sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Apenas Mais Uma Manhã Chuvosa

O texto de hoje é chato, tedioso, sem clímax, conclusão, gracejos, referências pop ou acontecimentos significativos. Para quem resolver lê-lo até o final adianto que as partes mais interessantes estão nos dois primeiros parágrafos, que sequer são sobre o assunto do título. Escrevo esse texto apenas porque ele é real; é a descrição de um dia real, ou ao menos de parte dele. A mais fiel descrição que consegui fazer valendo-me de palavras. Sentirei-me satisfeito se através delas eu conseguir transmitir de forma compreensível a experiência (mesmo ela sendo irrelevante), para quem quer que esteja lendo. Se conseguir, direi pra mim mesmo “missão cumprida”, como bem faço internamente em outras ocasiões. Minha intenção ao escrever é fazer com que as pessoas visualizem o que passo, sinto ou penso, mas não necessariamente de uma forma clara e objetiva. Só aqui no blog eu tenho essa carta branca para fazer enrolação textual. Peco às vezes por cometer uns errinhos de ortografia e concordância, mas nem me importo: a ênfase está na mensagem que quero passar. Não sou um gramático, sou apenas um contador de histórias mediano.


Vamos aos fatos. Na última segunda-feira, um professor pediu para que fizéssemos um texto em forma de crônica sobre o funcionamento da faculdade num dia de chuva (no dia estava chovendo) e eu assim o fiz. Ou melhor dizendo estou fazendo. Ao invés de fazer o exercício na sala e entregar no dia conforme o combinado, estou fazendo a tarefa em casa e em vez de entregá-la, irei publicá-la aqui no meu próprio blog. Só entregarei esta crônica se ela valer ponto na média (editada, claro!). Sou mercenário mesmo. Ou não. Ultimamente ando meio revoltado com os professores. Nada contra nenhum em específico. É a classe como um todo. Na verdade estou revoltado com qualquer um que se autodenomine “juiz” do mundo. Professores se inserem nessa categoria, ao realizarem constantes avaliações superficiais sobre o conhecimento dos seus alunos. Avaliações que podem ser injustas. Estou escrevendo esse texto porque desse modo a minha consciência fica mais tranquila. De certo modo estou fazendo a tarefa pedida, a diferença é que não irei entregá-la. Atualmente em relação ao aprendizado, meu compromisso é comigo mesmo e não com professores, notas idiotas ou exibicionismos verbais    públicos. Mas esse é apenas meu ponto de vista. Não existe certo ou errado. Cada um faz o que bem quer. Só estou comentando sobre isso porque para mim a fase de fazer questão de ganhar em todas as aulas uma estrelinha de bom menino já passou. Estou demorando demais justificando as minhas bobagens... Vamos logo à crônica.


Plena segunda feira, seis horas da manhã, no ponto de ônibus, me surpreendi com a falta de pessoas esperando o coletivo. Geralmente quando chego já estão presentes várias pessoas aguardando o ônibus no ponto. Qual seria o motivo da ausência delas? A minha hipótese é de que seja pela data em questão: dia do comerciário. Uso essa hipótese valendo-me de outra hipótese, a de que as pessoas que habitualmente esperam o ônibus no ponto comigo trabalham no setor do comércio. Não sei, não tenho certeza. Como saberia? Não converso com estranhos.
Dentro do ônibus o ambiente também estava diferente. Normalmente lotado, naquela manhã chuvosa e cinzenta de segunda-feira ele estava menos cheio que o habitual. Assim, arrumei com facilidade um lugar para me sentar. Durante o trajeto fiquei com a cabeça encostada no vidro da janela olhando para minha cidade. Dias de chuva são mágicos. Neles, os vidros dos carros ficam embaçados por dentro; as madames que vivem cheias de pose ficam destrambelhadas e desesperadas, tentando ajeitar os seus cabelos molhados; os guarda-chuvas coloridos das pessoas visualmente formam um baile de frevo silencioso e interessante de ser visto; a chuva faz um barulho gostoso de ser ouvido quando farfalha no concreto; os motoristas passam por cima das poças d’água molhando um monte de pedestres trouxas... Todo esse espetáculo à parte sempre me diverte.


Acabei chegando cedo demais para assistir à aula. Chego cedo á faculdade todo santo dia, mas nessa chuvosa segunda-feira bati o recorde de tempo. Tudo culpa do ônibus. Geralmente ele costuma ser bem mais lento. Considerando que era um dia de chuva ele devia ter sido mais lento ainda. Só que não o foi.
O tempo foi passando e eu comecei a me desesperar. Será que ninguém viria? Só eu tinha resolvido dar as caras? Considerando que o tempo estava ruim, que o dia era um semi-feriado e que o horário de verão estava dando os seus primeiros passos, pensei que o dia estava perfeito para as pessoas faltarem. Para passar o tempo fiquei parado, encostado na mureta vendo as senhoritas da Faculdade de Educação passarem pelo corredor. Pouco tempo depois chegou um colega, e depois outro, e outro, e o professor e assim se iniciou a aula. Que bom: a viagem não havia sido em vão, o cavaleiro não saiu de seu castelo à toa. A aula transcorreu normalmente, até chegar a situação do segundo parágrafo, a tarefa a ser realizada, que agora está nos seus últimos suspiros de vida.
Porque não a fiz no dia? Porque não havia praticamente ninguém lá. Nada que chamasse a minha atenção. Era apenas um lugar molhado. No meu ver não tinha nada a escrever sobre isso e por essa razão não fiz a tarefa designada. Elaborei a minha própria, baseada na pedida com algumas modificações, como vocês estão vendo. Assim saí da sala de aula e resolvi encerrar o dia por ali mesmo. Já dentro do ônibus, vi um alvoroço causado pela tentativa de suicídio de um homem. Fica aqui a menção, mas não a explanação. Não sou sensacionalista.
Essa ação tão extrema lembrou-me que os dias chuvosos são deprimentes. Eles são capazes de tornar mais forte, o sentimento de solidão, presente no coração das pessoas que precisam de companhia, assim como a necessidade de sentir o calor humano. Certas pessoas? Acho que estou falando de mim mesmo, olhando mais uma vez embasbacado para as belas garotas que entravam no ônibus durante o trajeto de retorno. Tolamente, pensei em vão, que elas iriam se sentar do meu lado e me aquecer, nesse frio dia de chuva, com um abraço caloroso. Ri da minha estupidez, cocei a minha barba rala de menino moço e me aquietei, ouvindo o barulho da chuva do lado de fora. Calor para uns só na cama sozinho debaixo de um cobertor mofado.


PS: Leitores vocês sim são meus professores, meus avaliadores, meus juízes. Fazer uma crônica sobre o nada é tenso. Me esforcei muito. Me dêem um desconto. Sejam bonzinhos. Não me reprovem no fim do ano. 

2 comentários:

  1. Anônimo22/10/11

    muito legal, se eu fosse vc entregava...tratando-se de uma cronica sobre o nada....a nota deveria ser 10! rsrs

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    1. Obrigado professor (a). :) Posso sair mais cedo hoje?

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