quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dublagem

Para falar de dublagem, antes de tudo é preciso explicar qual o motivo da sua existência. Não é necessário ser um gênio para responder isso. A dublagem existe para tornar uma obra audiovisual acessível a uma população diferente  da do seu país de origem. Diferente da legenda, a dublagem permite que o público esteja mais atento às imagens. Além disso, outro aspecto negativo da técnica da legenda está no fato de que nem sempre o público é capaz de ler o que surge escrito na tela, seja pelo seu analfabetismo ou pela sua faixa etária. Assim, a melhor forma de se atingir um público mais amplo é se utilizando da dublagem, na qual o áudio original da obra é traduzido e dublado na língua nativa do país que a recebe. Posso estar enganado, mas acho que a maioria das pessoas sequer percebe o quanto é incrível pensar como um simples filme, desenho animado ou série televisiva de qualquer país do mundo, pode ser traduzido para qualquer língua.
Essa ideia de todos no planeta se entendendo por intermédio de dublagens e traduções me lembrou da história bíblica da Torre de Babel. Deus resolveu castigar os homens provocando o desmoronamento da Torre e fez com que os homens falassem dali por diante línguas diferentes, de modo a não mais se entenderem a ponto de construir uma nova Torre. Hoje em dia qualquer um pode compreender a língua que quiser. Ou quase. Saber falar ou até mesmo compreender minimamente uma ou mais línguas diferentes da sua língua natal é um privilégio que poucos possuem. Para quem não possui um conhecimento básico sobre uma língua estrangeira sempre ocorre um certo estranhamento ao ouvi-la por acaso. Afinal de contas, temos que considerar que nem todo mundo tem condição de pagar uma boa escola de idiomas.


Mais uma vez explanei demais sobre um assunto secundário e quase ia me esquecendo do assunto do dia. Resolvi escrever sobre dublagem vendo recentemente Dragon Ball Kai no Cartoon Network. Como fã eterno da série do Akira Toriyama, o mínimo que podia fazer era prestar uma homenagem assistindo essa nova versão da fase Z. Boa parte dos dubladores originais voltaram a assumir a voz de seus personagens. As faltas significativas foram as dos dubladores de Piccolo e Vegeta, Luiz Antônio Lobue e Alfredo Rollo respectivamente.


Engraçado que isso me lembrou da minha infância. Basicamente da primeira vez, pelo que me lembro, que comecei a prestar mais atenção na dublagem. Devia ter uns 10 anos. Havia estreado a segunda temporada de Pokémon e a voz do Meowth estava diferente. Ficava me perguntando quando é que ela ia voltar ao normal, coisa que não aconteceu na temporada inteira. Foi aí que caiu a ficha que trocaram o dublador do personagem...


A gente (eu pelo menos) cria um elo emocional muito forte com as vozes dos dubladores. Nem vemos os seus rostos mais eles se tornam bem familiares para nós depois de um certo tempo. São parte de nossas vidas e nem percebemos. Caso parecido com esse do Meowth, foi o da substituição do dublador do Homer Simpson aqui no Brasil. Até hoje fico imaginando se o Waldyr Sant’anna um dia irá voltar a dublá-lo. Boa parte do público não se interessa em saber quem faz a voz do seu personagem ou ator favorito. Só percebe a sua importância quando ele é substituído. Qualquer pessoa que já viu um filme dublado em português brazuca, já deve ter ouvido a voz de Guilherme Briggs, Alexandre Moreno, Marco Ribeiro dentre outros sem nem se dar conta disso. Crescemos ouvindo suas vozes em desenhos animados, blockbusters e sitcoms.


Não sou um especialista em dublagem, mas ouvi falar que a brasileira é uma das melhores, senão a melhor do mundo. Não duvido. Já vi alguns filmes japoneses dublados pessimamente na língua inglesa. Os gringos sabem muito bem fazer filmes, mas a sua dublagem é de péssima qualidade. Vozes inexpressivas e falta de sintonia entre voz e movimento da boca dos atores durante o filme inteiro. Lembrei-me até de uma das piadas do filme Kung-Pow, na qual após uns 15 segundos de movimento labial sem som, o ator dizia apenas uma palavra em inglês.
Esse é um dos grandes desafios da dublagem. Não adianta traduzir tudo ao pé da letra. Existem expressões que não fazem sentido algum em uma língua diferente. Piadas que perdem o sentido quando traduzidas. Citações à personalidades famosas no país de origem e desconhecidas no resto do mundo. A dublagem brasileira se diferencia por ser criativa, ousar fazendo brincadeiras com assuntos locais. Tem quem critique isso, mas eu acho bacana  dar um tom mais abrasileirado a uma obra estrangeira. Quem é que não se lembra em Yu Yu Hakusho da torcida do torneio gritando “Ah, eu sou Toguro!” na época em que a torcida do Flamengo (sem clubismo, por favor) gritava “Ah, eu sou maluco!”.


Sou fã de dublagem. Várias vezes já fiquei de frente para o espelho imitando o Saga de Gêmeos, imortalizado aqui pela voz do grande Gilberto Baroli, com suas frases de efeito bacaninhas de vilão diabólico. Fui pesquisar e descobri que para ser dublador você tem que ser ator e além disso você deve ter um mínimo de talento para dublar. Como ator, sou o mais canastrão do mundo. Talento é sinônimo para “algo que não possuo”. Então já deu para vocês imaginarem mais uma coisa que não ouso fazer hoje em dia.
Melhor mesmo deixar para os profissionais. Dubladores e dubladoras do Brasil: amo todos vocês. Parabéns pelo excelente trabalho. 

PS: Nadei na merda de novo esse ano. Só não escrevi outra crônica para evitar a redundância... Leia aqui a minha aventura fecal do ano passado.
PS3: Hackeado. Tinha que fazer essa piada.

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