quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natais Cruéis

Enfim chegou mais uma vez com toda intensidade a época do Natal. O que me inspirou para escrever esse texto foi um comentário feito pela minha avó há semanas atrás. Acontece o seguinte: todo ano, a televisão em dezembro mostra aglomerações de pessoas saindo às ruas para comprar os seus presentes. Sobre isso, minha avó falou o quanto é irritante ter que ficar assistindo isso, quando sua situação financeira não lhe permite comprar tanto ao até mesmo não lhe permite comprar nada. Na verdade, há tempos atrás já havia pensado a respeito disso. Esse comentário da minha avó me permitiu lembrar e refletir, fazendo uma abordagem mais profunda sobre a temporada natalina na nossa sociedade. Isso com a minha pseudo-seriedade de sempre é claro.


Semana passada, fui um desses abilolados que sai na rua para comprar presente. Como sei que ninguém vai me dar nada fui comprar algo para mim mesmo, como de costume. Brincadeira... Explico melhor. O que acontece na verdade é que todo ano minha mãe me dá uma grana para comprar um novo par de tênis e umas roupas novas. Então de certa forma ganho um presente de alguém; um dinheiro que serve para comprar um presente. Se dependesse só de mim eu não compraria nada, não por avareza, mas por viver liso, de bolsos vazios e acabado, não só nessa época como no ano inteiro..


Deixe-me continuar a narrar minha pequena aventura que se reprisa todo fim de ano. Minha missão nesse ano, mais uma vez, foi comprar uma calça e um par de tênis para mim mesmo. Aí aconteceu o mesmo problema de sempre: as lojas em que eu ia não tinham o meu tamanho. O que isso acarreta é que fico estressado e compro logo as primeiras coisas que servem em mim. Como eu disse outra vez aqui nesse mesmo blog, certas pessoas devido ao seu corpo, digamos mais avantajado, não têm direito de escolha, ou compram as poucas opções que as lojas oferecem ou não compram nada. Parece até que eles querem que andemos pelado e descalços. Indiretamente, toda loja de departamentos é preconceituosa. Parece que o tempo todo o que eles querem dizer, exibindo tamanhos e modelos minúsculos é simplesmente “Você é gordo, vá emagrecer para comprar aqui!”.
Esse ano nessa minha jornada, não fui em nenhum shopping para não ter que ter o desprazer de ver o Papai Noel. Para mim a imagem que ele representa hoje em dia é a de um velho cruel, safado e desgraçado. Usa roupas vermelhas quando deveria mais era usar roupas verdes. Segundo a Wikipédia verde até era a cor original das suas roupas (e a mudança não é culpa do Coca-Cola. Wikipédia me educando...). Sendo vermelho a cor do comunismo e verde a cor do dinheiro acho que combinaria melhor porque de comunista o Natal não tem nada. Se fosse para ser assim o Karl Marx nesse quesito faria um cosplay perfeito de São Nicolau, fantasiado de vermelho. A barba pelo menos seria natural.


Como deu para perceber tenho enorme antipatia com o “bom velhinho”. Não gratuitamente, claro. Tenho uma historia traumatizante que justifica esse meu desprezo. Lá nos anos 90, quando eu era um ingênuo menino que queria salvar o mundo, fui no shopping e encontrei o Papai Noel com aquela longa barba branca e vestindo os trajes vermelhos característicos. Hoje em dia sinto até pena desses senhores. Ficar vestido dessa maneira, em pleno verão carioca é puro heroísmo. Um Papai Noel brazuca deveria andar de bermuda e óculos escuros. Tudo culpa do imperialismo cultural. Lojas com enfeitadas com bonecos de neve, pinheiros de Natal, roupas de lã. Só eu percebo que a gente mora no Brasil e aqui não tem nada disso? Deveria ter coqueiro de natal e não pinheiro por essas bandas.
Voltando ao assunto, como sempre, havia me comportado o ano inteiro como um bom menino e estava ansioso pela recompensa. Sentei no colo dele (sem piadinhas, por favor. Todo mundo já fez isso) e ele perguntou o que eu queria ganhar de Natal. Eu falei que queria um Nintendo 64, na época o videogame mais badalado do momento. O coroa olhou nos meus olhos e disse que eu iria ganhar um na manhã de Natal. Pior que acreditei. Quando acordei na manhã de Natal, nada de Nintendo 64: ganhei um daqueles minigames de pilha. Desigualdade social me ownando novamente... Tudo bem eu não ter ganhado, mas porque mentir para uma criança? Papai Noel malévico, mentiroso. Talvez, por isso hoje em dia eu seja tão revoltado.


Eu não vou à igreja há dois anos, mas pelo que me lembro o Natal serve para celebrar o nascimento de Jesus Cristo. As pessoas (nas quais eu me incluo) parecem que se esqueceram disso. Só se importam com presentes e com a comilança, quando na verdade deveriam estar celebrando a paz.
Hoje para o encerramento não irei dar uma mensagem moralista como de costume, porque eu sei muito bem que vocês assim como eu, não irão mudar. Consumismo natalino vai existir sempre assim como os seus valores desvirtuados do sentido original das festas. O que tenho para dizer é aproveite bem essa época. É tempo de estar com a família e amigos e celebrar. Mensagem final dada. Agora peço licença para sair porque provavelmente, como todo ano faço, vou ficar aqui em casa me empanturrando, comendo pra caramba até passar mal e esperar passar filmes de Natal que gosto muito como O Grinch e O Estranho Mundo de Jack (adoro as músicas desse filme). Bom Natal ou bom Chanukah se você for judeu (só conheço essas duas celebrações, perdão as outras religiões). Enfim... Boas festas a todos!

PS: Uma tirinha natalina do site Malvatrix de presente para vocês.


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