terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Lançamento do livro Crônicas de Desamor (ou Histórias sobre quem não esteve lá)

Com enorme prazer anuncio o lançamento do meu primeiro livro! Lançamento dia 15 de fevereiro no bistrô da editora Multifoco. Estejam lá! 
Sinopse: Desamor. A negação do amor, sentimento universal o qual todos, em teoria, teriam a possibilidade de vivenciar. Esse é o tema que norteia o livro. Crônicas de Desamor (ou Histórias sobre quem não esteve lá) tem como protagonista Corinto Dennilson, alter ego do autor, que narra suas tentativas frustradas em estabelecer laços afetivos com outras pessoas. O texto é marcado pela ironia e sinceridade ao descrever tanto os retratos pictóricos do personagem principal quanto os das demais personagens ilustradas. Ao todo são apresentadas 20 crônicas narrativas sobre desamores ou, simplesmente, pessoas que apesar da presença física, na realidade, nunca estiveram lá.
Pré-venda: clique aqui


sábado, 17 de setembro de 2016

Diário De Bordo

Olá, mundo.
Como estão vocês? Sei que faz tempo que não dou as caras por aqui...
Vamos lá... Por onde começo? 
Em primeiro lugar, como já devem ter percebido, ainda estou vivo, bem e com alguma sanidade, obrigado.
Acredito que faz-se necessário explicar os motivos da minha ausência prolongada. Logo, farei a seguir um resumo do que andei fazendo por aí, dos rumos que andei tomando. Quem sabe, assim talvez eu consiga reencontrar a boa e velha motivação que me impulsiona a estar presente aqui.
 

O ano de 2016 tem sido bem louco para mim. Vivi umas aventuras bem bizarras, que, sem dúvida, dariam ótimas histórias para compartilhadas. Contudo não posso negar que cheguei à vida adulta. Tal destino, inevitável na vida de qualquer homem, envolve responsabilidades e principalmente falta de tempo para fazer várias coisas de que gosto, tal qual escrever em um blog inútil e fantasma que não me dá dinheiro. É preciso ter prioridades e infelizmente, sacrifícios devem ser feitos.
Andei trabalhando (de verdade), o que me deu alguma estabilidade financeira, apesar dos inevitáveis perrengues da profissão que escolhi para exercer no mundo moderno. Além disso, voltei a estudar, o que é engraçado, já que havia dito no dia da defesa da minha monografia, a dois anos atrás, que minhas aventuras acadêmicas tinham chegado ao fim. Mas não irei me desculpar pela minha mentira. O futuro não está escrito. Tenho direito de mudar de ideia quando quiser. Assim o fiz.


Somadas, essas duas atividades têm tomado muito do meu tempo, corpo e mente. Rola um desgaste, o que é natural. Nos fins de semana fico só o osso. Falta-me energia vital. Mal saio; costumo ficar em casa vendo filmes ou lendo livros. Cabe dizer, que nunca li tanto quanto nesse ano. Ler é um prazer que tinha deixado de lado, confesso, já fazia alguns anos. Comprei até uma estante para organizar meus livros novos. Depois disso, diria que minha transição de pseudocult para cult está quase completa. Falta-me assistir filmes franceses com mais frequência.
Além disso, "Tenho ouvido muitos discos. Conversado com pessoas." Resolvi enfim dar uma chance a essa tal de MPB, a qual sempre ouvi falar mas que nunca dei muita bola. Deixei meus álbuns de rock internacional depressivos de lado e passei o ano ouvindo Belchior, Ivan Lins, Roberta Sá, Chico, Gil, Caetano, Djavan, MPB4, Zé Ramalho, dentre outros. Curti. De fato, nosso povo produz grandes artistas e eu devia ter valorizado eles antes. Demorou, mas enfim fiz isso. Inclusive, cheguei a ir alguns shows para prestigiá-los ao vivo.
Também andei conversando com pessoas, por incrível que pareça. Até fora da internet. Embora meu saldo de amizades esse ano tenha ficado negativo (perdi mais amigos do que ganhei), os que ficaram andam bem presentes e significativos. Trocar ideias com os outros é algo que nunca dei muito valor, mas que estou começando a compreender, embora ainda ache muito gente chata (a recíproca se faz verdadeira). Isso não significa que eu tenha me transfigurado de "mudo" para "a alma da festa". Falo só com quem conheço e tenho intimidade e olhe lá. Com o resto do mundo, só respondo por educação mesmo. Ás vezes, nem isso.
Apesar dessas mudanças, no fundo mantive-me o mesmo cara de sempre. Vivo travando as minhas velhas guerrinhas particulares contra a humanidade (e perdendo, é claro). Por exemplo,  esse ano me expulsei de um grupo no Facebook que eu mesmo criei, por mal comportamento, já que havia causado a discórdia, embora eu estivesse com a razão. Resquício das minhas Deloquices juvenis.
É duro ser calmo num mundo que quer te ver com sangue nos olhos. É difícil manter a pose de niilista quando no fundo você se importa, ao passo que quem posa de pró-ativo, às vezes, não quer nada. Vivemos num mundo de aparências. Só tento não deixar ninguém perceber minha verdadeira natureza, caso contrário se aproveitariam disso. Todo mundo quer um herói! Alguém que resolve o problema dos outros em um passe de mágica. Eu evito esse tipo de papel. Só quero uma vida tranquila. Apesar de ficar na minha, não sou nenhum banana. Nunca fui.
Apesar de tudo é preciso continuar. Não sou perfeito, nunca serei, mas posso evoluir mais. Há muito a aprender ainda. Toca o barco.


PS: Sei que o texto dessa semana foi meio vago (considerando até mesmo a falta de critério habitual dos temas deste blog). Prometo que semana que vem escrevo sobre algo "de verdade".

sábado, 5 de março de 2016

A Admiradora Inesperada

Fui assistir no cinema o filme do Deadpool na semana de estreia. Sozinho, mas não por falta de tentativas. Fiz uns convites aqui e ali, contudo só ouvi desculpas esfarrapadas, o velho papo furado de sempre. Sempre me perguntam: "Porque você não convida alguém?". Até convido, porém nem sempre aceitam. Ou enrolam muito. Já perdi muitos programas legais por ficar esperando os outros. Se há algo que todos esses anos da minha existência errática me ensinaram é que não dá para viver aguardando a vontade alheia. Tem horas que você simplesmente deve ir. Mesmo que só.


Fui no sábado. Tijuca. Dia quente. Pelo caminho, as ruas estavam cheias de pedestres. Havia até mesmo rapazes do Exército distribuindo panfletos sobre a prevenção do zika vírus, a praga da vez. Peguei um por mera educação, já que acabei nem lendo. A aventura mal havia começado, mas eu já estava achando o passeio desgastante por conta do calor. Suava igual a um porco. Também, pudera: inventei de ir com calça comprida e uma camisa preta com o logo do Batman. Não sou miliciano não, moçada. Sou apenas mais um fã do Cavaleiro das Trevas. Sei que o Deadpool é da Marvel e o Batman, da DC, mas o que importa? Era só uma camiseta.


Cheguei ao andar onde ficava o cinema, no alto do shopping, e lá, uma fila considerável distanciava-me do meu ingresso. Filas de bilheteria de cinema sempre me causam angústia. Sempre fico paranoico, achando que os ingressos vão se esgotar exatamente na minha vez de comprar, dada a minha sorte. Embora isso só tenha acontecido comigo duas vezes na vida, esse medo é recorrente. Quando você está acompanhado, tudo bem esperar duas horas até a próxima sessão, principalmente se a companhia for boa. Mas quando você está sozinho é preferível ir embora e tentar assistir ao filme outro dia.


Pelo visto, naquele fim de semana, várias pessoas tiveram a mesma ideia que eu e resolveram assistir ao filme do mercenário tagarela. Sofri na fila uns quinze minutos, pois o ar condicionado fraco não estava ajudando muito. Mas enfim chegou a minha vez. Quando a moça da bilheteria (geralmente, a única pessoa a quem dirijo uma palavra nesses passeios solitários) me perguntou qual lugar eu queria, levei um susto. Quase todos tinham sido escolhidos. Só restavam uns quatro pontinhos verdes, indicando que não estavam ocupados, sendo que dois destes eram para deficientes físicos. Acabei optando por um lugar no fundão (O1) e sai satisfeito.


Era tempo de comprar o lanche. Ainda faltava uma hora para começar o filme. Nunca compro nada na bomboniere do cinema já que o preço da pipoca, me perdoem o trocadilho é bastante salgado. O combo com refrigerante sai bem mais caro que o ingresso. Não sou nenhum pão-duro, mas o preço que cobram é uma grana considerável que dá para ser melhor aproveitada comprando mais comida em outro lugar, gastando menos. Além disso, tem o fato de que eu não sou mais estudante. Logo, pelo menos até eu me tornar idoso, tenho que pagar inteira (a menos que me torne um mau exemplo corrupto como você que falsifica carteirinha de estudante). Sendo assim, fui até aquela rede de lojas de varejo que rima com "bananas" comprar algumas porcarias para comer.
Na hora de pagar, deparei-me com outra fila. Dessa vez maior do que a do cinema e com consumidores bem mais agitados e cheios de manias. Uma mulher, que estava atrás de mim, não parava de esbarrar com a bolsa nas minhas costas, como se tal ato birrento e infantil fizesse a fila andar mais rápido. O ar condicionado da loja também não ajudava muito o que me gerava suor, cansaço e estresse. Porém o que me mais me incomodava eram as pessoas. Os ditos consumidores. A classe média em carne viva no seu modo operacional capitalista. Mexiam em cada em cada produto, por mais inútil que fosse, como se fossem crianças encantadas com os diferentes tipos de doce em uma doceria. Além disso, tinha a tal que ficava me esbarrando com a bolsa durante o percurso inteiro.
Tenho um ligeiro problema de raiva que disfarço bem. Entenda: no meu ponto de vista, sou normal, o resto do mundo que é louco. Logo, para não parecer um desequilibrado, tento me controlar. Existe gente de todo tipo e a gente não pode fazer nada, a não ser aceitar. E por mais que às vezes eu não curta o jeito de outra pessoa, tento não estragar o dia de ninguém sendo grosseiro ou inconveniente. Contudo, já estava no meu limite. A situação era uma prova de fogo. Desafiavam a minha paciência. 
Até que chegara a minha vez, mas adivinhem, a caixa deu defeito. O sistema caiu ou algo do tipo. Já irritado, acabei sendo atendido em outro caixa depois da mulher da bolsa, que estava atrás de mim na fila. O operador ainda veio me perguntar se eu queria por o meu CPF na nota fiscal. Sem olhar para ele, só balancei a cabeça negativamente pensando "Por favor, anda logo, quero sair daqui". Com certo esforço, me controlei e não descontei minha raiva no trabalhador, vítima de uma má gerência visível. Com a loja cheia, podiam deslocar mais funcionários para as caixas.
Sai de lá com as minhas gordices em uma sacola, olhei para o relógio e vi que faltavam dez minutos para o filme começar. Subi tranquilo, visto que era lugar marcado. Uma fila bem grande para entrar na sala já havia se formado, o que era natural, já que os ingressos tinham se esgotado. Fui ao banheiro mijar e jogar água no rosto. Voltei para o hall do cinema e a fila ainda não tinha começado a andar. Resolvi encostar-me em uma parede com sombra, longe da claridade, mas fora da fila, de modo que quando ela andasse eu entraria ao final depois de todos que nela se encontrassem. Se não deu para perceber não gosto muito de gente. Procuro me distanciar sempre que possível de muvuca. Gosto de espaço, respirar um ar só meu. Além disso, havia saído sozinho de casa. Ainda tinha que me ver obrigado a ficar em fila vendo casal de namorado se beijar e grupinho de amigos rir? Nada contra, mas bom para eles, não para mim. Só queria ficar em paz, longe da felicidade alheia.
Fiquei na minha, distraído, como quem não quer nada, ouvindo uns sambas do Cartola salvos no celular. Foi aí que do nada observei uma garota que eu nunca havia visto antes na vida andando até a minha direção. Era uma completa desconhecida. Imaginei que ela tivesse me confundindo com alguém, fosse perceber o erro ao chegar perto e recuasse. Ou que fosse alguma maluca esquecível que eu conheci pela internet e que mandei para aquele lugar buscando vingança. Nova, ela parecia ser adolescente. Devia ter de uns 16 anos para cima. Ela era clara, tinha penteado curto, e usava camisa branca e uma saia preta com bordados. Meio indiezinha. Visual pouco convencional para a idade. Nenhuma Audrey Hepburn, mas uma gracinha. Até bonita. Timidamente, ela me disse:
— Eu estava ali na fila com meus amigos te vi e te achei lindo. Posso te dar um abraço?
Fiquei sem reação. Por aquela eu não esperava. Desconfiado ainda, pensei que fosse alguma pegadinha. Mas permiti. Agradeci o elogio. Abracei-a. Imaginei por um segundo que talvez houvesse uma motivação mais obscura, como se ela fosse tentar me esfaquear igual em cenas de traição de filmes épicos ou mesmo colar algum papel com dizeres idiotas nas minhas costas mas acabou que não. Foi só um abraço mesmo.


E ela se foi. Fiquei ali, estupefato, ainda tentando entender a situação. Ao meu lado um casal que observara a cena tentava segurar o riso. A fila andou, perdi ela de vista e acabei entrando depois na sala, depois que a maioria já havia ingressado. Cheguei até a encontrar um conhecido nesses instantes. Tenho uma maldição de shoppings. Sempre que vou a um, encontro algum conhecido. Nem sempre alguém próximo, mas um mero rosto familiar que em algum momento fez parte da minha história, bem, mal ou de forma indiferente.
Enfim entrei para assistir ao bendito filme do Deadpool. Enquanto os intermináveis comerciais e trailers passavam, comecei a analisar seriamente a oportunidade perdida. Até me sentar na poltrona ainda não me tinha caído a ficha. Pensei na burrada que tinha feito. Fui um completo banana. Não falei nada. Um homem com 25 anos na cara e ainda todo sem jeito. Nem para pedir o número da garota ou sequer o básico: ter perguntado o nome dela. A coitada, provavelmente, deve ter se sentido rejeitada. Vivo reclamando de falta de sorte e quando do nada me surge algo real e promissor, jogo essa oportunidade por água abaixo. Lastimável.


Vivo me maldizendo por conta de falta de oportunidades. Deixei uma inédita passar. Sim, admito que nunca antes na vida uma garota se aproximou de mim para fazer qualquer tipo de elogio. Geralmente as desconhecidas (e pensando melhor, as conhecidas também) que se aproximam de mim na rua querem algum tipo de favor, informação ou dinheiro. Nunca houve antes uma admiradora da minha (risadas de fundo de plateia) beleza. Pelo menos, não dessa forma explícita.
Sentando na poltrona de canto de sala, abri o refrigerante e o gás os fez trasbordar melando o chão. Mais uma para somar ao meu festival de trapalhadas do dia. Pensei, "Sou um maldito, essa garota merece coisa melhor". Daí um casal pediu para eu trocar de lugar com eles, para que um senhor pudesse se sentar ao lado do filho. Sem comentar sobre a sujeira que fiz, malandro, aceitei na hora. Acabei vendo o filme em uma cadeira no meio da sala. Um lugar melhor. Não tive culpa: eu estava na minha, eles que fizeram a proposta.
Decerto fora um dia de aprendizados. Às vezes, mesmo em um dia, aparentemente, ruim podem acontecer coisas boas. De onde menos se espera. Tal qual encontrar um copo d'água no meio do deserto. Entendem o que quero dizer? Quanto ao filme, Deadpool, mote da minha aventura, até que foi bom, cumpriu minhas expectativas. Só creio que com o passar dos anos ele vai acabar adquirindo um sentimento nostálgico para mim por conta de toda essa experiência. É capaz de lembrá-lo como "o dia em que deixei ela ir embora". Depois do filme, como um bom stalker, até esperei na saída do cinema com a vã esperança de encontrá-la novamente. Queria ao menos saber seu nome. Pois é, acho que nunca mais.

PS: Me ausentei esse tempo todo porque tava resolvendo coisas da minha vida pessoal. Mas agora vamos lá, semanalmemte, até o fim do semestre com historinhas bem gostosas de se ver. The Pharaoh is back!

sábado, 9 de maio de 2015

EarthBound

Hoje vou falar sobre Mother, uma das minhas franquias favoritas de videogame. Ao todo foram lançados três jogos exclusivos para consoles da Nintendo. O primeiro foi Mother, lançado em 1989, para o Famicon; o segundo, Mother 2, lançado em 1994, para o Super Famicon; e o terceiro, Mother 3, lançado em 2006 para Game Boy Advance. Apesar do sucesso no Japão, o único jogo que teve um lançamento oficial no ocidente foi Mother 2, que neste lado do mundo teve seu nome alterado para EarthBound para evitar confusões do público com a continuidade.


Meu primeiro contato com a série foi através do jogo Super Smash Bros, para Nintendo 64, que tinha incluso como personagem secreto, Ness, protagonista de EarthBound. Para quem não sabe, Super Smash Bros foi o primeiro de uma série de jogos de luta, conhecida por reunir personagens icônicos da Nintendo. Nesse jogo, por exemplo, tinha Mario, Donkey Kong, Pikachu, dentre outros. Ness me chamou a atenção, pois era o único que eu desconhecia o respectivo jogo de origem. Fui pesquisar e descobri que ele era oriundo de EarthBound, um RPG, para mim, obscuro.


Mais de meia década depois, pude jogar EarthBound pela primeira vez. Na época eu havia baixado um pack com várias roms de Super Nintendo. Vi o nome do jogo, achei familiar, relembrei e decidi matar aquela velha curiosidade. Estava até curtindo o jogo, até que veio a primeira batalha. O estilo era idêntico ao de Dragon Quest. Por conta disso, larguei EarthBound.


Nunca fui grande fã de jogos de RPG, mas reconheço que existem jogos ótimos. Logo, às vezes, dou uma chance a esse tipo de jogo. Em certa época de tanto ouvir falar em Dragon Quest resolvi jogar. Escolhi o primeiro game e odiei por causa do estilo das batalhas randômicas, em que só se via o inimigo estático na tela e menus de comando. Achei sem graça e entediante. 



Foi então que no ano passado, novamente, mais de meia década depois, tive um reencontro com EarthBound. Li uma notícia dizendo que um grupo de fãs estava produzindo o quarto jogo da série. Isso mesmo, você não leu errado. Os fãs estavam criando um jogo original, Mother 4, sem a participação da Nintendo e sem fins comerciais. Ao saber disso fiquei impressionado e curioso. Fiz minhas pesquisas e descobri que a série Mother, apesar de possuir apenas três jogos oficiais, tem um dos fandoms mais fiéis dentre os gamers. Para saber o porquê, precisava tentar jogar EarthBound novamente.


Dessa vez, foi amor à segunda vista. Embora o sistema de batalha me incomodasse um pouco no começo, com o tempo fui me acostumando. O que me atraiu no jogo foi sua história, seus personagens carismáticos, os diálogos non-sense, o humor, as bizarrices, as paródias, as referências musicais, as questões existenciais, as relações humanas. O jogo é tão rico, que se eu resolvesse falar de tudo daria para escrever um livro. Vou pontuar alguns destaques, mas nada do que eu disser equivalerá a experiência. Portanto, joguem!


EarthBound, bem como todos os jogos da série Mother, são RPGs ambientados em um mundo bem parecido com a sociedade contemporânea ocidental. Uma ideia simples, mas bastante original. Afinal o que se pensa ao falar em RPG? Em cavaleiros, espadas, dragões, magias, castelos, poções, princesas, elementos que estão presentes em qualquer RPG genérico. Em EarthBound, os protagonistas são simples crianças, munidas de ioiôs, estilingues e bastões de baseball, que lutam contra inimigos como punks e animais agressivos. Até hippies entram na brincadeira. Mesmo trazendo elementos fantasiosos, como poderes psíquicos e extraterrestres, a ambientação do jogo é claramente baseada na realidade.


Apesar de ser estrelado por crianças, não se deixe enganar pelas aparências. À primeira vista, você olha aquele jogo cartunesco, ultra-colorido, com aparência de desenho de criança e acha que ele é essencialmente infantil, o que é um grande erro. EarthBound pode ser jogado por pessoas de todas as idades. Sob a perspectiva e inocência de uma criança, o jogador caminha em um jogo parecido com o mundo em que vive, conhece vários lugares e pessoas diferentes e observa as barbáries e absurdos típicos do mundo dos adultos, como o fanatismo religioso e a brutalidade policial. Um dos principais temas de jogo, é o abandono. Em certos momentos, é possível sentir a solidão dos personagens.


A origem do nome da franquia está na canção Mother, de John Lennon. Fã dos Beatles, o criador da série, Shigesato Itoi, assim como Lennon, cresceu em um lar com pais ausentes, daí a homenagem. Em EarthBound o abandono dos pais é bastante visível. O pai do protagonista nunca aparece. Ele é representado por um telefone, cuja função é salvar o progresso no jogo. Em dado momento, Ness não consegue batalhar porque sente saudades de casa. Uma ideia brilhante, visto que nesse tipo de jogo, nunca é pensado o quanto é irreal uma criança sair vagando sozinha pelo mundo. Jogos de Pokémon, sim estou falando como vocês.


Amei jogar EarthBound por conta de sua originalidade e bizarrices. Enquanto se joga, você fica ansioso, se perguntando o que vai acontecer, diferente de games com roteiros previsíveis. Mas nada supera o sentimento e a empatia que se tem jogando. Acaba-se criando um laço com os personagens, até os não-jogáveis. No início, você joga sozinho e passa por dificuldades nas lutas. Até que vão entrando mais membros no grupo, você evolui, eles também, ao passo que o próprio jogador vai se sentindo mais forte, e principalmente não mais sozinho.



O final é emocionante. Não vou escrever para não dar spoiler. O desenrolar do desfecho, desde a batalha final até o último adeus. É de cortar o coração. Dá vontade de entrar na tela e abraçar todos. De pedir para eles ficarem. Essa é a prova definitiva de que um jogo é bom. Mesmo dando trabalho para zerar, você quer jogar mais. Enfim, pude entender porque EarthBound reúne tantos fãs pelo mundo. Acabei virando um. 


PS: Estou jogando Mother na semana do dias das mães. Santa coincidência, Batman!

sábado, 2 de maio de 2015

Dois Ratos

Odeio ratos. Não sei a diferença entre rato, ratazana e camundongo, muito menos desejo aprender a distingui-los. Não sou biólogo. Para mim são todos ratos, diga-se, criaturas repugnantes intrinsecamente relacionadas à sujeira. Esses seres constituem-se como uma praga urbana, invadindo casas, roendo objetos, comendo alimentos, trazendo doenças, e, claro, assustando as donas (e donos, para não soar machista) de casa. Por conta desses motivos, sempre achei surreal o fato de fazerem tantos desenhos animados com personagens fofinhos e carismáticos baseados em ratos. Baita bicho nojento! Mesmo assim, sei que apesar de tudo, eles são seres vivos, como nós os humanos, e todos os outros animais.


Sobre animais em geral, serei curto e grosso: não gosto e nem desgosto. Não sou do tipo de pessoa que para no meio da rua para fazer carinho em gato e cachorro, por exemplo. Deixo os bichos quietos. Eles lá e eu cá. Acredite, de alguma forma na minha cabeça, manter distância é uma forma de demonstrar respeito. Tento me pôr no lugar deles. Se eu fosse um animal, não queria que nenhum humano carente viesse me encher o saco como se eu fosse um brinquedinho criado para animá-lo. Uma das desvantagens de ser um animal é que diferente dos humanos, os bichos não podem dizer às pessoas o quanto elas são chatas e inconvenientes.


Voltando ao papo de roedores, no começo deste ano um rato conseguiu entrar na cozinha da minha casa. Ele ficou durante cerca de uma semana aprontando das suas, aparecendo e se escondendo quando percebia a presença de alguém. Até que em um belo dia, conseguimos encurralar o bicho e não deu outra: tive que ser o seu carrasco. Não há forma suave de se dizer isso. Tirei a vida daquele pequeno ser vivo. Não quero parecer fresco, mas aquela ação me doeu um pouco por dentro. Me senti mal comigo mesmo, vendo o rato lá, na minha frente, guinchando, debatendo-se de dor. A cada golpe de vassoura que eu dava eu podia sentir sua vida indo embora. Tentei acabar com seu sofrimento o mais rápido possível, pois aquilo não me dava prazer algum. Porém, sabia que se eu deixasse vivo o rato, um ser irracional, ele iria voltar a se esconder na cozinha e causar mais estragos, ao invés de simplesmente sair pela porta.


Matar um rato para mim foi uma experiência chocante. Anteriormente eu só havia matado insetos. Foi a primeira e espero que última vez que tive que matar um ser vivo de carne e osso. O caso me lembrou um episódio que vi na série animada do Batman. Em uma das aventuras, o homem-morcego teve que lutar contra uma pantera. Apesar de ser apenas um desenho, fiquei apreensivo imaginando se o Batman iria matá-la ou não. Meu desejo era que ele não a matasse, afinal era só um animal carnívoro agindo conforme seus instintos. Por outro lado, o herói precisaria se defender de alguma forma. No final das contas o Batman resolveu o problema, tirando do cinto de utilidades um gás sonífero e colocando a pantera para dormir. Sei que a comparação está em um nível colossal de diferença, mas a lição principal que se tira é que não sou o Batman. Nunca tenho planos ou preparo. A vida gosta de me lembrar disso. 


Na mesma época em que matei esse rato estreou a nova temporada de JoJo’s Bizarre Adventure: Stardust Crusaders. Não pretendo me alongar explicando a história do anime. O que houve de relevante com o caso foi o novo encerramento, com presságios do que viria a acontecer futuramente na trama. O vídeo oferece indícios sutis de que nem todos os personagens iriam sobreviver ao final da jornada, algo que fica claro para quem leu o mangá e já conhece o desfecho da saga. Em uma parte é mostrado um rio, no qual que em uma margem estão os sobreviventes e na outra os que irão morrer na história. Na cultura egípcia, estar do outro lado do rio, simboliza fazer a passagem para o outro mundo. 


Os ditos personagens são protagonistas da animação. Não vejo problema algum matar seres da ficção, mas quando eles são os mocinhos, às vezes, a partida permanente nos deixa meio abalados. Principalmente quando são personagens de séries ou animes que, diferente de filmes, passamos meses assistindo. Pode soar bobagem, mas por passar tanto tempo acompanhando suas aventuras a gente acaba estabelecendo um laço, uma empatia, com os caras. Como não sou spoilerfóbico fui pesquisar para saber como os ditos personagens morreriam e acabei me surpreendendo com a brutalidade de todas as mortes. É bom deixar claro que em JoJo, desde a primeira temporada fica claro que nem o protagonista está salvo de morrer. Nem todo anime é como Dragon Ball em que os personagens morrem e ressuscitam o tempo todo. Acabei descobrindo que os personagens de JoJo os quais pesquisei seriam exterminados por seus inimigos, de forma fria, como se fossem insetos. Ou ratos. Embora ficcionais, os personagens eram representações de pessoas, algo que me fez questionar o valor da vida. Será que a vida de qualquer outro ser vivo vale menos que a de um homem?


Recentemente, apareceu outro rato aqui em casa. Foi quase a mesma história, só que com um final diferente, não necessariamente feliz. O rato apareceu na cozinha, ficou dias lá, e depois deu um jeito de entrar no meu quarto. Ele ficou uns três dias escondido atrás do armário, até aparecer, sair do quarto, passar pela sala e sair dela por debaixo da porta, como se fosse o Senhor Fantástico. No dia seguinte ele havia reaparecido na cozinha. Dessa vez, morto, preso a fiação elétrica da lâmpada no teto, com o sangue pingado no chão. Como ele chegou lá, não faço a menor ideia. Mas pelo menos, dessa vez, não fui eu que matei. Foi o destino (apesar de não acreditar nessas coisas) daquela pobre criatura. Embora me enojem, detesto matar ratos. Deixá-los vivos é duplamente benéfico. Além de não ter peso na consciência você não precisa pegar em rato morto para jogá-lo no lixo. Mas, às vezes, não tem jeito: mesmo não sendo o carrasco, você pode acabar se tornando o coveiro.



PS: Vejam JoJo! Vale a pena. Só cuidado com os feels e as poses.