sábado, 17 de agosto de 2013

O Último Herói Romântico

Neste recesso assisti Porco Rosso pela enésima vez. O filme é uma obra muitas vezes esquecida do mestre da animação japonesa Hayao Miyazaki. Pelo que li por aí, é um daqueles filmes em que o diretor faz mais para agradar a si mesmo do que aos críticos. Fecho contigo, Miyazaki.
Sempre que vejo Porco Rosso, me empolgo só de ouvir a narração de abertura: “Este filme se passa no mar mediterrâneo, em uma época em que os hidroaviões reinavam. É a história de um porco valente, que lutava contra os piratas pela sua riqueza, pela sua honra e pelo seu amor… O nome do herói desta história é Marco Porquinho.”


A história se passa na década de 1920, no período entreguerras. Marco Porcellino (ou Marco Porquinho, na versão brasileira) é um ex-piloto de avião de combate italiano, que vive como caçador de recompensas. Uma maldição o transformou em um homem com cara de porco. Por pilotar um hidroavião vermelho ele se torna conhecido como Porco Rosso (“rosso” significa “vermelho”, em italiano.)


Acho estranho o efeito que esse filme causa sobre mim. Meio que me causa uma comoção. Assistir Porco Rosso me faz sentir otimista. Apesar de ser uma animação, presumo, despretensiosa, ele ainda me faz refletir bastante. Levo o filme tão a sério que resolvi fazer e compartilhar algumas considerações.


Em primeiro lugar, vai minha crítica mais “dura”. Não pude deixar de notar que os humanos do filme aceitam muito bem a existência de um porco antropomórfico vagando pelo ai, pilotando aviões e coisa e tal. No filme, ele é aparentemente a única criatura do tipo na Terra. Só que ninguém parece se importar muito com isso. Eu surtaria se visse um homem com focinho de porco na minha frente. Mesmo sendo uma animação, achei meio esquisita a forma natural a qual as pessoas se relacionavam com o porquinho.
É claro que uma vez ou outra alguém o ofende chamando-o de porco de forma pejorativa, mas em geral a convivência com os outros humanos é boa. Até demais.


Uma coisa que acho legal no personagem é que ele não parece se importar muito em ser um porco. Sério, se eu fosse ele, entraria em depressão só de me olhar no espelho. Digo mais: nunca sairia de casa. Marco, porém, é um excelente piloto de hidroaviões e se foca em fazer aquilo que sabe fazer melhor, não ligando muito para sua aparência. Há reconhecimento da habilidade do porquinho até mesmo pelos seus adversários. Em um momento, um rival chegar a dizer que ter (supostamente) matado o porco, o tornaria famoso.


Além de ser um bom piloto, Marco tem a sua honra. Logo em sua primeira cena, em que aparece sozinho de férias repousando em uma ilha, ele é chamado para uma missão. Inicialmente Marco recusa, mas ao saber que a tarefa era salvar um grupo de garotas sequestradas por piratas do céu, ele aceita a tarefa. Lógico que ele não faz isso de graça, mas dá para sacar que o que lhe fez tirar a bunda da cadeira de praia foi a menção “garotas em perigo”. Em outra cena mais adiante um personagem diz que outros pilotos fazem qualquer trabalho por dinheiro, mas o porquinho se difere porque tem sua honra. Preciso falar mais?


Outro aspecto marcante do personagem é seu envolvimento com a bela Gina, proprietária e cantora de um hotel movimentado essencialmente por pilotos, que aos montes, se apaixonam por ela. Gina foi esposa de um amigo falecido de Marco e o conhece desde a época em que ele não havia se tornado um suíno. Estranhamente, ela se apaixona pelo porquinho, mesmo não lhe faltando pretendentes. Gosto é gosto.


Esse filme me deu uma baita lição sobre minhas neuroses quanto a minha aparência. Ela não importa tanto assim. Se você é bom em algo que gosta, faça. Se possível, esforce-se para ser o melhor. As pessoas reconhecerão seu valor se você se der valor a si mesmo.


Porco Rosso me comove porque é a história de um porco que voa, tem habilidade, reconhecimento, honra e o amor de uma bela mulher desejada por todos. Mesmo sendo um porco. 
Não sei quanto a vocês meus amigos, mas isso me faz pensar que nada é impossível. Porco Rosso me faz ter esperança no mundo. Em dias melhores. Basta confiar em si mesmo, se esforçar, fazer algo que ame, algo especial. Como diz Marco, “Um porco que não voa é apenas um porco”. Pense nisso.

PS: Curti mais o título do IMDb do que o do DVD que assisti. Convenhamos: O Último Herói Romântico é bem melhor do que O Porquinho Voador.