quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Morte De Jon Fyre

Não se assuste, nem me denuncie pra Polícia Federal. Não matei ninguém. Ninguém real, pelo menos. Explico. Há anos atrás eu tinha um alter-ego chamado Jon Fyre, o qual consegui me livrar definitivamente. Não que eu estivesse louco realmente a ponto de adquirir uma dupla personalidade verídica, no sentido clínico. Jon Fyre era mais uma piada interna minha, uma personagem criada pelo meu (des)intelecto para tentar validar e justificar as minhas ações injustificáveis.
Jon Fyre foi uma piada que acabou ganhando força dentro da minha cabeça. O lado positivo é que esse lado louco da minha personalidade me permitiu ser uma pessoa mais cômica e sequelada, diferente do meu habitual lado introvertido, avulso, estático e silencioso. Além do mais, no período Jon Fyre, minha criatividade cresceu enormemente a ponto de eu criar uma série de história em quadrinhos. A qualidade delas já é outro assunto...
O que me deu inspiração para “sofrer” de dupla personalidade foi um livro de Sydney Sheldon que li, chamado “Conte-me seus sonhos”. No romance, a personagem principal acaba cometendo uma série de assassinatos involuntariamente; seus alter-egos assassinavam as vítimas e após os acontecimentos ela não se recordava de nada. No final do livro (estou estragando a surpresa) ela é considerada inocente e vai para um manicômio.
A impunidade para um louco me pareceu uma idéia genial e decidi adotá-la para mim. Meu plano não era fazer coisas cruéis como você deve estar imaginando. Simplesmente cheguei à conclusão de que era mais fácil criar uma nova pessoa do que mudar a antiga. Tentar coisas novas que o meu velho eu não seria capaz de fazer.



Foi aí que criei Jon Fyre. Escolhi esse nome por causa do personagem Pyro dos quadrinhos dos X-Men. Na época eu tinha acabado de ver o segundo filme da franquia cinematográfica e tinha achado o máximo aquele cara com o poder de manipular o fogo. O fogo consigo carrega toda uma agressividade, algo que eu achava bastante compatível com o personagem que eu estava criando: um ser agressivo e esquentado por natureza.


Jon Fyre significava a libertação de todo o mal que eu carregava comigo e não manifestava. Era a voz da minha consciência me dizendo palavrões e pensamentos errados, despertando a minha agressividade, ironia e picaretagem. Uma espécie de diabinho que surgia no meu ombro como nos desenhos animados. Estava cansado de me enganar e principalmente de enganar os outros fazendo sempre o tipo bonzinho. Quem olha não consegue imaginar o que se passa dentro da cabeça de um ser humano. No fundo o que eu pensava o tempo todo era em sacanagem para falar a verdade. Era engraçado, mas não politicamente correto.


Isso durou 2 anos, até que aconteceu um fato que me exigiu uma decisão. Fui grosseiro com uma garota que foi gentil comigo previamente, sem pedir nada em troca. Retribui muito mal. Fiz uma ironia quando não devia, deixando-a sem graça. Ela significava muito pra mim. Não tinha muitos amigos e perder uma por conta de uma tolice, uma grosseria, seria algo muito idiota da minha parte. Tinha que fazer algo. E rápido.
Conversando com outras pessoas (reais, ok?), cheguei à conclusão de que deveria lhe pedir desculpas. Não era vergonha alguma fazer isso. Arrependimento era algo que até aquele dia, sinceramente, não me afetava nem um pouco. E olha que eu já tinha 15 anos. Monstro insensível!
Obviamente já tinha me desculpado outras vezes com outras pessoas, mas não estava sendo muito sincero. Era aquele tipo de desculpa automática de cotidiano, sem valor. Típicas desculpas secas em que não se coloca o coração nas palavras. Nesse caso era diferente: eu estava arrependido de verdade e aquilo estava me incomodando. Crise da consciência, crise do diabinho no ombro.


Meu lado maligno tentou me impedir, mas quando a ouvi me chamando de “inimigo” não me segurei e pedi perdão imediatamente. Fraqueza ou força da minha parte fica a seu critério pensar. O que aprendi foi que eu tentei ser mal, mas não consegui: acabei voltando atrás e pedindo perdão. Meu coração ficou no lugar certo de novo. Foi bom enquanto durou, mas tive que dar adeus ao Jon Fyre. Começar do zero e tentar ser apenas eu de novo. Dessa vez, não mais só bonzinho ou só ruim. Com a experiência enfim adquiri o equilíbrio necessário para uma convivência humana normal. Ou ao menos tento algo próximo...

2 comentários:

  1. Anônimo2/11/10

    DA HORA.MUITO LEGAL

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  2. Nossa às vezes esqueço que outras pessoas além de mim , leêm meu blog. Agradeço o inesperado elogio!

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