sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um Presente Em Especial

Pularei aquele velho discurso do verdadeiro significado do Natal e irei direto ao assunto. Para muitas pessoas essa época do ano significa uma oportunidade de ganhar presentes dos outros. Para mim, Natal é sinônimo de comilança, de encher a pança até não aguentar mais. Contudo não negarei que a expectativa de ganhar presentes, embora pequena, também me deixa ansioso para a chegada do Natal. Não preciso nem dizer que o velho Noel não distribui presentes para todo mundo. Pouco importa se você foi bom ou mal durante o ano. O que determina o recebimento ou não de presentes é outra coisa, mas isso não vem ao caso. Não hoje pelo menos.
Acho que todo mundo já teve um presente de Natal inesquecível que marcou sua infância. Boa parte da magia do Natal contemporâneo está aí, nos presentes ganhos, para o desagrado dos fiéis mais fervorosos. Podemos passar horas falando do verdadeiro significado do Natal, mas sejamos francos: a criançada nessa data só está interessada em ganhar presentes. Comigo não foi diferente. Nunca ganhei muitos presentes, porém um em especial jamais foge da minha memória: o Game Boy Color que ganhei no Natal de 2002.


Antes de começar a história, permita-me contextualizar minha vida gamística da época. Eu era um assíduo comprador da revista Nintendo World, mesmo não tendo um console Nintendo dentro de casa. Meu videogame era o Master System da Sega. Aí já viu né: nos anos 90, enquanto as pessoas jogavam Super Mario World, eu jogava Sonic The Hedgehog. Mas isso é historia para outro dia.


Alguns meses antes do Natal vi o Game Boy Color num encarte de uma loja. Ele estava num preço promocional, mais barato e, além disso, na compra do portátil vinham dois jogos de graça. Não podia deixar essa oportunidade de enfim ingressar no universo nintendista passar.
Assim, aos poucos fui reunindo dinheiro para comprá-lo. Entretanto acabei não conseguindo dinheiro o suficiente. Meus pais se comprometeram a contribuir, mas acabaram me dando uma rasteira, “magicamente” se esquecendo do que haviam prometido. Eu e meu irmão juntamos nosso dinheiro mas também não deu. Só conseguimos metade da grana. Aí apareceu meu avó que contribuiu com o restante.
Não me esqueço daquele dia que fomos os três comprar o Game Boy. Antes de sair de casa contamos o dinheiro e vimos que estavam faltando alguns reais. Aí saímos caçando moedas. No final deu tudo certo: pagamos o Game Boy Color à vista, em dinheiro vivo, na quantia exata, até mesmo os 99 centavos derradeiros da cifra. Voltamos para casa com ele. Um Game Boy Color novinho em folha na caixa, modelo lilás transparente. Os jogos que o acompanharam foram Snoopy Tennis e um jogo mediano da turma dos Looney Tunes.


Obviamente depois disso eu e meu irmão passamos dias jogando. O duro era ter que revezar: nenhum dos dois queria largá-lo. Íamos revezando, uma hora de jogatina para cada um. Relembrar dessa minha época de viciado em Game Boy Color me fez perceber agora, o quanto de dinheiro que devo ter gastado em pilhas em todos estes anos em que joguei. Em média, eu gastava 4 pilhas comuns em 3 dias. Embora a balconista do mercadinho aqui do meu bairro não comentasse, eu pudia sentir que ela ficava imaginando de que forma eu gastava tantas pilhas e tão rapidamente.
O único problema do meu Game Boy Color eram os jogos. Rapidamente me enjoei dos dois que vieram de graça com ele. Na verdade eu só queria ter um Game Boy Color para jogar poder jogar Pokémon. Era a grande febre da época: uma criança do início dos anos 2000 que não jogasse Pokémon corria o risco de ficar traumatizada pelo resto da vida. Na época a versão mais recente que tinha era a Crystal, lançada em 2001. Procurei-a em diversas lojas, mas não a achei em lugar nenhum. Numa delas a vendedora me disse que o jogo já havia saído de linha. Talvez isso justificasse o preço baixo do Game Boy Color que comprei: a sua extinção. O console portátil vivia seus momentos finais e poucos jogos estavam sendo lançados para ele. A novidade mesmo era o seu sucessor Game Boy Advance, e eu certamente não tinha condições de comprá-lo.


Mas para mim o Game Boy Color era novo. Eu queria jogá-lo. Não é porque meu videogame era defasado que eu não iria aproveitá-lo, deixando-o mofar em casa. Foi muito duro consegui-lo. Sem chances de adquirir um bom jogo original fui até ao Mercado Popular da Uruguaiana, no centro do Rio, para comprar uma versão pirata de Pokémon pela metade do preço. Não quero fazer apologia à pirataria, mas confesso que por anos comprei jogos de Game Boy Color por lá. Até compraria jogos originais, contudo os únicos que as lojas vendiam na época para Game Boy Color eram Indiana Jones, de quem sequer sou fã, e Tetris, que podia ser comprado em qualquer esquina na famosa versão monocromática intitulada Brick Game.


Hoje em dia meu Game Boy Color está aqui em casa aposentado graças ao PC. No computador continuo desfrutando a pirataria só que ela não é mais física como antigamente. É a tal da pirataria virtual. De vez em quando baixo algumas roms para me divertir. O engraçado é que algumas roms são de jogos que possuo em cartucho.
Apesar do divertimento proporcionado pelas roms, jogar no PC não é a mesma coisa que jogar no Game Boy. Só quem teve um sabe como é boa a sensação de ver o indicador de energia brilhando depois de ligá-lo. O acender daquela pequena luz vermelha me trazia uma sensação de felicidade. A luz brilhava vivamente com as pilhas novas e com o seu desgaste ela ia enfraquecendo aos poucos até apagar de vez. Só agora vejo como o Game Boy Color era uma videogame poético. Ele morria e renascia muitas vezes nas minhas mãos. Eu sempre tinha o poder de fazê-lo renascer através de um simples gesto: substituindo pilhas velhas por novas, eu fazia ressurgir um velho amigo que se encontrava adormecido.
Posso parecer ridículo dizendo isso, mas meu Game Boy Color foi um grande amigo meu durante anos. Passei muitos momentos de alegria com ele. Diferente dos videogames atuais, ele não tinha efeitos em 3-D ou gráficos esplendorosos, mas a visão e o controle dos acontecimentos daquela pequena tela bidimensional me eram suficientes. Toda vez que jogava sentia que se abria uma janela secreta de um mundo novo só para mim e eu me sentia um privilegiado por isso. Obrigado Game Boy Color.

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