terça-feira, 25 de junho de 2013

Do Trono Para A Rua

As manifestações que estão ocorrendo em todo Brasil me comoveram. Senti orgulho do povo brasileiro, que enfim saiu em massa pelas ruas em prol dos seus direitos. Nunca fui muito engajado em questões políticas, pelo menos na prática, mas dessa vez, senti-me motivado a sair de casa e unir-me a massa. Participar das coisas. Após a onda de manifestações que ocorreram no dia 17 de junho, tive a ligeira impressão de que junho de 2013 fará parte da história do Brasil. Já está fazendo.
Eu não poderia ficar de fora dessa. Jamais iria me perdoar. Logo, resolvi sair da minha habitual zona de conforto de observador silencioso do mundo. Decidi participar da manifestação do dia 20, que ocorreu no Centro do Rio de Janeiro. Convidei uma garota para ir comigo. Para minha surpresa, ela aceitou. Digo isso porque a conheci faz pouco tempo. Sim. Convidei-a com segundas intenções.



É neste ponto, meus amigos, que as coisas se misturam. Dois de mim foram à manifestação: o cidadão consciente querendo fazer seu protesto de forma pacífica e o pretendente inseguro tentando conquistar a garota. Sendo assim, narrarei minhas peripécias do dia 20 de junho com a cabeça dividida entre estes dois eus. Sei que pode parecer supérfluo falar de um encontro casual em meio a tudo que está acontecendo, mas reitero que meu compromisso é com a verdade, mesmo que ela pese contra mim. De fato, fui dividido.



Combinamos de nos encontrar às 17 horas, no portão da Quinta da Boa Vista que fica em frente à Estação de Metrô do meu (salve, salve) glorioso bairro de São Cristovão. Quando estava perto de chegar ao ponto de encontro, alguém me telefonou. Pelo número, imaginei que fosse ela, mas me enganei: era a mãe da guria. Sem pânico. Ela havia me ligado só para perguntar se eu já havia me encontrado com sua filha. Disse que não, que estava a caminho. “Para onde vocês vão?”, ela perguntou. “Para a manifestação no Centro.”, respondi. Era evidente que ela não fazia ideia de onde a filha estava indo. Ela me desaconselhou a ir até o protesto. “Não vão para lá, é perigoso.” Na hora achei que devia ter ocultado a verdade, dizendo que ia íamos a outro lugar. Mas a lambança já estava feita. Ao menos fiquei com a consciência tranquila. Por fim, ela disse para eu tomar conta da filha dela. Guardei bem essas palavras. Desliguei e me encontrei com a garota.
Minha escudeira era uma descontraída morena, de 19 anos de idade. Ela estava de minissaia jeans, camisa preta e usava piercing no septo nasal, a famosa argola de touro (não quis escrever vaca: soaria ofensiva e essa não é minha intenção). Ela tinha cabelos pretos lisos e olhos claros. Encontrei-a com um cigarro em uma mão e o celular na outra. Nos beijamos no rosto, ela guardou o celular na bolsa, demos as mãos e fomos até a bilheteria do metrô.



Na fila, ela inesperadamente puxou minha barba de bode à la Layne Staley. Gostei. Dentro do vagão, já se notava o clima do movimento. Havia vários jovens com a bandeira do Brasil e rostos pintados de verde e amarelo.



Chegamos ao Centro e o setor de desembarque da estação estava lotado de pessoas. Naquele momento eu só queria sair logo dali. Queria ir para a rua, e não ficar debaixo da terra, imerso a um mar de gente. Só que minha acompanhante iniciou um hábito irritante que se repetiu várias vezes ao longo desta aventura: ela tirava fotos com o celular a todo o momento. As únicas fotos que curti foram as que tiramos abraçados, mais pelo gesto do que pelas fotos. Estimo que o número de fotos tiradas tenha sido equivalente a quantidade de parágrafo neste texto. Portanto, para não ficar repetitivo, façam o favor de imaginar um clique ao término de cada parágrafo. Clique.
Com dificuldade de locomoção, chegamos ate à saída na Uruguaiana. A Avenida Presidente Vargas já estava apinhada de pessoas que saiam da Candelária em direção ao prédio da Prefeitura. Por um momento, ficamos parados na calçada observando aquilo tudo. “Vamos pra rua?”, eu perguntei. Ela balançou a cabeça positivamente e seguimos de mãos dadas.



Em meio à multidão participei de vários coros: xinguei o Ronaldo, o Pelé, o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes. Endossei os gritos de “Sem partido!”. Melhor fazer um parênteses nessa parte.
Acredito que quando as pessoas gritaram “Sem partido!” elas só se referiam à manifestação. Eu, pelo menos, queria dizer isso. Certos partidos se aproveitam de momentos como esse para registro de participação e aproveitamento posterior em campanhas eleitorais. Isso tem nome: oportunismo. Sei que alguns partidos de fato se dedicam continuamente a causas similares às dos protestos atuais, mas não pegou bem para eles. Fica a impressão de que eles queriam dar crédito a eles mesmos, sendo que tratava-se de uma manifestação majoritariamente popular e apartidária. Se queriam ostentar suas bandeiras e camisetas avermelhadas deviam fazer isso humildemente em suas sedes partidárias. 
Aí os intelectuais de plantão dizem que o povo não quer partido. Isso tem nome: ditadura. Calma. Não é bem assim, não vamos forçar a barra. Há sim, oportunistas de extrema-direita que tentam se aproveitar desse tipo de discurso, mas a maioria da população não almeja o retorno de um Estado totalitário. Não acho que os gritos de “Sem partido!” estejam relacionadas a ignorância e desconhecimento de história. Acredito que tais gritos tenham sido uma reação emocional. Um descontentamento geral com a classe política, que, diga-se de passagem, faz todo sentido. Diferentes partidos passaram pelo poder e não foram capazes de sanar os problemas da população. O fator corrupção também agrava a descrença nos partidos atuais. Ao invés de olhar para o Brasil, a maioria dos políticos atuais resolveu olhar somente para o próprio umbigo.



É lindo falar em democracia, que todos tinham o direito de participar, mas é necessário ter um pouco de tato. Se mancar. É claro que precisamos de partidos políticos, mas o povo não os queria em sua festa, por pura descrença. A revolta é justificada. Uma reforma política deve ser feita o quanto antes, sem, claro, a extinção dos partidos. 
Em dado momento perguntei a minha cara acompanhante porque ela estava ali. Ela demorou a responder. Por fim, ela me disse que os hospitais públicos a revoltavam. Citou a demora e desumanidade no atendimento. Modéstia parte, a minha pergunta foi boa. Afinal, as pessoas estavam ali pelos mais variados motivos: desde o genérico desejo do fim da corrupção até a baixa no preço de venda dos consoles de videogames no Brasil. Algumas estavam ali por motivo nenhum. Achavam que a manifestação era uma grande micareta.



Quem sou eu para julgar. Todos os anseios devem ser ouvidos. No fundo só queremos um país melhor. Contudo falta sim, organização. Pautas específicas para as manifestações. Caso contrário de nada adiantará. Só haverá barulho, sem mudanças.
De repente, vimos um cavalo de madeira passando do nosso lado. O famoso Cavalo de Tróia. Cometi o pecado (o qual até agora me arrependo) de pensar alto: “O que há dentro do cavalo?”. Um sujeito que estava do nosso lado falou “Espero que seja uma bomba ou atirador para atacar o prefeito.”



Daí em diante, ele foi meu Nêmesis. Ele acabou ficando com a gente a noite toda. Culpa minha admito; mas dela também. Esqueci de mencionar que minha amiga recém conhecida, além de simpática, é uma pessoa que gosta muito de usar um sentido o qual chamamos tato. Ela gosta de ficar o tempo todo tocando nas pessoas e nas suas coisas. Nos alargadores de orelha, pingentes, cabelos, tattoos, e no meu cavanhaque de Layne Staley, claro.
Ela curtiu o visual gótico do cara e começou a tocar nos seus acessórios: o crucifixo, as luvas de couro, o sobretudo preto. Ele era moreno, tinha cabelo crespo e aparentava ter uns trinta anos. Parecia o Toninho do Diabo. Até camisa vermelha ele tinha. Disse ser vocalista de uma banda e ficava o tempo todo fazendo o tipo revoltado-engajado. Não sei o que foi pior: ter que ouvi-lo cantar ou entoar suas frases de efeito. Dizia que sonhou a vida toda com isso. Que tinha participado de outros protestos. Que o gigante acordou. Que daria a vida pelo país (!?). A a outra curtia e dava corda, para meu desgosto.



Não sou namorado dela, portanto não me vi no direito de enxotar o sujeito de uma vez. Afinal, ela estava demonstrando interesse. Acabei ficando na minha, acompanhando a situação. O cara, que não era bobo, aproveitou-se da minha lerdeza e infiltrou-se de vez entre nós. Fomos os três aventureiros pela Presidente Vargas. Deixei-o ganhar espaço e fui passado pra trás. Ele passou a ditar o ritmo das conversas. Na verdade, fui de certo modo excluído: os dois conversavam e eu só ficava ouvindo em silêncio. Vez ou outra eu dizia alguma coisa. Do nada passei de protagonista a coadjuvante. É assim. Quem não faz leva.
Nós três de mãos dadas, em dado momento, me lembrou de uma cena de Death Note em que o L ficava entre o Light e a Misa. Não sei quanto a vocês, mas acho que três é demais. Por um momento desejei ser o Light Yagami, ter um Death Note e utilizá-lo para me livrar de um adversário indesejável. Brincadeira.



Como deu para perceber, não gostei do sujeito. Além do motivo mais do que evidente, achei-o falso. Fabricado. Performático. Ele fazia mais trejeitos do que ator de teatro japonês. Era evidente que agia assim para chamar a atenção dela. Duvido que agisse da mesma forma se continuasse sozinho, como estava antes de nos ter encontrado.



As encenações me davam náuseas. Sorte dele eu ser pacifista. Ou lento, se você preferir. Ele me lembrava o personagem Nigel do filme Top Secret!. Um revolucionário mala, certinho e engajado que disputava com o protagonista da história o amor da mocinha. No fim do filme, ele revelou-se um traidor. Temi pelo pior, mas era só implicância. Contudo fiquei atento. Vai que.



Não sei se senta antipatia por ele porque estava com ciúmes dela ou se eu apenas estava dominado por aquele velho pensamento que temos no Brasil de que quem sai na linha de frente, reivindicando seus direitos, apontando injustiças sociais é apenas um cara querendo aparecer. Acho que eram as duas coisas.
Seguimos. No meio do caminho, próximo a Central do Brasil, vimos um cara de óculos escuros deitado no chão. Ela parou para olhar. O vampirão disse a ela, com ares de sabedoria, que era uma forma de protesto. Podia até ser. O fato é que havia um cara estirado, imóvel no chão. Para mim, ele estava mamado. Pensei em dizer isso para contrariar o Conde Drácula, mas acabei permanecendo em silêncio. Mais a frente, vimos uma multidão correndo. Corremos também. O porquê eu não sei, mas na dúvida corremos. Após isso retomamos o caminho e seguimos em tranquilidade.
Próximo ao prédio dos Correios, havia uma cortina de fumaça laranja. Sugeri desviarmos, mas ela não me deu ouvidos. Preferiu escutar ele e fomos pelo meio da fumaça. Sorte que era só um sinalizador, deixado por algum manifestante engraçadinho. Particularmente, preferia não ter corrido o risco. Se ainda havia dúvidas, ficou claro naquele momento que ela iria escutar ele e não a mim.
Acontece que minha intuição é muito boa. É quase um sexto sentido. Não chega a ser tão eficiente quanto um sentido aranha, mas minha intuição já me salvou de algumas enrascadas no passado. O problema é que minha capacidade de persuasão perante outros seres humanos é nula. Em relação às mulheres é pior ainda. Percebi que, naquela noite, meu superpoder não seria muito bem aproveitado.



Após o fumacê alaranjado, paramos perto de uma mureta próxima a Prefeitura. Tudo em paz, aparentemente. Descansamos um pouco. O cara enfim tentou se avançar para cima dela. Acabou tomando um toco. Eu ri discretamente (e feliz, internamente) e ficamos falando bobagens aleatórias. Resolvemos comprar água, mas ela estava muito cara. Três reais. Mais cara que a passagem de ônibus, pontapé inicial de todas as manifestações. Deu vontade de iniciar um novo protesto ali mesmo.
Pouco tempo depois surgiram uns caras com os rostos cobertos perto de onde estávamos. Uns usavam a máscara do Guy Fawkes e outros uns panos tapando o rosto. Pareciam terroristas armados do Talibã. Eles carregavam uma bandeira com o símbolo da anarquia. Minha amiga, para o meu desespero, quis ficar no meio deles. “Adoro anarquia!”, ela disse. Fiquei com receio, não pelo fato de serem anarquistas. Curto anarquia, mas desconfiarei sempre de pessoas mascaradas. Preferi só acompanhar a distância, sempre de olho nela. Em dados momentos ela demonstrava certa ingenuidade que me assustava. Ou então era só falta de noção mesmo. Felizmente, nada de grave ocorreu.



Nos distanciamos deles e quando nos demos conta já estávamos imersos em outro grupo mais adiante, em cima de um viaduto. O desejo destes eram levar a manifestação até o Maracanã. Era um grupo relativamente pequeno.
À distância vimos a chegada da polícia até a Prefeitura. Não sei bem quem começou, mas de repente vi várias pessoas correndo. Fugindo de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Até a cavalaria chegou. O homem do sobretudo preto ficava bradando “Viva a revolução!” e “Voltem covardes!”, para aqueles que corriam da polícia. Sem chances de voltar. Vimos-nos obrigados a seguir pelo viaduto, em direção a Praça da Bandeira. Um manifestante passou por nós e comentou: “A gente vem manifestar em paz e é assim que eles tratam a gente. Com bomba e cavalo como se a gente fosse bicho. Porque não chegam assim para cima de bandidos?” É, pode ser.



Andamos até chegar próximo ao lado oposto da Estação de Metrô de São Cristovão, onde a aventura começou. Os primeiros pensamentos de retirada passaram pela minha cabeça naquele momento. Falei com ela se ela queria ir embora, mas ela queria ficar. Havia pouco movimento naquela região. Resolvemos voltar para a Prefeitura novamente.
No meio do caminho, na Praça da Bandeira, uma meia dúzia de vândalos causava arruaça, jogando pedras em ônibus. Puxei-a para o lado oposto, mas ela insistia em seguir o terceiro elemento, que claro, fazia seu teatrinho dizendo “Não! Parem!”. Uma ruiva baixinha ficava apontando o bando e gritava para eles a frase da moda: “Vocês não me representam!” Um cabeludo baixinho de óculos tentou dialogar com eles e levou um empurrão dos malandros. Revoltado, ele me viu e me puxou pela camisa. “Você viu o que eles fizeram? Acha certo isso?”, ele perguntou. Disse que não, mas claro, não fiz nada. Irritado ele jogou no chão o cartaz que levava. Fala sério. O que esse cara esperava que eu fizesse? Eu não sou o Batman. Não vou enfrentar um bando de baderneiros. Sou um pacifista. Sinta-se a vontade para me chamar de covarde se quiser. Não me importo.



Agora chega o ponto mais alto de tensão desta história. De repente nos vimos em meio a um impasse. De um lado polícia e do outro um grupo arisco de manifestantes. Tentei puxar ela para uma rua paralela, mas ela parecia querer ficar no meio do confronto. Podíamos ter evitado. Tive vontade de largá-la e me refugiar sozinho. Aí lembrei que falei para mãe dela que iria tomar conta dela. Embora ela fosse maior de idade e tivesse ido por livre e espontânea vontade, me senti responsável já que eu a tinha convidado. Se não conseguia convencê-la, ao menos ficaria por perto. Fiquei.
O amigo dela gritava “Covardes!” para os policiais. A polícia atirou bombas e avançava em nossa frente. Enquanto corria o mais rápido que podia, sentia os efeitos da fumaça das bombas. Meus olhos lacrimejavam e tive uma sensação ruim de queimação na garganta. Refugiamo-nos em uma ruazinha. Pensei que ficaríamos seguros. Mas lá havia um pequeno grupo de manifestantes que revidavam, atirando pedras na polícia que estava, praticamente, atrás de nós. Ficamos em meio ao fogo cruzado de bombas e pedras, escondidos em um pequeno trailer que vendia bebidas.
Quando a situação se acalmou um pouco, corremos adiante, longe do tumulto. Paramos em frente a um bar. Era o único que estava aberto, mesmo assim a contragosto, já que o dono que a todo o momento dizia que ia fechar as portas. Não fechou por causa dos clientes. A situação ali pelo menos estava mais tranquila. No lugar onde estávamos ainda havia algum confronto. Nossa única opção foi esperar.
Para minha surpresa, um homem que estava no bar reconheceu o gótico indesejável. Ele não havia mentido. De fato ele era um cantor. Até o nome dele, o homem do bar acertou. Não tinha importância. Eu estava preocupado com ela. Nervosa, ela fumava um cigarro após o outro. Reparei que a coisa já tinha se acalmado lá na frente e, de novo, pensei em ir embora. “Vamos embora daqui.”, falei para ela. Ela gritou comigo: ”Calma!” Acho que esse grito foi mais para ela mesma do que para mim. Respeitei seu tempo, ficamos lá por mais alguns minutos e enfim saímos.
As ruas estavam vazias. Os dois loucos queriam voltar até a Prefeitura. No meio do caminho encontramos um gordinho de rosto sujo, visivelmente abatido, carregando a bandeira do Brasil. Ele nos disse que havia apanhado da polícia, perto da Prefeitura. O cantor disse com voz de Capitão América: “Não recue. Volte!” O gordinho respondeu: “Cara, no momento eu só quero encontrar minha mulher que eu perdi de vista.”
Chegamos de novo no viaduto que liga a Praça da Bandeira a Prefeitura. Encontramos uma loirinha que estava sozinha. Ela disse que tinha perdido as amigas de vista. Minha amiga se sensibilizou e a convidou a unir-se a nós. Ela assim o fez. Contou-nos que tinha que tinha levado spray de pimenta na cara, mesmo sendo uma manifestante pacífica. Seguimos.
A Presidente Vargas estava vazia no momento em que retornamos a Prefeitura. Parecia um cenário pós-guerra. De longe vi alguns focos de incêndio. Disseram para a gente que haviam queimado dois veículos de emissoras de televisão. Ainda havia manifestantes perto da Prefeitura. Senti uma grande tensão, porque alguns tinham pedras em mãos. Passamos por eles.



Um pequeno grupo se sentou em frente a tropa da polícia. Rapidamente, os três se juntaram a eles. Eu preferi acompanhar de longe em pé, por questão de segurança. Não sou nenhum grande estrategista, mas acredito que se o caldo engrossasse poderia ser pisoteado. “Sem violência!”, o grupo gritava. Os policiais se afastaram e enquanto seguiam em direção ao prédio da Prefeitura foram aplaudidos. O grupo de manifestantes pensou que eles haviam recuado, mas na verdade eles só estavam cercando o prédio. O grupo avançou e se sentou ainda mais perto da Prefeitura. Os policiais começaram a atirar bombas em direção aos manifestantes. Em dado momento, passaram policiais de moto pelo viaduto jogando bomba sem nem olhar quem estava sendo atingido. Olhei e vi que ela ainda estava lá sentada com o gótico e a loira. Foi meu limite. Cai fora.
Não queria deixá-la sozinha, mas resolvi debandar. Sequer me despedi. Era demais para mim. Eu havia saído de casa para fazer parte de um protesto pacífico. Não tinha a menor intenção de terminar meu dia gritando palavra de ordem na cara da polícia, muito menos de ficar me desvencilhando de bombas. Tudo bem que eu fui com uma camisa do Rage Against The Machine, passo a maior parte dos meus dias em berserk mode, mas eu sou de paz. Não fazia questão de ficar com uma minoria, de frente com a polícia, em uma manifestação. Retrocedi a pé para casa.



No caminho, um cidadão alheio a todos os acontecimentos, me perguntou se era seguro prosseguir para o lugar o qual eu havia acabado de me retirar. Era um trabalhador querendo voltar para casa. Disse para ele evitar passar próximo à Prefeitura. Ele me perguntou se o preço da passagem havia voltado ao valor anterior. Respondi que sim. Ele concluiu dizendo que tudo havia acabado. Tentar persuadi-lo, dizendo que ainda lutávamos por outras coisas, como melhorias na saúde e na educação. Mas foi em vão. Não consegui convencê-lo. O assunto deu-se, por ele, como encerrado. Adoraria que fosse simples assim. Infelizmente, não são só 20 centavos, amigo. Não mesmo.

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