segunda-feira, 11 de abril de 2011

Bullying Parte II

Indescritível. Só assim para definir esse lamentável episódio do massacre ocorrido em uma escola pública de Realengo. Doze vidas de crianças inocentes foram encerradas tragicamente. Sem contar no número de feridos e nos traumas causados. O assassino encurralado, se suicidou com um tiro na própria cabeça. Já vimos histórias parecidas como esta antes. A mais famosa aconteceu em Columbine nos Estados Unidos no ano de 1999, tragédia que inclusive deu origem a um documentário. O Brasil agora também é um membro desde triste clube de países que tiveram vidas de estudantes ceifadas por um psicopata desequilibrado. Um tipo de crime bem particular que precisa ser discutido pela nossa sociedade.
Geralmente nos meus textos para esse blog eu tento tornar tudo mais leve, levando as coisas com bom humor, fazendo referências ao mundo pop, usando imagens engraçadas para ilustrar algumas passagens etc. Mas nesse caso não farei isso. O assunto é sério e pesado demais para gracinhas desse gênero. Acho que todos nós brasileiros no momento estamos de luto. Uma solidariedade que acredito, se estende mundo afora.
Inegavelmente sempre procuramos alguma autoridade a quem culpar nesses casos. Que fique bem claro que não tenho afinidade com partido político algum. Nas tragédias naturais, como os deslizamentos de terra causados pelas chuvas torrenciais, culpamos os políticos pelo descaso com a população pobre. Nos homicídios, latrocínios e similares acontecidos nas ruas, também os culpamos pela falta de segurança. Mas nesse caso de Realengo nada poderia ser previsto. Nenhuma estratégia de precaução poderia ser elaborada. Trata-se de um caso inesperado, isolado, e acima de tudo trágico. Acho que nem mesmo um bandido comum, membro do poder paralelo, cometeria uma barbaridade dessas a troco de absolutamente nada. É isso que choca. Um jovem de 23 anos, pacato, recluso e sem histórico violento se pôs a balear crianças com uma frieza assustadora.
Aí se pensa no óbvio: a culpa é do assassino. Não sou louco a ponto de fazer um papel de advogado do diabo e defender o Wellington. Mas temos que discutir os motivos que o fizeram fazer isso por mais absurdos e tolos que eles sejam.
Coincidentemente segunda-feira passada, três dias antes de isso tudo acontecer eu fiz um post sobre bullying, baseado na atitude de Casey Heines de revidar a zoação dos colegas com um golpe. Enquanto escrevia eu pensei justamente no caso de Columbine em que típicas pessoas vítimas de bullying, um dia explodiram e saíram disparando a esmo nos seus colegas. Fiz até uma menção sobre isso escrevendo ”Em vários casos ocorre uma tragédia. Um jovem fica transtornado a ponto de levar uma arma para escola, sair atirando em todos e no fim mete uma bala na própria cabeça”. A situação prevista por mim infelizmente acabou se tornando realidade.
As investigações policiais continuam. Apareceram diversos motivos sobre o que o teria motivado a fazer aquilo. Está comprovado que ele era esquizofrênico, muito religioso e era alvo de gozações na escola por causa do seu jeito diferente de ser. Irei me focar nessa parte do bullying.
Uma coisa que me assustou muito em todo esse caso é o quanto o comportamento do assassino é parecido com o meu. Os leitores que me conhecem pessoalmente sabem como eu sou. Reservado e calado, só respondo quando me perguntam algo. Nunca dou um alô para vizinho algum. Não tenho “grandes” amigos de verdade e só saio de casa para estudar e vice-versa. Vivo num estado de aparente tranqüilidade. Passo horas em frente ao PC. De diferente do passado do assassino só tenho o fato de não ser muito religioso.
Refletindo nisso tudo eu pensei muito nessa minha vida, tão semelhante a daquele indivíduo. Vivo reclamando dela: falta emprego, falta dinheiro, falta mulher, falta diversão, falta felicidade. Não é nem um estado temporário, uma crise a ser superada: é um estado prolongado no qual vivo há bastante tempo e no qual de que certo modo já me acostumei. Pensei novamente. O que me faz aguentar tudo isso? O que me dá forças? O que me diferencia de um sujeito desses?
A resposta é simples. Sorte. Embora tímido e recluso sempre tive pessoas legais presentes na minha vida. Constantemente. Algo simples, que pelo que parece Wellington não teve. Se não tivesse sorte nem sei o que teria me acontecido se a vida não me permitisse tê-las conhecido. Porém, apesar de tudo, duvido que eu algum dia fizesse algo parecido. Na pior das hipóteses eu me autodestruiria.
Além disso, sabemos como nossa sociedade é. Você pode estar cercado de uma multidão na rua e ainda se sentir completamente sozinho. Isso porque, até mesmo as boas e velhas relações humanas se tornaram comerciáveis. É só ir a uma loja qualquer comprovar isso: a atendente te abordará não porque se importa com você, mas porque é obrigada pelo contrato a sugerir um plano, cartão ou que quer que seja ao cliente. Até mesmo o “bom dia” é falso, padronizado. Mera formalidade. Tive sorte porque na minha vida conheci gente que me estendeu a mão de bom grado, sem pegadinhas, sem pedir nada em troca. Que entraram na minha vida, para minha grande surpresa e satisfação, sem pedir permissão, sem pretensões e sem interesse de se beneficiar com isso. É importante ter gente que não seja da sua família que te dê forças, que acredita em você, que sabe que você existe. Às vezes tudo o que uma pessoa precisa é de outra que se preocupe um pouquinho com ela. Que a chame pelo nome, que a olhe nos olhos e que aperte a sua mão com um sorriso no rosto. Isso eu tive de sobra. Não odeio minha vida justamente por causa disso. Não tenho um mol de amigos igual a muitos, mas os poucos que tive valeram muito a pena conhecer. Essas pessoas foram essenciais para me tornar o que sou hoje: no mínimo um ser humano cheio de esperanças.
O que a história de Wellington ensina é que viver sempre sozinho, somente com seus próprios pensamentos é perigoso. É necessário conversar com as pessoas para não fortalecer e solidificar ideais deturpados e aprender a ter respeito pela vida alheia. O isolamento provoca um sentimento de pureza, de superioridade equivocado. Todo mundo é gente, ninguém é melhor que ninguém. Todas as vidas têm o seu valor. Para compreender isso é necessário viver além dos chats e comunidades da Internet.
Finalizando gostaria de dizer que nós não devemos criar um caso de paranóia generalizada. É inviável pensar em guardas armados, detectores de metais e cercas elétricas ao redor das escolas. Toda essa parafernália não combina com o ambiente. Escolas não são presídios e nem deveriam se tornar um ambiente de repressão. Nem toda vítima de bullying é candidata a se tornar um futuro homicida, muito menos todos os jovens tímidos das escolas. Então sociedade, por favor, nada de caça as bruxas, nada de acusar gente inocente. Respeitem as diferenças, ou melhor: agreguem as diferenças. Toda essa reflexão não é suficiente, mas é necessária para iluminar alguma solução inteligente. Essas crianças mortas não podem se tornar meros números na fria estatística de homicídios. Algo precisa ser feito. Paz.


PS: Crônicas Faraônicas se recusa em postar qualquer foto de criminosos. Não há nada de glamouroso em matar pessoas. Assassino não é celebridade para ter uma grande foto sua estampada na mídia.

2 comentários:

  1. Anônimo11/4/11

    Sua postagem sobre o fatídico dia,foi de extrema competência,sobretudo,uma visão muito sábia acerca do caso.
    A vida é cheia de encontros,desencontros e despedidas,você ainda irá dizer adeus a essa fase tão solitária e difícil da mesma.Fique com Deus,Christian!Maiara

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