quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O Sentido Da Vida

Qual é o sentido da vida? O homem há muito tempo procura uma resposta para essa pergunta e até hoje não conseguiu respondê-la. O significado da existência humana continua a ser um mistério, uma lacuna em branco a ser preenchida.



O senso comum diz que o sentido da vida é ser feliz. Logo, a busca pela felicidade tornou-se obrigatória na nossa sociedade. Mas e quem não consegue ser feliz? Sua vida não tem sentido? Felicidade é um sentimento, muitas vezes relacionado a conquista de algo que se deseja profundamente. Não pretendo criticar quem procura e quer ser feliz, porém é preciso lembrar que nem sempre conseguimos tudo que queremos. É preciso tentar, entretanto é necessário estar preparado para o pior. Nem sempre o mundo é benevolente com os nossos desejos mais profundos.



Em várias oportunidades em que disse a mim mesmo “Vou ser feliz”, me dei mal. É angustiante desejar algo de coração e não conseguir. Você se sente profundamente decepcionado e as pessoas não te entendem. Falam que é normal, que é assim mesmo. Não se solidarizam e você acaba sentindo pena de mim mesmo. Por essas e outras, percebi que meu propósito na Terra certamente não é tentar ser feliz. A procura pela felicidade só me trouxe infelicidade.



O sentido da vida é um profundo questionamento filosófico. Muitos decidem procurar uma resposta na religião. É a clássica história do sujeito que sente uma sensação de vazio em seu interior, resolve deixar de lado a razão e passa a crer que sua vida faz parte de um plano maior elaborado por uma criatura divina onipotente. Tudo transcorreria de acordo com a vontade de Deus. O sentido de sua vida passa então a girar em virtude de uma devoção a uma entidade invisível e incomunicável. Os religiosos que me perdoem, mas essa busca pelo sentido da vida através da fé, não faz o menor sentido para mim. 
Posso estar enganado, é claro. É inegável, contudo, que a vida após a morte é uma incerteza. Por essa razão, acho arriscado levar uma vida baseada na fé e regida por dogmas religiosos. Sei que as pessoas religiosas creem que serão salvas na eternidade, mas isso é muito incerto. A morte é a única certeza. As pessoas não gostam de pensar muito nisso, mas é a verdade. A morte dança com todos. 



A religião serve de consolo para os que temem a morte, afirmando que há vida após ela. As pessoas obviamente querem ir para o céu, logo se submetem à normas de boa conduta de suas religiões, com o intuito de chegar ao paraíso. A fé, alimentada durante anos, faz a pessoa crer que no fim de sua vida, quando tudo ficar escuro e o sentidos lhe abandonarem, uma criatura celestial aparecerá para levá-la ao outro mundo. Essa seria a vinda não só da luz no fim do túnel, como também de todas as respostas sobre a existência. 



Mas e se tudo continuasse preto e não aparecesse luz nenhuma? Fiz essa reflexão assistindo ao filme O Sétimo Selo. Na história, um cavaleiro medieval questiona a Morte a respeito do sentido da vida, da fé e da existência de Deus. No final, o cavaleiro morre sem obter qualquer resposta.



No fim de nossas vidas passaremos por um aterrorizante escurecer, assustador, mas previsível para aqueles que nunca acreditaram em nada além disso. Céu e inferno são criações do homem. Quem crê nisso corre o risco de sofrer uma agoniante decepção nos seus instantes finais de vida, pois há a chance de não ocorrer nenhuma revelação divina. A certeza que temos é a de que somos mortais. Contudo, o medo da morte não pode nos fazer esquecer de viver. 
Por isso, por mais redundante que possa parecer, acho que a resposta para o sentido da vida deve estar na própria vida. Porém, a vida não pode ser vista como uma unidade. Ela é única sim, mas para cada pessoa. Todos têm vidas únicas e diferentes. Cada vida, portanto, adquiri um sentido diferente, que deve ser descoberto por cada um de nós. Não devemos nos perguntar qual é o sentido da vida, mas sim qual é o sentido de nossas vidas.
As pessoas costumam construir um sentido para as suas vidas baseado na religião, no trabalho, na família. Algumas baseiam suas vidas em torno de nada. Não acho que seja obrigatório escolher um sentido para a própria vida, mas acho muito triste uma pessoa viver sem qualquer tipo de propósito ou objetivo. 



Também vale ressaltar que a resposta para o sentido da vida não é absoluta. Ela é mutável e pode variar ao longo da nossa existência. A complexidade da vida prevê isso, já que ao longo dela somos submetidos às mais variadas situações e emoções. O homem é uma pequena pilha miserável de segredos, não só para os outros, como para si mesmo. Assim, com o tempo, pode vir a se conhecer melhor e mudar de objetivos. 



A aparente complexidade humana nos faz esquecer o quanto somos insignificantes diante do Universo. Até por isso, é uma tolice perguntar qual é o sentido da vida, dada a nossa insignificância. Só o Homer sabe.



Mesmo assim, acho que vocês querem uma resposta mais objetiva para a questão inicial. No filme O Sentido da Vida, o Monty Python deu a seguinte resposta: "Tentem ser bons com as pessoas. Evitem comer gordura. Leiam um bom livro de vez em quando. Caminhem regularmente. Tentem viver em paz e harmonia com pessoas de todos os credos e nações." Excelente resposta.



Já que falei anteriormente que cada um de nós deve procurar um sentido para sua vida, eu não poderia encerrar a discussão sem dar a minha resposta. Quer saber a minha resposta atual para o sentido da vida? Lutar e se apaixonar. "Lutar" não no sentido de combate físico, mas como um confronto de qualquer natureza. "Lutar" para mim é trabalhar duro para conquistar meus objetivos, empenhando-me ao máximo para conseguir o que quero. Em segundo lugar, há a questão de "se apaixonar", não despertando a paixão de ninguém, mas me deixando apaixonar, como uma vítima do amor. O interesse pode ser por alguém, por uma atividade ou pelo mundo ao meu redor. 
Enfim, em resumo, sou um soldado do amor. Esse é o sentido da minha vida. Essa é a minha missão. A razão da minha existência. Quando perder essa capacidade estarei morto, independente do estado do meu corpo.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Religião

Tive criação católica. Fui batizado, catequizado, ia às missas aos domingos. No entanto, conforme crescia e conhecia melhor o mundo e a mim mesmo, comecei a fazer certos questionamentos. Logo, aos poucos, fui perdendo minha religião, até chegar ao ponto em que minha confiança nas instituições religiosas caiu por terra, assim como a minha crença nas divindades em geral. Agora, de cristão, só me resta o nome de batismo. 



Nunca gostei de ir à igreja. Francamente, sempre achei esse hábito um tanto quanto enfadonho. Na maioria das vezes em que ia, minha mente voava e eu ficava pensando em outras mil coisas, menos na missa. Quando era criança sequer compreendia direito o que era dito pelo padre. Comecei a prestar mais atenção no que era falado quando fiquei mais velho. Só então me dei conta de que ir para missa significava ir a um lugar onde se ouvia sobre moralidade e, principalmente, sobre todas as diferentes maneiras de ir para o inferno.



Ok, exagerei dessa vez. Não se falava só sobre isso, contudo era o que mais me impressionava. Eu chegava a arregalar os olhos de medo. Isso me fazia sentir mal, já que eu praticava inúmeros pecados que certamente após a morte, me levariam rumo a um castigo nas dependências do sujeito vermelho com chifres. O fato é que eu não gostava de me sentir acusado, como um pecador, o tempo todo, só por ter cometido os sete pecados capitais e metade dos dez mandamentos.



Por que ir, então? Quando era criança ia por orientação da família. Fazia o papel do bom menino que ia à igreja, pois não queria criar problemas, bancando o revoltado. No entanto, com o passar dos anos, continuei indo, mesmo sem motivo aparente. Tal qual a personagem Bethany do filme Dogma, eu ia mais pelo hábito do que pela fé. Quando me dei conta disso, simplesmente deixei de ir. 



Já que citei o filme do Kevin Smith, acho que é uma boa hora para falar sobre dogma. Dogma é uma crença indiscutível estabelecida por uma religião. Isso é um grande problema, já que cada religião acredita que somente ela é legítima e detentora da verdade absoluta. Por causa de dogmas, o comportamento de alguns religiosos beira a uma teimosia infantil, imune a argumentos. Tal modo de pensar trunca diálogos e promove confrontos entre as religiões. O dogma é a base do fanatismo religioso, que pode levar a conflitos, intolerância, guerras, e claro, mortes. No passado da nossa humanidade, era recorrente que pessoas que desrespeitassem um dogma religioso fossem perseguidas, torturadas, queimadas e enforcadas.
Ainda hoje, pessoas são marginalizadas por questionarem dogmas que norteiam suas religiões. Geralmente, elas são expulsas de seus grupos religiosos por divergirem de algum ponto de vista e daí taxadas como hereges ou blasfemadores. Talvez por isso hoje se proliferem múltiplas religiões mundo afora. Não estou defendendo a supremacia de nenhuma instituição específica, só acho estranho mudar uma religião conforme a conveniência, como se ela fosse personalizável. Que nem essa bobagem de católico não praticante, que só existe no Brasil. Ou você é ou não é. Eu, por exemplo, simplesmente resolvi não ser mais católico. O papa não mais me representa. Isso significa que posso fazer sexo com camisinha, obrigado. 
O dogmatismo religioso me incomoda, pois ele não pode ser questionado. Um dogma é absoluto para aqueles que nele acreditam. Isso dá grande poder aos líderes religiosos e legitimidade às suas ações, até mesmo as mais equivocadas. A história está ai para comprovar isto. A Igreja, por exemplo, apoiou a escravidão e foi omissa em tantas outras oportunidades. Nos tempos modernos, temos escândalos de corrupção e abuso de menores. 
Como deu para perceber as instituições religiosas não me inspiram muita confiança. Daí se origina metade do meu abalo espiritual e religioso. A outra metade da questão, a mais importante, é a relação entre indivíduo e divindade. Acredito que ela possa ocorrer sem a ajuda de intermediários, isto é, sem instituições religiosas. Penso que uma pessoa que crê em uma divindade, pode se comunicar diretamente, estabelecendo com ela um elo pessoal e íntimo.



Para mim, isso não seria possível. Eu não conseguiria ter uma relação de devoção sincera com uma divindade, pois duvidaria da sua existência. Até por esse motivo, não procurei outras religiões. Teria que ser algo real. Simplesmente não consigo crer em algo que não vejo, que não se comunica, que não se manifesta. Só mesmo um milagre ou uma situação apocalíptica como no filme É o Fim, para me fazer acreditar em algo. Sou daqueles que precisa ver para ver. Um homem sem fé, já que a fé é cega.



A questão ia além do desgosto pelos sermões moralistas. Podia inventar a desculpa que fosse, mas sabia que o real motivo de não querer ir à igreja era minha falta de fé. Fé é a firme opinião de que algo é verdade. Uma crença que dispensa qualquer tipo de prova, a qual se deposita absoluta lealdade e confiança. Ou seja, fé não é algo que se vê, é algo que se sente. Eu não sentia nada. Foi duro, mas enfim admiti a mim mesmo que não tinha fé plena e absoluta em coisa alguma.
Levar a discussão para o lado espiritual, também não conta. Essa história de que a fé está dentro de nós, em nossos corações, em nossas almas, não me atinge. O senso de justiça do Batman vive em mim, nem por isso me visto de morcego no Natal. Concordar com os valores de alguma coisa, não me faz acreditar que ela seja real. Por isso insisto que ver algo concreto, solidificado, me ajudaria a ter fé de verdade em algo. Por exemplo, se tivessem me dito que o sol era um deus, provavelmente eu acreditaria e teria uma religião até hoje. Afinal de contas o sol é grande, brilhante, visível e tem real utilidade, nos fornecendo luz e energia.



Perdoem-me pelas comparações infelizes. Não tenho a intenção de caçoar das crenças de ninguém, mas às vezes esqueço que com religião não se brinca. Não faço de propósito, porém de vez em quando uma piada escapa. Certa vez criei um mal estar com uma das pessoas mais abertas, liberais e doces que já conheci por causa disso. Despreocupadamente, perguntei se ela acreditava em alguma religião gótica neopagã louca. E era exatamente o caso... 
Errei, admito. Entretanto acho isso uma grande hipocrisia. As pessoas adoram ouvir piadas sobre a religião alheia, no entanto, surtam quando a piada diz respeito a religião delas. É como naquele ditado popular: pimenta nos olhos dos outros é refresco. Igual ao Isaac Hayes, que abandonou a dublagem do personagem Chef em South Park, pois os criadores do seriado fizeram um episódio que caçoava da religião dele, a cientologia. Antes disso, Hayes não se incomodava quando o programa fazia piadas sobre outras religiões.



Voltemos a questão da fé. Não se pode duvidar e ter fé ao mesmo tempo, logo me restou a dúvida. A ausência de fé pode levar a caminhos diferentes. Algumas pessoas tornam-se céticas e passam a acreditar somente na ciência, por exemplo. O cético usa o pensamento crítico e a ciência para checar a veracidade de diferentes fenômenos e assim, através de fatos e dados concretos, tenta comprovar a inexistência divina. 



Religião e ciência são velhas inimigas que se confrontam a muito tempo. Vários embates entre cientistas e religiosos ocorreram ao longo da história. Ainda hoje ocorrem desentendimentos. Na atualidade, a questão do aborto, o uso das células-troncos, a teoria criacionista, e tantos outros assuntos continuam a provocar discussões ácidas entre as duas partes. 
O ceticismo geralmente leva ao ateísmo. O ateu rejeita a existência de divindades e criaturas sobrenaturais, pois isso não se pode comprovar cientificamente. Neste caso, não há dúvidas e sim uma certeza. Um ateu convicto simplesmente não acredita que exista um ser superior e invisível.
Não me declaro ateu, porque noto uma certa pompa entre eles. Por mais irônico que pareça, o ateísmo é tão arrogante e presunçoso quanto qualquer religião. Costumo me referir ao ateísmo como a religião dos sem religiões. Por mim, tudo bem a pessoa não acreditar em nada, mas ela não precisa se prestar ao papel de taxar de idiotas todos os que seguem uma religião. 



É isso que me incomoda no ateísmo, assim como nas religiões em geral: não basta você ser, é preciso mostrar a todos. Entre ateus e religioso, não sei quem é mais irritante. Ambos acham que estão certos e tentam te convencer disso. Acredito que ninguém seja dono da verdade. Eu não tenho a certeza de nada. Restou-me o agnosticismo. Um agnóstico é aquele que diz que a existência de um deus não pode ser provada e nem negada, uma pessoa sem fé, que não argumenta contra nenhuma crença. Ou seja, me torno impotente toda vez que alguém me pergunta se acredito em algum deus, pois não consigo responder a essa questão com convicção. Simplesmente me recuso a dizer sim ou não. Eu não sei. Não sei mesmo.



A questão é que depois de toda essa análise, eu simplesmente resolvi parar de pensar nisso tudo. Resolvi eu mesmo tomar conta do meu destino e assumir a responsabilidade pelo rumo que a minha vida leva. Mesmo se existir vida após a morte, acredito que o que pode nos salvar não é nossa escolha religiosa, mas sim nossas atitudes, as pequenas escolhas que fazemos no dia-a-dia e que nos definem como pessoas. Dogmas e regras são desnecessários. Como disse o Sirius Black, todos nós temos luz e trevas dentro da gente. No fundo, sabemos se somos, em essência, pessoas boas ou ruins.



Não nego que a religião pode salvar vidas. Ela pode ser confortante para pessoas desesperadas, perdidas, desoladas, deprimidas, gente que sente um profundo vazio existencial dentro delas e que têm a necessidade de se sentirem acolhidas por algo maior. Mas isso se dá através de controle, de devoção, de submissão e de disciplina. Não é algo natural. É um comportamento mecânico, programado, que repreende desejos do corpo e da mente, o qual para mim não tem sentido. O ser humano deveria cair na real e perceber que o verdadeiro poder está nele mesmo. É preciso deixar as crendices de lado, arregaçar as mangas e botar as mãos na massa para fazer as coisas acontecerem. Independentemente de sua fé, um homem deve ser capaz de ser mestre de si mesmo.

domingo, 13 de outubro de 2013

Depressão

Depressão é um tema que tem me acompanhado por boa parte da minha vida. Embora eu não me considere depressivo, muitas vezes fui taxado como tal. Acredito que isso tenha ocorrido por causa da minha personalidade, digamos, peculiar. 
É difícil explicar para quem não me conhece, por isso acho mais fácil usar um personagem para nível de comparação. Sabe o Bisonho dos desenhos do Ursinho Pooh? Aquele depressivo burro cinzento, de voz entediada e monótona, meio pessimista, que nunca fica contente ou entusiasmado com nada? Imagine uma versão humana da criatura. Esse sou eu.


Apesar de reconhecer em mim mesmo todas essas características, não me considero depressivo. Para mim, depressão é algo sério, uma doença perigosa que pode arruinar a vida de uma pessoa, se ela se deixar levar. 
Veja bem, isso aqui não é um livro de autoajuda. Lamento por quem esperava por isso, mas vão vou dizer a ninguém para amar mais, aproveitar a vida, e todas essas outras bobagens tolas e óbvias que esses livros costumam explorar para serem vendidos. Meu objetivo é tentar definir o que é depressão.
Já que disse que não me considero depressivo preciso deixar claro quem o é. Uma pessoa depressiva, na minha opinião, é alguém que vivia uma vida normal, até que um dia, um incidente lhe fez sofrer um grave abalo emocional, deixando-a deprimida. Vários fatores podem desencadear uma depressão. O problema está na força que esses motivos ganham quando não são superados pela pessoa. Isso é muito perigoso, pois um caso de depressão grave pode levar ao suicídio.


É difícil sair da zona da depressão. A pessoa cai nela como em um abismo e, às vezes, jamais torna a ver à superfície. O que caracteriza a depressão é a perda de interesse. Desistir da vida. Tudo torna-se sem graça e sem sentido. O depressivo é abatido por uma dor que ninguém compreende, não se sentindo estimulado a fazer mais nada; torna-se um apático. O que impera é um sentimento de entrega à uma angústia interminável. Na depressão, o pior inimigo é você mesmo. 


Entretanto é preciso não confundir depressão com tristeza. A tristeza tem motivos, a depressão não. É normal se sentir triste de vez em quando. A vida nem sempre segue o curso que desejamos. Coisas ruins acontecem o tempo todo. Desilusões, tragédias, descontentamentos, tudo isso leva à tristeza. Nem todos se recuperam. É importante não se deixar levar pela tristeza, pois quando prolongada, pode vir a se tornar uma depressão.


A vida em sociedade também estimula a depressão. O convívio com outras pessoas influencia nosso humor, nossa personalidade e nossos desejos. Nos importamos com o que pensam a respeito da gente. Fazemos comparações para saber quem é o melhor. Nesse contexto, ser feliz, ou aparentar ser, é fundamental.


Vivemos em um mundo muito louco. A vida é muita coisa, menos simples. Ela está cada vez mais complexa. Recebemos múltiplos estímulos e opções o tempo todo. Somos pressionados a tomar decisões as quais não estamos preparados. Tem gente que não consegue o que quer e acha que é um fracassado. Daí surta, se deprime. Infelizmente, na nossa sociedade, tem gente que acha que perder é ser menor na vida. Tudo isso porque a felicidade se tornou um jogo, o qual todo mundo deseja vencer.


Todo mundo fala que só quer ser feliz. Para essas pessoas proponho que olhem ao seu redor. Todo mundo quer isso. Que ser humano quer ser infeliz? É óbvio que nem todos alcançarão a felicidade. Essa busca pode levar a vida toda e sequer há certeza de que ela será conquistada. Por mais irônico que seja, o anseio pela felicidade pode levar a depressão. 
É preciso ser realista e encarar que certos desejos pessoais podem não vir a se realizar. Existem coisas maiores do que a gente, independentes de nossas vontades. É melhor cortar as asinhas logo e manter os pés no chão. Há competição e nem todo mundo vai vencer. Vá, tente, mas esteja preparado para o pior. Tudo bem ficar triste se não conseguir. Mas é bom ter a noção de que, talvez, você nunca se torne o herói da classe trabalhadora que pensou que seria um dia. 


Por essas razões me pareço com o Bisonho. Espero sempre o pior, logo nunca fico decepcionado. Como estratégia de defesa, não me entusiasmo por pouca coisa. O que alguns chamam de tristeza ou depressão, eu chamo de estado de normalidade.


Não sou feliz, mas até que vivo bem comigo mesmo. Rio quando acho graça de algo, esboço o mínimo de reação quando me sinto irritado. Faço as minhas coisas. Isso confunde as pessoas. Algumas pensam que eu não quero nada da vida, que sou um niilista. Contudo, vivo atento ao que acontece ao meu redor. Sou apenas um falso desinteressado. Acho que deve ser meio incômodo conviver com alguém que quase nunca se mostra animado. Lamento por isso, mas é como naquela frase do meme do Sad Keanu: Você precisa ser feliz para viver, eu não. 


É muito bonito dizer que estou satisfeito do jeito que sou, mas tomar para si uma personalidade dessas traz consequências. Por mais que você explique, os outros vão continuar pensando que você é depressivo. Isso, é claro, afasta algumas pessoas. Ninguém quer ficar perto de alguém triste. Alguns até tentam te animar, mas quando descobrem que sua a personalidade é igual à da Funérea, caem fora.


Recentemente, retomei contato com uma amiga com quem a tempos não falava. Perguntei na cara dura porque ela havia se afastado de mim e me surpreendi com a sinceridade da resposta dela: “Você estava sempre para baixo. Eu tentava te animar e você nada. Decidi então me afastar de você”. Nem depois de ter ouvido essa me considerei depressivo. É mais fácil mudar de atitude do que ir em farmácia atrás de Prozac. Ela até que tinha razão, pois na época em questão eu estava insuportável. Fiz dela uma pobre vítima, a qual contava de maneira pessimista as tragédias da minha vida, como se ela fosse uma novela mexicana narrada pelo Hardy Har Har. Bota drama nisso. 


Curiosamente, a depressão também é utilizada como forma de socialização. Isso mesmo: reunir pessoas. Quer exemplos? Algumas religiões tentam cooptar depressivos, dizendo que a fé pode preencher o vazio de suas almas (e o bolso de algumas pessoas também). O depressivo torna-se então um membro da religião, pensando que a fé irá curar a sua doença. Certas tribos urbanas também são estereotipadas como reduto de depressivos. Existem pessoas que abraçam totalmente um modo de vida melancólico e pessimista, que gostam de ser vistos dessa forma. Os góticos são um bom exemplo disso. 
Em um dos episódios de South Park, o Stan (o menino de boina azul) se separa da namorada e fica todo doído por causa disso. Kyle (o judeuzinho eternamente trollado pelo Cartman), seu melhor amigo, cansado e irritado de ver Stan deprimido, lhe desafia a andar com os góticos da escola. Stan topa. O garoto começa a andar com a galerinha que se veste de preto, gente obcecada com a não-conformidade. 


Achei engraçado, pois me aconteceu algo semelhante. Em uma época de seguidos infortúnios em minha vida, busquei refúgio na música pós-punk. Comecei a ouvir The Cure, Joy Division, e outras bandas cultuadas pelos góticos. Continuo gostando dessas bandas, mas minha vida musical, hoje, não é só constituída por playlists de música deprê. A vida não é só isso.


Enfim, apesar de nunca ter sido a pessoa mais eufórica que alguém já possa ter conhecido, acredito que viver em depressão não seja o caminho. Todo mundo tem problemas. Problemas diferentes, os quais alguns eu francamente não faria a menor ideia de como reagiria, caso acontecessem comigo. Não devia ser surpresa para ninguém que o mundo, às vezes, pode ser muito injusto. Sequer vale a pena ficar comparando quem sofre mais. Nossos problemas são importantes para nós mesmos, não importa o quanto pareçam insignificantes para os outros. De qualquer modo, temos que lidar com eles. Não dá para sentir pena de si mesmo. Não dá para desistir de si mesmo.

PS: Criar uma página no Facebook chamada “Crônicas Faraônicas da Depressão” seria pleonasmo.

domingo, 6 de outubro de 2013

Suicídio

Não se preocupe. Esta não é uma carta de suicídio. Não tenho a menor intenção de fazer isso, apesar das constantes demonstrações de desamor com a minha própria pessoa. Não pretendo passar uma corda em volta do meu pescoço. 


Além do mais, jamais escreveria um bilhete desses para ser lido por desconhecidos na internet. Se o fizesse, escreveria notas a mão, as quais destinaria à pessoas especificas. A mensagem seria curta e breve, seguindo meu padrão minimalista. Nela só constaria os dizeres “Você é culpado”. “Lide com isto”, responderia a consciência.


Minha intenção aqui é só falar sobre o suicídio, um tabu que poucos se propõem a discutir. Geralmente, quando se fala em suicídio, a discussão é simplificada ao máximo. A culpa é toda colocada na pessoa que se mata, um maluco, um depressivo, um solitário, um miserável. Só que a questão vai muito além disso.
Antes de prosseguir, preciso fazer uma ressalva. Estou falando da versão clássica do suicídio, aquela em que a pessoa decidi pôr fim a sua própria vida, sem um motivo aparente. Logo, não estou me referindo a morte por honra, auto sacrifício ou protesto. O suicídio tratado aqui é o, digamos, “menos nobre” de todos.


Em relação ao suicídio, um ponto a ser pensado é o motivo. Nenhum outro ser vivo faz isso. O suicídio é uma prerrogativa humana. Porque então um homem se suicida? Fiz essa pergunta a mim mesmo, quando li uma entrevista com um dos amigos do Champignon, baixista da banda Charlie Brown Jr., que cometeu suicídio. O entrevistado disse algo na linha de “Não dá para gente entender o que leva uma pessoa a deixar de se importar com a própria vida, a ponto de tirá-la”.
As causas mais comuns para o suicídio são transtornos mentais, depressão, alcoolismo, vício em drogas, dificuldades financeiras, problemas emocionais. Coisas do homem moderno. Contudo, além de existirem outras causas, mesmo dentro das citadas há variações e até combinações entre elas. É difícil taxar, etiquetar um suicida. Só o próprio sabe porque se matou.
No filme Control, por exemplo, que fala sobre a vida de Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division, percebi que vários motivos poderiam tê-lo levado ao suicídio. É impossível saber o que exatamente leva um cara de 23 anos, com uma carreira toda pela frente, a se matar. Mas os motivos estavam lá: os ataques epiléticos, a depressão, o fim do casamento com a esposa, ser pai, as pressões de estar em uma banda. 


Coincidentemente, as duas pessoas que citei seguem o triste clichê do roqueiro suicida. No rock não faltam exemplos de casos de suicídio. Trata-se de um universo peculiar, com ideais de contracultura, indivíduos desajustados e idolatria a posicionamento questionáveis. Kurt Cobain, do Nirvana, escreveu uma canção chamada I Hate Myself And I Want To Die (Eu me odeio e quero morrer). Layne Staley, em um verso de um dos hits do Alice in Chains, dizia “If I can’t be my own, I’d feel better dead” (Se não posso ser eu mesmo, eu me sentiria melhor morto). Ambos se suicidaram. Os sinais estão sempre ali, evidentes, mas preferimos aplaudir o espetáculo da tragédia humana.


Contudo, um suicídio traz implicações em outras pessoas. É um ato solitário, mas não é. Afinal, nenhum homem é uma ilha. Até o mais recluso dos suicidas possui uma rede de relações, que é afetada após a tragédia. O simples fato de ter conhecido o suicida já é capaz de abalar o emocional de um ser humano com o mínimo de sensibilidade e empatia. Pior ainda, quando acontece com algum familiar.
No caso do Champignon, vi muitas pessoas nas redes sociais chamando-o de covarde, por ter se matado deixando viúva sua mulher grávida. Vou parecer mal, mas isso precisa ser falado. A vida é um bem pessoal e intransferível. É um pensamento simplista, o qual as pessoas preferem esquecer. Sei que o ser humano é um ser social. Sei que vivemos em uma cultura de casamentos e relacionamentos sérios. Porém, no fundo, estamos todos sozinhos. Não é agradável, mas é bom ficar ciente disso.


Boa parte do repúdio que a sociedade tem a respeito do suicídio está relacionado à religião. De acordo com o cristianismo, suicidar-se é comprar uma passagem para o inferno, vide Constantine. Para os católicos, trata-se de uma ofensa grave contra a santidade da vida.


Não estou defendendo quem comete suicídio. Só proponho uma melhor compreensão, observando o tema através de outros pontos de vista e variáveis. O suicídio é a décima maior causa de mortes no mundo, mas ninguém faz campanha sobre isso. A mídia não toca no assunto, com medo de popularizar um hábito que pode tornar-se tentador para pessoas sem esperança na vida. Mas sabemos muito bem que isso acontece. Vários estudantes do Rio de Janeiro sabem que a Uerj é o point de suicídio mais badalado da cidade. Agora o porquê, não é discutido.
Uma vez, assisti a história de um velho escritor que vivia isolado em um sítio e decidiu se suicidar. Longe de tudo e todos, o homem dedicava seus dias de velhice a ler livros. Foi acometido por uma doença. Perdeu a visão. Preferiu se matar a viver daquele jeito. Para que julgá-lo ou falar sobre vontade divina? Essa foi a escolha do homem.
Cada um faz o que quiser com a própria vida. Não temos direito de julgar aqueles que escolhem um atalho para o fim, chamado suicídio. Podemos lamentar, compadecer, mas condenar, não. Cada um de nós lida com o mundo de forma diferente. É tolice generalizar dizendo que todos tem que ser fortes, superar as dificuldades e continuar vivendo. Tem gente que simplesmente não quer. Que não aguenta mais. Isso é uma escolha pessoal. Lamentável, mas individual.
O comportamento suicida relaciona-se com a incapacidade do indivíduo de encontrar soluções para seus problemas. A saída encontrada é a morte, uma viagem sem volta. Dor para os que ficam. Alívio para os que vão. A vida é uma só, mas tem gente disposta a debandá-la. Para quem tem uma vida maravilinda, isso pode soar absurdo. Porém, para outras pessoas, a vida é encarada como um sofrimento contínuo. Essas pessoas querem se libertas da vida. O corpo é a última prisão. Faça as contas.

PS: Reitero: não sou suicida. Pretendo viver até 2050. Isso se não houver acidentes de percurso, é claro.