segunda-feira, 11 de abril de 2011

Bullying Parte II

Indescritível. Só assim para definir esse lamentável episódio do massacre ocorrido em uma escola pública de Realengo. Doze vidas de crianças inocentes foram encerradas tragicamente. Sem contar no número de feridos e nos traumas causados. O assassino encurralado, se suicidou com um tiro na própria cabeça. Já vimos histórias parecidas como esta antes. A mais famosa aconteceu em Columbine nos Estados Unidos no ano de 1999, tragédia que inclusive deu origem a um documentário. O Brasil agora também é um membro desde triste clube de países que tiveram vidas de estudantes ceifadas por um psicopata desequilibrado. Um tipo de crime bem particular que precisa ser discutido pela nossa sociedade.
Geralmente nos meus textos para esse blog eu tento tornar tudo mais leve, levando as coisas com bom humor, fazendo referências ao mundo pop, usando imagens engraçadas para ilustrar algumas passagens etc. Mas nesse caso não farei isso. O assunto é sério e pesado demais para gracinhas desse gênero. Acho que todos nós brasileiros no momento estamos de luto. Uma solidariedade que acredito, se estende mundo afora.
Inegavelmente sempre procuramos alguma autoridade a quem culpar nesses casos. Que fique bem claro que não tenho afinidade com partido político algum. Nas tragédias naturais, como os deslizamentos de terra causados pelas chuvas torrenciais, culpamos os políticos pelo descaso com a população pobre. Nos homicídios, latrocínios e similares acontecidos nas ruas, também os culpamos pela falta de segurança. Mas nesse caso de Realengo nada poderia ser previsto. Nenhuma estratégia de precaução poderia ser elaborada. Trata-se de um caso inesperado, isolado, e acima de tudo trágico. Acho que nem mesmo um bandido comum, membro do poder paralelo, cometeria uma barbaridade dessas a troco de absolutamente nada. É isso que choca. Um jovem de 23 anos, pacato, recluso e sem histórico violento se pôs a balear crianças com uma frieza assustadora.
Aí se pensa no óbvio: a culpa é do assassino. Não sou louco a ponto de fazer um papel de advogado do diabo e defender o Wellington. Mas temos que discutir os motivos que o fizeram fazer isso por mais absurdos e tolos que eles sejam.
Coincidentemente segunda-feira passada, três dias antes de isso tudo acontecer eu fiz um post sobre bullying, baseado na atitude de Casey Heines de revidar a zoação dos colegas com um golpe. Enquanto escrevia eu pensei justamente no caso de Columbine em que típicas pessoas vítimas de bullying, um dia explodiram e saíram disparando a esmo nos seus colegas. Fiz até uma menção sobre isso escrevendo ”Em vários casos ocorre uma tragédia. Um jovem fica transtornado a ponto de levar uma arma para escola, sair atirando em todos e no fim mete uma bala na própria cabeça”. A situação prevista por mim infelizmente acabou se tornando realidade.
As investigações policiais continuam. Apareceram diversos motivos sobre o que o teria motivado a fazer aquilo. Está comprovado que ele era esquizofrênico, muito religioso e era alvo de gozações na escola por causa do seu jeito diferente de ser. Irei me focar nessa parte do bullying.
Uma coisa que me assustou muito em todo esse caso é o quanto o comportamento do assassino é parecido com o meu. Os leitores que me conhecem pessoalmente sabem como eu sou. Reservado e calado, só respondo quando me perguntam algo. Nunca dou um alô para vizinho algum. Não tenho “grandes” amigos de verdade e só saio de casa para estudar e vice-versa. Vivo num estado de aparente tranqüilidade. Passo horas em frente ao PC. De diferente do passado do assassino só tenho o fato de não ser muito religioso.
Refletindo nisso tudo eu pensei muito nessa minha vida, tão semelhante a daquele indivíduo. Vivo reclamando dela: falta emprego, falta dinheiro, falta mulher, falta diversão, falta felicidade. Não é nem um estado temporário, uma crise a ser superada: é um estado prolongado no qual vivo há bastante tempo e no qual de que certo modo já me acostumei. Pensei novamente. O que me faz aguentar tudo isso? O que me dá forças? O que me diferencia de um sujeito desses?
A resposta é simples. Sorte. Embora tímido e recluso sempre tive pessoas legais presentes na minha vida. Constantemente. Algo simples, que pelo que parece Wellington não teve. Se não tivesse sorte nem sei o que teria me acontecido se a vida não me permitisse tê-las conhecido. Porém, apesar de tudo, duvido que eu algum dia fizesse algo parecido. Na pior das hipóteses eu me autodestruiria.
Além disso, sabemos como nossa sociedade é. Você pode estar cercado de uma multidão na rua e ainda se sentir completamente sozinho. Isso porque, até mesmo as boas e velhas relações humanas se tornaram comerciáveis. É só ir a uma loja qualquer comprovar isso: a atendente te abordará não porque se importa com você, mas porque é obrigada pelo contrato a sugerir um plano, cartão ou que quer que seja ao cliente. Até mesmo o “bom dia” é falso, padronizado. Mera formalidade. Tive sorte porque na minha vida conheci gente que me estendeu a mão de bom grado, sem pegadinhas, sem pedir nada em troca. Que entraram na minha vida, para minha grande surpresa e satisfação, sem pedir permissão, sem pretensões e sem interesse de se beneficiar com isso. É importante ter gente que não seja da sua família que te dê forças, que acredita em você, que sabe que você existe. Às vezes tudo o que uma pessoa precisa é de outra que se preocupe um pouquinho com ela. Que a chame pelo nome, que a olhe nos olhos e que aperte a sua mão com um sorriso no rosto. Isso eu tive de sobra. Não odeio minha vida justamente por causa disso. Não tenho um mol de amigos igual a muitos, mas os poucos que tive valeram muito a pena conhecer. Essas pessoas foram essenciais para me tornar o que sou hoje: no mínimo um ser humano cheio de esperanças.
O que a história de Wellington ensina é que viver sempre sozinho, somente com seus próprios pensamentos é perigoso. É necessário conversar com as pessoas para não fortalecer e solidificar ideais deturpados e aprender a ter respeito pela vida alheia. O isolamento provoca um sentimento de pureza, de superioridade equivocado. Todo mundo é gente, ninguém é melhor que ninguém. Todas as vidas têm o seu valor. Para compreender isso é necessário viver além dos chats e comunidades da Internet.
Finalizando gostaria de dizer que nós não devemos criar um caso de paranóia generalizada. É inviável pensar em guardas armados, detectores de metais e cercas elétricas ao redor das escolas. Toda essa parafernália não combina com o ambiente. Escolas não são presídios e nem deveriam se tornar um ambiente de repressão. Nem toda vítima de bullying é candidata a se tornar um futuro homicida, muito menos todos os jovens tímidos das escolas. Então sociedade, por favor, nada de caça as bruxas, nada de acusar gente inocente. Respeitem as diferenças, ou melhor: agreguem as diferenças. Toda essa reflexão não é suficiente, mas é necessária para iluminar alguma solução inteligente. Essas crianças mortas não podem se tornar meros números na fria estatística de homicídios. Algo precisa ser feito. Paz.


PS: Crônicas Faraônicas se recusa em postar qualquer foto de criminosos. Não há nada de glamouroso em matar pessoas. Assassino não é celebridade para ter uma grande foto sua estampada na mídia.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bullying

No último post fiz uma breve menção sobre bullying. Aproveitando a oportunidade pegarei carona no modismo para discorrer sobre esse tema que está em alta atualmente. Na semana passada passou no mundo inteiro o vídeo do Zangief Kid, um garoto gordinho australiano chamado Casey Heynes, aplicando o famoso pilão (golpe em que se arremessa o adversário no chão) em um outro garoto que supostamente ficava perturbando ele, assim como outros valentões da sua escola. Por causa desse vídeo reabriram-se mais uma vez as velhas discussões a respeito dessa velha prática de intimidação.


Comecemos pelo caso em questão. Minha opinião sobre isso? Bem feito para o que apanhou. Não sou nenhum entusiasta da violência, mas até dá para compreender porque o garoto resolveu revidar finalmente com uma agressão física. Pegou o primeiro que viu e lhe agrediu, usando toda a sua raiva reprimida. Viver anos e anos ouvindo gracinhas e desaforos não traz nenhum sentimento bom. O sentimento é de ódio, de vingança. Ninguém gosta de ser sacaneado e nem tem sangue de barata para aguentar calado tanto tempo. É aquela situação: as vítimas de bullying geralmente são pessoas sozinhas, excluídas socialmente (por opção ou não), as quais ninguém dá a mínima. Calados eles agüentam as ofensas e não contam nada para os pais. Colegas, funcionários e professores às vezes até percebem que uma criança está sendo alvo constante de inúmeras brincadeirinhas sem graça, mas acabam não fazendo nada para ajudá-la. Ignoram sua existência. Aí no dia em que ele dá uma de Júpiter dos Cybercops dizendo “Já chega!” na hora da Cyberforça e partindo para o pau para cima dos “vilões”, todos percebem que a vítima existe. E a punem por sinal. Com certa razão; porrada é porrada e nem dá para defender seu uso desnecessário. Mas e o trauma causado pelos xingamentos dia após dia? Terror psicológico é permitido não é mesmo? Isso não dá advertência nem suspensão... É o mundo sendo hipócrita e injusto mais uma vez.


Sei muito bem como é isso. Já sofri bullying por alguns anos. Nada de mais para falar a verdade. Acho até que estou forçando a barra. Tudo é bullying hoje em dia. Durou até a sexta série. Algumas piadinhas de gordo, apertões, petelecos, zombarias sobre minha inabilidade em me socializar com os outros, comparações com o Sherman Klump, vulgo Professor Aloprado. Nada grave demais a ponto de me deixar traumatizado pelo resto da vida. Para algumas pessoas até poderia ser. Acho que isso varia de acordo com a pessoa.


Nunca tive um forte desejo de vingança a ponto de querer agredir alguém ou fazer coisas piores. Além do mais como canso de dizer, sempre fui grande demais para minha idade, o que intimidava (e intimida até hoje) os desconhecidos. Além do mais tem o fato de que com o tempo fui emagrecendo um pouco, algo acabou vindo a calhar, pois serviu para me deixarem um pouco em paz. Ou não. Minha teoria é de que o meu silêncio constante e meu olhar de louco me protegia, mantendo as pessoas afastadas e receosas sobre alguma possível reação do semimudo esquisitão misterioso. Gozado que uma certa vez uma garota de uma das minhas inúmeras turmas chegou perto de mim (para minha surpresa) e pediu para que eu, anos depois que saísse da escola e me tornasse um serial killer poupasse sua vida. Ela disse que viu um filme em que o protagonista tinha o comportamento igualzinho ao meu e que na vida adulta partiu justamente para essa carreira sangrenta vingativa: saiu matando uma a uma das inimizades da sua juventude. Foi realmente gratificante saber que mesmo com quinze anos de idade já me julgavam um homicida em potencial. Estou sendo irônico... Sem medo, ex-colegas!
Falando sério agora. Existem inúmeros casos em que essa história de bullying termina mal. Quando falo em termina mal, me refiro mais aos agressores do que as vítimas. Em vários casos ocorre uma tragédia. Um jovem fica transtornado a ponto de levar uma arma para escola, sair atirando em todos e no fim mete uma bala na própria cabeça. Quantas vezes essa história já se repetiu? Quantas vezes essa história irá se repetir? Até mesmo no caso do Zangief Kid, tudo poderia ter terminado mal com o garoto quebrando a coluna do outro. Revidar é sedutor, mas não é a coisa certa a fazer. Queria apontar uma solução eficaz, contudo não tenho nenhuma. Não sou demagogo para falar para as vítimas de bullying conversar com os pais ou se queixar com a coordenação de suas escolas porque sei que eles, ao menos uma vez, já pensaram nessa possibilidade. Não fazem porque não querem. Então meu recado vai para o povinho mais ou menos, que não sofre e não pratica bullying. Paneleiros de plantão eu lhes apelo: procurem incluir mais seus colegas isolados. Chamem eles para ficarem junto de vocês. Eles não estão sós por serem marrentos e sim por se sentirem inseguros a ponto de possuírem um medo desgraçado de serem rejeitados. O efeito de ser chamado pelo nome e não por algum apelido grotesco e ofensivo é maravilhoso e você pode fazer alguém se sentir assim: basta estender a mão oferecendo amizade. Para as meninas principalmente (que quando novas conseguem ser bem escrotinhas) eu falo: nem todo mundo é galã de telenovela. O mundo real é feito de gente gorda, feia, espinhenta, gaga (não a Lady Gaga), pobre, descabelada, negra, amarela, azul (Smurfs?), enfim gente de todo o tipo. Não estou falando que é dever cívico de vocês namorar ou ficar com alguém que possui uma “beleza incomum”, mas dar um pouquinho de atenção, gentileza e solidariedade a essas pessoas não custa nada. Faz até bem para a alma. Com certeza quando vocês saírem do seu mundinho fechado irão lidar com todo o tipo de gente no mundo real quando adultas. Por isso comece incluindo-as agora cedo na sua vida e feche as portas para esse tipo de discriminação. Seja lá qual for o seu preconceito, nenhum deles é tolerável no mundo real. Deixem suas panelinhas acessíveis a todos.


Quero deixar uma última lição para os praticantes do bullying: nunca faça isso com alguém maior e mais forte que você porque você pode acabar se dando muito mal. Ou melhor dizendo: não mexa com quem está quieto. Fica a dica.

PS: Para os leigos que ainda não entenderam, Zangief é aquele soviético grandalhão do Street Fighter que se caracteriza pelo ataques giratórios de braços e pilões aplicados nos adversários de luta.

quinta-feira, 31 de março de 2011

O Espantalho

Ao longo da vida, assistindo aos desenhos animados no horário matutino, aprendi que nas plantações os fazendeiros utilizam espantalhos, bonecos de palha que servem para espantar corvos e outros pássaros comilões indesejáveis. Pensei nisso para fazer uma analogia com alguns casos que aconteceram comigo na vida real. Explico. Sem querer já banquei o espantalho algumas vezes. Ou melhor: fui coagido a isso. Em certas situações da minha vida fui obrigado a permanecer imóvel, amedrontando os invasores, os “perturbadores da ordem”, assim como um espantalho faz. A diferença é que ao invés de ter a tarefa de espantar pássaros, incumbiram-me de espantar pessoas.
A primeira vez que me lembro que isso ocorreu comigo foi na quarta série. Aos que me conhecem pessoalmente hoje em dia, acreditem se quiser: já fui bem mais gordo do que sou hoje. Eu era gordo e alto demais para a minha idade. Sofri bullying, mas nada tão hardcore quanto possa parecer ter sido. Até achava engraçado às vezes, mas isso é assunto para outro dia. Concentremo-nos na origem da minha “profissão” de espantalho. Lá estava eu, como sempre fazia habitualmente, sentando no fundão da sala de aula com a cabeça deitada em cima dos braços cruzados sobre a mesa, até que a porta da minha sala se abriu. Apareceu uma professora de outra turma. Minha professora saiu para falar com ela e quando voltou à sala de aula me chamou para ir lá fora. Eu estava tranquilo porque não havia feito nada, mas achei aquilo curioso e mais do que tudo estranhíssimo, porque apesar de ser um bisonho sequelado a vida toda, sempre fui um aluno bem comportado,  aparentemente. Digo aparentemente porque no meu mundinho chamado “minha cabeça”, vivo pensando em sacanagens e traquinagens o tempo inteiro. Chegando do lado de fora encontro as duas professoras e um moleque bem menor do que eu, que nunca havia visto antes. Foi então que a outra professora explicou a situação. O garoto era um daqueles problemáticos que vivem brigando com todo mundo, tirando sarro de colegas e tocando o terror por diversão ou tédio, quem vai saber. Mesmo assim eu não havia sacado qual era a minha relação com tudo aquilo. Por um momento pensei que minha professora fosse me usar de exemplo, para ser uma espécie de aluno modelo para outro mais novo, mas estava enganado. A professora do garoto me perguntou: “O que você faz quando alguém te perturba?". Eu parei, olhei para a minha professora e respondi de volta: “Eu procuro dialogar com ela. É o melhor a fazer”. Insatisfeita ela perguntou novamente: “Mesmo quando ela incomoda muito e te deixa irritado?”. Respondi afirmativamente, insistindo que a melhor maneira de resolver um conflito é estabelecendo um diálogo franco. Minha professora falou para eu voltar para sala e assim o fiz. Entendi perfeitamente o que aconteceu. O plano esperado pela outra professora era que eu fizesse o papel de delinquente, grandalhão e vingativo, para aterrorizar o moleque e fazer com que ele não arrumasse mais encrencas. Acho que a lição que ela queria passar era a de que brigando com pessoas maiores, algum dia ele iria se dar mal. Resumindo: ela queria combater o mal com o mal. Pelo visto eu falhei e acabei sabotando o plano dela. Minha professora não teve culpa; acho que ela não tinha sacado a intenção da outra. A colega teve ter pedido que ela chamasse um garoto grande da turma e por azar foi chamar logo eu, que sou inofensivo. Nesse dia aprendi que mesmo agindo corretamente, fazendo a coisa certa, somos capazes de decepcionar alguém. Sempre corremos o risco de não ter os nossos bons valores reconhecidos.
Daí em diante ocorreram diversas situações semelhantes comigo. Internamente, na minha própria família, ouvia as piadas de que quando saia eu era uma espécie de segurança particular da minha mãe, só por causa do meu tamanho e e da minha cara fechada. Até mesmo entre desconhecidos eu era solicitado como espantalho. Uma vez eu estava subindo uma rua aqui do meu bairro e uma mulher me pediu para que eu intimidasse um morador de rua que estava batendo no portão dela. Obviamente não funcionou... 
A profissão de espantalho humano me serviria perfeitamente se eu tivesse que ficar calado o tempo inteiro. O problema é que quando a situação pede de mim uma interlocução de ameaça ou de apavoramento não consigo fazer esse tipo de coisa. Fracasso, pois minha atuação não fica convincente. Não sou nenhum Ursinho Carinhoso, mas também não sou nenhum personagem de filme de terror. Me incomoda ser visto como espantalho. Sou apenas um ser humano com o coração no lugar querendo tocar a sua vida para frente de maneira tranquila, sem magoar, assustar ou ferir ninguém. Ou tentando ser.


quinta-feira, 17 de março de 2011

Uma Alma Dividida

Em uma dessas várias semanas de tédio que tive nessas férias de vida, faculdade e blog, aproveitei para desenterrar, desempoeirar e reler a minha coleção da série de livros do Harry Potter. Na verdade a minha coleção está incompleta até hoje. Comprei os cinco primeiros livros, parei por aí e acabei baixando e lendo os dois últimos livros, uma atitude que relutei em fazer (mais pelos meus olhos do que pelos direitos autorais) e que no final acabei cedendo devido a curiosidade. A primeira vez que li as versões digitalizadas foi no ano passado no meu antigo celular (que foi roubado, por sinal). Desta vez li no PC mesmo, em arquivos PDF.
Nem parece que já se passaram dez anos desde que eu comecei a ler a série. Na época (2001) eu havia visto o filme primeiro e só depois fui ler o livro, igual a muita gente. J.K Rowling realmente consegui criar um mundo mágico. Incrível. Legal a maneira como ela até mesmo em um mundo de fantasia como o dos bruxos, conseguiu humanizá-los. Isso faz com que em determinadas ocasiões o leitor se identifique com os personagens e seus sentimentos.
Do jeito debochado de sempre, pretendo fazer aqui neste post algumas associações entre situações vividas na minha vida e situações protagonizadas por alguns personagens, em uma modesta mistura de ficção e realidade. Como o último livro foi lançado em 2007, nem acredito que irei surpreender alguém com os eventuais spoilers. De qualquer forma, já peço desculpas adiantadas caso você não tenha lido ou visto os filmes.
Vou começar pelo Voldemort, vulgo Você-Sabe-Quem. Começando logo pelo vilão parece até que não vem coisa boa. É verdade, admito: tenho um pouquinho de Voldemort em mim. Assusta-me dizer isso, mas me identifico com ele em vários aspectos. Sou individualista e gosto de realizar minhas tarefas sozinho sem nenhum tipo de auxílio (escrever neste blog, por exemplo). Como ele, uso outro nome para não usar o nome que meus pais me deram. Da mesma forma que Tom Riddle quis ser chamado de Voldemort, eu quis ser chamado de Pharaoh ou C. Delocco. Ter a sensação de decidir algo na sua vida é muito bom, mesmo parecendo insignificante tal qual a escolha de um nome novo para si mesmo. O que me diferencia do tio Voldie é que meu objetivo em usar um nome falso não é promover o medo ao ser citado por terceiros. Fiz isso apenas com a intenção de ter para mim um nome artístico diferenciado. Nem sei bem o porquê, afinal nem sou famoso...


Por último e não menos importante, resolvi me apropriar da idéia do Voldemort de dividir a alma em sete partes. Não se assuste. Não entrei para o lado obscuro da força nem pretendo matar ninguém. Não tenho a pretensão de fazer uso de horcruxes para me tornar menos vulnerável aos inimigos. Meu objetivo aqui é apenas dar exemplos ilustrativos utilizando personagens do livro. Como uma das horcruxes tem que ser eu mesmo (afinal dentro de mim deve haver algum resquício da minha própria alma), sobra espaço para mais seis personagens. Um já foi, restam cinco.


Começando pelo protagonista, o senhor Harry Potter, posso dizer que assim como ele sempre odiei minhas férias de verão. É um saco ficar trancado dentre de casa sem contato com o mundo. O que nos diferencia é que ele voltava de Hogwarts e vivia trancado na casa dos Dursley por razões de segurança. Comigo, posso dizer que vivo trancado por razões econômicas; minhas opções de lazer se restringem em ir somente a lugares os quais as minhas pernas podem me levar e os quais meus bolsos vazios podem pagar.


Até por isso mesmo posso me associar ao Rony Weasley. “Ei ei ei, Weasley é nosso rei”. Não nasci no lixo, mas sou pobre como o Rony. Também sou um eterno secundário. Aquele tipo de personagem que só serve para dar um alívio cômico nos momentos mais dramáticos. Às vezes tenho a sensação de que sequer sou o protagonista da minha própria vida. É como você ser o Luigi em um jogo do Mario Bros; perto dos outros, você é deixado de lado e até quando você está só, você é lembrado, só por estar associado à alguém mais importante. Ah, também sou insensível às vezes e possuo os pés grandes. Chances de eu conseguir uma Hermione só para mim? Só o tempo dirá...


Tal qual o Neville Longbottom eu sou um “tolo maravilha”. Acidentes vivem acontecendo ao meu redor e principalmente comigo. Coisas caindo, coisas quebrando, coisas voando sobre a minha cabeça. Vivo passando por apertos e caindo em eventuais mancadas. O lado positivo é que apesar das trapalhadas, consigo mostrar meu valor (assim espero), garantindo a conquista do Campeonato das Casas com dez pontos no fim das contas. Pensando bem, nem tanto. Aí já é apelação...
Não podia também faltar minhas semelhanças com o Hagrid. Quem vê de longe te imagina de uma forma bem diferente da que você é realmente, quando na verdade você é uma pessoa dócil que não faz mal a ninguém. Tal qual o meio-gigante já fui acusado injustamente de coisas que não cometi. Ainda sou para falar a verdade. Também faço alguns grunhidos irreconhecíveis sem querer de vez em quando, algo que dificulta o entendimento auditivo das outras pessoas em relação ao que digo. Também em comum, posso dizer que tal qual ele sempre fui consideravelmente alto. Se bem que estou mais para Troll do que para gigante. Ou ogro se preferir. Grande, gordo e cheio de maus hábitos. Lembra alguém?


E principalmente tal qual o querido professor de poções Severo Snape, já tive a minha Lílian surrupiada por algum Tiago Potter da vida, restando somente a amargura, arrependimento e a dor de não tê-la comigo. No meu caso acho até que tive mais do que uma Lílian ao longo da vida. A sensação de estar perdendo alguém para outra pessoa não é muito boa, acredite. Sou um rabugento, insuportável só esperando o meu momento de redenção se o mundo me permitir. Até lá convivo com uma menosprezo interno constante, daqueles capazes de fazer você começar a odiar a pessoa que é. Ou a pessoa que se tornou sendo por culpa do destino. Felizmente, posso dizer que pelo menos de todos os triângulos amorosos em que participei (e perdi) todos os envolvidos sobreviveram. Fisicamente pelo menos. Eu vivo meio fora de mim até hoje...


Perceberam como no geral eu tenho o pior de cada um?

segunda-feira, 14 de março de 2011

Redação “As Minhas Férias”

Geralmente no primeiro dia de aula das séries iniciais do ensino fundamental, após aquele clássico momento inicial de apresentação individual de professor e alunos, é solicitado aos bronzeados estudantes escreverem uma redação sobre suas férias de verão. Se não me falha a memória já passei por esta mesma situação umas três vezes na vida. Então aparentemente vocês irão ter o privilégio (ou seria desprivilégio?) de ler mais uma redação minha sobre este tema, só que enfim com a liberdade desejada, de tamanho de texto e conteúdo. Afinal de contas, na escola temos restrições até mesmo sobre nossos próprios textos. Vocês sabem muito bem que isso é verdade.


Costumo dizer (não só eu, aliás) que o ano começa de verdade depois do carnaval, em meados do mês de março. É exatamente o período em que nos encontramos. Inúmeras redações do tipo “minhas férias” estão sendo feitas no país e em comum elas possuem o poder de selar definitivamente as férias. Sepultam elas, tornando-as meramente lembranças do passado. Como não sou mais um garoto do ensino fundamental há anos, o meu perfil de férias mudou. Como sou adulto devia estar de férias de emprego (se tivesse um), mas só estive de férias da faculdade e do blog. Tecnicamente, o Pharaoh estava de férias e o Christian não. Afinal ser Christian é uma atividade em tempo integral, exige vinte e quatro horas de dedicação. Se ele tirar férias elas serão para sempre. Apesar dos infortúnios de sua vida ele não deseja que isso ocorra tão cedo, se é que vocês estão me entendendo...


O problema inicial para mim nesse tipo de texto é encontrar assunto pra escrever. Quando me refiro a “tipo de texto” entenda como sinônimo “texto sobre alguma ação” na minha vida. Até que eu gostava de escrever redações nas aulas, diferente até de muitos colegas que ficavam empacados por mais de uma hora na primeira linha. O problema eram as redações pessoais. Afinal de contas fui e continuo sendo um sedentário assumido. Nunca faço nada e até por isso, nada me acontece, seja de bom ou ruim. Expor as minhas atividades sedentárias em uma redação para um desconhecido é um pouco constrangedor. Além do mais, se não deu para perceber nos posts anteriores sou meio paranóico. Morro de medo de ir a algum consultório psiquiátrico porque não confio na relação de sigilo absoluto entre médico e paciente, guardar segredos, essas coisas. Na minha imaginação, penso que depois do expediente o analista, cercado de amigos em uma mesa de bar regada a álcool, fica expondo a vida pessoal dos pacientes e fazendo chacota sobre eles. É assustador pensar isso porque é bem possível de acontecer. Com os professores é semelhante. A gente nunca sabe onde irão parar os nossos textos. A simples redação sobre as férias de um ingênuo aluno pode acabar se tornando um espetáculo à parte de humor em uma sala de professores, parentes, reuniões de pais e mestres ou sabe-se lá onde. Portanto, tome bastante cuidado com o que você escreve. Não costumo dar maus exemplos para os outros (apesar de praticá-los), mas se julgar necessário, minta. Invente algo bem leve para não se meter em encrencas.


Hoje isso é um pouco diferente. Sou um livro aberto. Como já sou legalmente adulto e não devo nada a ninguém vou escrever as minhas férias reais, do jeito que elas foram. Já passei da época de me importar com o que pensam ao ponto de me auto-silenciar. Ainda mais, cabe dizer que meu blog é lido por fantasmas e por isso mesmo, de qualquer forma, não haveria qualquer tipo de repercussão no meu círculo de vida pessoal; nem sequer possuo algo escandoloso na minha memória para narrar porque minha vida foi e continua sendo tediosa. Bom, na verdade apenas farei um breve resumo do que foi o meu recesso. A síntese bruta por assim dizer. Nem Chuck Norris teria tempo e paciência de escrever detalhadamente três meses em um singelo post de blog.


Acho que nem vou precisar de quinze a vinte linhas para descrever minhas férias. Um parágrafo basta. Entrevistas de emprego e estágio. Recusa de empregos e estágios. Dinheiro de passagens de ônibus desperdiçado. Encontros marcados e desmarcados no dia de encontro. Ganho e perda de uma grande amizade recém adquirida. Mês de janeiro inteiro sem poder mastigar por conta de um inchaço no dente. Dinheiro ganho no Natal gasto no tratamento do tal dente. Bolsos vazios permanentemente e dias e dias de férias em casa, suando feito um porco por conta do calor intenso, comendo porcarias e jogando novamente videogames que já zerei há tempos. Basicamente essas foram minhas férias. Gostaram?
Ou seja: tudo continua como sempre... Mesmos dilemas, mesmos problemas. Bem vindos de volta ao Crônicas Faraônicas e espero que tenhamos um ótimo ano. Vamos apostar no futuro e que muitas coisas boas aconteçam a todos nós. Riam de mim. Riam comigo. Riam sempre porque a vida é dura. Só não enlouqueçam e nem me deixem enlouquecer como o Coringa. Abraços e beijos.


PS: Gostaram do visual novo do blog? As areias azuis ficaram bem legais...
PS2: Falei que voltava em março. Sou um menino de palavra...