sábado, 9 de maio de 2015

EarthBound

Hoje vou falar sobre Mother, uma das minhas franquias favoritas de videogame. Ao todo foram lançados três jogos exclusivos para consoles da Nintendo. O primeiro foi Mother, lançado em 1989, para o Famicon; o segundo, Mother 2, lançado em 1994, para o Super Famicon; e o terceiro, Mother 3, lançado em 2006 para Game Boy Advance. Apesar do sucesso no Japão, o único jogo que teve um lançamento oficial no ocidente foi Mother 2, que neste lado do mundo teve seu nome alterado para EarthBound para evitar confusões do público com a continuidade.


Meu primeiro contato com a série foi através do jogo Super Smash Bros, para Nintendo 64, que tinha incluso como personagem secreto, Ness, protagonista de EarthBound. Para quem não sabe, Super Smash Bros foi o primeiro de uma série de jogos de luta, conhecida por reunir personagens icônicos da Nintendo. Nesse jogo, por exemplo, tinha Mario, Donkey Kong, Pikachu, dentre outros. Ness me chamou a atenção, pois era o único que eu desconhecia o respectivo jogo de origem. Fui pesquisar e descobri que ele era oriundo de EarthBound, um RPG, para mim, obscuro.


Mais de meia década depois, pude jogar EarthBound pela primeira vez. Na época eu havia baixado um pack com várias roms de Super Nintendo. Vi o nome do jogo, achei familiar, relembrei e decidi matar aquela velha curiosidade. Estava até curtindo o jogo, até que veio a primeira batalha. O estilo era idêntico ao de Dragon Quest. Por conta disso, larguei EarthBound.


Nunca fui grande fã de jogos de RPG, mas reconheço que existem jogos ótimos. Logo, às vezes, dou uma chance a esse tipo de jogo. Em certa época de tanto ouvir falar em Dragon Quest resolvi jogar. Escolhi o primeiro game e odiei por causa do estilo das batalhas randômicas, em que só se via o inimigo estático na tela e menus de comando. Achei sem graça e entediante. 



Foi então que no ano passado, novamente, mais de meia década depois, tive um reencontro com EarthBound. Li uma notícia dizendo que um grupo de fãs estava produzindo o quarto jogo da série. Isso mesmo, você não leu errado. Os fãs estavam criando um jogo original, Mother 4, sem a participação da Nintendo e sem fins comerciais. Ao saber disso fiquei impressionado e curioso. Fiz minhas pesquisas e descobri que a série Mother, apesar de possuir apenas três jogos oficiais, tem um dos fandoms mais fiéis dentre os gamers. Para saber o porquê, precisava tentar jogar EarthBound novamente.


Dessa vez, foi amor à segunda vista. Embora o sistema de batalha me incomodasse um pouco no começo, com o tempo fui me acostumando. O que me atraiu no jogo foi sua história, seus personagens carismáticos, os diálogos non-sense, o humor, as bizarrices, as paródias, as referências musicais, as questões existenciais, as relações humanas. O jogo é tão rico, que se eu resolvesse falar de tudo daria para escrever um livro. Vou pontuar alguns destaques, mas nada do que eu disser equivalerá a experiência. Portanto, joguem!


EarthBound, bem como todos os jogos da série Mother, são RPGs ambientados em um mundo bem parecido com a sociedade contemporânea ocidental. Uma ideia simples, mas bastante original. Afinal o que se pensa ao falar em RPG? Em cavaleiros, espadas, dragões, magias, castelos, poções, princesas, elementos que estão presentes em qualquer RPG genérico. Em EarthBound, os protagonistas são simples crianças, munidas de ioiôs, estilingues e bastões de baseball, que lutam contra inimigos como punks e animais agressivos. Até hippies entram na brincadeira. Mesmo trazendo elementos fantasiosos, como poderes psíquicos e extraterrestres, a ambientação do jogo é claramente baseada na realidade.


Apesar de ser estrelado por crianças, não se deixe enganar pelas aparências. À primeira vista, você olha aquele jogo cartunesco, ultra-colorido, com aparência de desenho de criança e acha que ele é essencialmente infantil, o que é um grande erro. EarthBound pode ser jogado por pessoas de todas as idades. Sob a perspectiva e inocência de uma criança, o jogador caminha em um jogo parecido com o mundo em que vive, conhece vários lugares e pessoas diferentes e observa as barbáries e absurdos típicos do mundo dos adultos, como o fanatismo religioso e a brutalidade policial. Um dos principais temas de jogo, é o abandono. Em certos momentos, é possível sentir a solidão dos personagens.


A origem do nome da franquia está na canção Mother, de John Lennon. Fã dos Beatles, o criador da série, Shigesato Itoi, assim como Lennon, cresceu em um lar com pais ausentes, daí a homenagem. Em EarthBound o abandono dos pais é bastante visível. O pai do protagonista nunca aparece. Ele é representado por um telefone, cuja função é salvar o progresso no jogo. Em dado momento, Ness não consegue batalhar porque sente saudades de casa. Uma ideia brilhante, visto que nesse tipo de jogo, nunca é pensado o quanto é irreal uma criança sair vagando sozinha pelo mundo. Jogos de Pokémon, sim estou falando como vocês.


Amei jogar EarthBound por conta de sua originalidade e bizarrices. Enquanto se joga, você fica ansioso, se perguntando o que vai acontecer, diferente de games com roteiros previsíveis. Mas nada supera o sentimento e a empatia que se tem jogando. Acaba-se criando um laço com os personagens, até os não-jogáveis. No início, você joga sozinho e passa por dificuldades nas lutas. Até que vão entrando mais membros no grupo, você evolui, eles também, ao passo que o próprio jogador vai se sentindo mais forte, e principalmente não mais sozinho.



O final é emocionante. Não vou escrever para não dar spoiler. O desenrolar do desfecho, desde a batalha final até o último adeus. É de cortar o coração. Dá vontade de entrar na tela e abraçar todos. De pedir para eles ficarem. Essa é a prova definitiva de que um jogo é bom. Mesmo dando trabalho para zerar, você quer jogar mais. Enfim, pude entender porque EarthBound reúne tantos fãs pelo mundo. Acabei virando um. 


PS: Estou jogando Mother na semana do dias das mães. Santa coincidência, Batman!

sábado, 2 de maio de 2015

Dois Ratos

Odeio ratos. Não sei a diferença entre rato, ratazana e camundongo, muito menos desejo aprender a distingui-los. Não sou biólogo. Para mim são todos ratos, diga-se, criaturas repugnantes intrinsecamente relacionadas à sujeira. Esses seres constituem-se como uma praga urbana, invadindo casas, roendo objetos, comendo alimentos, trazendo doenças, e, claro, assustando as donas (e donos, para não soar machista) de casa. Por conta desses motivos, sempre achei surreal o fato de fazerem tantos desenhos animados com personagens fofinhos e carismáticos baseados em ratos. Baita bicho nojento! Mesmo assim, sei que apesar de tudo, eles são seres vivos, como nós os humanos, e todos os outros animais.


Sobre animais em geral, serei curto e grosso: não gosto e nem desgosto. Não sou do tipo de pessoa que para no meio da rua para fazer carinho em gato e cachorro, por exemplo. Deixo os bichos quietos. Eles lá e eu cá. Acredite, de alguma forma na minha cabeça, manter distância é uma forma de demonstrar respeito. Tento me pôr no lugar deles. Se eu fosse um animal, não queria que nenhum humano carente viesse me encher o saco como se eu fosse um brinquedinho criado para animá-lo. Uma das desvantagens de ser um animal é que diferente dos humanos, os bichos não podem dizer às pessoas o quanto elas são chatas e inconvenientes.


Voltando ao papo de roedores, no começo deste ano um rato conseguiu entrar na cozinha da minha casa. Ele ficou durante cerca de uma semana aprontando das suas, aparecendo e se escondendo quando percebia a presença de alguém. Até que em um belo dia, conseguimos encurralar o bicho e não deu outra: tive que ser o seu carrasco. Não há forma suave de se dizer isso. Tirei a vida daquele pequeno ser vivo. Não quero parecer fresco, mas aquela ação me doeu um pouco por dentro. Me senti mal comigo mesmo, vendo o rato lá, na minha frente, guinchando, debatendo-se de dor. A cada golpe de vassoura que eu dava eu podia sentir sua vida indo embora. Tentei acabar com seu sofrimento o mais rápido possível, pois aquilo não me dava prazer algum. Porém, sabia que se eu deixasse vivo o rato, um ser irracional, ele iria voltar a se esconder na cozinha e causar mais estragos, ao invés de simplesmente sair pela porta.


Matar um rato para mim foi uma experiência chocante. Anteriormente eu só havia matado insetos. Foi a primeira e espero que última vez que tive que matar um ser vivo de carne e osso. O caso me lembrou um episódio que vi na série animada do Batman. Em uma das aventuras, o homem-morcego teve que lutar contra uma pantera. Apesar de ser apenas um desenho, fiquei apreensivo imaginando se o Batman iria matá-la ou não. Meu desejo era que ele não a matasse, afinal era só um animal carnívoro agindo conforme seus instintos. Por outro lado, o herói precisaria se defender de alguma forma. No final das contas o Batman resolveu o problema, tirando do cinto de utilidades um gás sonífero e colocando a pantera para dormir. Sei que a comparação está em um nível colossal de diferença, mas a lição principal que se tira é que não sou o Batman. Nunca tenho planos ou preparo. A vida gosta de me lembrar disso. 


Na mesma época em que matei esse rato estreou a nova temporada de JoJo’s Bizarre Adventure: Stardust Crusaders. Não pretendo me alongar explicando a história do anime. O que houve de relevante com o caso foi o novo encerramento, com presságios do que viria a acontecer futuramente na trama. O vídeo oferece indícios sutis de que nem todos os personagens iriam sobreviver ao final da jornada, algo que fica claro para quem leu o mangá e já conhece o desfecho da saga. Em uma parte é mostrado um rio, no qual que em uma margem estão os sobreviventes e na outra os que irão morrer na história. Na cultura egípcia, estar do outro lado do rio, simboliza fazer a passagem para o outro mundo. 


Os ditos personagens são protagonistas da animação. Não vejo problema algum matar seres da ficção, mas quando eles são os mocinhos, às vezes, a partida permanente nos deixa meio abalados. Principalmente quando são personagens de séries ou animes que, diferente de filmes, passamos meses assistindo. Pode soar bobagem, mas por passar tanto tempo acompanhando suas aventuras a gente acaba estabelecendo um laço, uma empatia, com os caras. Como não sou spoilerfóbico fui pesquisar para saber como os ditos personagens morreriam e acabei me surpreendendo com a brutalidade de todas as mortes. É bom deixar claro que em JoJo, desde a primeira temporada fica claro que nem o protagonista está salvo de morrer. Nem todo anime é como Dragon Ball em que os personagens morrem e ressuscitam o tempo todo. Acabei descobrindo que os personagens de JoJo os quais pesquisei seriam exterminados por seus inimigos, de forma fria, como se fossem insetos. Ou ratos. Embora ficcionais, os personagens eram representações de pessoas, algo que me fez questionar o valor da vida. Será que a vida de qualquer outro ser vivo vale menos que a de um homem?


Recentemente, apareceu outro rato aqui em casa. Foi quase a mesma história, só que com um final diferente, não necessariamente feliz. O rato apareceu na cozinha, ficou dias lá, e depois deu um jeito de entrar no meu quarto. Ele ficou uns três dias escondido atrás do armário, até aparecer, sair do quarto, passar pela sala e sair dela por debaixo da porta, como se fosse o Senhor Fantástico. No dia seguinte ele havia reaparecido na cozinha. Dessa vez, morto, preso a fiação elétrica da lâmpada no teto, com o sangue pingado no chão. Como ele chegou lá, não faço a menor ideia. Mas pelo menos, dessa vez, não fui eu que matei. Foi o destino (apesar de não acreditar nessas coisas) daquela pobre criatura. Embora me enojem, detesto matar ratos. Deixá-los vivos é duplamente benéfico. Além de não ter peso na consciência você não precisa pegar em rato morto para jogá-lo no lixo. Mas, às vezes, não tem jeito: mesmo não sendo o carrasco, você pode acabar se tornando o coveiro.



PS: Vejam JoJo! Vale a pena. Só cuidado com os feels e as poses.