segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bullying

No último post fiz uma breve menção sobre bullying. Aproveitando a oportunidade pegarei carona no modismo para discorrer sobre esse tema que está em alta atualmente. Na semana passada passou no mundo inteiro o vídeo do Zangief Kid, um garoto gordinho australiano chamado Casey Heynes, aplicando o famoso pilão (golpe em que se arremessa o adversário no chão) em um outro garoto que supostamente ficava perturbando ele, assim como outros valentões da sua escola. Por causa desse vídeo reabriram-se mais uma vez as velhas discussões a respeito dessa velha prática de intimidação.


Comecemos pelo caso em questão. Minha opinião sobre isso? Bem feito para o que apanhou. Não sou nenhum entusiasta da violência, mas até dá para compreender porque o garoto resolveu revidar finalmente com uma agressão física. Pegou o primeiro que viu e lhe agrediu, usando toda a sua raiva reprimida. Viver anos e anos ouvindo gracinhas e desaforos não traz nenhum sentimento bom. O sentimento é de ódio, de vingança. Ninguém gosta de ser sacaneado e nem tem sangue de barata para aguentar calado tanto tempo. É aquela situação: as vítimas de bullying geralmente são pessoas sozinhas, excluídas socialmente (por opção ou não), as quais ninguém dá a mínima. Calados eles agüentam as ofensas e não contam nada para os pais. Colegas, funcionários e professores às vezes até percebem que uma criança está sendo alvo constante de inúmeras brincadeirinhas sem graça, mas acabam não fazendo nada para ajudá-la. Ignoram sua existência. Aí no dia em que ele dá uma de Júpiter dos Cybercops dizendo “Já chega!” na hora da Cyberforça e partindo para o pau para cima dos “vilões”, todos percebem que a vítima existe. E a punem por sinal. Com certa razão; porrada é porrada e nem dá para defender seu uso desnecessário. Mas e o trauma causado pelos xingamentos dia após dia? Terror psicológico é permitido não é mesmo? Isso não dá advertência nem suspensão... É o mundo sendo hipócrita e injusto mais uma vez.


Sei muito bem como é isso. Já sofri bullying por alguns anos. Nada de mais para falar a verdade. Acho até que estou forçando a barra. Tudo é bullying hoje em dia. Durou até a sexta série. Algumas piadinhas de gordo, apertões, petelecos, zombarias sobre minha inabilidade em me socializar com os outros, comparações com o Sherman Klump, vulgo Professor Aloprado. Nada grave demais a ponto de me deixar traumatizado pelo resto da vida. Para algumas pessoas até poderia ser. Acho que isso varia de acordo com a pessoa.


Nunca tive um forte desejo de vingança a ponto de querer agredir alguém ou fazer coisas piores. Além do mais como canso de dizer, sempre fui grande demais para minha idade, o que intimidava (e intimida até hoje) os desconhecidos. Além do mais tem o fato de que com o tempo fui emagrecendo um pouco, algo acabou vindo a calhar, pois serviu para me deixarem um pouco em paz. Ou não. Minha teoria é de que o meu silêncio constante e meu olhar de louco me protegia, mantendo as pessoas afastadas e receosas sobre alguma possível reação do semimudo esquisitão misterioso. Gozado que uma certa vez uma garota de uma das minhas inúmeras turmas chegou perto de mim (para minha surpresa) e pediu para que eu, anos depois que saísse da escola e me tornasse um serial killer poupasse sua vida. Ela disse que viu um filme em que o protagonista tinha o comportamento igualzinho ao meu e que na vida adulta partiu justamente para essa carreira sangrenta vingativa: saiu matando uma a uma das inimizades da sua juventude. Foi realmente gratificante saber que mesmo com quinze anos de idade já me julgavam um homicida em potencial. Estou sendo irônico... Sem medo, ex-colegas!
Falando sério agora. Existem inúmeros casos em que essa história de bullying termina mal. Quando falo em termina mal, me refiro mais aos agressores do que as vítimas. Em vários casos ocorre uma tragédia. Um jovem fica transtornado a ponto de levar uma arma para escola, sair atirando em todos e no fim mete uma bala na própria cabeça. Quantas vezes essa história já se repetiu? Quantas vezes essa história irá se repetir? Até mesmo no caso do Zangief Kid, tudo poderia ter terminado mal com o garoto quebrando a coluna do outro. Revidar é sedutor, mas não é a coisa certa a fazer. Queria apontar uma solução eficaz, contudo não tenho nenhuma. Não sou demagogo para falar para as vítimas de bullying conversar com os pais ou se queixar com a coordenação de suas escolas porque sei que eles, ao menos uma vez, já pensaram nessa possibilidade. Não fazem porque não querem. Então meu recado vai para o povinho mais ou menos, que não sofre e não pratica bullying. Paneleiros de plantão eu lhes apelo: procurem incluir mais seus colegas isolados. Chamem eles para ficarem junto de vocês. Eles não estão sós por serem marrentos e sim por se sentirem inseguros a ponto de possuírem um medo desgraçado de serem rejeitados. O efeito de ser chamado pelo nome e não por algum apelido grotesco e ofensivo é maravilhoso e você pode fazer alguém se sentir assim: basta estender a mão oferecendo amizade. Para as meninas principalmente (que quando novas conseguem ser bem escrotinhas) eu falo: nem todo mundo é galã de telenovela. O mundo real é feito de gente gorda, feia, espinhenta, gaga (não a Lady Gaga), pobre, descabelada, negra, amarela, azul (Smurfs?), enfim gente de todo o tipo. Não estou falando que é dever cívico de vocês namorar ou ficar com alguém que possui uma “beleza incomum”, mas dar um pouquinho de atenção, gentileza e solidariedade a essas pessoas não custa nada. Faz até bem para a alma. Com certeza quando vocês saírem do seu mundinho fechado irão lidar com todo o tipo de gente no mundo real quando adultas. Por isso comece incluindo-as agora cedo na sua vida e feche as portas para esse tipo de discriminação. Seja lá qual for o seu preconceito, nenhum deles é tolerável no mundo real. Deixem suas panelinhas acessíveis a todos.


Quero deixar uma última lição para os praticantes do bullying: nunca faça isso com alguém maior e mais forte que você porque você pode acabar se dando muito mal. Ou melhor dizendo: não mexa com quem está quieto. Fica a dica.

PS: Para os leigos que ainda não entenderam, Zangief é aquele soviético grandalhão do Street Fighter que se caracteriza pelo ataques giratórios de braços e pilões aplicados nos adversários de luta.

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