segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Falha Na Comunicação

Pelo que me lembro das aulas dos períodos iniciais da faculdade a comunicação é um processo interativo que envolve a transmissão de mensagens. Se para existir comunicação é necessário haver a transmissão de uma mensagem, também é necessário que haja alguém que as envie e alguém que as receba: emissor e receptor, respectivamente. Além desses três elementos essenciais ainda há o meio, por onde a mensagem é passada de uma pessoa para outra. Sei que ainda existem outros elementos que compõem a comunicação, como o código e o ruído, só que irei dispensá-los dessa vez. Considero-os irrelevantes para a discussão que pretendo seguir adiante.


Para mim o grande inimigo da comunicação é o receptor. Ele é o principal obstáculo a ser batido por aquele que deseja comunicar-se. Você deve pensar que estou exagerando falando asneiras, mas acho que vou fazê-lo mudar de opinião. Vamos por os pingos nos is. Para conseguir me explicar terei que usar, mais uma vez, as minhas experiências pessoais para defender meu ponto de vista.
Para quem não sabe, eu sou tímido. Sou o tipo de pessoa que só costuma dizer o essencial. Por causa disso, às vezes tenho a falsa sensação de que só porque normalmente falo pouco, as pessoas irão dar mais atenção aos meus pronunciamentos quando realizados em certas situações específicas. Acabo não recebendo a atenção que esperava receber. O tiro sai pela culatra. É bem difícil gerar empatia num público, quando você para eles é um elemento estranho, pouco familiar.


Exemplos claros disso são as apresentações orais de trabalhos, que desde a minha época de colégio detestei em fazer. Sei muito bem que a desatenção dos meus colegas de classe não se dirigem exclusivamente a minha pessoa. Em todas as apresentações de trabalho oral sempre tem um monte de gente que pouco se importa com a apresentação: ficam lendo, conversando, saem da sala, falam no celular etc. É bastante difícil prender a atenção das pessoas. Somente alguns CDFs, colegas de consideração e professores prestam atenção de verdade nesses casos.
No meu caso eu consigo piorar ainda mais a situação contribuindo para a desatenção coletiva. Acho que a minha voz grossa e monótona transmite claramente a minha má vontade de apresentar o trabalho. Admito, mas não me orgulho: faço de má vontade mesmo. Falo baixo e acelerado num estado de marasmo escancarado, sem me preocupar em esconder que estou morrendo de vontade para que a apresentação se encerre logo, para ira dos meus professores. Acho que até por isso eu nunca fui o aluno predileto de nenhum.  Nem quando sou obrigado por eles participo direito de uma aula. A combinação do meu silêncio sepulcral e das minhas boas notas cria neles uma expectativa que acabo não correspondendo e que nem sinto vontade de corresponder numa apresentação oral. Pelo contrário; sempre quebro a expectativa com uma apresentação ruim e mal ensaiada. Não me leve a mal, eu até chego a me preparar. Só não consigo decorar tudo e na hora me dá um branco. Fica mais difícil ainda quando se trata de um assunto que não me interessa, o que geralmente acontece. Desculpa esfarrapada.


Pior que a indiferença dos colegas durante uma apresentação oral é a dos professores. Na verdade isso só me aconteceu uma vez. Um professor meu do ensino médio ficou lendo um livro durante a minha apresentação inteira. Sequer a comentou ou olhou para mim. Passei o ano inteiro como de costume calado e na única oportunidade que tive para falar algo, o caro profissional do ensino me ignorou completamente. Dizer que isso foi sacanagem é eufemismo.
Saindo do ambiente escolar vamos para as redes sociais. Como eu disse em outra oportunidade a falha na comunicação se dá por questões de prioridade. Você não é um inimigo das pessoas com quem deseja falar e não é respondido, mas também não é prioridade para elas. Existem muitas pessoas com quem desejo falar e não consigo sempre. A conversa sequer se inicia; ela morrer antes de começar nos "ois", "olás" e "alôs" meus que sequer recebem resposta. O pior de tudo é compreender a sua falta de prioridade para elas sem ter lido as suas palavras. O silêncio, tal qual a imagem, pode valer mais do que mil palavras. Saber que uma pessoa está presente para alguns, mas ausente para você é algo compreensivo, porém doloroso de se admitir.


Particularmente, não experienciei casos mais extremos em que a comunicação não se desenvolveu, mas conheço alguns. Um caso típico disso é o fim de um relacionamento. Tenho a ligeira impressão de que neles os homens sofrem mais do que as mulheres; afinal geralmente são as mulheres que terminam a relação. Mas o cara pode desejar continuar com ela. E aí o que ele faz? Inunda a pobre garota de mensagens melosas pedindo para ela voltar pra ele. Um dia visitando a página do Facebook de uma amiga minha, uma morena espetacular diga-se de passagem, pude observar que o mural dela estava repleto de longas mensagens diferentes de uma mesma pessoa. Só de bater o olho suspeitei do que se tratava. Por curiosidade li uma frase para me certificar e não deu outra: era um ex-namorado mala, pedindo para ela reatar com ele. Houve falha na comunicação novamente: em nenhuma das mensagens a minha amiga se deu o trabalho de responder o cara. Mais por medo do que por falta de vontade. Minha amiga é legal, não é de fazer essas coisas, mas em certos casos deve-se usar o bom-senso: se acabou, está acabado. Sem querer me meter, mas já me metendo, falei pra ela bloqueá-lo e ela assim o fez. Até eu fiquei com medo do cara. Não tinham ameaças nas mensagens, porém a insistência dele parecia coisa de gente obsessiva e desesperada, propensa a cometer a qualquer momento um crime passional.




Como ficou claro nos meus exemplos tudo funcionou perfeitamente: um emissor elaborou uma mensagem, a mensagem foi transmitida e o meio foi capaz de transmiti-la. Geralmente o culpado pela falha na comunicação é o meio pelo qual passam as mensagens. Porém na época em que vivemos, os meios que transmitem as mensagens funcionam bem; se um falha possuímos outros, prontos para serem utilizados. Os telefones, os chats, as redes sociais, os e-mails e até mesmo a oralidade reforçam meu argumento.
Sendo assim, acredito que a falha na comunicação está no receptor, que não se interessa pelo que tenho a dizer. Quando o receptor não se interessa pela sua mensagem significa que ele não está interessado em você, tampouco pelo que você tem a dizer. Não só nesses de hoje, mas em diversos casos, de boa ou de má vontade, tentei me comunicar, porém as pessoas a quem as mensagens foram direcionadas me ignoraram. Não dá para saber os motivos, mas a comunicação se demonstrou improdutiva. Não sei o que é pior: se é a negativa definitiva, em que se manifesta claramente o desejo de não manter contato, ou a indiferença silenciosa em que sequer há comunicação explícita. A ausência de comunicação faz brotar suposições que podem estar erradas. Houve falha na comunicação porque não houve reciprocidade. Se minha teoria estiver errada, o único culpado que resta é o emissor, um objeto defeituoso que causa falha na comunicação. Se for verdade não é possível trocá-lo. A solução seria nascer de novo.

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