sábado, 9 de maio de 2015

EarthBound

Hoje vou falar sobre Mother, uma das minhas franquias favoritas de videogame. Ao todo foram lançados três jogos exclusivos para consoles da Nintendo. O primeiro foi Mother, lançado em 1989, para o Famicon; o segundo, Mother 2, lançado em 1994, para o Super Famicon; e o terceiro, Mother 3, lançado em 2006 para Game Boy Advance. Apesar do sucesso no Japão, o único jogo que teve um lançamento oficial no ocidente foi Mother 2, que neste lado do mundo teve seu nome alterado para EarthBound para evitar confusões do público com a continuidade.


Meu primeiro contato com a série foi através do jogo Super Smash Bros, para Nintendo 64, que tinha incluso como personagem secreto, Ness, protagonista de EarthBound. Para quem não sabe, Super Smash Bros foi o primeiro de uma série de jogos de luta, conhecida por reunir personagens icônicos da Nintendo. Nesse jogo, por exemplo, tinha Mario, Donkey Kong, Pikachu, dentre outros. Ness me chamou a atenção, pois era o único que eu desconhecia o respectivo jogo de origem. Fui pesquisar e descobri que ele era oriundo de EarthBound, um RPG, para mim, obscuro.


Mais de meia década depois, pude jogar EarthBound pela primeira vez. Na época eu havia baixado um pack com várias roms de Super Nintendo. Vi o nome do jogo, achei familiar, relembrei e decidi matar aquela velha curiosidade. Estava até curtindo o jogo, até que veio a primeira batalha. O estilo era idêntico ao de Dragon Quest. Por conta disso, larguei EarthBound.


Nunca fui grande fã de jogos de RPG, mas reconheço que existem jogos ótimos. Logo, às vezes, dou uma chance a esse tipo de jogo. Em certa época de tanto ouvir falar em Dragon Quest resolvi jogar. Escolhi o primeiro game e odiei por causa do estilo das batalhas randômicas, em que só se via o inimigo estático na tela e menus de comando. Achei sem graça e entediante. 



Foi então que no ano passado, novamente, mais de meia década depois, tive um reencontro com EarthBound. Li uma notícia dizendo que um grupo de fãs estava produzindo o quarto jogo da série. Isso mesmo, você não leu errado. Os fãs estavam criando um jogo original, Mother 4, sem a participação da Nintendo e sem fins comerciais. Ao saber disso fiquei impressionado e curioso. Fiz minhas pesquisas e descobri que a série Mother, apesar de possuir apenas três jogos oficiais, tem um dos fandoms mais fiéis dentre os gamers. Para saber o porquê, precisava tentar jogar EarthBound novamente.


Dessa vez, foi amor à segunda vista. Embora o sistema de batalha me incomodasse um pouco no começo, com o tempo fui me acostumando. O que me atraiu no jogo foi sua história, seus personagens carismáticos, os diálogos non-sense, o humor, as bizarrices, as paródias, as referências musicais, as questões existenciais, as relações humanas. O jogo é tão rico, que se eu resolvesse falar de tudo daria para escrever um livro. Vou pontuar alguns destaques, mas nada do que eu disser equivalerá a experiência. Portanto, joguem!


EarthBound, bem como todos os jogos da série Mother, são RPGs ambientados em um mundo bem parecido com a sociedade contemporânea ocidental. Uma ideia simples, mas bastante original. Afinal o que se pensa ao falar em RPG? Em cavaleiros, espadas, dragões, magias, castelos, poções, princesas, elementos que estão presentes em qualquer RPG genérico. Em EarthBound, os protagonistas são simples crianças, munidas de ioiôs, estilingues e bastões de baseball, que lutam contra inimigos como punks e animais agressivos. Até hippies entram na brincadeira. Mesmo trazendo elementos fantasiosos, como poderes psíquicos e extraterrestres, a ambientação do jogo é claramente baseada na realidade.


Apesar de ser estrelado por crianças, não se deixe enganar pelas aparências. À primeira vista, você olha aquele jogo cartunesco, ultra-colorido, com aparência de desenho de criança e acha que ele é essencialmente infantil, o que é um grande erro. EarthBound pode ser jogado por pessoas de todas as idades. Sob a perspectiva e inocência de uma criança, o jogador caminha em um jogo parecido com o mundo em que vive, conhece vários lugares e pessoas diferentes e observa as barbáries e absurdos típicos do mundo dos adultos, como o fanatismo religioso e a brutalidade policial. Um dos principais temas de jogo, é o abandono. Em certos momentos, é possível sentir a solidão dos personagens.


A origem do nome da franquia está na canção Mother, de John Lennon. Fã dos Beatles, o criador da série, Shigesato Itoi, assim como Lennon, cresceu em um lar com pais ausentes, daí a homenagem. Em EarthBound o abandono dos pais é bastante visível. O pai do protagonista nunca aparece. Ele é representado por um telefone, cuja função é salvar o progresso no jogo. Em dado momento, Ness não consegue batalhar porque sente saudades de casa. Uma ideia brilhante, visto que nesse tipo de jogo, nunca é pensado o quanto é irreal uma criança sair vagando sozinha pelo mundo. Jogos de Pokémon, sim estou falando como vocês.


Amei jogar EarthBound por conta de sua originalidade e bizarrices. Enquanto se joga, você fica ansioso, se perguntando o que vai acontecer, diferente de games com roteiros previsíveis. Mas nada supera o sentimento e a empatia que se tem jogando. Acaba-se criando um laço com os personagens, até os não-jogáveis. No início, você joga sozinho e passa por dificuldades nas lutas. Até que vão entrando mais membros no grupo, você evolui, eles também, ao passo que o próprio jogador vai se sentindo mais forte, e principalmente não mais sozinho.



O final é emocionante. Não vou escrever para não dar spoiler. O desenrolar do desfecho, desde a batalha final até o último adeus. É de cortar o coração. Dá vontade de entrar na tela e abraçar todos. De pedir para eles ficarem. Essa é a prova definitiva de que um jogo é bom. Mesmo dando trabalho para zerar, você quer jogar mais. Enfim, pude entender porque EarthBound reúne tantos fãs pelo mundo. Acabei virando um. 


PS: Estou jogando Mother na semana do dias das mães. Santa coincidência, Batman!

sábado, 2 de maio de 2015

Dois Ratos

Odeio ratos. Não sei a diferença entre rato, ratazana e camundongo, muito menos desejo aprender a distingui-los. Não sou biólogo. Para mim são todos ratos, diga-se, criaturas repugnantes intrinsecamente relacionadas à sujeira. Esses seres constituem-se como uma praga urbana, invadindo casas, roendo objetos, comendo alimentos, trazendo doenças, e, claro, assustando as donas (e donos, para não soar machista) de casa. Por conta desses motivos, sempre achei surreal o fato de fazerem tantos desenhos animados com personagens fofinhos e carismáticos baseados em ratos. Baita bicho nojento! Mesmo assim, sei que apesar de tudo, eles são seres vivos, como nós os humanos, e todos os outros animais.


Sobre animais em geral, serei curto e grosso: não gosto e nem desgosto. Não sou do tipo de pessoa que para no meio da rua para fazer carinho em gato e cachorro, por exemplo. Deixo os bichos quietos. Eles lá e eu cá. Acredite, de alguma forma na minha cabeça, manter distância é uma forma de demonstrar respeito. Tento me pôr no lugar deles. Se eu fosse um animal, não queria que nenhum humano carente viesse me encher o saco como se eu fosse um brinquedinho criado para animá-lo. Uma das desvantagens de ser um animal é que diferente dos humanos, os bichos não podem dizer às pessoas o quanto elas são chatas e inconvenientes.


Voltando ao papo de roedores, no começo deste ano um rato conseguiu entrar na cozinha da minha casa. Ele ficou durante cerca de uma semana aprontando das suas, aparecendo e se escondendo quando percebia a presença de alguém. Até que em um belo dia, conseguimos encurralar o bicho e não deu outra: tive que ser o seu carrasco. Não há forma suave de se dizer isso. Tirei a vida daquele pequeno ser vivo. Não quero parecer fresco, mas aquela ação me doeu um pouco por dentro. Me senti mal comigo mesmo, vendo o rato lá, na minha frente, guinchando, debatendo-se de dor. A cada golpe de vassoura que eu dava eu podia sentir sua vida indo embora. Tentei acabar com seu sofrimento o mais rápido possível, pois aquilo não me dava prazer algum. Porém, sabia que se eu deixasse vivo o rato, um ser irracional, ele iria voltar a se esconder na cozinha e causar mais estragos, ao invés de simplesmente sair pela porta.


Matar um rato para mim foi uma experiência chocante. Anteriormente eu só havia matado insetos. Foi a primeira e espero que última vez que tive que matar um ser vivo de carne e osso. O caso me lembrou um episódio que vi na série animada do Batman. Em uma das aventuras, o homem-morcego teve que lutar contra uma pantera. Apesar de ser apenas um desenho, fiquei apreensivo imaginando se o Batman iria matá-la ou não. Meu desejo era que ele não a matasse, afinal era só um animal carnívoro agindo conforme seus instintos. Por outro lado, o herói precisaria se defender de alguma forma. No final das contas o Batman resolveu o problema, tirando do cinto de utilidades um gás sonífero e colocando a pantera para dormir. Sei que a comparação está em um nível colossal de diferença, mas a lição principal que se tira é que não sou o Batman. Nunca tenho planos ou preparo. A vida gosta de me lembrar disso. 


Na mesma época em que matei esse rato estreou a nova temporada de JoJo’s Bizarre Adventure: Stardust Crusaders. Não pretendo me alongar explicando a história do anime. O que houve de relevante com o caso foi o novo encerramento, com presságios do que viria a acontecer futuramente na trama. O vídeo oferece indícios sutis de que nem todos os personagens iriam sobreviver ao final da jornada, algo que fica claro para quem leu o mangá e já conhece o desfecho da saga. Em uma parte é mostrado um rio, no qual que em uma margem estão os sobreviventes e na outra os que irão morrer na história. Na cultura egípcia, estar do outro lado do rio, simboliza fazer a passagem para o outro mundo. 


Os ditos personagens são protagonistas da animação. Não vejo problema algum matar seres da ficção, mas quando eles são os mocinhos, às vezes, a partida permanente nos deixa meio abalados. Principalmente quando são personagens de séries ou animes que, diferente de filmes, passamos meses assistindo. Pode soar bobagem, mas por passar tanto tempo acompanhando suas aventuras a gente acaba estabelecendo um laço, uma empatia, com os caras. Como não sou spoilerfóbico fui pesquisar para saber como os ditos personagens morreriam e acabei me surpreendendo com a brutalidade de todas as mortes. É bom deixar claro que em JoJo, desde a primeira temporada fica claro que nem o protagonista está salvo de morrer. Nem todo anime é como Dragon Ball em que os personagens morrem e ressuscitam o tempo todo. Acabei descobrindo que os personagens de JoJo os quais pesquisei seriam exterminados por seus inimigos, de forma fria, como se fossem insetos. Ou ratos. Embora ficcionais, os personagens eram representações de pessoas, algo que me fez questionar o valor da vida. Será que a vida de qualquer outro ser vivo vale menos que a de um homem?


Recentemente, apareceu outro rato aqui em casa. Foi quase a mesma história, só que com um final diferente, não necessariamente feliz. O rato apareceu na cozinha, ficou dias lá, e depois deu um jeito de entrar no meu quarto. Ele ficou uns três dias escondido atrás do armário, até aparecer, sair do quarto, passar pela sala e sair dela por debaixo da porta, como se fosse o Senhor Fantástico. No dia seguinte ele havia reaparecido na cozinha. Dessa vez, morto, preso a fiação elétrica da lâmpada no teto, com o sangue pingado no chão. Como ele chegou lá, não faço a menor ideia. Mas pelo menos, dessa vez, não fui eu que matei. Foi o destino (apesar de não acreditar nessas coisas) daquela pobre criatura. Embora me enojem, detesto matar ratos. Deixá-los vivos é duplamente benéfico. Além de não ter peso na consciência você não precisa pegar em rato morto para jogá-lo no lixo. Mas, às vezes, não tem jeito: mesmo não sendo o carrasco, você pode acabar se tornando o coveiro.



PS: Vejam JoJo! Vale a pena. Só cuidado com os feels e as poses. 

sábado, 18 de abril de 2015

Não Há Ninguém Perto De Você

Conheci o Tinder há cerca de um ano. Na verdade, já tinha ouvido falar sobre ele anteriormente, porém só tive interesse em conhecê-lo de fato no ano anterior. Caso não saiba, o Tinder é um aplicativo de relacionamento para smarthphone, que exibe perfis de pessoas com fotos e uma breve descrição da dita cuja. O usuário pode ajustar o alcance em quilômetros de sua distância para os demais que utilizam a ferramenta, logo é possível visualizar perfis de pessoas que estejam perto. Quando se abre o Tinder, na tela aparecem fotos de homens ou mulheres, conforme a preferência de quem usa, as quais é possível curtir ou não, pressionando os respectivos botões. Se dois usuários se curtirem, ou seja se der "match", torna-se possível iniciar uma conversa via chat através do aplicativo. Daí em diante vocês conseguem imaginar as possibilidades.


Ainda me recordo de como eu tive conhecimento sobre esse aplicativo. Estava na fila de entrada para uma casa noturna, bancando o arroz de festa com uma amiga e a amiga dela, quando notei que as duas não paravam de deslizar seus dedos nas telas de seus celulares. À primeira vista, imaginei que estivessem conversando com alguém no Facebook ou Whatsapp, mas por estar próximo à elas pude observar que era uma ferramenta diferente, com tom laranja, e que exibia fotos, no caso, de homens. Não resisti à curiosidade e perguntei o que era aquilo. 


Após descobrir o propósito do Tinder, emendei um clássico discurso de velho estraga-prazeres, dizendo que no mundo moderno as relações estão virtuais demais e as pessoas estão cada vez menos sensíveis e mais individualistas, ao invés de privilegiarem o contato com seres humanos no mundo real. Na ocasião, iríamos para uma festa. Havia um monte de gente de carne e osso para conhecer e as duas ali, compenetradas em seus aparelhos, verificando Tinder. Após me ouvir, as duas reviraram os olhos em desaprovação, mas nem liguei. Eu sequer estava levando a sério o que disse; só queria ser do contra e disseminar a discórdia, apesar de saber que no fundo meu discurso tinha um pouco de verdade. Bastou lembrar vagamente de todas as amizades virtuais que havia feito na vida e contar quantas que permaneceram comigo até então, de uma forma presente, constante, significativa. Nenhuma.


Contudo, como sou a contradição em pessoa, logo no dia seguinte àquela festa a qual minha única interação com pessoas novas se deu através de esbarrões em gente bêbada e suada (além, claro, de não ter dado uns pegas na amiguinha), resolvi instalar o Tinder no meu smarthphone. Sem mais delongas, contarei as minhas impressões.


Inicialmente, fiquei surpreso e entusiasmado com a quantidade de mulheres bonitas e supostamente solteiras que moravam perto de mim. Mas com o tempo, logo voltei à realidade. Elas de fato existem e estão por aí, entretanto isso não significa que gostariam de ficar comigo ou ao menos me conhecer. Não demorou para eu perceber que o número de matchs com garotas que eu desejava, vistas no Tinder, seria abaixo das minhas expectativas. O bom disso é que diferente do mundo real, ao menos eu seria poupado de possíveis rejeições. Cabe dizer, contudo, que me surpreendi com alguns matchs que para mim pareciam bastante improváveis. Jamais imaginaria que determinadas garotas me curtiriam. Outra coisa bastante curiosa foi achar pessoas conhecidas, desde colegas de colégio ate ex-chefes. Pelo visto, não sou o único na luta.


Sobre os perfis do Tinder, tenho que dizer que além do julgamento mais simples que se pode ter sobre uma pessoa ao olhar a foto dela, achando-a bela ou feia, você pode se surpreender e até mesmo se divertir com o que pode encontrar lá. Sério, caso esteja se sentindo mal, deprimido, inseguro consigo mesmo, ou algo do tipo, aconselho a usar o Tinder. Você verá tanta gente bizarra e estranha que começará a se sentir um ser humano melhor. Não me  refiro especificamente à feiura de terceiros. Há muita gente que se coloca em situações ridículas perante um número enorme de desconhecidos, como se nunca tivessem ouvido falar em apresentação pessoal. Uma vez eu vi no Tinder a foto de uma mulher de 30 anos com a bunda toda de fora, olhando para trás sorrindo. Não que eu não goste, mas o ato é no mínimo questionável. Francamente, o que devo pensar sobre uma pessoa cujo cartão de apresentação é o lombo? No Tinder também não é difícil encontrar perfis de travestis e de garotas de programa. Já apareceu para mim certa vez uma foto de um negão barbado com peruca loura e vestido de oncinha. Nada contra, mas ele (ou ela, sei lá) não fazia meu tipo. Gosto das minhas mulheres como gosto do meu café, sem pênis, obrigado.


Sim, já sai com garotas que conheci no Tinder, umas completas desconhecidas. Fui sem medo, com espirito de aventura. Pessoalmente, se eu fosse mulher não aceitaria sair com um cara que nem conheço, mas as garotas que convidei aceitaram. A decisão foi delas. Não se preocupe, estão todas vivas. As mulheres sempre tem medo de sair com um desconhecido e acabar descobrindo que o cara é um psicopata, assim muitas delas ficam receosas. Mas na realidade na maioria das vezes o que acontecer é o cara descobrir que a garota da foto na vida real é bem mais gorda. 


Sempre perguntei a cada garota que conheci através do Tinder o que elas estavam procurando no aplicativo recebi as mesmas respostas clichês-genéricas: “Para conhecer pessoas novas” ou “Para saber como era”. Eu, por outro lado ia direto ao ponto. Respondia que usava para conhecer garotas. Eufemismo não é minha praia. Apesar de garotas serem obviamente pessoas eu preferia deixar claro que não estava no Tinder para fazer amizade com homem algum, da mesma forma que elas não estavam lá para conhecer outras garotas. Conhecer pessoas então, uma ova. A não ser que você seja bissexual, é claro.


Não vou ser babaca de entrar em detalhes sobre minhas aventuras e encontros propiciados pelo Tinder, mas posso dizer que conheci garotas bastante diferentes. Tive a oportunidade de conversar com meninas legais de diferentes cores, crenças e personalidades. Por outro lado, também conheci umas bem chatas e enjoadas. No Tinder pode acontecer de dar match, a garota fornecer o contato dela e mesmo assim ela não querer conversar ou sair com você. Quando respondem, dizem que estão ocupadas ou não tem tempo. Porque estão no Tinder ou dão seus contatos são mistérios que nunca irei compreender. Sem contar as pessoas comprometidas que instalam um aplicativo de relacionamento para fazer amizades com desconhecidos, em geral, solteiros. Por essas e outras, aprendi que não dá para levar o Tinder muito a sério, apesar da ideia ser boa. Isso vale até mesmo para os possíveis encontros marcados. Um dia você pode conhecer alguém legal, marcar de sair, ter uma conversa legal, se encantar, esperar algo mais, não obter mais retorno e acabar se decepcionando. Assim como os velhos amigos do mundo virtual das salas de bate-papo, as pessoas que conhecemos no Tinder, tanto virtualmente quanto pessoalmente, podem sumir em um piscar de olhos, sem explicações, sem sensibilidade. Para mim, o Tinder valeu como uma experiência para conhecer pessoas novas, mas como instrumento para me oferecer algo mais profundo e significativo a longo prazo, não. Ainda não.


PS: Se for sair com um desconhecido (a), escolha um local público. Previna-se. Tem muita gente doida por aí.

sábado, 11 de abril de 2015

O Baile Do Androide

Não costumo sair muito. Meus raros passeios baseiam-se em missões específicas com finalidades bem definidas. No ano passado resolvi ir a um show realizado no Circo Voador, aqui no Rio. O objetivo era averiguar se eu iria demonstrar visivelmente ou sentir alguma emoção assistindo àquele espetáculo. 
 

Para ficar em um clima calmo e neutro, pus uma camiseta lisa azul, sem estampa, uma calça jeans e um tênis, para variar, também azulado. Além disso, coloquei meus óculos de grau e uma boina, para ficar com uma expressão que dizia “cai fora” no rosto. Pensando bem, fiquei parecendo um pseudocult. E parti só rumo a mais uma aventura emocionante.
 

Cheguei ao local e comprei meu ingresso. O momento da compra foi o único em toda a noite em que interagi verbalmente com outro ser humano, não por desprezo alheio, mas sim por opção minha. Não estava afim de papo, e sim de música. Após ter pego meu ingresso, aguardei nos Arcos da Lapa até a fila da entrada começar a andar.


O evento era composto por três apresentações musicais, sendo uma banda de abertura, a atração principal e um grupo de encerramento. Conhecia o som de todos, o que me levou a ir assisti-los. Em meio a uma fase da vida cheia de tédio e solidão precisava sair para curtir algo que eu gostasse de verdade, indo a algum lugar por querer e não por obrigação ou por segundas intenções.


A noite acabou sendo ótima. Estava tudo perfeito. A música era boa, havia garotas bonitas, a plateia estava comportada. Pude assistir a todas as apresentações com tranquilidade. Mas no rosto eu carregava sempre a mesma expressão indiferente e robótica. Boca fechada, sem balanço e sem swing. Curti o show à minha maneira, em transe e hipnotizado, sem pular, gritar, ou cantar, apenas ouvindo as canções, estático no meio da multidão. O som das músicas era tudo que me importava.


O episódio me lembrou outro. Uma vez fui a um evento voltado para tecnologia, em busca de uma entrevista para o meu TCC. Na entrada distribuíam adesivos com números: se você encontrasse outra pessoa com o mesmo número que o seu podia ganhar um brinde em uma das tendas. Meu par me encontrou. Quando me viu a garota me disse “Nossa amigo, anime-se. Porque essa cara de desânimo?”. Fiquei pensativo com o comentário daquela desconhecida, pois nem estava infeliz, mas sim na minha expressão default. No meu interior me sentia sereno, calmo e paciente como um jedi. Nem feliz nem triste, apenas na minha habitual normalidade. Para não ficar mal, esbocei um sorriso, mas não empolguem-se pois ela tinha namorado.


Ao assistir ao show, eu era apenas um cara apreciando estar bem e sozinho. Estava tão cheio de desilusões em relação às pessoas que marcavam compromissos comigo que sequer tentei convidar alguém. É o que acontece após ouvir não tantas vezes. Chega uma hora que cansa. Admito que seria uma noite bem mais memorável, se eu a tivesse dividido com alguém mas como diz o ditado, antes só do que mal acompanhado. A meu favor estava uma das vantagens de ser um homem de dois metros de altura: posso sair à noite sozinho e não ser assediado por desconhecidos, apesar de correr ainda assim outros perigos.
 

Não fui lá para beber, flertar com garotas, fazer amigos, nem dançar. Fui apenas ver o show, ser parte da plateia, um anônimo na multidão, e assim o fiz. Embora o desfrute não fosse visível foi uma das melhores noites da minha vida. Às vezes não é tão ruim ser frio como o gelo.


PS: Caso não tenha clicado nos links, o show foi o do Cícero, com participação da banda Baleia e do Bloco Pra Iaiá.

sábado, 28 de março de 2015

27.03.15

Decidi não participar das festividades de formatura da faculdade. Desculpem-me pela chatice, mas esses rituais aristocráticos não fazem sentido para mim. A ideia de passar um dia cercado de gente feliz reunida, com beijos, abraços, discursos, choradeiras e fotos me dava náuseas. Além disso, não gostava tanto assim de todos com quem estudei para celebrar com eles. Sem mágoas, entretanto. Não faço questão de evitar minha misantropia, mas a hipocrisia sim.


Minha ausência voluntária sequer se deu por questões financeiras, pois na época eu podia bancar se quisesse. Apenas me desagradava pensar que em um pleno dia no Rio de Janeiro, calor dos infernos, eu teria que me vestir com aquelas longas roupas pretas, sem contar o capelo, aquele chapéu quadrado ridículo. Aqui é Brasil. Hogwarts fica lá no Reino Unido. 


Além do mais, sem parecer muquirana, mas já sendo, com o dinheiro que os organizadores cobravam eu podia comprar, dentre outras coisas, um notebook novo. O que acabei fazendo. Não ligo para lembrancinhas. O que passou, passou. Tento não viver preso ao passado. Acredito que é para frente que devemos andar, de forma objetiva. Tanto é que passado mais de um ano, o notebook está presente na minha vida até hoje, já os coleguinhas, não.


Mesmo tendo escapado da festa de formandos, ainda faltava a colação de grau. Decidi ir. Ao menos era de graça e oferecida pela própria faculdade. Algo oficial, útil e não lucrativo para terceiros. Quando chegou o dia, confesso que senti uma dose de nostalgia. Não era exatamente saudade; estavam mais para lembranças, uma série de recortes de momentos que vivi na faculdade nos últimos anos, desde a época em que era calouro e frequentador assíduo até virar veterano e, consequentemente, turista do campus. 


Logo, em homenagem aos velhos tempos, fui com alguns acessórios dos meus tempos de calouro. Coloquei no pescoço uma correntinha barata de aço inox, três elásticos no pulso esquerdo e calcei meu velho All Star, que usava todo santo dia no ciclo básico. Andava tanto com esse tênis, que hoje a sola se encontra tão lisa quanto uma folha de papel, além de ter alguns buracos. Mas como dizem por aí, All Star bom é All Star sujo. Eu gosto é do gasto.


A história dos elásticos é a seguinte. Até onde me lembro comecei a usá-los no pulso no ensino médio. Costumava manter sempre um farto estoque na mochila, pois além de arrebentarem toda hora, devido a fragilidade, eu usava-os para brincar de atirar. Na época eu usava dois elásticos, para indicar que me encontrava no nível dois. Tipo o Luffy do One Piece com o Gear Second e o Goku de Dragon Ball com as múltiplas transformações. Coisas de otaku. Não tentem entender minha subjetividade. Era mais uma bizarrice que só fazia sentido na minha cabeça. A ideia era que quando entrasse na faculdade eu fosse digno de usar três elásticos. E depois que passei no vestibular, assim o fiz.


Voltemos à colação. Ironicamente, fui vestido de preto, mas era só uma t-shirt básica. O engraçado do dia em si é que passei por diversos perrengues e situações típicas da minha era de estudante universitário. No caminho sofri com calor em ônibus lotado, engarrafamento e passageiros sem noção. Na faculdade, fui atendido por funcionários desinformados; tive a companhia de gente tagarela que não se calava, enquanto estava confinado em um ambiente de espera, o qual não podia me retirar; senti constrangimento devido à presença de uma pessoa a qual xavequei e tomei toco no passado; passei por um professor que não gostava no corredor e evitei fazer contato visual com o mesmo; ouvi estudantes bradando em plenos pulmões sobre suas proezas na vida profissional, só para me lembrar que a minha atual é inexistente; vi gente furando fila, ignorando os demais que aguardavam; encontrei colega que via todo dia, mas com quem nunca falei; suportei gente deselegante, capaz de usar um momento coletivo, para tirar esclarecimentos especificamente individuais. 


Foi como se tudo de pior referente a ações humanas que havia visto na faculdade ao longo dos anos fosse resumido em um só dia. Em dado momento, tentar usar meu smarthphone para me distrair de tanto caos, mas ele travou, pela primeira vez. Nem desligá-lo consegui. Foi como se o destino quisesse que eu aceitasse aquilo por uma última vez. O curioso é que apesar de tudo, nem me sentia irritado. Já estava acostumado com tantos embaraços.


Após a espera, chegou o momento da colação. Devo admitir que fiquei um tanto quanto decepcionado. Primeiro porque não encontrei ninguém conhecido. Havia imaginado uma situação hipotética em que alguém que eu conhecesse, surpreso com minha presença pergunta-se “Que milagre, você por aqui?”, ao passo que eu responderia, “Chegou a hora, então por isso eu vim.” Em segundo lugar, imaginava que na colação, se reunissem vários alunos em um auditório ou sala. Porém, contando comigo, só havia quatro formandos. Provavelmente, a colação estava sendo realizada em blocos. 


O pequeno grupo era formado por eu e outra garota, que nunca tinha visto, ambos do mesmo curso, e as outras duas pessoas eram de uma graduação diferente. Uma delas leu o juramento do curso delas e a outra pessoa repetia cada sentença. Do meu curso, eu fui o encarregado de ler, o que achei bem irônico. Foi um fenômeno parecido com as falas do Silent Bob em um filme do Kevin Smith.  Logo eu, o cara mais calado, fazer o juramento. Tudo bem que a concorrência era pequena, mas terminar sendo o “orador” para mim soou engraçado. Mas não foi nada demais. Li algumas frases escritas em uma folha de papel e acabou. Missão cumprida. Oficialmente, era bacharel.


Assim como no dia da colação de grau do ensino médio, sai do prédio da faculdade sem olhar para trás. Fora do campus, enquanto caminhava em uma rua deserta, fui tirando do pulso e atirando para o alto cada um dos meus três elásticos, como balas em uma salva de tiros, em comemoração ao término de mais uma fase da minha vida. Era uma celebração boba e particular, mas imensamente significativa e memorável para mim. Coloquei meus óculos escuros, pus as mãos no bolso, e segui meu caminho. No meu fone de ouvido, o Green Day tocava Working Class Hero, na minha playlist aleatória. Só não teve pôr-do-sol, pois era meio dia. Nem sempre a vida é tão cinematográfica como a gente gostaria que ela fosse.


sábado, 21 de março de 2015

Dias De Ronin

Quando entrei na faculdade me perguntava se estaria empregado ao término do curso. Esse é o objetivo, não? Arrumar emprego? Para isso que passamos anos estudando, prestamos vestibular, e entramos na graduação. Bom, era meu propósito. Queria me formar e após isso poder trabalhar, ser independente, ganhar meu próprio dinheiro, me tornar adulto, enfim trilhar meu próprio caminho. 


Nunca tive ambições acadêmicas. Não queria ser intelectual, nem tinha pretensão de ser chamado de doutor. Era apenas um cara, sem conhecimento técnico sobre nada, que queria aprender uma profissão e arrumar um emprego de nível superior, no qual pudesse trabalhar usando mais o esforço do cérebro do que o do corpo. Sei que um faz parte do outro, mas vocês entenderam o que eu quis dizer.


O tempo passou e o grande dia chegou. Em dezembro de 2014, minhas aventuras universitárias chegaram ao fim, após a defesa da monografia. Missão cumprida. Mas meu objetivo de arrumar um trampo fora conquistado? Não. Tentei, mas não deu. Com a conclusão do curso veio o fim da minha vida de estagiário. Após isso... Bem, na verdade, me encontro neste exato momento. No presente, vivo no mar de marasmo e desesperança chamado desemprego. Sei que não sou o único, mas isso também não me é lá muito confortante. Conheço alguns colegas que estão no mesmo barco. É a história típica de um recém formado, que por falta de vagas no mercado de trabalho sente medo, insegurança e questiona se seus anos de estudo foram em vão. 


Se estou preparado para o próximo desafio? Creio que sim, mas a oportunidade ainda não veio, apesar de procurar por ela. É claro que certos graduandos graças a QI, beleza, sorte, nepotismo, ou, até mesmo mérito, conseguem sair da faculdade empregados. Mas não é meu caso e, obviamente, irei retratar minha experiência. 


Nos primeiros dias de janeiro de 2015, início dessa nova fase, confesso que até curti o ócio devido ao meu cansaço. Estava precisando de umas férias, pois o ano de 2014 foi bastante exaustivo, por conta de estágios e monografia. Tanto é que sequer tive tempo de escrever neste blog. Mas logo os dias começaram a ficar repetitivos e entediantes. Estava sentindo falta de algo.




Inicialmente imaginei que fosse falta de contato humano. Porém, por mais inacreditável que possa parecer, consegui uns encontros com umas garotas. Mesmo acompanhado, algo continuava me incomodando.  O problema não era o vazio da solidão, com o qual já estava acostumado. Sozinho consigo viver, mas entediado não. 




Esse maldito vazio produtivo começou a me incomodar. Uma voz na minha cabeça ficava repetindo em um loop infinito “Give me a mission. I need a mission.”, ironicamente em inglês, visto que não tenho fluência, o que me impossibilita de me candidatar a vagas pró-anglofônicas. Nesse período, tive um sonho em que aparecia uma mulher feliz que me avistava e dizia para me animar e eu respondia "Não preciso de autoajuda, mas sim de um emprego." Pior que o meu eu de carne e osso concordava com sua versão onírica. Logo, precisava fazer algo que me mantivesse ocupado para parar com esses pensamentos em tempo integral, de modo a preservar minha sanidade.



Estava com uma ansiedade tão grande que até tive insônia por um tempo. Se bem creio que isso se devia mais aos dias de calor aqui no Rio do que aos pensamentos constantes em relação a minha situação atual como formado e desempregado. Ou, talvez, fossem as duas coisas. Para solucionar esse problema, comecei a caminhar pelas manhãs. Assim, pelo menos, tinha um motivo para sair de casa e ver outras formas de vida, além claro, de conseguir como benefício manter a forma. Saia tão cedo para caminhar que podia ver o sol nascendo e nisso aprendi que a vida pode ser maravilhosa. Foi uma boa ideia. Gastar toda a energia acumulada me garantiu umas boas noites de sono.


Também desenterrei meu ukulele, que estava empoeirado por um ano, dados os meus compromissos acadêmicos e profissionais. Sozinho, treinei alguns ritmos e aprendi novos acordes, mas música que é bom, nada. Até o momento só sei tocar “Parabéns pra você” e “Brilha brilha estrelinha". Vai demorar até eu poder fazer uns dedilhados que sempre sonhei em fazer.



Já que não sou mais estudante, resolvi também aprender coisas novas com ajuda do YouTube. Afinal, somar novos conhecimentos ao currículo é sempre bom. Ah, e claro, fui em algumas entrevistas de emprego. Afinal quando você esta desempregado todo dia é dia de procurar emprego. Alguns lugares pareciam legais, mas não fui aprovado. Outros não pareciam legais, mas também não fui aprovado. O fato é que a quantidade de vezes em que sai de casa rumo a uma entrevista foi insignificante comparado ao número de e-mails que enviei nos últimos meses. É frustrante não ser aprovado ou chamado.




Por último, minha mais recente atividade anti-ócio foi criar um site, meio que um portfólio, com algumas pérolas da minha vida acadêmica e profissional. Pessoalmente, acho inútil, mas ao menos agora tenho uma página politicamente correta e sem zoeiras para mostrar textos meus discrepantes com o espírito livre que por aqui predomina e que já me colocou em algumas saias justas. Agora, quando algum recrutador me encher o saco pedindo algo que escrevi, mando meu site e pronto: eles tem acesso a tudo que escrevi na vida. Pelo menos o que consegui salvar do limbo dos meus e-mails e notebook.



Estas foram as maneiras que encontrei para preencher meu vazio. Foi o que deu para fazer, considerando minha realidade. Nunca poderia seguir as dicas que certos sites dão para recém-formados, como viajar, aprender idiomas, fazer cursos. Ótimas ideias, mas esquecem que é bem complicado fazer isso sem dinheiro. Pelo visto Lancaster Dodd, personagem de Philip Seymour Hoffman em O Mestre, estava ao sugerir que é impossível viver sem servir a nenhum mestre. Que venha o próximo o quanto antes. Minhas economias estão acabando.



PS: Ronin é um samurai sem mestre.