sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os Risos Da Meia-Noite

A inspiração para o tema de hoje veio de um diálogo ocorrido há alguns anos atrás entre dois amigos meus. "Sem querer querendo", acabei ouvindo tudo e fui  entrando, como quem não quer nada no meio da conversa. Sinto que tenho um dom natural para ouvir conversas de terceiros. Obviamente não participei dela. Só fiquei lá parado ouvindo e balançando a cabeça, como sempre faço, concordando com tudo o que era dito, sem me manifestar. O assunto entre os dois não continha nenhum tema surpreendente ou polêmico (mamilos!). Os dois conversavam sobre uma sensação específica: aquela que você tem quando está sozinho à noite assistindo televisão na sala de estar do seu lar. Eles falavam especificamente das situações em que surgem coisas engraçadas na telinha. Você começa a rir descontroladamente e quando para de fazer isso percebe que está ali, sozinho, em uma sala escura e vazia.


Sem dúvida é uma sensação esquisita. É experimentar uma mudança brusca de sentimentos; em um minuto você está feliz rindo e no outro se percebe só, não necessariamente infeliz, mas só, rindo no escuro como um pateta.
Acho que esse estranhamento vem do fato que os risos geralmente têm efeito dominó; quando uma pessoa ri é bem capaz que seu riso espontâneo se alastre e provoque o de outras pessoas. Às vezes estas pessoas nem sabem porquê ou de quê estão rindo, mas acabam contagiadas pela alegria do outro. Na situação da “sala de estar de uma pessoa só” retratada, isso não acontece porque afinal de contas não há ninguém por perto. Mesmo assim ficamos (ou eu fico pelo menos) na esperança de que alguém escute nossa risada, fique curiosa à respeito e venha rir conosco. Mas isso fica meio difícil de acontecer principalmente quando as pessoas que moram na sua casa (a quem supostamente chamamos de família) já se encontram em um estágio avançado de sono. Isso porque geralmente as pessoas dormem à noite, devido aos seus empregos ou a seus estudos (maldito modo produtivo da sociedade capitalista...). Resta então a diversão de um homem só.


Tudo isso me lembrou dos meus tempos mais revoltados de juventude. Da época em que eu vivia sempre em uma guerra silenciosa contra o mundo, na qual sempre saia perdendo... O melhor momento do meu dia era o fim de noite após as zero horas, em que eu ficava sozinho aproveitando ao máximo meus merecidos momentos de ócio. Divertia-me sem dúvida, mas no final das contas achava aquilo estranho.


Tem dias que você acorda e acha que vai dar tudo errado e tudo dá errado mesmo. Há outros em que você acha que vai dar tudo certo e tudo dá errado. Para ambas as hipóteses, eu sempre tinha o meu resguardo, que era o momento em que eu podia apreciar uma boa comédia ou um bom programa humorístico. Tanto foi assim que caras como o Adam Sandler e a turma do Hermes e Renato são meus ídolos até hoje; justamente porque os assistia, sempre sozinho (forever alone?), no horário noturno. Às vezes até gravava um filme ou episódio humorístico no VHS, só para ter o prazer de assisti-los novamente várias e várias vezes, quando a programação compulsória da televisão não me agradava. Acredite se quiser, a boa e velha babaquice é capaz de salvar vidas. Eu diria que é até terapêutica. Era bem melhor ir dormir depois de ver algo absurdamente babaca, porém engraçado, na televisão do que tentar cair no sono direto depois de um dia exaustivo e traumático. A cada vez que eu fazia isso me sentia renovado, pronto para encarar mais uma vez o dia seguinte. Nada como uma boa fuga da realidade para esfriar a cabeça.


Hoje em dia não costumo mais experimentar tais sensações, pelo menos de forma tão frequente, como antes ocorria. Não se engane pensando besteiras otimistas à meu respeito. Minha vida permanece do mesmo jeito capenga que ela sempre foi. Não vivo mais "tão" de mal com o mundo, porém isso não significa que ele esteja correspondendo as minhas expectativas por  menores que sejam. Continuo me ferrando, mas me sinto mais equilibrado em relação a tudo que me acontece. O melhor a fazer nesse tipo de situação é aquilo que não canso de repetir: escrachar. Rir dos próprios problemas. 
Chega um momento na vida em que você para de se preocupar em impressionar os outros contando mentiras mirabolantes sobre uma vida maravilhosa que você não tem. O melhor a fazer é contar a verdade e se ela for ruim, dar um jeito afim de torná-la mais cômica. Talvez seja isso. Posso estar rindo mais durante o dia das situações reais que nem se comparam com as situações forjadas pela ficção. Gradativamente durante o dia meu estoque de risadas vai se esvaziando, não restando nada para o fim da noite. É preferível parar com as gracinhas e ir para cama descansar de uma vez. Em dias de sorte tenho sonhos eróticos bacanas. Algo melhor do que qualquer filme de comédia.

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