terça-feira, 31 de maio de 2011

Finais Felizes E Injustiça

Essa é uma das histórias das minhas férias de verão que não figuraram no meu primeiro texto deste ano por preguiça minha de escrever. Como nesta semana eu estava sem inspiração alguma para explanar sobre outro assunto qualquer e mais importante, resolvi tirá-la do fundo do baú e enfim escrevê-la. Começarei explicando a minha situação do dia em questão. Mais uma vez eu estava em casa sem ter o que fazer (novidade...). Pode parecer redundante escrever tal frase em tantas crônicas, mas ela por si só explica muita coisa. Passeando pelos canais de televisão não encontrei nada que me despertasse interesse. Resolvi me render ao Cinema em Casa da emissora do seu Senor Abravanel. O filme que estava passando no dia era A Nova Cinderela, protagonizado pela gostosinha da Hillary Duff.


Admito que eu já havia visto esse filme antes, mas dessa vez o assisti com outros olhos. Principalmente o final, feliz para variar. O cinema tem essa mania de criar finais felizes para deixar todo mundo de bem com a vida depois da sessão. A felicidade vende. No final do filme em questão, por exemplo, o amigo nerd da protagonista enfim consegue pegar uma mulher, a madrasta malvada é desmascarada e punida junto com suas filhas invejosas, a mocinha fica com o galã bambambam do colégio e vai para a faculdade que tanto queria etc.
Você deve estar se perguntando o que tem de mais nisso. Nada de mais, para falar a verdade. Não há nenhuma novidade nesse tipo final. Afinal o cinema pipoca, o cinema que vende e dá lucro aos produtores, é o cinema de ficção. Neste quesito, as historinhas bonitinhas certamente vendem mais do que os dramas, documentários e filmes conceituais. A crítica pode até descer o pau nesse tipo de filme meloso, mas quem banca o cinema no fim das contas é o público, ou melhor dizendo, as namoradas que obrigam os rapazes a assistirem com elas esse tipo de filme. Pelo menos há recompensa depois da sessão (esperamos que haja).
Mesmo tratando-se de um um filme bobo, que pouco tinha a acrescentar à minha vida, nesse dia fiquei pensando seriamente porque no mundo real em que vivemos as coisas não funcionavam assim. Será mesmo que existem tantos finais felizes na realidade quanto os que aparecem na ficção? “Vilões” punidos e “heróis” condecorados? Seria muito bom, não seria? Pela lógica era o que devia acontecer, mas infelizmente não é o que acontece o tempo todo.
Por causa do tema, hoje até darei uma pausa no meu egocentricismo carismático para falar sinceramente sobre o que penso à respeito desse assunto. Em outras palavras, dessa vez não me usarei como exemplo e nem para fazer comparações. Não que eu goste de me ferrar, mas isso é algo que me acontece a tanto tempo que até já me acostumei. Tanto é que aprendi a me divertir um bocado com essas situações. Rio de mim mesmo o tempo todo. Desse modo, eu não seria a melhor pessoa indicada para ilustrar as ponderações que aparecerão no parágrafo seguinte.
Muitas vezes sem querer lidamos com situações indesejáveis. Ou melhor: ficamos reféns de uma situação indesejável sofrida por outra pessoa. Confuso? Deixe-me explicar melhor. Imagine uma boa pessoa. Não precisa nem ser um grande amigo seu. Um fulano que você bate o olho e pensa “Que pessoa legal!”. Você admira a forma que ela vive, seu jeito bondoso de lidar com as pessoas, seu bom humor etc. Imagine agora, um obstáculo na vida dela. Um problema financeiro, escolar, amoroso, como preferir. Você tem certeza que o fracasso se aproxima dela e você não pode fazer nada a respeito. Só lhe resta assistir ela lutar com todos os esforços contra isso, mesmo sabendo que para ela, lamentavelmente, é tarde demais.
Ingenuamente em um momento dessa batalha pessoal dela você pode até mesmo acabar acreditando que no fim tudo irá dar certo. Afinal, ela é uma boa pessoa, ela merece ser recompensada. Mas infelizmente a sua visão pessimista de fracasso inicial é a que acaba prevalecendo. As coisas dão errado e você não sabe o que fazer. Mais uma vítima da injustiça. Você sente uma dor que não é sua. E sente mais ainda por não poder fazer nada a respeito.
Em contraste à esse exemplo, ao longo da vida você conhece inúmeros egoístas, canalhas, calhordas, víboras e alpinistas sociais que conseguem tudo o que querem. Belas namoradas, bons empregos, sucesso. Isso te deixa um desanimado em relação ao mundo. Você não sente a felicidade dessas pessoas, ao contrário das pessoas do exemplo anterior, as quais você se solidariza mesmo no fracasso. Aqui sequer trata-se de um sentimento de inveja. Intimamente você deseja que esse tipo de gente mesquinha fracasse, se dê mal, algo que às vezes acaba nunca acontecendo. É como diz em uma letra do L’Arc~en~Ciel, ”Ser bom não nos protege, ser honesto não deixa você entender.”
Atordoado com todas essas ideias na caixola resolvi pedir auxilio para lidar melhor com elas. Fiquei on-line no MSN e disparei para três garotas aleatórias (ou melhor, as três únicas que estavam on-line e que ainda tinham paciência para falar comigo) a seguinte pergunta: “Porque o mundo é injusto?”.
É incrível como quando você resolve sair em busca de uma resposta para um enigma da sua vida, ninguém lhe dá uma boa, que realmente responda aquilo que está lhe aflingindo. Ouvi como respostas dois “Não sei” e a outra menina simplesmente quis brincar de retórica comigo, perguntando-me de volta a mesma coisa. Sensacional. Imagina se os gregos, ao visitarem algum oráculo após dias de peregrinação fossem respondidos dessa maneira. No mínimo eles perturbariam a paz no templo com xingamentos em voz alta e acusações de charlatanismo.


Sem uma cândida luz feminina que me ajudasse a achar uma resposta dessa vez tive que tirar minhas próprias conclusões sobre o assunto. Vamos a elas. Algo que diferencia a vida da ficção é que a vida não tem final feliz. A vida é feita de momentos bons ou ruins, justos ou injustos; não importa, o importante é estarmos vivendo. Sendo assim por hora parei de pensar em toda a injustiça que existe no mundo e me reservei ao direito egoísta de viver a minha vida um pouquinho. O final de todo mundo mesmo é o cemitério. Garanto que lá não rola um beijo para celebrar o final feliz. Se bem que existem os necrófilos que além de beijar fazem coisas piores...


sexta-feira, 27 de maio de 2011

Olhe Nos Meus Olhos

Num dia desses em que eu estava em casa sem ter o que fazer, resolvi assistir mais uma vez ao DVD (pirata por sinal) do filme Funny People (Tá Rindo Do Quê?). O diferencial dessa vez é que assisti ao filme com os comentários do diretor Judd Apatow e dos atores Adam Sandler e Seth Rogen. Um que chamou a minha atenção foi um em particular do diretor Judd Apatow, que nada tinha a ver com o filme. Durante um momento em que os três falavam sobre o bom contato visual que Sandler mantinha em uma das cenas do filme, Apatow comenta que nos primórdios do seu relacionamento com a também atriz Leslie Mann, ela lhe chamava a atenção por causa da sua falta de contato visual durante as conversas. Ele ficava fitando os lábios das pessoas ao invés dos seus olhos e como justificativa dizia que fazia isso para prestar mais atenção nas palavras ditas pelos outros.


Essa história de mal contato visual me lembrou do meu passado pré-adolescente, cujo meu contato visual com as pessoas era pífio, ou melhor dizendo, inexistente. Nunca olhava nos olhos de ninguém. Nem sei bem o porquê. Alguns alegavam que eu era autista e outros alegavam que eu era marrento. Talvez algum psicólogo espertalhão explique-me isso no futuro, no dia em que eu puder pagar um. O fato é que constantemente eu vagava pelo mundo de cabeça baixa, sempre fitando o chão e no âmbito das conversas isso não era diferente.
Que bizarro esse parágrafo anterior. Mais bizarro ainda é que ao escrevê-lo tive um breve sentimento de nostalgia dessa época. E olha que pensei que  jamais teria. Olhando para o chão eu enxergava o mundo de outra perspectiva,  um tanto quanto incomum para a maioria das pessoas. Afinal que pessoa normal fica olhando para o chão o tempo todo? Mesmo assim dá para se surpreender com os detalhes que o chão pode oferecer a seus “apreciadores”. Se você resolver fazer isso por causa da minha influência aprecie com moderação. Desaconselho essa prática porque as outras pessoas não irão te enxergar com bons olhos.
Lentamente o sistema da “normalidade” foi me absorvendo e com o tempo parei com esse hábito esquisito. É difícil desconstruir certos hábitos tão enraizados dentro da gente. Comecei a andar de cabeça erguida (mesmo sem ter motivos para tal), mas ainda faltava o próximo passo: contato visual.
A primeira vez veio em uma conversa comum e foi meio difícil. Achei estranho. Percebi que era necessário me concentrar, olhar a pessoa nos olhos, e ainda prestar atenção no que ela dizia. Fazer isso com sincronia era complicado, mas pelo menos não passei vergonha. Nos meus tempos de “olhos no chão”, apesar de deselegante, prestava mais atenção nas palavras dos outros. Estranheza para muitos, conforto para um.
Antes que me desse conta conseguia fazer contato visual normalmente. Mais uma lição que nem a escola e nem a família se deram ao trabalho de me ensinar e que tive que aprender sozinho, na marra, na escola da vida. Esse processo de humanizar um recluso é mais complicado do que vocês imaginam. Precisa ser lento, gradual e seguro. Já ouvi isso antes em algum lugar. Acho que a comparação não foi a das melhores...


Acho que não fazia isso antes por medo. Dizem que os olhos são a janela da alma de uma pessoa. Meu medo talvez não fosse nem o de olhar nos olhos dos outros e sim ter os meus olhos “olhados” por outras pessoas. Afinal contato visual é um ato recíproco. Meu medo talvez fosse que as pessoas ao olharem nos meus olhos não encontrassem nada por trás dele. Olhos sem vivacidade, olhos sem alma, olhos vazios, como preferir. De vez em quando tem a sensação de que meus olhos são assim: vazios que nem os dos peixes. Não posso saber ao certo porque afinal de contas não é possível olhar para eles o tempo todo e não sou lá um grande fã de espelhos de bolso.


O brilho no olhar. Já pensei que essa expressão fosse mais uma bobagem romântica criada pela indústria do entretenimento. Mas pude constatar que é real. Já conheci algumas garotas que o tinham e muito. Chegando perto o suficiente dava para ver perfeitamente o quanto eles brilhavam. Pareciam até olhos de personagem de mangá. Não se empolguem porque não peguei nenhuma delas. Em comum posso dizer que todas eram pessoas alegres, felizes e de bem com a vida. Sabe felicidade irritante? Não era o caso da felicidade delas. Era mais do tipo felicidade contagiante. Parece que descobri o segredo do brilho nos olhos.


E hoje me irrito quando não me olham nos olhos. Como o mundo dá voltas; anos atrás eu vivia fazendo isso. É muita desconsideração. É como se isso inferiorizasse a pessoa. Uma vez ouvi o jogador de futebol Cicinho falando em um programa esportivo que em sua época de Real Madrid, Raul, capitão do time, na hora de cumprimentá-lo com um aperto de mão, virava a cara para o outro lado. Um claro gesto de desprezo. Impossível não se identificar com a situação. Se bem que na minha vida causo mais torcicolos em garotas do que qualquer coisa.
Portanto olhe nos meus olhos. Olhe nos olhos de todo mundo, aliás. Todos são dignos de atenção e dignos da apreciação de vossas retinas. Se eu não fizer isso em algum momento perdoe-me porque ainda possuo algumas (ou seriam muitas?) sequelas da timidez. Também há o fato de a minha miopia não me deixa enxergar direito. Já estou usando desculpinha que nem o Apatow. Melhor parar por aqui.

PS: O título da postagem me lembrou do Olhar da Penitência do filme do Motoqueiro Fantasma. Look into my eyes!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sexta-Feira 13

Na quarta-feira eu estava indo para a faculdade, quando de repente, perto da sede do Botafogo de Futebol e Regatas, fui abordado no meio rua por dois rapazes. Calma, não eram assaltantes e nem coisa pior (que alívio!). Ao invés de armas eles possuíam em mãos câmera e microfone, ou seja, eram simplesmente dois jovens repórteres fazendo uma matéria qualquer. Concordei em participar dela mesmo sem saber sobre o que se tratava. Fiquei logo em alerta para uma possível emboscada. Vivo permanentemente em um estado de paranóia. Pensei que talvez, poderia se tratar de alguma pegadinha de  programa televisivo. Sempre pensei que algum dia iria cair em alguma pegadinha. Quem sabe? Vai que acontece... O Ivo Holanda poderia muito bem aparecer a qualquer momento querendo me sacanear.


O cara do microfone, vulgo entrevistador, começou a me fazer perguntas sobre a sexta-feira 13. Nem tinha me ligado que nessa semana iria rolar uma, afinal de contas, ainda estávamos no dia 11. De vez em quando minha noção de tempo e espaço se esvanece. Mesmo assim deu para perceber logo de cara que os rapazes estavam gravando uma matéria que iria rolar no dia 13, sexta-feira, justamente por causa do tema. As perguntas eram sobre superstições. Foi-me perguntado se eu passava tranquilamente debaixo de escadas, desviava de gato preto, carregava algum amuleto, esse tipo de coisa. De frente para câmera e nervoso, como de costume, me enrolei um pouco na hora de responder. Isso é algo que acontece quando você não está muito acostumado a bancar o protagonista, do tipo que recebe toda a atenção. Não estando acostumado, quando enfim a recebe, você não sabe direito o que fazer. Você não sabe como se comportar diante do foco incisivo e excessivo em cima de você. Duvido que tal experiência se repita mais vezes, porém se acontecer de novo, lá estarei mais uma vez despreparado para responder meia dúzia de perguntas aleatórias. Nunca me dei muito bem em improvisos performáticos oratórios, o que me faz detestar perguntas surpresas. Carreira política então, nem pensar... Nem queria mesmo.


Como sou um eterno membro da gangue do contra, ou da antítese, se preferir, respondi tudo negativamente. Acho que surpreendi fugindo dos estereótipos supersticiosos da crendice popular. Disse que passava tranquilo debaixo de escada e tudo mais. Não estava mentindo. No final da brincadeira acabei passando debaixo de uma escada de verdade. Tive que passar agachado porque era uma daquelas escadas pequenas e movéis, usadas dentro de casa. O constrangedor é que fiquei preso alguns instantes debaixo dela por causa da minha roliça pança de obeso, mas mesmo assim consegui enfim passar por baixo da escada. Daí me agradeceram a participação e fui-me embora.


Depois desse acontecimento parei para pensar no assunto. Sexta-feira 13. O que me vem à cabeça ao pensar em tal data são os filmes de terror, em especial o próprio filme homônimo Sexta-Feira 13 (Friday The 13th no original), em que Jason Voorhees, o famoso grandalhão assassino que usa uma máscara de hóquei, é um morto-vivo que sai se vingando com um facão, matando assim várias pessoas inocentes ao longo da sua carreira cinematográfica.


Pesquisando sobre o tema descobri umas coisinhas sobre a origem da sexta feira 13. Uma delas é a de que o JC (e não estou me referindo ao John Cena, John Constantine, Jim Carrey ou ao Jim Caviezel que o interpretou nas telonas) teria sido crucificado em uma sexta-feira 13 e de que na sua última ceia haviam 13 pessoas: ele e os doze apóstolos. Daí teria se originado a mística em torno da data.
Inegavelmente podemos concluir que grande parte das pessoas crêem que a sexta-feira 13 é um dia de azar no qual a urucubaca rola solta. Existem pessoas que até evitam realizar certas tarefas ou pior: evitam sair de casa por medo de que algo ruim aconteça.
Mas penso assim: quantas sextas-feiras ocorridas no dia 13 sobrevivi até hoje? Muitas. Espero que continue assim. Que eu continue invicto. Isso porque ao meu ver, vivo infortúnios típicos de sexta-feira 13 todos os dias. Incomum seria para mim ter um dia de sorte. Logo enxergo tal dia como apenas mais um outro repleto de má sorte. Para mim a probabilidade de algo dar errado é a mesma de sempre: certa. Mas isso não me impede de ficar atento nessa data, como sempre costumo ficar. Por exemplo, se eu avistasse em uma rua deserta, o Undertaker em uma sexta-feira 13 à noite ou em outro dia qualquer, no meio de meu caminho para casa eu sairia correndo. E gritando feito menininha. Diferente do Jason, o Undertaker, vulgo Deadman, é real e pode ir atrás de você, te aplicar um pilão e te mandar para o caixão. Lá você permanecerá por toda a eternidade. Rest in peace!


PS: Faltei aula hoje por mera coincidência.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Bin Laden Morto

Estava em casa assistindo A Rocha no Domingo Maior quando de repente o filme é abruptamente interrompido por aquela vinheta do Plantão da Rede Globo. Aquela musiquinha sempre me deu um certo medo. Ao ouvi-la já começo a entrar em estado de pânico e a me perguntar quem havia sido o falecido da vez. Não deu outra: Osama Bin Laden, o terrorrista barbudo mais procurado dos últimos dos 10 anos, quiçá de todos os tempos, havia sido morto em uma operação militar norte-americana no Paquistão.


Aí a Patrícia Poeta e o Zeca Camargo anunciaram que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, iria fazer um discurso oficial sobre o acontecimento. Após cinco minutos de pronunciamento, já com sono, desisti do filme e resolvi ir me deitar. A Rocha é mais um daqueles filmes que nunca consigo assistir completo na televisão; sempre surge uma adversidade que me impede de fazer isso. A única certeza que eu tinha era a de que no dia seguinte a suposta morte do Bin Laden seria a bola da vez, substituindo, enfim, o casamento real do príncipe William e da “plebéia” Kate Middleton, como assunto do momento.


Mais uma vez, acertei de novo e constatei o óbvio: ao ligar a televisão pela manhã os telejornais já estavam abordando o assunto. O que chamou minha atenção (e acho que a de muitas pessoas) foi o jeito como os norte-americanos comemoravam a morte do Bin Laden. Parecia até que eles haviam ganhado uma final de Copa do Mundo. Cartazes de “Obama 1 X Bin Laden 0”, festas nas ruas, fogos de artifício, etc. Sei que eles são bem mais patrióticos do  que a gente, que só lembra do "Brasil Nação" em época de Copa Mundo, mas olhando aquilo tudo momentaneamente fiquei estupefato, sem reação. Resolvi valer-me da minha velha técnica ninja de tentar me imaginar naquele cenário; dessa vez como um norte-americano, para tentar compreender minimamente como que um cidadão daquele país poderia estar se sentindo naquele momento.


O 11 de setembro de 2001 foi um ato terrorista que marcou a sociedade norte-americana e deixou sequelas. Não é todo dia que uma potência como os EUA é atacada daquela maneira. Criou-se um clima de insegurança, desproteção e vulnerabilidade. Este trágico evento que provocou a morte de vários inocentes gerou naquele país um forte desejo de revanchismo. Bin Laden, líder da Al Qaeda tornou-se o inimigo público número um na era Bush, presidente que iniciou a guerra contra o terror. Ao longo da última década vimos o que aconteceu. Criou-se um estado de paranoia no mundo inteiro. O pânico espalhou-se. Segurança reforçada nos aeroportos, xenofobia, anti-islamismo, guerras, invasões, arbitrariedades, novos atos terroristas em outros países. Ódio exacerbado de ambas as partes.
Justamente por isso o cidadão norte-americano mais do que qualquer outro do mundo está com esse sentimento de vitória. Julgo até natural pela situação. Consigo compreender o alívio pela morte de um terrorrista, que com certeza não vai fazer falta alguma. Vivo ele seria uma ameaça e poderia organizar, influenciar ou planejar novos atos terroristas que mataria mais pessoas inocentes. Porém acho que foi um exagero comemorar a morte de outro ser humano, da maneira que foi feita. Parecia cena de filme medieval do tipo “ Cortem a cabeça dele”, “Queimem a bruxa na fogueira", “Executem-no” etc. Isso me assustou um pouco principalmente vindo de uma população, em grande parte religiosa como a americana. Corajoso foi o jogador Chris Douglas-Roberts da NBA, que em seu Twitter condenou esta postura do povo estadunidense e foi alvo de diversas criticas. Uma coisa é estar aqui é falar de lá, outra é estar lá e falar de lá sobre seus próprios conterrâneos. Devo dar os meus parabéns à atitude do atleta.
Como as coisas mudam. Todo mundo se lembra o que estava fazendo naquele dia, não é mesmo? Pois bem: eu estava em casa, comendo bife com batata frita e vendo desenho. Dez anos atrás quando as torres gêmeas foram atacadas eu fiquei irritado com a cobertura excessiva da mídia que me fez perder um capítulo inédito de Dragon Ball Z na TV Globinho. Acho que com 11 anos de idade eu devia ter compreendido melhor a situação... Hoje estou aqui revendo o assunto por conta própria discutindo-o seriamente. Enfim um sinal de amadurecimento de minha parte. Realmente, estou surpreso comigo.
Essa brincadeira de Tom e Jerry entre governo norte-americano e Osama Bin Laden durou dez longos anos. Várias vidas foram perdidas ao longo desse processo de captura. Inegavelmente há uma sensação de alívio, mas não dá para ser ingênuo e pensar que tudo acabou. Bin Laden pode estar morto mas ele era só uma pessoa: a Al Qaeda continua e seus seguidores fanáticos também. O momento é de tensão e devemos ficar precavidos sobre possíveis represálias.


Mas que é bom demais dizer “Bin Laden você já foi tarde”, isso é.