou ela estava me dando gelo ou simplesmente não estava lendo minhas mensagens. Preferi acreditar na segunda possibilidade e estava certo. Tal pessoa, agora só utilizava o Facebook para se comunicar com amigos e se tornara um mero fantasma do Orkut, assim como muitos outros amigos meus. O Orkut ainda possui muitos usuários, só que eles estão se tornando cada vez mais inativos. Muitos migraram para o Facebook então decidi fazer o mesmo.


Depois desse pontapé inicial, aproveitei para adcionar a galera toda que esteve e ainda está ao meu lado o tempo todo ao longo da vida. Surpreendi-me quando terminei de adcioná-los porque no final do processo, pude contabilizar mais de trezentas pessoas. É impressionante como não nos damos conta de quantas pessoas conhecemos. É óbvio que eu não sou "amigão" de todo mundo, mas ao menos os conheço, de papo ou de vista. O bacana foi que eu consegui saber por onde andavam velhos camaradas e deu para matar a saudade de uns e de outros nem tanto. Brincadeirinha...
Porque que eu estou contando isso tudo? Mesmo o blog sendo meu e contando casos sobre a minha vida, às vezes acho tudo o que escrevo um tanto quanto irrelevante. Nem eu sei bem o motivo, talvez seja mesmo irrelevante. Ou não. Acho que procuro muito usar a técnica da indução pra cativar os meus leitores imaginários. Narro as minhas particularidades e espero que a partir delas, o leitor as associe para algo mais geral, como as suas vidas e as vidas dos outros, assim como ocorre no método do pensamento indutivo. Não faço idéia se isso funciona, mas estamos tentando. Continuemos...
O curioso dessa parte de adcionar pessoas em redes sociais é imaginar a atividade contrária, ou seja, quantas pessoas adcionaram você. O número de pessoas conhecidas que me adcionaram, se não me engano não chegou a uma dúzia. Tudo culpa de vinte anos de introversão. As pessoas não te odeiam, mas também não chegam a te amar tanto assim para se dar o trabalho de colocar o seu nome em uma busca de rede social. Se bem que duvido que saibam meu nome completo. E convenhamos: nem uso meu nome verdadeiro no Facebook, para evitar ser achado por recrutadores fuxiqueiros.


Agora vamos as partes ruins que já consegui sacar nesses dois meses de Facebook. Certas pessoas estão sempre ocupadas demais pra falar com você. Falam que já voltam e não voltam nunca. Assim sendo, um simples diálogo pode acabar tornando-se uma Odisséia. Acredito, sinceramente, que nem seja por maldade. No meu entender a questão é a prioridade; você dá mais atenção a pessoas com quem tem um laço de amizade mais forte ou uma aproximação maior. Não nos damos conta que um sentimento que temos por uma pessoa pode ser um pouco unilateral, isto é, quando você valoriza muito a amizade de uma pessoa, quando na verdade pra ela você é apenas mais uma dentre muitas.
Outra coisa que consigo destacar negativamente são as informações recebidas. Informações demais. Tem certas coisas que eu preferia nem ficar sabendo. Não me levem a mal, tenho amigos que até postam coisas interessantes. Mas, por exemplo, saber pelo Facebook que uma pessoa que você esteve ou que está interessado se encontra em um relacionamento sério, acaba sendo meio impactante. Principalmente olhar as evidências disto: as fotos do casal e as mensagens melosas entre os dois. Lógico que as pessoas seguem as suas vidas, mas não nego que me sinto frustrado em certos casos. A solução seria fazer o mesmo, mas havemos de combinar que nem sempre isso é possível. Razões? Tenho várias, mas não quero me humilhar publicamente hoje.
E ainda tem as fotos de viagens, festas etc. Nem sei se é inveja, mas uma coisa eu tenho que dizer. Um dos piores castigos que se pode dar para uma pessoa infeliz é escancarar felicidade nua e crua na cara dela. Isso deixa a pessoa pior ainda, principalmente para quem não vive, não por opção sua, mas por causalidade. Você se imagina naquele lugar, mas sabe que pelo menos por enquanto, não pode estar ali, experimentando certas delícias da sua juventude. As pessoas com quem você conviveu por ano seguem suas vidas, obtêm sucesso e privilégios e você continua sendo o mesmo plebeu sequelado de sempre. Tem certas horas que enxergar a si mesmo dessa maneira perde a graça. O jeito é evitar o máximo que puder as comparações e seguir adiante, em busca de um futuro melhor para si mesmo.
É curioso também como pessoas que eu julgava tão diferente de mim no passado, aparentemente pelo menos, possuem mais gostos similares aos meus do que alguns de meus amigos mais próximos. Talvez se eu reencontrasse certas figuras do meu passado poderíamos até trocar algumas idéias. Pensando bem, não acredito que isso aconteça...
Esse texto acabou sendo mais descritivo do que qualquer outra coisa então eu nem tenho uma conclusão inteligente ou coerente para fazer nesse último parágrafo. Só tenho um recado, para a pessoa que me levou a utilizar o Facebook. Eu agindo ativamente em relação a um ser humano é um acontecimento raro. Eu diria que isso é equivalente a passagem do cometa Halley. Não sou a pessoa mais sensível do mundo, mas até eu acho que isso deve significar alguma coisa. Caso esteja lendo esse texto (o que duvido muito) e perceba que é você, fique tranquila porque não pretendo lhe dizer nada constrangedor. Só desejo lhe agradecer devidamente enquanto ainda há tempo para isso. Ao vivo e a cores de preferência, longe da falsa ilusão de proximidade que as redes sociais proporcionam. Um abraço e espero que até breve.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os Risos Da Meia-Noite

A inspiração para o tema de hoje veio de um diálogo ocorrido há alguns anos atrás entre dois amigos meus. "Sem querer querendo", acabei ouvindo tudo e fui  entrando, como quem não quer nada no meio da conversa. Sinto que tenho um dom natural para ouvir conversas de terceiros. Obviamente não participei dela. Só fiquei lá parado ouvindo e balançando a cabeça, como sempre faço, concordando com tudo o que era dito, sem me manifestar. O assunto entre os dois não continha nenhum tema surpreendente ou polêmico (mamilos!). Os dois conversavam sobre uma sensação específica: aquela que você tem quando está sozinho à noite assistindo televisão na sala de estar do seu lar. Eles falavam especificamente das situações em que surgem coisas engraçadas na telinha. Você começa a rir descontroladamente e quando para de fazer isso percebe que está ali, sozinho, em uma sala escura e vazia.


Sem dúvida é uma sensação esquisita. É experimentar uma mudança brusca de sentimentos; em um minuto você está feliz rindo e no outro se percebe só, não necessariamente infeliz, mas só, rindo no escuro como um pateta.
Acho que esse estranhamento vem do fato que os risos geralmente têm efeito dominó; quando uma pessoa ri é bem capaz que seu riso espontâneo se alastre e provoque o de outras pessoas. Às vezes estas pessoas nem sabem porquê ou de quê estão rindo, mas acabam contagiadas pela alegria do outro. Na situação da “sala de estar de uma pessoa só” retratada, isso não acontece porque afinal de contas não há ninguém por perto. Mesmo assim ficamos (ou eu fico pelo menos) na esperança de que alguém escute nossa risada, fique curiosa à respeito e venha rir conosco. Mas isso fica meio difícil de acontecer principalmente quando as pessoas que moram na sua casa (a quem supostamente chamamos de família) já se encontram em um estágio avançado de sono. Isso porque geralmente as pessoas dormem à noite, devido aos seus empregos ou a seus estudos (maldito modo produtivo da sociedade capitalista...). Resta então a diversão de um homem só.


Tudo isso me lembrou dos meus tempos mais revoltados de juventude. Da época em que eu vivia sempre em uma guerra silenciosa contra o mundo, na qual sempre saia perdendo... O melhor momento do meu dia era o fim de noite após as zero horas, em que eu ficava sozinho aproveitando ao máximo meus merecidos momentos de ócio. Divertia-me sem dúvida, mas no final das contas achava aquilo estranho.


Tem dias que você acorda e acha que vai dar tudo errado e tudo dá errado mesmo. Há outros em que você acha que vai dar tudo certo e tudo dá errado. Para ambas as hipóteses, eu sempre tinha o meu resguardo, que era o momento em que eu podia apreciar uma boa comédia ou um bom programa humorístico. Tanto foi assim que caras como o Adam Sandler e a turma do Hermes e Renato são meus ídolos até hoje; justamente porque os assistia, sempre sozinho (forever alone?), no horário noturno. Às vezes até gravava um filme ou episódio humorístico no VHS, só para ter o prazer de assisti-los novamente várias e várias vezes, quando a programação compulsória da televisão não me agradava. Acredite se quiser, a boa e velha babaquice é capaz de salvar vidas. Eu diria que é até terapêutica. Era bem melhor ir dormir depois de ver algo absurdamente babaca, porém engraçado, na televisão do que tentar cair no sono direto depois de um dia exaustivo e traumático. A cada vez que eu fazia isso me sentia renovado, pronto para encarar mais uma vez o dia seguinte. Nada como uma boa fuga da realidade para esfriar a cabeça.


Hoje em dia não costumo mais experimentar tais sensações, pelo menos de forma tão frequente, como antes ocorria. Não se engane pensando besteiras otimistas à meu respeito. Minha vida permanece do mesmo jeito capenga que ela sempre foi. Não vivo mais "tão" de mal com o mundo, porém isso não significa que ele esteja correspondendo as minhas expectativas por  menores que sejam. Continuo me ferrando, mas me sinto mais equilibrado em relação a tudo que me acontece. O melhor a fazer nesse tipo de situação é aquilo que não canso de repetir: escrachar. Rir dos próprios problemas. 
Chega um momento na vida em que você para de se preocupar em impressionar os outros contando mentiras mirabolantes sobre uma vida maravilhosa que você não tem. O melhor a fazer é contar a verdade e se ela for ruim, dar um jeito afim de torná-la mais cômica. Talvez seja isso. Posso estar rindo mais durante o dia das situações reais que nem se comparam com as situações forjadas pela ficção. Gradativamente durante o dia meu estoque de risadas vai se esvaziando, não restando nada para o fim da noite. É preferível parar com as gracinhas e ir para cama descansar de uma vez. Em dias de sorte tenho sonhos eróticos bacanas. Algo melhor do que qualquer filme de comédia.