quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Uma Crônica Cabeluda

O ser humano possui cabelo ao longo do corpo todo. Só que o cabelo da cabeça é especial, diferente do cabelo de outras partes do corpo. É inegável que ele recebe mais atenção nossa. Nele aplicamos diferentes cortes, tinturas, tratamentos, tranças, apliques, brilhos, massagens etc. Tudo isso faz parte da vaidade humana, a qual é predominante a vontade de se exibir para o próximo. Todo mundo gosta de ser notado e um cabelo bacana ajuda nisso. O cabelo serve como um cartão de visitas; ajuda a construir uma boa imagem pública e também pode refletir certos aspectos de nossa personalidade. É isso que pretendo discutir aqui hoje.
No primário e no ensino fundamental eu era sempre o carequinha da turma. Odiava aparecer nas segundas-feiras na sala de aula com a cabeça raspada, igual a uma versão afrodescendente do Kuririn do Dragon Ball. Ir todo mês ao barbeiro passar a máquina um na caixola era mais um dos decretos da ditadura materna. Esse era o corte mais limpo, rápido e barato que um plebeu ferrado que nem eu poderia ter. Não gostava muito dele porque me sentia exposto e reluzente que nem uma bola de praia de plástico.


Era curioso quando eles cresciam. Desde os onze anos eu tinha cabelos brancos. Os fios brancos se destacavam bastante entre os fios pretos e eram grossos, semelhantes às cerdas das escovas de dente. Tudo isso contribua para me auto-avaliar como um velho acabado, mesmo sendo ainda tão jovem. Por outro lado eu me divertia fazendo piadas de velho me usando como referência, chamando amigos meus de “meu jovem” e falando frases como “no meu tempo isso não tinha isso”.


Tenho várias teorias para essa minha precoce maturidade capilar, mas a explicação do aparecimento desses fios que considero mais palpável é a do meu estresse prematuro. Eu era estressado demais, graças à Matemática com seus cálculos, fórmulas e números infindáveis. Daí o surgimento dos cabelos brancos. Acho que por esse motivo resolvi estudar ciências humanas e olha que eu era razoavelmente bom em Matemática. Essa habilidade, porém, foi adquirida mais pelo temor de ser reprovado do que pelo prazer de aprender.
O que me incomodava muito era que o meu cabelo, somado ao meu comportamento introvertido, refletiam uma personalidade que nunca tive e que não desejava aparentar. Eu parecia muito sério e zen com o cabelo inteiramente raspado. Isso me incomodava porque minha aparência não mostrava o verdadeiro eu. Sou debochado e despretensioso e por esse motivo fico calado na maior parte das vezes, justamente para não bancar o idiota em momentos sérios, comprometendo toda e qualquer situação mais “adulta”.
O tempo foi passando e na época do ensino médio, me revoltei com essa rotina e parei de ir a barbearia todo mês cortar o cabelo. Durante um tempo deixei a juba crescer e fui a um salão fazer um permanente. Nunca mais repeti a experiência. Não que o resultado tenha ficado ruim; o problema é que não me agradou a experiência de ir a um salão de beleza com atendimento demorado e cabeleireiras tagarelas. Isso além do preço salgado cobrado por uma coisa tão efêmera e descartável que é o cabelo. Desde então faço meu próprio cabelo em casa, usando sempre a seguinte máxima “Se ficar muito ruim, vou ao barbeiro e passo a máquina nele todo”.
Por isso que ele fica sempre irregular. Meu cabelo é cheio de contrastes: algumas partes ficam macias e outras duras, algumas ficam lisas e outras enroladas. Dá-lhe inconstância capilar. É o que acontece quando você resolve brincar de cabeleireiro usando a si mesmo de cobaia. Desconsiderar o fato de não enxergar todos os ângulos da própria cabeça, torna a experiência semelhante à de dirigir um automóvel com os olhos tapados. Outro fato para somar às justificativas da irregularidade do meu cabelo é o de que cada setor da minha cabeça cresce num ritmo diferente. A lateral esquerda, por exemplo, cresce mais rápida do que todas as outras partes. Ao redor da cabeça tenho fios de cabelo de três, cinco ou sete centímetros de comprimento, isso os deixando crescer naturalmente, sem cortá-los. É praticamente uma progressão aritmética. O resultado final de tudo isso é um visual único; não de beleza, mas de pura tosquice.
Em uma época, com o excesso de cabelo nas laterais (e preguiça de cortar), eu prendia o cabelo com uma faixa preta semelhante a do jogador Drogba. Como não tenho o costume de me olhar direito no espelho, demorei para perceber que estava ridículo. Alguém próximo bem que podia ter me avisado, ao invés de ficar me apelidando de Rambo.
Mas acho que eu gosto de andar por aí com o penteado irregular. É legal deixar o pente na gaveta e andar pela rua com o cabelo descabelado diferente de todo mundo que anda com as mechas certinhas e penteadas. Deve ser assim que o Tim Burton e o Robert Smith do The Cure se sentem. Sinto que o cabelo bagunçado com os dedos reflete minha personalidade caótica e louca. E além do mais é bem divertido acordar de manhã com o cabelo para o alto igual ao do Astro Boy, algo que o cabelo curto cortado a máquina jamais permitiria.


Para a conclusão tenho um fato recente e triste para relatar. Minha última experiência capilar deu errado e fui aparar o cabelo na barbearia para ver se consertava o estrago. Na empolgação acabaram deixando meu cabelo curto demais. Com o visual de agora parece até que me alistei para o Exército. Nada contra os militares, mas não é o meu estilo. Não gosto. Pensei que havia deixado claro para a pessoa que só queria cortá-lo um pouco, mas nada disso: ela com a tesoura fez a festa no meu cabelo. Acho que os barbeiros sentem a minha falta de decisão, encaram-na como fraqueza e fazem o que bem querem como se eu não tivesse moral alguma. Ao invés de tratarem-me como a um cliente tratam-me como a um filho mais novo; minhas escolhas são negadas e retorno sempre insatisfeito com o corte de cabelo novo. Ai de mim se eu discordar. Malditos barbeiros. Agora só me resta esperar um mês até crescer tudo de novo. Enquanto isso não acontecer ficarei usando boné como forma de protesto. Se o Tom Morello pode, porque eu não? 


PS: Quanto ao título da crônica, sei que ele está rídiculo. Perdoem-me pela falta de criatividade. Não consegui pensar em um suficientemente bom e coerente para o assunto de hoje.

2 comentários:

  1. erica2/9/11

    texto muito grande! não li todo só até a parte da bola de praia de plastico kkkk

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  2. escrevo só uma vez por semana. o tamanho dos textos até que são razoáveis vai...

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