sexta-feira, 9 de abril de 2010

Gritando Na Chuva

Segunda feira, cinco de abril, Rio de Janeiro, capital. Após o meu primeiro dia de aula na faculdade desejo retornar imediatamente para o conforto de meu lar. No dia em questão iria passar Laranja Mecânica, filme hoje cult que nunca vi na tv aberta e que teria a oportunidade de assistir na tv a cabo. Já havia tentado assistir outras vezes, mas sempre surgia um contratempo.
Parecia simples. Pegar um ônibus e chegar no destino casa a tempo de ver um filminho, certo? Só que simplesmente caiu o maior aguaceiro de todos os tempos na cidade maravilhosa. Ruas viraram rios. O acesso a muitos lugares ficou complicado seja a pé ou transporte. Estava eu no ônibus 472 desde às dezoito e trinta e já se aproximavam das vinte horas. O ônibus não movia-se um milímetro sequer e nem havia chegado na central do Brasil ainda.
Somando a situação caótica do lado de fora havia o inferno de um transporte público habitual. Só havia aquele tipo de pessoa que detesto ser obrigado a aturar confinado num busão. Homens fumando dentro do ônibus, funkeiro ouvindo música no seu celular roubado adquirido no camelô, e mais aquelas terríveis mulheres tagarelas que adoram reclamar da vida, além disso, não contentes enchiam os nossos pobres ouvidos mortais contando vantagens pessoais. Quanto ganham, que curso fizeram, onde se formaram, onde trabalhavam, para onde viajavam. Falando esse tipo de coisa para todo mundo ouvir. Sério, detesto esse tipo de gente metida e esnobe. Ficar contando vantagem no meio de um monte de trabalhadores humildes. Coisa mais nada a ver... 
Eu com a minha paciência terminada desci do ônibus que continuava imóvel. E lá fui a pé até o meu querido bairro de São Cristóvão. Até o presente momento não fazia idéia do que estava acontecendo realmente para ficar tudo parado. Foi aí que cheguei na Leopoldina. Tudo alagado, intransitável para um veículo passar. A pé até que dava, mas a rua parecia uma sopa de merda. E como eu estava cansado e queria só ir para casa me tornei um ingrediente desta horripilante sopa de excremento. Mesmo sabendo do risco de pegar uma leptospirose pisando naquela porra, correção bosta.
Fui adiante, rua a rua, todas alagadas. Eu já todo molhado (no bom sentido), desisti do guarda-chuva e me rendi aos pingos de chuva. Pensei com a calça toda suja de merda para que ligar para água que caía da chuva? Comecei a gritar que nem louco no meio da rua. Sensação de liberdade boa. E o barulho do céu tornava os gritos inaudíveis. Melhor ainda para soltar a garganta, algo que fiz até ficar rouco. Gritar é um ótimo remédio pra liberar a fúria dentro de si, recomendo.
Bom, chegando em casa, além de ter extrapolado o horário de ínicio do filme, a luz elétrica havia se acabado então nada de Laranja Mecânica,    definitivamente, naquele dia. Deveria ter voltado à chuva e gritar um pouco mais? Certamente. Vontade não me faltou, venceu o cansaço e fui dormir.

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