terça-feira, 3 de maio de 2011

Bin Laden Morto

Estava em casa assistindo A Rocha no Domingo Maior quando de repente o filme é abruptamente interrompido por aquela vinheta do Plantão da Rede Globo. Aquela musiquinha sempre me deu um certo medo. Ao ouvi-la já começo a entrar em estado de pânico e a me perguntar quem havia sido o falecido da vez. Não deu outra: Osama Bin Laden, o terrorrista barbudo mais procurado dos últimos dos 10 anos, quiçá de todos os tempos, havia sido morto em uma operação militar norte-americana no Paquistão.


Aí a Patrícia Poeta e o Zeca Camargo anunciaram que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, iria fazer um discurso oficial sobre o acontecimento. Após cinco minutos de pronunciamento, já com sono, desisti do filme e resolvi ir me deitar. A Rocha é mais um daqueles filmes que nunca consigo assistir completo na televisão; sempre surge uma adversidade que me impede de fazer isso. A única certeza que eu tinha era a de que no dia seguinte a suposta morte do Bin Laden seria a bola da vez, substituindo, enfim, o casamento real do príncipe William e da “plebéia” Kate Middleton, como assunto do momento.


Mais uma vez, acertei de novo e constatei o óbvio: ao ligar a televisão pela manhã os telejornais já estavam abordando o assunto. O que chamou minha atenção (e acho que a de muitas pessoas) foi o jeito como os norte-americanos comemoravam a morte do Bin Laden. Parecia até que eles haviam ganhado uma final de Copa do Mundo. Cartazes de “Obama 1 X Bin Laden 0”, festas nas ruas, fogos de artifício, etc. Sei que eles são bem mais patrióticos do  que a gente, que só lembra do "Brasil Nação" em época de Copa Mundo, mas olhando aquilo tudo momentaneamente fiquei estupefato, sem reação. Resolvi valer-me da minha velha técnica ninja de tentar me imaginar naquele cenário; dessa vez como um norte-americano, para tentar compreender minimamente como que um cidadão daquele país poderia estar se sentindo naquele momento.


O 11 de setembro de 2001 foi um ato terrorista que marcou a sociedade norte-americana e deixou sequelas. Não é todo dia que uma potência como os EUA é atacada daquela maneira. Criou-se um clima de insegurança, desproteção e vulnerabilidade. Este trágico evento que provocou a morte de vários inocentes gerou naquele país um forte desejo de revanchismo. Bin Laden, líder da Al Qaeda tornou-se o inimigo público número um na era Bush, presidente que iniciou a guerra contra o terror. Ao longo da última década vimos o que aconteceu. Criou-se um estado de paranoia no mundo inteiro. O pânico espalhou-se. Segurança reforçada nos aeroportos, xenofobia, anti-islamismo, guerras, invasões, arbitrariedades, novos atos terroristas em outros países. Ódio exacerbado de ambas as partes.
Justamente por isso o cidadão norte-americano mais do que qualquer outro do mundo está com esse sentimento de vitória. Julgo até natural pela situação. Consigo compreender o alívio pela morte de um terrorrista, que com certeza não vai fazer falta alguma. Vivo ele seria uma ameaça e poderia organizar, influenciar ou planejar novos atos terroristas que mataria mais pessoas inocentes. Porém acho que foi um exagero comemorar a morte de outro ser humano, da maneira que foi feita. Parecia cena de filme medieval do tipo “ Cortem a cabeça dele”, “Queimem a bruxa na fogueira", “Executem-no” etc. Isso me assustou um pouco principalmente vindo de uma população, em grande parte religiosa como a americana. Corajoso foi o jogador Chris Douglas-Roberts da NBA, que em seu Twitter condenou esta postura do povo estadunidense e foi alvo de diversas criticas. Uma coisa é estar aqui é falar de lá, outra é estar lá e falar de lá sobre seus próprios conterrâneos. Devo dar os meus parabéns à atitude do atleta.
Como as coisas mudam. Todo mundo se lembra o que estava fazendo naquele dia, não é mesmo? Pois bem: eu estava em casa, comendo bife com batata frita e vendo desenho. Dez anos atrás quando as torres gêmeas foram atacadas eu fiquei irritado com a cobertura excessiva da mídia que me fez perder um capítulo inédito de Dragon Ball Z na TV Globinho. Acho que com 11 anos de idade eu devia ter compreendido melhor a situação... Hoje estou aqui revendo o assunto por conta própria discutindo-o seriamente. Enfim um sinal de amadurecimento de minha parte. Realmente, estou surpreso comigo.
Essa brincadeira de Tom e Jerry entre governo norte-americano e Osama Bin Laden durou dez longos anos. Várias vidas foram perdidas ao longo desse processo de captura. Inegavelmente há uma sensação de alívio, mas não dá para ser ingênuo e pensar que tudo acabou. Bin Laden pode estar morto mas ele era só uma pessoa: a Al Qaeda continua e seus seguidores fanáticos também. O momento é de tensão e devemos ficar precavidos sobre possíveis represálias.


Mas que é bom demais dizer “Bin Laden você já foi tarde”, isso é.

Um comentário:

  1. Anônimo8/5/11

    A guerra entre judeus e cristãos de um lado e árabes(hoje,chamados de terroristas por seus adversários) do outro, é eterna..............
    Séculos atrás os árabes eram o "tom" e os cristãos o "jerry". E a cada cadeia de séculos que passa esses inimigos revezam seus personagens, definindo cada capítulo desse desenho(guerra) interminável.

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