quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dublagem

Para falar de dublagem, antes de tudo é preciso explicar qual o motivo da sua existência. Não é necessário ser um gênio para responder isso. A dublagem existe para tornar uma obra audiovisual acessível a uma população diferente  da do seu país de origem. Diferente da legenda, a dublagem permite que o público esteja mais atento às imagens. Além disso, outro aspecto negativo da técnica da legenda está no fato de que nem sempre o público é capaz de ler o que surge escrito na tela, seja pelo seu analfabetismo ou pela sua faixa etária. Assim, a melhor forma de se atingir um público mais amplo é se utilizando da dublagem, na qual o áudio original da obra é traduzido e dublado na língua nativa do país que a recebe. Posso estar enganado, mas acho que a maioria das pessoas sequer percebe o quanto é incrível pensar como um simples filme, desenho animado ou série televisiva de qualquer país do mundo, pode ser traduzido para qualquer língua.
Essa ideia de todos no planeta se entendendo por intermédio de dublagens e traduções me lembrou da história bíblica da Torre de Babel. Deus resolveu castigar os homens provocando o desmoronamento da Torre e fez com que os homens falassem dali por diante línguas diferentes, de modo a não mais se entenderem a ponto de construir uma nova Torre. Hoje em dia qualquer um pode compreender a língua que quiser. Ou quase. Saber falar ou até mesmo compreender minimamente uma ou mais línguas diferentes da sua língua natal é um privilégio que poucos possuem. Para quem não possui um conhecimento básico sobre uma língua estrangeira sempre ocorre um certo estranhamento ao ouvi-la por acaso. Afinal de contas, temos que considerar que nem todo mundo tem condição de pagar uma boa escola de idiomas.


Mais uma vez explanei demais sobre um assunto secundário e quase ia me esquecendo do assunto do dia. Resolvi escrever sobre dublagem vendo recentemente Dragon Ball Kai no Cartoon Network. Como fã eterno da série do Akira Toriyama, o mínimo que podia fazer era prestar uma homenagem assistindo essa nova versão da fase Z. Boa parte dos dubladores originais voltaram a assumir a voz de seus personagens. As faltas significativas foram as dos dubladores de Piccolo e Vegeta, Luiz Antônio Lobue e Alfredo Rollo respectivamente.


Engraçado que isso me lembrou da minha infância. Basicamente da primeira vez, pelo que me lembro, que comecei a prestar mais atenção na dublagem. Devia ter uns 10 anos. Havia estreado a segunda temporada de Pokémon e a voz do Meowth estava diferente. Ficava me perguntando quando é que ela ia voltar ao normal, coisa que não aconteceu na temporada inteira. Foi aí que caiu a ficha que trocaram o dublador do personagem...


A gente (eu pelo menos) cria um elo emocional muito forte com as vozes dos dubladores. Nem vemos os seus rostos mais eles se tornam bem familiares para nós depois de um certo tempo. São parte de nossas vidas e nem percebemos. Caso parecido com esse do Meowth, foi o da substituição do dublador do Homer Simpson aqui no Brasil. Até hoje fico imaginando se o Waldyr Sant’anna um dia irá voltar a dublá-lo. Boa parte do público não se interessa em saber quem faz a voz do seu personagem ou ator favorito. Só percebe a sua importância quando ele é substituído. Qualquer pessoa que já viu um filme dublado em português brazuca, já deve ter ouvido a voz de Guilherme Briggs, Alexandre Moreno, Marco Ribeiro dentre outros sem nem se dar conta disso. Crescemos ouvindo suas vozes em desenhos animados, blockbusters e sitcoms.


Não sou um especialista em dublagem, mas ouvi falar que a brasileira é uma das melhores, senão a melhor do mundo. Não duvido. Já vi alguns filmes japoneses dublados pessimamente na língua inglesa. Os gringos sabem muito bem fazer filmes, mas a sua dublagem é de péssima qualidade. Vozes inexpressivas e falta de sintonia entre voz e movimento da boca dos atores durante o filme inteiro. Lembrei-me até de uma das piadas do filme Kung-Pow, na qual após uns 15 segundos de movimento labial sem som, o ator dizia apenas uma palavra em inglês.
Esse é um dos grandes desafios da dublagem. Não adianta traduzir tudo ao pé da letra. Existem expressões que não fazem sentido algum em uma língua diferente. Piadas que perdem o sentido quando traduzidas. Citações à personalidades famosas no país de origem e desconhecidas no resto do mundo. A dublagem brasileira se diferencia por ser criativa, ousar fazendo brincadeiras com assuntos locais. Tem quem critique isso, mas eu acho bacana  dar um tom mais abrasileirado a uma obra estrangeira. Quem é que não se lembra em Yu Yu Hakusho da torcida do torneio gritando “Ah, eu sou Toguro!” na época em que a torcida do Flamengo (sem clubismo, por favor) gritava “Ah, eu sou maluco!”.


Sou fã de dublagem. Várias vezes já fiquei de frente para o espelho imitando o Saga de Gêmeos, imortalizado aqui pela voz do grande Gilberto Baroli, com suas frases de efeito bacaninhas de vilão diabólico. Fui pesquisar e descobri que para ser dublador você tem que ser ator e além disso você deve ter um mínimo de talento para dublar. Como ator, sou o mais canastrão do mundo. Talento é sinônimo para “algo que não possuo”. Então já deu para vocês imaginarem mais uma coisa que não ouso fazer hoje em dia.
Melhor mesmo deixar para os profissionais. Dubladores e dubladoras do Brasil: amo todos vocês. Parabéns pelo excelente trabalho. 

PS: Nadei na merda de novo esse ano. Só não escrevi outra crônica para evitar a redundância... Leia aqui a minha aventura fecal do ano passado.
PS3: Hackeado. Tinha que fazer essa piada.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Boas Mulheres Deviam Ser Felizes

Impressionante como não consigo pensar em algum acontecimento positivo na minha vida relevante o suficiente para postar aqui. Só me acontecem desgraças e mais desgraças. Felizmente são desgraças de baixo nível, no bom sentido. Desgraças pequeninas de um jovem imaturo desafortunado. Podia escrever músicas melosas baseadas nas minhas experiências ruins, mas não pretendo me tornar um futuro ídolo emo de adolescentes deprimidas. Não sei cantar e nem tocar guitarra. Melhor então encontrar uma forma de rir da própria desgraça e tirar proveito disso. Uma boa idéia seria criar um seriado baseado nas minhas experiências ruins para ganhar uns trocados, mas pelo visto alguém já teve essa idéia. Estou falando com você, senhor Chris Rock. Valeu mesmo...
Paremos de enrolação agora e vamos direto ao fato em questão: perdi minha     chance com mais uma pretendente. História clássica. Um cara conhece uma garota, os dois se dão bem, trocam telefones, se ligam, até que um belo dia ela diz a clássica frase “Conheci alguém”. Preciso dizer qual desses três personagens eu sou nessa história? No impulso da raiva acabei mandando um SMS com os dizeres “Não quero mais saber de você. Fica com seu namoradinho. Adeus”.
Logo ela, que vivia desconfiada de mim e das minhas intenções, me apronta uma dessas... Nosso tempo de diálogo tinha durado umas duas semanas até esse acontecimento. Convidei-a para sair conforme o manual de relações humanas, mas na primeira semana ela disse que era cedo demais para isso e na segunda semana também não seria possível porque ela iria até à praia com umas amigas. Até ai tudo bem, resolvi ser paciente e esperar. Ligo pra ela, já em outro dia perguntando mais uma vez, sobre uma possível saída a dois e ela me conta que conheceu um sujeito em uma festa e que no dia seguinte o reencontrou. Acabaram ficando juntos. Sacou o lance? O manolo conseguiu em dois dias o que não consegui em duas semanas. Presença faz diferença. E como. Pior para mim...
Ou seja, fiquei duas semanas trocando idéias com uma garota bonita, solteira e heterossexual (primeira coisa que faço hoje em dia é perguntar se a menina é lésbica...), na qual estava interessado, à troco de nada. Gastei os créditos do meu celular de pobre pré-pago à toa. Será mesmo?
Uma coisa posso afirmar: ela é uma pessoa legal de se conversar. Não ficaria tanto tempo conversando com alguém se o papo não fosse minimamente interessante. Até por isso pensei, ingenuamente, que havia rolado alguma química. Estou cansado de conhecer belas garotas cheias de idéias erradas na cachola. Não que eu esteja à procura de um clone meu em versão feminina. Só acho que a pessoa seja qual for, deve ser flexível, ter suas opiniões e respeitar as dos outros. Algo que essa garota em particular, mesmo com sua simplicidade fazia muito bem.
Depois de todo esse acontecimento fiquei uma semana sem falar com ela. Tive tempo para pensar se estava sendo injusto ou até mesmo imaturo. Afinal eu era apenas um pretendente. Não chegou a ser uma traição. Não assinamos nenhum contrato e nem firmamos um relacionamento: era apenas uma possibilidade que não se concretizou. Não é nem questão de ser corno manso. O corno apesar de tudo, ao menos ficou com a dita cuja que lhe pôs chifres. Qual situação é menos pior? Acho que a minha.
E tem mais: ela sempre foi muito carinhosa comigo. Me mandava mensagens me desejando bom dia, boa noite etc. Coisa rara de acontecer, principalmente comigo.
Lembrei de um capítulo de um mangá que eu li um tempão atrás. Na história o personagem Taizo “Madao” Hasegawa se apaixonava pela enfermeira que cuidava dele no hospital. Um dia ele descobre que ela está apaixonada de verdade por um cara, que obviamente não é ele. Ele decide ajudar a aproximá-los e quando lhe perguntam o porquê ele solta uma frase que até hoje não sai da minha cabeça. “Boas mulheres deviam ser felizes”.


Para mim isso nem pareceu uma justificativa. Encarei a frase como uma lei. Deixando sua felicidade de lado ele resolve ajudá-la a conquistar sua felicidade. Um tipo de retribuição bem difícil de acontecer na vida real. A gratidão pode ser dolorosa. Em geral se busca a felicidade a qualquer custo. Homens então, são egoístas natos. Vivem competindo entre si. Como não sou uma pessoa de verdade poderia tentar algo do tipo. Não agindo como o Madao (aí seria demais para mim), mas ao menos ser mais compreensivo. Não dificultar as coisas. O ato de fechar portas é muito ruim, principalmente quando relacionado a pessoas.
Compreendido isso, mandei uma mensagem para ela pedindo desculpas. Posso ter perdido uma possível namorada, mas isso não precisava ser um motivo para perder uma amiga. Ela leu, me ligou de volta, me perdoou e voltamos às boas de novo. Não sou tão bonzinho assim para concluir o texto dizendo “se ela está feliz também estou feliz”. Ainda estou incomodado porque isso aconteceu recentemente. Com o tempo a raiva e a frustração devem passar. Então nem sei se a história teve final feliz. Ficamos apenas amigos mesmo.


Depois disso fui pra cozinha, preparei um baldão de pipoca, e passei a noite comendo e vendo uns filmes de comédia para desestressar um pouco. Dei umas boas risadas (mais da minha situação do que dos filmes) e fui dormir. A vida continua. Mais sorte e mais rapidez na próxima vez. Fica a lição.

PS: Se você deseja saber o que significa Madao leia aqui.
PS2: Essa é para a Maiara. PS quer dizer Post-Scriptum uma expressão em latim que significa "escrito depois". Para mais informações clique aqui.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Bullying Parte II

Indescritível. Só assim para definir esse lamentável episódio do massacre ocorrido em uma escola pública de Realengo. Doze vidas de crianças inocentes foram encerradas tragicamente. Sem contar no número de feridos e nos traumas causados. O assassino encurralado, se suicidou com um tiro na própria cabeça. Já vimos histórias parecidas como esta antes. A mais famosa aconteceu em Columbine nos Estados Unidos no ano de 1999, tragédia que inclusive deu origem a um documentário. O Brasil agora também é um membro desde triste clube de países que tiveram vidas de estudantes ceifadas por um psicopata desequilibrado. Um tipo de crime bem particular que precisa ser discutido pela nossa sociedade.
Geralmente nos meus textos para esse blog eu tento tornar tudo mais leve, levando as coisas com bom humor, fazendo referências ao mundo pop, usando imagens engraçadas para ilustrar algumas passagens etc. Mas nesse caso não farei isso. O assunto é sério e pesado demais para gracinhas desse gênero. Acho que todos nós brasileiros no momento estamos de luto. Uma solidariedade que acredito, se estende mundo afora.
Inegavelmente sempre procuramos alguma autoridade a quem culpar nesses casos. Que fique bem claro que não tenho afinidade com partido político algum. Nas tragédias naturais, como os deslizamentos de terra causados pelas chuvas torrenciais, culpamos os políticos pelo descaso com a população pobre. Nos homicídios, latrocínios e similares acontecidos nas ruas, também os culpamos pela falta de segurança. Mas nesse caso de Realengo nada poderia ser previsto. Nenhuma estratégia de precaução poderia ser elaborada. Trata-se de um caso inesperado, isolado, e acima de tudo trágico. Acho que nem mesmo um bandido comum, membro do poder paralelo, cometeria uma barbaridade dessas a troco de absolutamente nada. É isso que choca. Um jovem de 23 anos, pacato, recluso e sem histórico violento se pôs a balear crianças com uma frieza assustadora.
Aí se pensa no óbvio: a culpa é do assassino. Não sou louco a ponto de fazer um papel de advogado do diabo e defender o Wellington. Mas temos que discutir os motivos que o fizeram fazer isso por mais absurdos e tolos que eles sejam.
Coincidentemente segunda-feira passada, três dias antes de isso tudo acontecer eu fiz um post sobre bullying, baseado na atitude de Casey Heines de revidar a zoação dos colegas com um golpe. Enquanto escrevia eu pensei justamente no caso de Columbine em que típicas pessoas vítimas de bullying, um dia explodiram e saíram disparando a esmo nos seus colegas. Fiz até uma menção sobre isso escrevendo ”Em vários casos ocorre uma tragédia. Um jovem fica transtornado a ponto de levar uma arma para escola, sair atirando em todos e no fim mete uma bala na própria cabeça”. A situação prevista por mim infelizmente acabou se tornando realidade.
As investigações policiais continuam. Apareceram diversos motivos sobre o que o teria motivado a fazer aquilo. Está comprovado que ele era esquizofrênico, muito religioso e era alvo de gozações na escola por causa do seu jeito diferente de ser. Irei me focar nessa parte do bullying.
Uma coisa que me assustou muito em todo esse caso é o quanto o comportamento do assassino é parecido com o meu. Os leitores que me conhecem pessoalmente sabem como eu sou. Reservado e calado, só respondo quando me perguntam algo. Nunca dou um alô para vizinho algum. Não tenho “grandes” amigos de verdade e só saio de casa para estudar e vice-versa. Vivo num estado de aparente tranqüilidade. Passo horas em frente ao PC. De diferente do passado do assassino só tenho o fato de não ser muito religioso.
Refletindo nisso tudo eu pensei muito nessa minha vida, tão semelhante a daquele indivíduo. Vivo reclamando dela: falta emprego, falta dinheiro, falta mulher, falta diversão, falta felicidade. Não é nem um estado temporário, uma crise a ser superada: é um estado prolongado no qual vivo há bastante tempo e no qual de que certo modo já me acostumei. Pensei novamente. O que me faz aguentar tudo isso? O que me dá forças? O que me diferencia de um sujeito desses?
A resposta é simples. Sorte. Embora tímido e recluso sempre tive pessoas legais presentes na minha vida. Constantemente. Algo simples, que pelo que parece Wellington não teve. Se não tivesse sorte nem sei o que teria me acontecido se a vida não me permitisse tê-las conhecido. Porém, apesar de tudo, duvido que eu algum dia fizesse algo parecido. Na pior das hipóteses eu me autodestruiria.
Além disso, sabemos como nossa sociedade é. Você pode estar cercado de uma multidão na rua e ainda se sentir completamente sozinho. Isso porque, até mesmo as boas e velhas relações humanas se tornaram comerciáveis. É só ir a uma loja qualquer comprovar isso: a atendente te abordará não porque se importa com você, mas porque é obrigada pelo contrato a sugerir um plano, cartão ou que quer que seja ao cliente. Até mesmo o “bom dia” é falso, padronizado. Mera formalidade. Tive sorte porque na minha vida conheci gente que me estendeu a mão de bom grado, sem pegadinhas, sem pedir nada em troca. Que entraram na minha vida, para minha grande surpresa e satisfação, sem pedir permissão, sem pretensões e sem interesse de se beneficiar com isso. É importante ter gente que não seja da sua família que te dê forças, que acredita em você, que sabe que você existe. Às vezes tudo o que uma pessoa precisa é de outra que se preocupe um pouquinho com ela. Que a chame pelo nome, que a olhe nos olhos e que aperte a sua mão com um sorriso no rosto. Isso eu tive de sobra. Não odeio minha vida justamente por causa disso. Não tenho um mol de amigos igual a muitos, mas os poucos que tive valeram muito a pena conhecer. Essas pessoas foram essenciais para me tornar o que sou hoje: no mínimo um ser humano cheio de esperanças.
O que a história de Wellington ensina é que viver sempre sozinho, somente com seus próprios pensamentos é perigoso. É necessário conversar com as pessoas para não fortalecer e solidificar ideais deturpados e aprender a ter respeito pela vida alheia. O isolamento provoca um sentimento de pureza, de superioridade equivocado. Todo mundo é gente, ninguém é melhor que ninguém. Todas as vidas têm o seu valor. Para compreender isso é necessário viver além dos chats e comunidades da Internet.
Finalizando gostaria de dizer que nós não devemos criar um caso de paranóia generalizada. É inviável pensar em guardas armados, detectores de metais e cercas elétricas ao redor das escolas. Toda essa parafernália não combina com o ambiente. Escolas não são presídios e nem deveriam se tornar um ambiente de repressão. Nem toda vítima de bullying é candidata a se tornar um futuro homicida, muito menos todos os jovens tímidos das escolas. Então sociedade, por favor, nada de caça as bruxas, nada de acusar gente inocente. Respeitem as diferenças, ou melhor: agreguem as diferenças. Toda essa reflexão não é suficiente, mas é necessária para iluminar alguma solução inteligente. Essas crianças mortas não podem se tornar meros números na fria estatística de homicídios. Algo precisa ser feito. Paz.


PS: Crônicas Faraônicas se recusa em postar qualquer foto de criminosos. Não há nada de glamouroso em matar pessoas. Assassino não é celebridade para ter uma grande foto sua estampada na mídia.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bullying

No último post fiz uma breve menção sobre bullying. Aproveitando a oportunidade pegarei carona no modismo para discorrer sobre esse tema que está em alta atualmente. Na semana passada passou no mundo inteiro o vídeo do Zangief Kid, um garoto gordinho australiano chamado Casey Heynes, aplicando o famoso pilão (golpe em que se arremessa o adversário no chão) em um outro garoto que supostamente ficava perturbando ele, assim como outros valentões da sua escola. Por causa desse vídeo reabriram-se mais uma vez as velhas discussões a respeito dessa velha prática de intimidação.


Comecemos pelo caso em questão. Minha opinião sobre isso? Bem feito para o que apanhou. Não sou nenhum entusiasta da violência, mas até dá para compreender porque o garoto resolveu revidar finalmente com uma agressão física. Pegou o primeiro que viu e lhe agrediu, usando toda a sua raiva reprimida. Viver anos e anos ouvindo gracinhas e desaforos não traz nenhum sentimento bom. O sentimento é de ódio, de vingança. Ninguém gosta de ser sacaneado e nem tem sangue de barata para aguentar calado tanto tempo. É aquela situação: as vítimas de bullying geralmente são pessoas sozinhas, excluídas socialmente (por opção ou não), as quais ninguém dá a mínima. Calados eles agüentam as ofensas e não contam nada para os pais. Colegas, funcionários e professores às vezes até percebem que uma criança está sendo alvo constante de inúmeras brincadeirinhas sem graça, mas acabam não fazendo nada para ajudá-la. Ignoram sua existência. Aí no dia em que ele dá uma de Júpiter dos Cybercops dizendo “Já chega!” na hora da Cyberforça e partindo para o pau para cima dos “vilões”, todos percebem que a vítima existe. E a punem por sinal. Com certa razão; porrada é porrada e nem dá para defender seu uso desnecessário. Mas e o trauma causado pelos xingamentos dia após dia? Terror psicológico é permitido não é mesmo? Isso não dá advertência nem suspensão... É o mundo sendo hipócrita e injusto mais uma vez.


Sei muito bem como é isso. Já sofri bullying por alguns anos. Nada de mais para falar a verdade. Acho até que estou forçando a barra. Tudo é bullying hoje em dia. Durou até a sexta série. Algumas piadinhas de gordo, apertões, petelecos, zombarias sobre minha inabilidade em me socializar com os outros, comparações com o Sherman Klump, vulgo Professor Aloprado. Nada grave demais a ponto de me deixar traumatizado pelo resto da vida. Para algumas pessoas até poderia ser. Acho que isso varia de acordo com a pessoa.


Nunca tive um forte desejo de vingança a ponto de querer agredir alguém ou fazer coisas piores. Além do mais como canso de dizer, sempre fui grande demais para minha idade, o que intimidava (e intimida até hoje) os desconhecidos. Além do mais tem o fato de que com o tempo fui emagrecendo um pouco, algo acabou vindo a calhar, pois serviu para me deixarem um pouco em paz. Ou não. Minha teoria é de que o meu silêncio constante e meu olhar de louco me protegia, mantendo as pessoas afastadas e receosas sobre alguma possível reação do semimudo esquisitão misterioso. Gozado que uma certa vez uma garota de uma das minhas inúmeras turmas chegou perto de mim (para minha surpresa) e pediu para que eu, anos depois que saísse da escola e me tornasse um serial killer poupasse sua vida. Ela disse que viu um filme em que o protagonista tinha o comportamento igualzinho ao meu e que na vida adulta partiu justamente para essa carreira sangrenta vingativa: saiu matando uma a uma das inimizades da sua juventude. Foi realmente gratificante saber que mesmo com quinze anos de idade já me julgavam um homicida em potencial. Estou sendo irônico... Sem medo, ex-colegas!
Falando sério agora. Existem inúmeros casos em que essa história de bullying termina mal. Quando falo em termina mal, me refiro mais aos agressores do que as vítimas. Em vários casos ocorre uma tragédia. Um jovem fica transtornado a ponto de levar uma arma para escola, sair atirando em todos e no fim mete uma bala na própria cabeça. Quantas vezes essa história já se repetiu? Quantas vezes essa história irá se repetir? Até mesmo no caso do Zangief Kid, tudo poderia ter terminado mal com o garoto quebrando a coluna do outro. Revidar é sedutor, mas não é a coisa certa a fazer. Queria apontar uma solução eficaz, contudo não tenho nenhuma. Não sou demagogo para falar para as vítimas de bullying conversar com os pais ou se queixar com a coordenação de suas escolas porque sei que eles, ao menos uma vez, já pensaram nessa possibilidade. Não fazem porque não querem. Então meu recado vai para o povinho mais ou menos, que não sofre e não pratica bullying. Paneleiros de plantão eu lhes apelo: procurem incluir mais seus colegas isolados. Chamem eles para ficarem junto de vocês. Eles não estão sós por serem marrentos e sim por se sentirem inseguros a ponto de possuírem um medo desgraçado de serem rejeitados. O efeito de ser chamado pelo nome e não por algum apelido grotesco e ofensivo é maravilhoso e você pode fazer alguém se sentir assim: basta estender a mão oferecendo amizade. Para as meninas principalmente (que quando novas conseguem ser bem escrotinhas) eu falo: nem todo mundo é galã de telenovela. O mundo real é feito de gente gorda, feia, espinhenta, gaga (não a Lady Gaga), pobre, descabelada, negra, amarela, azul (Smurfs?), enfim gente de todo o tipo. Não estou falando que é dever cívico de vocês namorar ou ficar com alguém que possui uma “beleza incomum”, mas dar um pouquinho de atenção, gentileza e solidariedade a essas pessoas não custa nada. Faz até bem para a alma. Com certeza quando vocês saírem do seu mundinho fechado irão lidar com todo o tipo de gente no mundo real quando adultas. Por isso comece incluindo-as agora cedo na sua vida e feche as portas para esse tipo de discriminação. Seja lá qual for o seu preconceito, nenhum deles é tolerável no mundo real. Deixem suas panelinhas acessíveis a todos.


Quero deixar uma última lição para os praticantes do bullying: nunca faça isso com alguém maior e mais forte que você porque você pode acabar se dando muito mal. Ou melhor dizendo: não mexa com quem está quieto. Fica a dica.

PS: Para os leigos que ainda não entenderam, Zangief é aquele soviético grandalhão do Street Fighter que se caracteriza pelo ataques giratórios de braços e pilões aplicados nos adversários de luta.