sábado, 1 de junho de 2013

Surfista Prateado

Em um passado recente tive uma vontade repentina de conhecer melhor a história do Surfista Prateado. Conhecia o personagem de nome e de algumas aparições nas aventuras do Quarteto Fantástico. Contudo, desconhecia completamente sua origem. Mesmo assim, sempre curti o visual futurista do Surfista. Ele é um homem prateado que viaja pelo espaço sideral surfando em cima de uma prancha. Não sei vocês, mas essa sinopse para mim é mais do que suficiente para achá-lo maneiro.


Mas isso não basta. Logo, resolvi "estudar" um pouquinho. Assisti a série animada e li uns artigos sobre o Surfista Prateado. Compartilharei as lições aprendidas.
A história do Surfista Prateado é a seguinte: Norrin Radd é um habitante do planeta Zenn-La que salva seu mundo de Galactus, o devorador de planetas. Para evitar a destruição do seu lar, Radd alia-se a Galactus, com a missão  de buscar planetas para alimentar a entidade intergaláctica. Galactus lhe dá poderes cósmicos e assim, Norrin Radd torna-se seu arauto, o Surfista Prateado. Posteriormente, o Surfista se rebela contra Galactus e acaba condenado por ele a vagar sozinho no espaço com seus poderes cósmicos. Ele tenta voltar para casa mas nunca consegue e acaba se metendo em altas confusões. É isso gente. Resumindo, essa é a historia.



Após esse aprendizado curti mais ainda o personagem. Mas acredito que nem todo mundo curtiria o Surfista Prateado. Ele é diferente. Um herói mais voltado para pensamentos filosóficos do que para ação propriamente dita. Deixe-me explicar melhor. O Surfista Prateado tem superpoderes, ele os usa, porém o que mais ficou marcado na minha cabeça foram seus questionamentos existenciais constantes.
O planeta natal de Norrin Radd é um lugar pacífico, sem armas, com um senso de ética avançado. Pode-se dizer que eles têm uma forma de pensamento superior a nossa. Isso faz com que o Surfista, um ser nobre, valente e altruísta, se questione, até mesmo com certa inocência, o motivo de certas ações inequívocas cometidas pelos homens e outros seres hostis que conhece no espaço.
 
 

Isso acaba deixando-o meio infeliz. Estou sendo gentil: o Surfista Prateado é depressivo e mimizeiro. Vive reclamando dos males dos mundos. Até com certa razão. Por isso, eu gostei dele. Ele não segue a fórmula pronta de super-herói. Não só combate o mal, mas também o questiona, assim como outras coisas. O próprio Stan Lee, um dos criadores do personagem, disse em uma entrevista que quando ia dar palestras em faculdades a maior parte das perguntas feitas pelos universitários eram sobre o Surfista e suas reflexões a cerca da humanidade.



Contudo, acho que uma história com esse tonalidade negativa é incapaz de atrair muitos fãs. Lógico que ele é um personagem conhecido da Marvel, mas cá entre nós: ele é mais cult do que pop. Certamente, as crianças preferem ver criaturas prateadas mais animadas.


 
Veja a série animada, por exemplo. Só durou 13 episódios. Assisti todos eles, mas tenho 22 anos. Se eu assistisse a série na televisão em 1998 quando tinha 8 anos, provavelmente mudaria de canal. Criança gosta de ação e humor, daí a expressão "desenho animado", eu acho. Por isso, eu não iria querer assistir o desenho de um sujeito prateado, sempre sério, se lamentando pelo espaço. Melancolicamente, em todo episódio, ele fica falando sozinho que quer retornar a Zenn-La e rever sua amada Shalla-Bal. "Quero voltar para casa." "Quero minha namorada." Não tem quem aguente ouvir isso sempre. Até eu, que gosto do personagem, perdi a paciência de vê-lo reclamando sempre das mesmas coisas.

 
Mas há males que vem para o bem. Enfim pude perceber como isso é chato. Recentemente, uma amiga minha tentou me aproximar de uma amiga dela. Sei lá para que fins. No final, não deu certo. Ela disse que eu era chato, que reclamava demais. Não nego. Esse próprio blog é uma série de reclamações. Só não sei como ela descobriu que sou resmungão tão rápido, visto que nos falamos poucas vezes. Pelo que me lembro do fim, ela me disse: "Ninguém quer saber dos seus problemas". Uma grande ironia: falo tão pouco e quando quero falar encontro justamente alguém que não quer me ouvir. Na hora fiquei com raiva, achei injusto e egoísta da parte dela, mas após assistir a série animada completa do Surfista Prateado percebi como isso pode ser maçante.


Outro problema que compartilho com o surfista é a linguagem. Falamos pouco mas quando falamos... Caprichamos. Até demais. Ele mais do que eu. O desenho era recheado de falas verborrágicas e discursos exagerados shakesperianos. Um falatório por vezes, desnecessário. Por exemplo, em uma cena, um cara perguntou ao Surfista porque ele o tinha salvado e a resposta foi cerimoniosa e de entonação eloquente: "Não poderia ter agido de forma diferente". Ele podia simplesmente dizer "Fiz o que era certo". Seria mais simples e principalmente, mais natural. Por isso, usarei de agora em diante, os formalismos com moderação. 


A verdade é que tenho grande admiração pela figura do Surfista Prateado, pois me identifico com ele. Me sinto sozinho no universo, questiono as coisas erradas que acontecem ao me redor e sofro com meus dilemas pessoais. "Faz parte desse jogo dizer ao mundo todo que so conhece o seu quinhão ruim."
Às vezes temos a impressão de que ninguém se importa, mas na verdade continuamos fazendo parte de tudo. Falsamente pensando que somos especiais, só porque pensamos diferentes. Não somos superiores. Fazemos parte dessa coisa toda, assim como todos. Por mais diferente que sejamos, estamos unidos. Não adianta fugir. Se algo ruim acontece ao meu redor, isso acaba me atingindo de alguma maneira. Afinal, sou humano, sinto empatia.
Tenho que parar de agir como um vigia que só olha, olha e não faz nada. Aprendi com o Surfista Prateado que não tenho o direito de me abster de participar do mundo, assim como ele não tem o de se abster de ajudar o universo. Exagerei na comparação? É, eu sei. Mas as intenções são as melhores. 

PS: Vocês acreditam em Galactus? Eu acho que ele existe.

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