sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Charme Feminino

Era uma manhã de domingo. Saí de casa para esticar as minhas pernas e fui vagando pelas ruas da zona norte, sem um destino específico. Costumo fazer muito isso. O dia de domingo é um pesadelo para um misantropo que nem eu: a casa cheia me faz sentir sufocado. A solução é sair andando pelas ruas, gastando a sola do tênis. Só retorno para casa quando sinto que as minhas pernas estão cansadas.
Nesse dia passei pela Quinta da Boa Vista, Maracanã, Uerj, Vila Isabel e acabei chegando até as proximidades do Shopping Iguatemi. Estava no outro lado da rua quando vi uma mulher andando pelas calçadas do shopping. Ela era loira, aparentava ter uns trinta e cinco anos e mesmo estando um pouco acima do peso ainda conseguia ser atraente. Fazia o tipo tiazona de academia. Usava óculos escuros, blusa estampada e calça de ginástica preta, do tipo “enfiada”. Deu pra sacar?


No momento em que a vi, imaginei que ela iria tentar entrar no shopping, mesmo estando longe da entrada. Isso acabou acontecendo de verdade. Como que por encanto adivinhei as pretensões dela. Acontece: às vezes sou capaz de adivinhar o futuro. Ela abriu a porta e se deparou com um segurança. Pensei na hora que ele iria barrá-la gentilmente, mas não: ele permitiu a entrada dela. Não deu para ouvir o diálogo entre os dois, mas pude perceber que ela não era uma funcionária do shopping. Ela havia entrado sem ter mostrado qualquer tipo de identificação e as roupas dela, convenhamos, não eram roupas que uma pessoa usa no trabalho.
Não sei qual é o horário de funcionamento dos shoppings nos domingos, mas duvido que ele esteja aberto a visitantes durante as primeiras horas da manhã. Sei disso por experiência própria. Na verdade esse caso só chamou a minha atenção por causa dessa minha experiência anterior. No momento em que vi a cena não pude deixar de puxar a memória e fazer uma comparação com um evento semelhante que me ocorreu.
Era domingo também. Mais ou menos umas nove da manhã. Eu estava perto do Shopping Rio Sul. Deu vontade de mijar e então resolvi entrar no shopping para usar o banheiro. O segurança me viu entrando, me cumprimentou e perguntou educadamente o que eu queria. Falei que queria ir ao banheiro e ele disse que eu não podia passar: o shopping ainda estava fechado. Tudo bem. Levei numa boa (o cara de modo algum me tratou mal) e saí de lá, mas não pude deixar de pensar: se fosse uma mulher, ele deixava passar. E semanas depois, em outro cenário, isso acabou ocorrendo...



E não para por aí. Tenho outra história comparativa, que trata de diferenças de tratamento entre homem e mulher. Mudemos o cenário do shopping para o de uma sala de aula de um curso. Passei onze meses lá. Raramente eu ouvia um "oi" de um ser humano, tanto de homem quanto de mulher. Lá, aparentemente, todo mundo já se conhecia antes: eu era o “estranho” no ninho e pelo visto, ninguém tinha o menor interesse pela minha amizade. Tudo bem que ela não vale nada e não tem serventia alguma, mas eles não sabiam disso. Bem que podiam ter me dado uma chance; afinal eu estava em desvantagem numérica e isso é sempre assustador. O tempo foi passando e eu acabei nem ligando tanto pra isso; fui me acostumando com os seus rostos imóveis e indiferentes a minha pessoa.
No meio do ano apareceu uma garota nova. Ela era morena, bonita, jovem. No mesmo dia, de longe pude perceber vários garotos sorridentes se aproximando dela para se apresentar e as meninas não ficavam atrás, dispondo-se  a enturmá-la no meio delas rapidamente. Bom observador que sou percebi que o comportamento dela era introspectivo, semelhante ao meu. O que me fez pensar que o problema talvez estivesse em mim. Igual no futebol: é mais fácil culpar um técnico do que um time todo.


Não. Não era um problema comigo. Era uma questão de gênero. Algo maior do que eu. Sou homem. Apenas mais um homem, entre tantos. A sociedade espera de mim um determinado comportamento por isso, algo que às vezes não sou capaz de desempenhar satisfatoriamente. Sendo homem, espera-se que eu chegue falando, me apresentando as pessoas, mostrando presença, dominando a situação. Não fiz isso na época e hoje estou aqui reclamando. É a tal da famosa pró-atividade. Talvez por isso as mulheres não chegaram perto para conversar comigo. Sei lá porque isso acontece, mas as mulheres possuem um comportamento receptivo demais e na maioria das vezes, esperam a iniciativa por parte dos homens. Sendo assim elas permanecem paradas com cara de paisagem, jogando o cabelo pro lado, esperando que o homem tome alguma atitude. Fala-se muito em liberação feminina, mulher moderna e independente etc, mas a passividade feminina nas relações sociais ainda perdura, mesmo numa cidade moderninha e liberal que nem o Rio de Janeiro. No meu conhecimento de mundo vi raras exceções e adorei presenciá-las. Não me importo e nem julgo quando uma mulher que não conheço vem falar comigo, pelo contrário, incentivo esse tipo de comportamento. De forma alguma tomar a iniciativa significa ser uma mulher vulgar, atirada, oferecida. Não aos meus olhos pelo menos. Se as coisas fossem sempre assim, o mundo seria bem mais divertido.
E quanto aos caras... Eles estavam, no curso em questão, interessados somente em chegar nas meninas. Deviam estar me vendo como apenas mais um concorrente, um obstáculo para as suas conquistas. Está aí outra questão de ser homem: a permanente competitividade entre nós. Não nego que ela exista, mas quando possível evito entrar nesse tipo de joguinho de quem é mais homem, quem pega mais mulher etc. Foi o que fiz naquela ocasião. Assim sendo, chance zero de construir uma amizade sincera num ambiente daqueles.


Chegou a hora do momento conclusivo. Em primeiro lugar, quero dizer que não sou misógino. Adoro as mulheres, embora elas vivam me sacaneando. Essas histórias que contei hoje são apenas observações pessoais que vi se repetirem algumas dezenas de vezes ao longo da vida. Os ambientes podem até mudar, mas as histórias se repetem. Somando tudo dá para tirar uma conclusão panorâmica sobre o assunto. Não dá para negar o fato de que ser mulher permite algumas facilidades no dia a dia, seja nas prestações de favores ou nos rituais de socialização. A rapaziada adora ser gentil e prestativa quando se depara com uma gostosa que quer impressionar. As mulheres, como não são bobas, aproveitam bem isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário