domingo, 13 de outubro de 2013

Depressão

Depressão é um tema que tem me acompanhado por boa parte da minha vida. Embora eu não me considere depressivo, muitas vezes fui taxado como tal. Acredito que isso tenha ocorrido por causa da minha personalidade, digamos, peculiar. 
É difícil explicar para quem não me conhece, por isso acho mais fácil usar um personagem para nível de comparação. Sabe o Bisonho dos desenhos do Ursinho Pooh? Aquele depressivo burro cinzento, de voz entediada e monótona, meio pessimista, que nunca fica contente ou entusiasmado com nada? Imagine uma versão humana da criatura. Esse sou eu.


Apesar de reconhecer em mim mesmo todas essas características, não me considero depressivo. Para mim, depressão é algo sério, uma doença perigosa que pode arruinar a vida de uma pessoa, se ela se deixar levar. 
Veja bem, isso aqui não é um livro de autoajuda. Lamento por quem esperava por isso, mas vão vou dizer a ninguém para amar mais, aproveitar a vida, e todas essas outras bobagens tolas e óbvias que esses livros costumam explorar para serem vendidos. Meu objetivo é tentar definir o que é depressão.
Já que disse que não me considero depressivo preciso deixar claro quem o é. Uma pessoa depressiva, na minha opinião, é alguém que vivia uma vida normal, até que um dia, um incidente lhe fez sofrer um grave abalo emocional, deixando-a deprimida. Vários fatores podem desencadear uma depressão. O problema está na força que esses motivos ganham quando não são superados pela pessoa. Isso é muito perigoso, pois um caso de depressão grave pode levar ao suicídio.


É difícil sair da zona da depressão. A pessoa cai nela como em um abismo e, às vezes, jamais torna a ver à superfície. O que caracteriza a depressão é a perda de interesse. Desistir da vida. Tudo torna-se sem graça e sem sentido. O depressivo é abatido por uma dor que ninguém compreende, não se sentindo estimulado a fazer mais nada; torna-se um apático. O que impera é um sentimento de entrega à uma angústia interminável. Na depressão, o pior inimigo é você mesmo. 


Entretanto é preciso não confundir depressão com tristeza. A tristeza tem motivos, a depressão não. É normal se sentir triste de vez em quando. A vida nem sempre segue o curso que desejamos. Coisas ruins acontecem o tempo todo. Desilusões, tragédias, descontentamentos, tudo isso leva à tristeza. Nem todos se recuperam. É importante não se deixar levar pela tristeza, pois quando prolongada, pode vir a se tornar uma depressão.


A vida em sociedade também estimula a depressão. O convívio com outras pessoas influencia nosso humor, nossa personalidade e nossos desejos. Nos importamos com o que pensam a respeito da gente. Fazemos comparações para saber quem é o melhor. Nesse contexto, ser feliz, ou aparentar ser, é fundamental.


Vivemos em um mundo muito louco. A vida é muita coisa, menos simples. Ela está cada vez mais complexa. Recebemos múltiplos estímulos e opções o tempo todo. Somos pressionados a tomar decisões as quais não estamos preparados. Tem gente que não consegue o que quer e acha que é um fracassado. Daí surta, se deprime. Infelizmente, na nossa sociedade, tem gente que acha que perder é ser menor na vida. Tudo isso porque a felicidade se tornou um jogo, o qual todo mundo deseja vencer.


Todo mundo fala que só quer ser feliz. Para essas pessoas proponho que olhem ao seu redor. Todo mundo quer isso. Que ser humano quer ser infeliz? É óbvio que nem todos alcançarão a felicidade. Essa busca pode levar a vida toda e sequer há certeza de que ela será conquistada. Por mais irônico que seja, o anseio pela felicidade pode levar a depressão. 
É preciso ser realista e encarar que certos desejos pessoais podem não vir a se realizar. Existem coisas maiores do que a gente, independentes de nossas vontades. É melhor cortar as asinhas logo e manter os pés no chão. Há competição e nem todo mundo vai vencer. Vá, tente, mas esteja preparado para o pior. Tudo bem ficar triste se não conseguir. Mas é bom ter a noção de que, talvez, você nunca se torne o herói da classe trabalhadora que pensou que seria um dia. 


Por essas razões me pareço com o Bisonho. Espero sempre o pior, logo nunca fico decepcionado. Como estratégia de defesa, não me entusiasmo por pouca coisa. O que alguns chamam de tristeza ou depressão, eu chamo de estado de normalidade.


Não sou feliz, mas até que vivo bem comigo mesmo. Rio quando acho graça de algo, esboço o mínimo de reação quando me sinto irritado. Faço as minhas coisas. Isso confunde as pessoas. Algumas pensam que eu não quero nada da vida, que sou um niilista. Contudo, vivo atento ao que acontece ao meu redor. Sou apenas um falso desinteressado. Acho que deve ser meio incômodo conviver com alguém que quase nunca se mostra animado. Lamento por isso, mas é como naquela frase do meme do Sad Keanu: Você precisa ser feliz para viver, eu não. 


É muito bonito dizer que estou satisfeito do jeito que sou, mas tomar para si uma personalidade dessas traz consequências. Por mais que você explique, os outros vão continuar pensando que você é depressivo. Isso, é claro, afasta algumas pessoas. Ninguém quer ficar perto de alguém triste. Alguns até tentam te animar, mas quando descobrem que sua a personalidade é igual à da Funérea, caem fora.


Recentemente, retomei contato com uma amiga com quem a tempos não falava. Perguntei na cara dura porque ela havia se afastado de mim e me surpreendi com a sinceridade da resposta dela: “Você estava sempre para baixo. Eu tentava te animar e você nada. Decidi então me afastar de você”. Nem depois de ter ouvido essa me considerei depressivo. É mais fácil mudar de atitude do que ir em farmácia atrás de Prozac. Ela até que tinha razão, pois na época em questão eu estava insuportável. Fiz dela uma pobre vítima, a qual contava de maneira pessimista as tragédias da minha vida, como se ela fosse uma novela mexicana narrada pelo Hardy Har Har. Bota drama nisso. 


Curiosamente, a depressão também é utilizada como forma de socialização. Isso mesmo: reunir pessoas. Quer exemplos? Algumas religiões tentam cooptar depressivos, dizendo que a fé pode preencher o vazio de suas almas (e o bolso de algumas pessoas também). O depressivo torna-se então um membro da religião, pensando que a fé irá curar a sua doença. Certas tribos urbanas também são estereotipadas como reduto de depressivos. Existem pessoas que abraçam totalmente um modo de vida melancólico e pessimista, que gostam de ser vistos dessa forma. Os góticos são um bom exemplo disso. 
Em um dos episódios de South Park, o Stan (o menino de boina azul) se separa da namorada e fica todo doído por causa disso. Kyle (o judeuzinho eternamente trollado pelo Cartman), seu melhor amigo, cansado e irritado de ver Stan deprimido, lhe desafia a andar com os góticos da escola. Stan topa. O garoto começa a andar com a galerinha que se veste de preto, gente obcecada com a não-conformidade. 


Achei engraçado, pois me aconteceu algo semelhante. Em uma época de seguidos infortúnios em minha vida, busquei refúgio na música pós-punk. Comecei a ouvir The Cure, Joy Division, e outras bandas cultuadas pelos góticos. Continuo gostando dessas bandas, mas minha vida musical, hoje, não é só constituída por playlists de música deprê. A vida não é só isso.


Enfim, apesar de nunca ter sido a pessoa mais eufórica que alguém já possa ter conhecido, acredito que viver em depressão não seja o caminho. Todo mundo tem problemas. Problemas diferentes, os quais alguns eu francamente não faria a menor ideia de como reagiria, caso acontecessem comigo. Não devia ser surpresa para ninguém que o mundo, às vezes, pode ser muito injusto. Sequer vale a pena ficar comparando quem sofre mais. Nossos problemas são importantes para nós mesmos, não importa o quanto pareçam insignificantes para os outros. De qualquer modo, temos que lidar com eles. Não dá para sentir pena de si mesmo. Não dá para desistir de si mesmo.

PS: Criar uma página no Facebook chamada “Crônicas Faraônicas da Depressão” seria pleonasmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário