sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Eternidade

Não irei falar neste texto sobre a eternidade no sentido religioso de vida após a morte. Até onde sei, nunca morri para ter a capacidade de comentar o pós-vida detalhadamente e muito menos sou um médium como o Chico Xavier, que conversava com espíritos desencarnados. Acho até muito bonito esse tipo de eternidade que ultrapassa a vida terrena e com freqüência aparece em canções relacionadas ao amor, como em Eien do L’Arc~en~Ciel. Na prática o “para sempre” para certas pessoas não duram nem alguns meses. Bom, o assunto que pretendo explanar nas próximas linhas refere-se à eternidade mundana entre os homens. A possibilidade de vida eterna (sempre que escrevo “vida eterna” lembro do Mumm-Rá dos Thundercats...) na terra e as suas conseqüências. Agora que já foram fornecidas as devidas explicações iniciais, vamos ao que interessa.
Em um certo de dia de 2009, ano em que eu praticamente vivi “exilado” do imaginário social trancafiado dentro de casa, assisti a um vídeo musical do anime One Piece. Antes que você torça o nariz, fazendo comentários como “anime é coisa de criança” saiba que isso não é bem verdade. Já li e assisti capítulos de diversas séries nipônicas que muito bem desempenharam o papel de apresentar à um público leitor jovem, ainda em formação moral, situações  que levavam a uma reflexão séria sobre coisas importantes relacionadas a vida. Coisa que muita novelinha besta que a gente, povo, teve o desprazer de assistir, diz fazer, sendo que o interesse é outro. Por mais fantasiosas ou fictícias que sejam as histórias de mangás, extraio muitas lições desse tipo de mídia e reflito sobre elas também. Se o conteúdo é bom isso deveria bastar, mas infelizmente existe o preconceito. Não digo que anime é coisa séria, porém não é feito somente de infantilidades o tempo todo.
Voltando ao assunto, lá estava eu, em um pleno dia de meio de semana sozinho em casa, quando resolvo entrar na internet e assistir ao tal vídeo. Na verdade eu somente queria ouvir a música Bink’s Sake (Saquê do Bink’s), cantada pelo esqueleto Brook, só que acabei me envolvendo com a história por trás da música e corri atrás de mais informações. Nesse mundo frenético em que vivemos, nunca temos tempo para nada e é costume nosso apreciar o entretenimento de forma fragmentada, só que dessa vez me permiti envolver-me mais com aquilo que estava assistindo. Como é característico dessa série, a maioria dos personagens apresentados tem um flashback que mostra uma história de seu passado, geralmente não muito feliz. Nesse caso não era diferente. Comendo a fruta Yomi Yomi no Mi, Brook ganhou o poder de se tornar um imortal, um morto vivo capaz de voltar a vida depois de ser morto (fui redundante demais nessa minha explicação?). Em meio às aventuras pelo oceano, a tripulação dos Piratas Rumbar, do qual era Brook era membro, acabou adquirindo uma doença letal que aos poucos foi matando um a um, até restar somente ele, que por ser imortal não podia morrer. Como todos sabiam o que lhes esperavam, resolveram morrer cantando a tal música e de forma tocante o imortal chora olhando seus companheiros falecendo diante de seus olhos.


Até esse dia eu sempre enxergava a imortalidade mais pelo aspecto positivo de viver para sempre do que pelo negativo. Não que eu tivesse um desejo de viver eternamente só que enxergava a questão por esse lado e mudei de lado, prevalecendo desde então o aspecto negativo. É fácil enxergar o beneficio da eternidade que é o de ter esse privilégio de viver para sempre. Mas pensando melhor não é nenhum privilégio assistir, todo mundo que você verdadeiramente aprecia, morrendo. O fato de que todo mundo morre um dia de um certo modo pode vir a ser um consolo para aqueles que crêem em algo além da vida na terra. Viver eternamente seria terrível por ter de se viver eternamente só. Com o passar do tempo, o tal imortal perceberia que a melhor forma de não se entristecer continuamente, seria evitando fortes relações com outras pessoas porque ele saberia que ele assistiria o seu fim. Levar tamanha carga emocional consigo seria bem difícil.
Sei que a temática da vida eterna não foi exclusiva de One Piece e que já foi usada em um monte de filmes, séries e livros. Justamente por isso meu temor é a glamourização desse tema. Eternidade seria boa se repartida com as pessoas que você ama, e mesmo assim seria ainda ruim pela aura egoísta que uma idéia como esta forma compartilhada sugere. Nem sempre isso é bem definido em tais obras. O que acho legal é quando caracterizam fisicamente esse tipo de personagem de uma forma deteriorada, com marcas do tempo ou mostrando-o não de uma forma bela, como monstros. Davy Jones que o diga. Yohohoho!


PS1: Citei a música Eien do L’Arc~En~Ciel porque “Eien” significa eternidade, palavra que me inspirou para escrever algo hoje. Nada mais justo do que uma homenagem. Clicando aqui dá pra ler a tradução. Não vou dizer onde baixar, porque se você ainda não sabe onde procurar músicas na internet, és muito burro! Brincadeira...

PS2: Rumbar Pirates in memorium. Abaixo o link da sua última canção juntos.

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