sexta-feira, 27 de maio de 2011

Olhe Nos Meus Olhos

Num dia desses em que eu estava em casa sem ter o que fazer, resolvi assistir mais uma vez ao DVD (pirata por sinal) do filme Funny People (Tá Rindo Do Quê?). O diferencial dessa vez é que assisti ao filme com os comentários do diretor Judd Apatow e dos atores Adam Sandler e Seth Rogen. Um que chamou a minha atenção foi um em particular do diretor Judd Apatow, que nada tinha a ver com o filme. Durante um momento em que os três falavam sobre o bom contato visual que Sandler mantinha em uma das cenas do filme, Apatow comenta que nos primórdios do seu relacionamento com a também atriz Leslie Mann, ela lhe chamava a atenção por causa da sua falta de contato visual durante as conversas. Ele ficava fitando os lábios das pessoas ao invés dos seus olhos e como justificativa dizia que fazia isso para prestar mais atenção nas palavras ditas pelos outros.


Essa história de mal contato visual me lembrou do meu passado pré-adolescente, cujo meu contato visual com as pessoas era pífio, ou melhor dizendo, inexistente. Nunca olhava nos olhos de ninguém. Nem sei bem o porquê. Alguns alegavam que eu era autista e outros alegavam que eu era marrento. Talvez algum psicólogo espertalhão explique-me isso no futuro, no dia em que eu puder pagar um. O fato é que constantemente eu vagava pelo mundo de cabeça baixa, sempre fitando o chão e no âmbito das conversas isso não era diferente.
Que bizarro esse parágrafo anterior. Mais bizarro ainda é que ao escrevê-lo tive um breve sentimento de nostalgia dessa época. E olha que pensei que  jamais teria. Olhando para o chão eu enxergava o mundo de outra perspectiva,  um tanto quanto incomum para a maioria das pessoas. Afinal que pessoa normal fica olhando para o chão o tempo todo? Mesmo assim dá para se surpreender com os detalhes que o chão pode oferecer a seus “apreciadores”. Se você resolver fazer isso por causa da minha influência aprecie com moderação. Desaconselho essa prática porque as outras pessoas não irão te enxergar com bons olhos.
Lentamente o sistema da “normalidade” foi me absorvendo e com o tempo parei com esse hábito esquisito. É difícil desconstruir certos hábitos tão enraizados dentro da gente. Comecei a andar de cabeça erguida (mesmo sem ter motivos para tal), mas ainda faltava o próximo passo: contato visual.
A primeira vez veio em uma conversa comum e foi meio difícil. Achei estranho. Percebi que era necessário me concentrar, olhar a pessoa nos olhos, e ainda prestar atenção no que ela dizia. Fazer isso com sincronia era complicado, mas pelo menos não passei vergonha. Nos meus tempos de “olhos no chão”, apesar de deselegante, prestava mais atenção nas palavras dos outros. Estranheza para muitos, conforto para um.
Antes que me desse conta conseguia fazer contato visual normalmente. Mais uma lição que nem a escola e nem a família se deram ao trabalho de me ensinar e que tive que aprender sozinho, na marra, na escola da vida. Esse processo de humanizar um recluso é mais complicado do que vocês imaginam. Precisa ser lento, gradual e seguro. Já ouvi isso antes em algum lugar. Acho que a comparação não foi a das melhores...


Acho que não fazia isso antes por medo. Dizem que os olhos são a janela da alma de uma pessoa. Meu medo talvez não fosse nem o de olhar nos olhos dos outros e sim ter os meus olhos “olhados” por outras pessoas. Afinal contato visual é um ato recíproco. Meu medo talvez fosse que as pessoas ao olharem nos meus olhos não encontrassem nada por trás dele. Olhos sem vivacidade, olhos sem alma, olhos vazios, como preferir. De vez em quando tem a sensação de que meus olhos são assim: vazios que nem os dos peixes. Não posso saber ao certo porque afinal de contas não é possível olhar para eles o tempo todo e não sou lá um grande fã de espelhos de bolso.


O brilho no olhar. Já pensei que essa expressão fosse mais uma bobagem romântica criada pela indústria do entretenimento. Mas pude constatar que é real. Já conheci algumas garotas que o tinham e muito. Chegando perto o suficiente dava para ver perfeitamente o quanto eles brilhavam. Pareciam até olhos de personagem de mangá. Não se empolguem porque não peguei nenhuma delas. Em comum posso dizer que todas eram pessoas alegres, felizes e de bem com a vida. Sabe felicidade irritante? Não era o caso da felicidade delas. Era mais do tipo felicidade contagiante. Parece que descobri o segredo do brilho nos olhos.


E hoje me irrito quando não me olham nos olhos. Como o mundo dá voltas; anos atrás eu vivia fazendo isso. É muita desconsideração. É como se isso inferiorizasse a pessoa. Uma vez ouvi o jogador de futebol Cicinho falando em um programa esportivo que em sua época de Real Madrid, Raul, capitão do time, na hora de cumprimentá-lo com um aperto de mão, virava a cara para o outro lado. Um claro gesto de desprezo. Impossível não se identificar com a situação. Se bem que na minha vida causo mais torcicolos em garotas do que qualquer coisa.
Portanto olhe nos meus olhos. Olhe nos olhos de todo mundo, aliás. Todos são dignos de atenção e dignos da apreciação de vossas retinas. Se eu não fizer isso em algum momento perdoe-me porque ainda possuo algumas (ou seriam muitas?) sequelas da timidez. Também há o fato de a minha miopia não me deixa enxergar direito. Já estou usando desculpinha que nem o Apatow. Melhor parar por aqui.

PS: O título da postagem me lembrou do Olhar da Penitência do filme do Motoqueiro Fantasma. Look into my eyes!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sexta-Feira 13

Na quarta-feira eu estava indo para a faculdade, quando de repente, perto da sede do Botafogo de Futebol e Regatas, fui abordado no meio rua por dois rapazes. Calma, não eram assaltantes e nem coisa pior (que alívio!). Ao invés de armas eles possuíam em mãos câmera e microfone, ou seja, eram simplesmente dois jovens repórteres fazendo uma matéria qualquer. Concordei em participar dela mesmo sem saber sobre o que se tratava. Fiquei logo em alerta para uma possível emboscada. Vivo permanentemente em um estado de paranóia. Pensei que talvez, poderia se tratar de alguma pegadinha de  programa televisivo. Sempre pensei que algum dia iria cair em alguma pegadinha. Quem sabe? Vai que acontece... O Ivo Holanda poderia muito bem aparecer a qualquer momento querendo me sacanear.


O cara do microfone, vulgo entrevistador, começou a me fazer perguntas sobre a sexta-feira 13. Nem tinha me ligado que nessa semana iria rolar uma, afinal de contas, ainda estávamos no dia 11. De vez em quando minha noção de tempo e espaço se esvanece. Mesmo assim deu para perceber logo de cara que os rapazes estavam gravando uma matéria que iria rolar no dia 13, sexta-feira, justamente por causa do tema. As perguntas eram sobre superstições. Foi-me perguntado se eu passava tranquilamente debaixo de escadas, desviava de gato preto, carregava algum amuleto, esse tipo de coisa. De frente para câmera e nervoso, como de costume, me enrolei um pouco na hora de responder. Isso é algo que acontece quando você não está muito acostumado a bancar o protagonista, do tipo que recebe toda a atenção. Não estando acostumado, quando enfim a recebe, você não sabe direito o que fazer. Você não sabe como se comportar diante do foco incisivo e excessivo em cima de você. Duvido que tal experiência se repita mais vezes, porém se acontecer de novo, lá estarei mais uma vez despreparado para responder meia dúzia de perguntas aleatórias. Nunca me dei muito bem em improvisos performáticos oratórios, o que me faz detestar perguntas surpresas. Carreira política então, nem pensar... Nem queria mesmo.


Como sou um eterno membro da gangue do contra, ou da antítese, se preferir, respondi tudo negativamente. Acho que surpreendi fugindo dos estereótipos supersticiosos da crendice popular. Disse que passava tranquilo debaixo de escada e tudo mais. Não estava mentindo. No final da brincadeira acabei passando debaixo de uma escada de verdade. Tive que passar agachado porque era uma daquelas escadas pequenas e movéis, usadas dentro de casa. O constrangedor é que fiquei preso alguns instantes debaixo dela por causa da minha roliça pança de obeso, mas mesmo assim consegui enfim passar por baixo da escada. Daí me agradeceram a participação e fui-me embora.


Depois desse acontecimento parei para pensar no assunto. Sexta-feira 13. O que me vem à cabeça ao pensar em tal data são os filmes de terror, em especial o próprio filme homônimo Sexta-Feira 13 (Friday The 13th no original), em que Jason Voorhees, o famoso grandalhão assassino que usa uma máscara de hóquei, é um morto-vivo que sai se vingando com um facão, matando assim várias pessoas inocentes ao longo da sua carreira cinematográfica.


Pesquisando sobre o tema descobri umas coisinhas sobre a origem da sexta feira 13. Uma delas é a de que o JC (e não estou me referindo ao John Cena, John Constantine, Jim Carrey ou ao Jim Caviezel que o interpretou nas telonas) teria sido crucificado em uma sexta-feira 13 e de que na sua última ceia haviam 13 pessoas: ele e os doze apóstolos. Daí teria se originado a mística em torno da data.
Inegavelmente podemos concluir que grande parte das pessoas crêem que a sexta-feira 13 é um dia de azar no qual a urucubaca rola solta. Existem pessoas que até evitam realizar certas tarefas ou pior: evitam sair de casa por medo de que algo ruim aconteça.
Mas penso assim: quantas sextas-feiras ocorridas no dia 13 sobrevivi até hoje? Muitas. Espero que continue assim. Que eu continue invicto. Isso porque ao meu ver, vivo infortúnios típicos de sexta-feira 13 todos os dias. Incomum seria para mim ter um dia de sorte. Logo enxergo tal dia como apenas mais um outro repleto de má sorte. Para mim a probabilidade de algo dar errado é a mesma de sempre: certa. Mas isso não me impede de ficar atento nessa data, como sempre costumo ficar. Por exemplo, se eu avistasse em uma rua deserta, o Undertaker em uma sexta-feira 13 à noite ou em outro dia qualquer, no meio de meu caminho para casa eu sairia correndo. E gritando feito menininha. Diferente do Jason, o Undertaker, vulgo Deadman, é real e pode ir atrás de você, te aplicar um pilão e te mandar para o caixão. Lá você permanecerá por toda a eternidade. Rest in peace!


PS: Faltei aula hoje por mera coincidência.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Bin Laden Morto

Estava em casa assistindo A Rocha no Domingo Maior quando de repente o filme é abruptamente interrompido por aquela vinheta do Plantão da Rede Globo. Aquela musiquinha sempre me deu um certo medo. Ao ouvi-la já começo a entrar em estado de pânico e a me perguntar quem havia sido o falecido da vez. Não deu outra: Osama Bin Laden, o terrorrista barbudo mais procurado dos últimos dos 10 anos, quiçá de todos os tempos, havia sido morto em uma operação militar norte-americana no Paquistão.


Aí a Patrícia Poeta e o Zeca Camargo anunciaram que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, iria fazer um discurso oficial sobre o acontecimento. Após cinco minutos de pronunciamento, já com sono, desisti do filme e resolvi ir me deitar. A Rocha é mais um daqueles filmes que nunca consigo assistir completo na televisão; sempre surge uma adversidade que me impede de fazer isso. A única certeza que eu tinha era a de que no dia seguinte a suposta morte do Bin Laden seria a bola da vez, substituindo, enfim, o casamento real do príncipe William e da “plebéia” Kate Middleton, como assunto do momento.


Mais uma vez, acertei de novo e constatei o óbvio: ao ligar a televisão pela manhã os telejornais já estavam abordando o assunto. O que chamou minha atenção (e acho que a de muitas pessoas) foi o jeito como os norte-americanos comemoravam a morte do Bin Laden. Parecia até que eles haviam ganhado uma final de Copa do Mundo. Cartazes de “Obama 1 X Bin Laden 0”, festas nas ruas, fogos de artifício, etc. Sei que eles são bem mais patrióticos do  que a gente, que só lembra do "Brasil Nação" em época de Copa Mundo, mas olhando aquilo tudo momentaneamente fiquei estupefato, sem reação. Resolvi valer-me da minha velha técnica ninja de tentar me imaginar naquele cenário; dessa vez como um norte-americano, para tentar compreender minimamente como que um cidadão daquele país poderia estar se sentindo naquele momento.


O 11 de setembro de 2001 foi um ato terrorista que marcou a sociedade norte-americana e deixou sequelas. Não é todo dia que uma potência como os EUA é atacada daquela maneira. Criou-se um clima de insegurança, desproteção e vulnerabilidade. Este trágico evento que provocou a morte de vários inocentes gerou naquele país um forte desejo de revanchismo. Bin Laden, líder da Al Qaeda tornou-se o inimigo público número um na era Bush, presidente que iniciou a guerra contra o terror. Ao longo da última década vimos o que aconteceu. Criou-se um estado de paranoia no mundo inteiro. O pânico espalhou-se. Segurança reforçada nos aeroportos, xenofobia, anti-islamismo, guerras, invasões, arbitrariedades, novos atos terroristas em outros países. Ódio exacerbado de ambas as partes.
Justamente por isso o cidadão norte-americano mais do que qualquer outro do mundo está com esse sentimento de vitória. Julgo até natural pela situação. Consigo compreender o alívio pela morte de um terrorrista, que com certeza não vai fazer falta alguma. Vivo ele seria uma ameaça e poderia organizar, influenciar ou planejar novos atos terroristas que mataria mais pessoas inocentes. Porém acho que foi um exagero comemorar a morte de outro ser humano, da maneira que foi feita. Parecia cena de filme medieval do tipo “ Cortem a cabeça dele”, “Queimem a bruxa na fogueira", “Executem-no” etc. Isso me assustou um pouco principalmente vindo de uma população, em grande parte religiosa como a americana. Corajoso foi o jogador Chris Douglas-Roberts da NBA, que em seu Twitter condenou esta postura do povo estadunidense e foi alvo de diversas criticas. Uma coisa é estar aqui é falar de lá, outra é estar lá e falar de lá sobre seus próprios conterrâneos. Devo dar os meus parabéns à atitude do atleta.
Como as coisas mudam. Todo mundo se lembra o que estava fazendo naquele dia, não é mesmo? Pois bem: eu estava em casa, comendo bife com batata frita e vendo desenho. Dez anos atrás quando as torres gêmeas foram atacadas eu fiquei irritado com a cobertura excessiva da mídia que me fez perder um capítulo inédito de Dragon Ball Z na TV Globinho. Acho que com 11 anos de idade eu devia ter compreendido melhor a situação... Hoje estou aqui revendo o assunto por conta própria discutindo-o seriamente. Enfim um sinal de amadurecimento de minha parte. Realmente, estou surpreso comigo.
Essa brincadeira de Tom e Jerry entre governo norte-americano e Osama Bin Laden durou dez longos anos. Várias vidas foram perdidas ao longo desse processo de captura. Inegavelmente há uma sensação de alívio, mas não dá para ser ingênuo e pensar que tudo acabou. Bin Laden pode estar morto mas ele era só uma pessoa: a Al Qaeda continua e seus seguidores fanáticos também. O momento é de tensão e devemos ficar precavidos sobre possíveis represálias.


Mas que é bom demais dizer “Bin Laden você já foi tarde”, isso é.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dublagem

Para falar de dublagem, antes de tudo é preciso explicar qual o motivo da sua existência. Não é necessário ser um gênio para responder isso. A dublagem existe para tornar uma obra audiovisual acessível a uma população diferente  da do seu país de origem. Diferente da legenda, a dublagem permite que o público esteja mais atento às imagens. Além disso, outro aspecto negativo da técnica da legenda está no fato de que nem sempre o público é capaz de ler o que surge escrito na tela, seja pelo seu analfabetismo ou pela sua faixa etária. Assim, a melhor forma de se atingir um público mais amplo é se utilizando da dublagem, na qual o áudio original da obra é traduzido e dublado na língua nativa do país que a recebe. Posso estar enganado, mas acho que a maioria das pessoas sequer percebe o quanto é incrível pensar como um simples filme, desenho animado ou série televisiva de qualquer país do mundo, pode ser traduzido para qualquer língua.
Essa ideia de todos no planeta se entendendo por intermédio de dublagens e traduções me lembrou da história bíblica da Torre de Babel. Deus resolveu castigar os homens provocando o desmoronamento da Torre e fez com que os homens falassem dali por diante línguas diferentes, de modo a não mais se entenderem a ponto de construir uma nova Torre. Hoje em dia qualquer um pode compreender a língua que quiser. Ou quase. Saber falar ou até mesmo compreender minimamente uma ou mais línguas diferentes da sua língua natal é um privilégio que poucos possuem. Para quem não possui um conhecimento básico sobre uma língua estrangeira sempre ocorre um certo estranhamento ao ouvi-la por acaso. Afinal de contas, temos que considerar que nem todo mundo tem condição de pagar uma boa escola de idiomas.


Mais uma vez explanei demais sobre um assunto secundário e quase ia me esquecendo do assunto do dia. Resolvi escrever sobre dublagem vendo recentemente Dragon Ball Kai no Cartoon Network. Como fã eterno da série do Akira Toriyama, o mínimo que podia fazer era prestar uma homenagem assistindo essa nova versão da fase Z. Boa parte dos dubladores originais voltaram a assumir a voz de seus personagens. As faltas significativas foram as dos dubladores de Piccolo e Vegeta, Luiz Antônio Lobue e Alfredo Rollo respectivamente.


Engraçado que isso me lembrou da minha infância. Basicamente da primeira vez, pelo que me lembro, que comecei a prestar mais atenção na dublagem. Devia ter uns 10 anos. Havia estreado a segunda temporada de Pokémon e a voz do Meowth estava diferente. Ficava me perguntando quando é que ela ia voltar ao normal, coisa que não aconteceu na temporada inteira. Foi aí que caiu a ficha que trocaram o dublador do personagem...


A gente (eu pelo menos) cria um elo emocional muito forte com as vozes dos dubladores. Nem vemos os seus rostos mais eles se tornam bem familiares para nós depois de um certo tempo. São parte de nossas vidas e nem percebemos. Caso parecido com esse do Meowth, foi o da substituição do dublador do Homer Simpson aqui no Brasil. Até hoje fico imaginando se o Waldyr Sant’anna um dia irá voltar a dublá-lo. Boa parte do público não se interessa em saber quem faz a voz do seu personagem ou ator favorito. Só percebe a sua importância quando ele é substituído. Qualquer pessoa que já viu um filme dublado em português brazuca, já deve ter ouvido a voz de Guilherme Briggs, Alexandre Moreno, Marco Ribeiro dentre outros sem nem se dar conta disso. Crescemos ouvindo suas vozes em desenhos animados, blockbusters e sitcoms.


Não sou um especialista em dublagem, mas ouvi falar que a brasileira é uma das melhores, senão a melhor do mundo. Não duvido. Já vi alguns filmes japoneses dublados pessimamente na língua inglesa. Os gringos sabem muito bem fazer filmes, mas a sua dublagem é de péssima qualidade. Vozes inexpressivas e falta de sintonia entre voz e movimento da boca dos atores durante o filme inteiro. Lembrei-me até de uma das piadas do filme Kung-Pow, na qual após uns 15 segundos de movimento labial sem som, o ator dizia apenas uma palavra em inglês.
Esse é um dos grandes desafios da dublagem. Não adianta traduzir tudo ao pé da letra. Existem expressões que não fazem sentido algum em uma língua diferente. Piadas que perdem o sentido quando traduzidas. Citações à personalidades famosas no país de origem e desconhecidas no resto do mundo. A dublagem brasileira se diferencia por ser criativa, ousar fazendo brincadeiras com assuntos locais. Tem quem critique isso, mas eu acho bacana  dar um tom mais abrasileirado a uma obra estrangeira. Quem é que não se lembra em Yu Yu Hakusho da torcida do torneio gritando “Ah, eu sou Toguro!” na época em que a torcida do Flamengo (sem clubismo, por favor) gritava “Ah, eu sou maluco!”.


Sou fã de dublagem. Várias vezes já fiquei de frente para o espelho imitando o Saga de Gêmeos, imortalizado aqui pela voz do grande Gilberto Baroli, com suas frases de efeito bacaninhas de vilão diabólico. Fui pesquisar e descobri que para ser dublador você tem que ser ator e além disso você deve ter um mínimo de talento para dublar. Como ator, sou o mais canastrão do mundo. Talento é sinônimo para “algo que não possuo”. Então já deu para vocês imaginarem mais uma coisa que não ouso fazer hoje em dia.
Melhor mesmo deixar para os profissionais. Dubladores e dubladoras do Brasil: amo todos vocês. Parabéns pelo excelente trabalho. 

PS: Nadei na merda de novo esse ano. Só não escrevi outra crônica para evitar a redundância... Leia aqui a minha aventura fecal do ano passado.
PS3: Hackeado. Tinha que fazer essa piada.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Boas Mulheres Deviam Ser Felizes

Impressionante como não consigo pensar em algum acontecimento positivo na minha vida relevante o suficiente para postar aqui. Só me acontecem desgraças e mais desgraças. Felizmente são desgraças de baixo nível, no bom sentido. Desgraças pequeninas de um jovem imaturo desafortunado. Podia escrever músicas melosas baseadas nas minhas experiências ruins, mas não pretendo me tornar um futuro ídolo emo de adolescentes deprimidas. Não sei cantar e nem tocar guitarra. Melhor então encontrar uma forma de rir da própria desgraça e tirar proveito disso. Uma boa idéia seria criar um seriado baseado nas minhas experiências ruins para ganhar uns trocados, mas pelo visto alguém já teve essa idéia. Estou falando com você, senhor Chris Rock. Valeu mesmo...
Paremos de enrolação agora e vamos direto ao fato em questão: perdi minha     chance com mais uma pretendente. História clássica. Um cara conhece uma garota, os dois se dão bem, trocam telefones, se ligam, até que um belo dia ela diz a clássica frase “Conheci alguém”. Preciso dizer qual desses três personagens eu sou nessa história? No impulso da raiva acabei mandando um SMS com os dizeres “Não quero mais saber de você. Fica com seu namoradinho. Adeus”.
Logo ela, que vivia desconfiada de mim e das minhas intenções, me apronta uma dessas... Nosso tempo de diálogo tinha durado umas duas semanas até esse acontecimento. Convidei-a para sair conforme o manual de relações humanas, mas na primeira semana ela disse que era cedo demais para isso e na segunda semana também não seria possível porque ela iria até à praia com umas amigas. Até ai tudo bem, resolvi ser paciente e esperar. Ligo pra ela, já em outro dia perguntando mais uma vez, sobre uma possível saída a dois e ela me conta que conheceu um sujeito em uma festa e que no dia seguinte o reencontrou. Acabaram ficando juntos. Sacou o lance? O manolo conseguiu em dois dias o que não consegui em duas semanas. Presença faz diferença. E como. Pior para mim...
Ou seja, fiquei duas semanas trocando idéias com uma garota bonita, solteira e heterossexual (primeira coisa que faço hoje em dia é perguntar se a menina é lésbica...), na qual estava interessado, à troco de nada. Gastei os créditos do meu celular de pobre pré-pago à toa. Será mesmo?
Uma coisa posso afirmar: ela é uma pessoa legal de se conversar. Não ficaria tanto tempo conversando com alguém se o papo não fosse minimamente interessante. Até por isso pensei, ingenuamente, que havia rolado alguma química. Estou cansado de conhecer belas garotas cheias de idéias erradas na cachola. Não que eu esteja à procura de um clone meu em versão feminina. Só acho que a pessoa seja qual for, deve ser flexível, ter suas opiniões e respeitar as dos outros. Algo que essa garota em particular, mesmo com sua simplicidade fazia muito bem.
Depois de todo esse acontecimento fiquei uma semana sem falar com ela. Tive tempo para pensar se estava sendo injusto ou até mesmo imaturo. Afinal eu era apenas um pretendente. Não chegou a ser uma traição. Não assinamos nenhum contrato e nem firmamos um relacionamento: era apenas uma possibilidade que não se concretizou. Não é nem questão de ser corno manso. O corno apesar de tudo, ao menos ficou com a dita cuja que lhe pôs chifres. Qual situação é menos pior? Acho que a minha.
E tem mais: ela sempre foi muito carinhosa comigo. Me mandava mensagens me desejando bom dia, boa noite etc. Coisa rara de acontecer, principalmente comigo.
Lembrei de um capítulo de um mangá que eu li um tempão atrás. Na história o personagem Taizo “Madao” Hasegawa se apaixonava pela enfermeira que cuidava dele no hospital. Um dia ele descobre que ela está apaixonada de verdade por um cara, que obviamente não é ele. Ele decide ajudar a aproximá-los e quando lhe perguntam o porquê ele solta uma frase que até hoje não sai da minha cabeça. “Boas mulheres deviam ser felizes”.


Para mim isso nem pareceu uma justificativa. Encarei a frase como uma lei. Deixando sua felicidade de lado ele resolve ajudá-la a conquistar sua felicidade. Um tipo de retribuição bem difícil de acontecer na vida real. A gratidão pode ser dolorosa. Em geral se busca a felicidade a qualquer custo. Homens então, são egoístas natos. Vivem competindo entre si. Como não sou uma pessoa de verdade poderia tentar algo do tipo. Não agindo como o Madao (aí seria demais para mim), mas ao menos ser mais compreensivo. Não dificultar as coisas. O ato de fechar portas é muito ruim, principalmente quando relacionado a pessoas.
Compreendido isso, mandei uma mensagem para ela pedindo desculpas. Posso ter perdido uma possível namorada, mas isso não precisava ser um motivo para perder uma amiga. Ela leu, me ligou de volta, me perdoou e voltamos às boas de novo. Não sou tão bonzinho assim para concluir o texto dizendo “se ela está feliz também estou feliz”. Ainda estou incomodado porque isso aconteceu recentemente. Com o tempo a raiva e a frustração devem passar. Então nem sei se a história teve final feliz. Ficamos apenas amigos mesmo.


Depois disso fui pra cozinha, preparei um baldão de pipoca, e passei a noite comendo e vendo uns filmes de comédia para desestressar um pouco. Dei umas boas risadas (mais da minha situação do que dos filmes) e fui dormir. A vida continua. Mais sorte e mais rapidez na próxima vez. Fica a lição.

PS: Se você deseja saber o que significa Madao leia aqui.
PS2: Essa é para a Maiara. PS quer dizer Post-Scriptum uma expressão em latim que significa "escrito depois". Para mais informações clique aqui.