sábado, 31 de março de 2012

Delocco Por Toda A Vida

Não sou tão pretensioso a ponto de escrever um ode a mim mesmo aqui hoje, como o título pode sugerir. Isso seria prepotência demais, até para um egocêntrico cara-de-pau como eu. Só achei que estava na hora de compartilhar com o mundo um pensamento que tenho desde os 17 anos. Nada extraordinário, somente particular. Tudo começou com uma frase solta: “Delocco por toda a vida.”
Na época nem mesmo eu sabia o que estava querendo dizer com isso. Eu era apenas um jovem adolescente perdido, cheio de medo e indefinições, buscando se definir. Estava em busca de pensamentos, ideologias e códigos de conduta para me auto-afirmar. Talvez, naquela época, eu não tenha feito as melhores escolhas possíveis para o meu futuro. Isso se reflete hoje no meu comportamento e certamente terei mais dificuldades adiante pela vida, mas enfim... Não me envergonho das minhas escolhas.
As circunstâncias para o surgimento da frase na minha cabeça foram parecidas com as que deram inspiração a Manuel Bandeira escrever o seu famoso poema “Vou-me embora pra Pasárgada”. Como conta o poeta, “num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: Vou-me embora pra Pasárgada!”. A diferença é que ao invés de me inspirar para escrever uns versos como ele, tive uma epifania na qual tornei oficial meu estilo de vida esdrúxulo. Uma simples frase sem nexo, avulsa e aleatória serviu para inaugurar um pensamento, uma maneira de viver. Quem diria... Parece até coisa de dadaísta.


Ainda não fui muito objetivo na minha explanação. Deixe-me contextualizar as coisas. Primeiramente o nome. Delocco? Sequer é meu sobrenome de verdade. É um nome inventado. Pelo que me lembro, a única menção anterior que tenho desse nome vem de um personagem (De Loco) do jogo Skies of Arcadia, numa matéria que li numa revista de videogames. Meu subconsciente deve ter gravado o nome por tê-lo achado interessante. Além de possuir uma latinidade, o nome tem toda uma atmosfera insana por trás dele, que convenhamos, acho que combina muito comigo.


Delocco lembra loucura. E quem são os loucos? São aqueles que contradizem a razão. Pessoas sonhadoras, marginalizadas pela sociedade. Admito: estou sendo romântico demais, definindo os loucos desta maneira. De fato, existem pessoas loucas de verdade nesse mundo. Os manicômios não me deixam mentir. Mas há aqueles loucos que não verdade não são “loucos”: são apenas injustiçados. Incompreendidos por pensarem de forma diferente da hegemonia e por quererem romper com a rotina e com tudo aquilo que está pré-estabelecido.


Pode até não parecer, por causa da minha visível timidez, mas eu tento fazer isso sempre que posso. Refiro-me a agir diferente. Penso que o mundo, mais do que nunca, precisa de gente diferente. Não só de aparência como de pensamento. Tudo está certinho demais, padronizado demais e isso me irrita muito. Cada um devia agir de uma maneira diferente, ter sua própria personalidade e não simplesmente repetir ações e tendências que, digamos de passagem, sequer compreende. É o chamado modismo.


É aí que me coloco de “mártir” agindo de forma bisonha no meu simplório cotidiano. Meio que tento ser um símbolo para inspirar outras pessoas. Não a agirem como eu, mas a agirem como elas mesmas.
Novamente estou sendo muito romântico. Perdão. Não me esqueci da realidade. Vamos  à aplicação do “Delocco por toda a vida” no mundo real. Sei que a minha vida seria bem mais fácil se eu me rendesse e agisse como todo mundo que me cerca. Certamente, se fizesse isso, eu teria mais amigos, acompanhantes nos fins de semana e conseguiria empregos com mais facilidade. Se eu gostaria de ter tudo isso? Sim. Mas acho que é um preço a se pagar. Abro mão de certas coisas em nome de uma ideologia que ninguém me obriga a obedecer. Nem sei bem porque faço isso. Apenas sinto que alguém tem que fazê-lo.
Mas afinal o que define um Delocco?
Na verdade várias coisas. Impossível por tudo em um texto, mas valendo-me de algumas frase soltas, tentarei fazê-los captar ao menos a essência, o espírito da coisa.
Ter um comportamento misantropo na maior parte do tempo (e não antissocial como alguns insistem em dizer). Ter a postura do faça-você-mesmo. Ser você mesmo. Lutar por aquilo que acredita, mesmo estando completamente sozinho. Simplicidade. Sinceridade (muitas vezes, beirando ao cinismo). Rir das próprias piadas. Rir da própria desgraça. Jamais fingir ser o que não é. Desvalorizar o alpinismo social, mesmo nascido pobre. Não se deixar intimidar por posses culturais e materiais dos outros. Não mudar a própria maneira de ser, independente do lugar que frequenta e das pessoas que o cercam. Viver sentindo uma liberdade anárquica no seu coração que na verdade só lhe aprisiona.
Isso é ser Delocco.
Não me orgulho nem me envergonho da escolha que fiz. Admito que é difícil, mas ao menos me divirto. Se me chamam de gordo e me mandam ir para uma academia, por exemplo, eu levanto a camisa e sacudo a minha pança, provocando algumas risadas.
Não sei o que vai me acontecer daqui para frente. Afinal eu não prevejo o futuro. Só quis deixar um registro para o que acontecer de agora em diante. Seja lá o que for. Não sou imutável e eterno perante o tempo. Porém minha essência continuará a mesma. Assim espero. Esse é meu lema. Delocco por toda a vida. Doa a quem doer. Nem que seja eu mesmo.

PS: Escrevi esse texto para aqueles que me vêem atualmente e que possam pensar que estou mudado. Na verdade, até aceito isso. Só não me acusem de ser vendido. É apenas aparência. Eu preferia andar nu a usar trajes sociais nesse calorão do Rio. Pensando bem, eu preferia andar nu de qualquer jeito...

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Produto Final

Eu podia resumir este texto em apenas uma sentença: mulheres são interesseiras. E ponto. Contudo não farei isso, pois sei que não é inteiramente verdade. Esta frase, embora tenha a sua parcela de verdade, é geralmente dita por homens que procuram dar justificativas para as suas tentativas fracassadas de aproximação com o sexo feminino. Sei disso porque já a disse muitas vezes. Tente relevar, nós somos humanos; é sempre mais fácil culpar o outro lado.


Apesar da parcialidade que não faço questão de esconder, me esforçarei para não escrever um texto machista demais. Já vou adiantando meus pedidos de desculpas quanto às generalizações que irei fazer, pois sei que existem muitas mulheres decentes, dignas e companheiras neste mundo que podem se sentir incluídas nos meus comentários. Espero que essas mulheres não se sintam ofendidas.
Vou começar falando brevemente do caso que me inspirou para escrever este texto. Recentemente os noticiários da televisão falaram sobre o julgamento da viúva do ganhador da Mega-Sena. Se ela foi ou não a mandante do assassinato do seu marido eu não sei. Nem me importa saber. O que mais me chamou a atenção foi a origem do relacionamento entre os dois. Como é comum nestes casos de milionários, a mulher só foi se “apaixonar” pelo cara depois que ele ficou rico. Não digo que é impossível um cara desprovido de beleza ficar com uma mulher maravilhosa (há casos que até hoje me deixam de queixo caído), mas quando há muito dinheiro na jogada sempre suspeito das reais intenções da parceira. Não só eu, como todo mundo.
Na verdade esse exemplo de bela viúva que herda os bens do marido rico, feioso e morto é muito extremo. Eu diria que ele é até clichê. O que quero dizer é que não é preciso o homem ser milionário para uma mulher manifestar interesse nos bens materiais que ele tem a oferecer. Até porque há poucos ricaços no mercado. Para ilustrar isso, acho melhor dar um exemplo mais próximo do nosso cotidiano.
Uma vez conheci uma bela advogada loira de trinta e poucos anos. Como é de costume acontecer comigo, ela começou a falar de um cara que estava interessada. Parece maldição: quando enfim conheço uma mulher solteira e legal que não se esquiva ou foge de mim, ela começa a falar de algum sujeito de que gosta. Como se eu quisesse ouvir esse tipo de coisa... Acabei ouvindo de qualquer forma. A história de vida do homem era a seguinte: ele apanhava dos pais quando era criança, fugiu de casa, foi morar nas ruas, catou papelão, revirou lixo para poder comer etc. História realmente comovente, sem ironias. Mais ainda foi a reviravolta: o cara cresceu, se tornou campeão de natação, hoje em dia é dono de uma rede de academias de ginástica e dá palestras sobre superação e empreendedorismo.
Depois de me contar essa história tocante, a advogada veio me dizer que estava apaixonada pelo sujeito e que se sentia infeliz porque ele não estava interessado nela. Não pude deixar de perguntar se ela o amaria mesmo se ele ainda fosse morador de rua. Ela obviamente disse que sim. Embora ela me transmitisse a imagem de ser uma boa pessoa duvidei momentaneamente da sua sinceridade. Uma advogada parecida com a Barbie namorando um mendigo. Acredito...
Mudando de assunto, falemos agora dos homens pobres e de aparência mais ou menos que enriquecem rapidamente como por exemplo, os músicos e os jogadores de futebol. Sinceramente não acredito que estes caras sejam tão ingênuos a ponto de acreditarem que as mulheres fáceis que surgem nas suas vidas gostem deles de verdade. Elas só estão com eles por causa do dinheiro e eles sabem disso. Eles apenas se aproveitam da situação, obtendo prazer. Vejo a situação da seguinte forma: quando você tem muito dinheiro, ficar sozinho se torna uma opção. As companhias antes negadas podem ser facilmente compradas. Não culpo esses senhores por quererem ficar ao lado de mulheres que antes só habitavam os seus sonhos.


A gente também tem que entender o lado das mulheres. Os românticos que me perdoem, mas vamos ser realistas dessa vez: não dá para viver só com amor. Amor não enche barriga, a não ser que surja uma gravidez no meio da história. Dinheiro é poder. Garante segurança, estabilidade e padrão de vida. Acho que todo mundo, homens e mulheres, querem isso. Essa segurança que o dinheiro proporciona. Por este motivo compreendo quem deseja optar por ficar com alguém que lhe oferece tudo isso. Mesmo assim acho errado construir uma relação baseada no interesse financeiro.
Tenho que fazer uma ressalva. O dinheiro não é a única forma de interesse não-romântico que desencadeia um relacionamento. O reino animal nos dá o exemplo da força. Muitas vezes o maior macho do bando, por ser o mais forte é aquele que possui mais fêmeas a disposição para procriar. Há a questão da idade também. Existem mulheres que preferem somente homens mais velhos. Elas afirmam que eles são mais maduros e acabam renegando homens da mesma idade que elas, generalizando-os e taxando-os de infantis. Aí novamente entra a questão do interesse: fica-se com um homem mais velho para se autoafirmar como uma pessoa madura demais para sua idade. A psicologia diz que isso é uma forma de substituir a figura paterna. Não importa. Seja pela proteção ou pela experiência é tudo interesse. O amor entra em segundo plano. Pode ser construído ou não ao longo do tempo. Para algumas mulheres antes mesmo de se apaixonar por alguém é mais importante estabelecer critérios e assim eliminar pretendentes, sem sequer dar a chance de conhecê-los melhor.
Não me canso de pensar na situação reversa. Algo como a história do Aladdin. Estou exagerando. Não precisa ser algo tão surreal quanto o amor entre uma princesa e um malandro de rua. Fica difícil imaginar até mesmo uma pessoa normal em questões financeiras, como um professor ou auxiliar de escritório, ficando com uma grande artista pop. Diferente dos homens, as mulheres quando atingem sucesso financeiro ficam com companheiros de igual condição financeira, no mínimo. Estou mentindo? Na vida real são bem escassos os Cinderelos.


Na minha concepção o legal de um relacionamento é que nele duas pessoas que se amam, amadurecem juntas em um esquema de parceria. Havendo essa cumplicidade constroem uma vida toda juntas, passando por tentativas e fracassos, experiências boas e ruins, reviravoltas e voltas por cima. Para mim isso é bem mais divertido, para muitas mulheres não. Para elas acaba sendo mais conveniente arrumar um namorado com carro do que um que está reunindo dinheiro para comprar um. É aquela velha história do carpe diem: a vida além de passageira é uma só. Melhor então aproveitá-la às custas de um otário que banque todo o luxo que precisa. Trabalhar para quê? Mas também justiça seja feita: existe muito homem que quando enfim consegue ter uma vida melhor, muda de companheira, que pode até não ser a mais bela das mulheres, mas que tem seu mérito por ter passado com ele pelos momentos de dificuldade. Chame-me de careta, bunda-mole, conservador, o que quiser. Acho isso errado.
Para muitas mulheres o produto final é tudo que importa. O homem bem sucedido. Estabilizado. Seguro. A aparência, a personalidade e o carinho são elementos acessórios. É mais seguro ficar com o produto final do que com o produto em construção, porque neste não há certeza de um futuro melhor. O relacionamento entre homem e mulher transformou-se em uma constante troca de interesses. Você se mantem aceitável para elas, enquanto durar o seu cargo de prestígio social elevado e enquanto chegar o seu contra-cheque polpudo e certo no fim de cada mês.


Sinto muito se transmiti a imagem de amargurado durante o texto. Anos e anos sendo substituído por concorrentes mais interessantes (R$) acabaram me deixando assim. Porém sempre há esperanças. Estou fazendo minha parte desde já. Não procuro usar meu currículo para impressionar uma mulher. Só meu coração. Encontros para mim são diferentes de entrevistas de emprego. Infelizmente até agora essa estratégia ousada vem dando errado. Espero que ela dê certo enquanto ainda sou pobre. Caso por milagre minha vida se transforme na história do otário que deu certo, não renegarei as minhas ideias registradas aqui hoje. Manterei a distância das sanguessugas interesseiras e continuarei forever alone, trancafiado no subsolo da minha futura mansão. Ou então irei me refugiar na Lua. Melhor desistir do que viver até os meus últimos dias dentro de uma ilusão.

PS: Pensei em inúmeros exemplos e decidi não colocar fotos de casais  famosos da vida real para ilustrar algumas passagens. Não conheço a vida íntima dessas pessoas então achei mais justo não falar nada. Aposto que alguns exemplos devem ter passado pelas cabeças de vocês.
PS2: Crônicas Faraônicas está em recesso. Retorno em março. Até lá!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um Presente Em Especial

Pularei aquele velho discurso do verdadeiro significado do Natal e irei direto ao assunto. Para muitas pessoas essa época do ano significa uma oportunidade de ganhar presentes dos outros. Para mim, Natal é sinônimo de comilança, de encher a pança até não aguentar mais. Contudo não negarei que a expectativa de ganhar presentes, embora pequena, também me deixa ansioso para a chegada do Natal. Não preciso nem dizer que o velho Noel não distribui presentes para todo mundo. Pouco importa se você foi bom ou mal durante o ano. O que determina o recebimento ou não de presentes é outra coisa, mas isso não vem ao caso. Não hoje pelo menos.
Acho que todo mundo já teve um presente de Natal inesquecível que marcou sua infância. Boa parte da magia do Natal contemporâneo está aí, nos presentes ganhos, para o desagrado dos fiéis mais fervorosos. Podemos passar horas falando do verdadeiro significado do Natal, mas sejamos francos: a criançada nessa data só está interessada em ganhar presentes. Comigo não foi diferente. Nunca ganhei muitos presentes, porém um em especial jamais foge da minha memória: o Game Boy Color que ganhei no Natal de 2002.


Antes de começar a história, permita-me contextualizar minha vida gamística da época. Eu era um assíduo comprador da revista Nintendo World, mesmo não tendo um console Nintendo dentro de casa. Meu videogame era o Master System da Sega. Aí já viu né: nos anos 90, enquanto as pessoas jogavam Super Mario World, eu jogava Sonic The Hedgehog. Mas isso é historia para outro dia.


Alguns meses antes do Natal vi o Game Boy Color num encarte de uma loja. Ele estava num preço promocional, mais barato e, além disso, na compra do portátil vinham dois jogos de graça. Não podia deixar essa oportunidade de enfim ingressar no universo nintendista passar.
Assim, aos poucos fui reunindo dinheiro para comprá-lo. Entretanto acabei não conseguindo dinheiro o suficiente. Meus pais se comprometeram a contribuir, mas acabaram me dando uma rasteira, “magicamente” se esquecendo do que haviam prometido. Eu e meu irmão juntamos nosso dinheiro mas também não deu. Só conseguimos metade da grana. Aí apareceu meu avó que contribuiu com o restante.
Não me esqueço daquele dia que fomos os três comprar o Game Boy. Antes de sair de casa contamos o dinheiro e vimos que estavam faltando alguns reais. Aí saímos caçando moedas. No final deu tudo certo: pagamos o Game Boy Color à vista, em dinheiro vivo, na quantia exata, até mesmo os 99 centavos derradeiros da cifra. Voltamos para casa com ele. Um Game Boy Color novinho em folha na caixa, modelo lilás transparente. Os jogos que o acompanharam foram Snoopy Tennis e um jogo mediano da turma dos Looney Tunes.


Obviamente depois disso eu e meu irmão passamos dias jogando. O duro era ter que revezar: nenhum dos dois queria largá-lo. Íamos revezando, uma hora de jogatina para cada um. Relembrar dessa minha época de viciado em Game Boy Color me fez perceber agora, o quanto de dinheiro que devo ter gastado em pilhas em todos estes anos em que joguei. Em média, eu gastava 4 pilhas comuns em 3 dias. Embora a balconista do mercadinho aqui do meu bairro não comentasse, eu pudia sentir que ela ficava imaginando de que forma eu gastava tantas pilhas e tão rapidamente.
O único problema do meu Game Boy Color eram os jogos. Rapidamente me enjoei dos dois que vieram de graça com ele. Na verdade eu só queria ter um Game Boy Color para jogar poder jogar Pokémon. Era a grande febre da época: uma criança do início dos anos 2000 que não jogasse Pokémon corria o risco de ficar traumatizada pelo resto da vida. Na época a versão mais recente que tinha era a Crystal, lançada em 2001. Procurei-a em diversas lojas, mas não a achei em lugar nenhum. Numa delas a vendedora me disse que o jogo já havia saído de linha. Talvez isso justificasse o preço baixo do Game Boy Color que comprei: a sua extinção. O console portátil vivia seus momentos finais e poucos jogos estavam sendo lançados para ele. A novidade mesmo era o seu sucessor Game Boy Advance, e eu certamente não tinha condições de comprá-lo.


Mas para mim o Game Boy Color era novo. Eu queria jogá-lo. Não é porque meu videogame era defasado que eu não iria aproveitá-lo, deixando-o mofar em casa. Foi muito duro consegui-lo. Sem chances de adquirir um bom jogo original fui até ao Mercado Popular da Uruguaiana, no centro do Rio, para comprar uma versão pirata de Pokémon pela metade do preço. Não quero fazer apologia à pirataria, mas confesso que por anos comprei jogos de Game Boy Color por lá. Até compraria jogos originais, contudo os únicos que as lojas vendiam na época para Game Boy Color eram Indiana Jones, de quem sequer sou fã, e Tetris, que podia ser comprado em qualquer esquina na famosa versão monocromática intitulada Brick Game.


Hoje em dia meu Game Boy Color está aqui em casa aposentado graças ao PC. No computador continuo desfrutando a pirataria só que ela não é mais física como antigamente. É a tal da pirataria virtual. De vez em quando baixo algumas roms para me divertir. O engraçado é que algumas roms são de jogos que possuo em cartucho.
Apesar do divertimento proporcionado pelas roms, jogar no PC não é a mesma coisa que jogar no Game Boy. Só quem teve um sabe como é boa a sensação de ver o indicador de energia brilhando depois de ligá-lo. O acender daquela pequena luz vermelha me trazia uma sensação de felicidade. A luz brilhava vivamente com as pilhas novas e com o seu desgaste ela ia enfraquecendo aos poucos até apagar de vez. Só agora vejo como o Game Boy Color era uma videogame poético. Ele morria e renascia muitas vezes nas minhas mãos. Eu sempre tinha o poder de fazê-lo renascer através de um simples gesto: substituindo pilhas velhas por novas, eu fazia ressurgir um velho amigo que se encontrava adormecido.
Posso parecer ridículo dizendo isso, mas meu Game Boy Color foi um grande amigo meu durante anos. Passei muitos momentos de alegria com ele. Diferente dos videogames atuais, ele não tinha efeitos em 3-D ou gráficos esplendorosos, mas a visão e o controle dos acontecimentos daquela pequena tela bidimensional me eram suficientes. Toda vez que jogava sentia que se abria uma janela secreta de um mundo novo só para mim e eu me sentia um privilegiado por isso. Obrigado Game Boy Color.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Um Mensageiro Do Céu

Apesar do meu nome um tanto quanto religioso, eu não o sou. Até já fui, entretanto não sou mais. Da infância até meados da adolescência eu ia para igreja católica todos os domingos por insistência dos meus pais. Agora que sou adulto não frequento mais. As razões para essa mudança? Creio que o estudo da história e a cultura pop subverteram a minha cabecinha católica. Indo às missas, eu me sentia que nem a personagem da Linda Fiorentino no filme Dogma. Não é a toa que esse filme do Kevin Smith foi tão criticado pelos setores religiosos na sua época de lançamento. Ele permite alguns questionamentos. Assistindo-o pude perceber que tal qual a personagem eu ia para igreja mais pelo hábito do que por qualquer coisa. Os sermões entravam no meu ouvido e saiam pelo outro, não dava mais para viver me enganando. Agora eu apenas acredito em uma força maior. Certeza absoluta eu não tenho. Apenas acredito, apesar de não ir mais à igreja.


Para preencher essa lacuna vazia do meu horário nas minhas manhãs dominicais, criei o hábito de caminhar. A verdade é que este pássaro que vos fala adora fugir da gaiola em que vive. Se tivesse a oportunidade o faria mais vezes. Não me falta vontade de abrir minhas asas e voar até lugares mais distantes. Porém faltam condições para isso e principalmente companhias dispostas a andar com este silencioso cigano das cidades.
Só me resta andar pelos costumeiros lugares comuns de sempre. Os cenários se repetem e nunca vejo nada de novo, mas sempre retorno a eles. O legal é que presencio situações que me servem de inspiração para contar histórias. Confesso que me sinto como o Forrest Gump às vezes. A diferença é que em vez de correr rapidamente como ele, eu caminho vagarosamente. Também há o fato de que correndo, o Forrest chegava a vários lugares e eu caminhando nunca chego à lugar algum. Continuo a andar em círculos, não só nas caminhadas, como na vida.


No último domingo não foi diferente. Cenário: Quinta da Boa Vista. Dei apenas uma volta na área e resolvi me sentar num dos bancos verdes que tem por lá. Do nada resolvi reatar um velho hábito meu da adolescência. Eu costumava me sentar lá nos domingos e ficar refletindo sobre a minha vida, os acontecimentos da semana, os aborrecimentos, as alegrias etc. Fazia isso em voz alta. Parece estranho, mas é uma atividade libertadora. Eu diria até que terapêutica. Sempre me sentia renovado depois de fazer isso. Logo, decidi sentar-me num ponto estratégico de pouca circulação para evitar olhares curiosos e acusadores. Acredite, já tive experiências semelhantes a essa antes. Por isso aí vai um conselho: caso queira falar sozinho, certifique-se antes que você está realmente sozinho. Caso contrário irão te julgar como louco.
Infelizmente fiquei mais uma vez sem a minha reflexão semanal. Poucos minutos após eu ter me sentado pude avistar de longe um sujeito caminhando em minha direção. Antes mesmo de falar com ele, pude perceber que ele era membro de alguma igreja: o homem era negro, aparentava ter entre 50 e 60 anos, trajava camisa social por dentro da calça comprida, usava sapatos pretos e carregava uma pequena maleta. Perdoe-me pela minha grosseira sinceridade, mas parecia que ele tinha os dizeres “testemunha de Jeová” estampado na testa. Não deu outra. No primeiro momento meu instinto era fugir dali, contudo resolvi ficar para ver no que ia dar. Afinal, não devo nada a ninguém. E não havia certeza de que ele ia falar comigo.
Acho melhor eu justificar a minha implicância. Não sou intolerante quanto a credo ou religião alguma. Aceito bem as diferenças. De verdade. O problema é que por anos fui atormentado pelas testemunhas de Jeová batendo no portão da minha casa. Achava isso irritante e desnecessário: posso até estar falando besteira, mas imagino que até mesmo os ateus sabem da existência de Deus. Não é necessário ficar divulgando-o de porta em porta. Sempre tive vontade de dar o troco, seguindo-os até as suas casas para bater nas suas portas em horários inconvenientes do mesmo jeito que faziam na minha. Apesar disso, nunca os tratei com hostilidade. Por vezes quando eu não os ignorava fingindo estar dormindo, eu os atendia. Só que eu me dizia ocupado para escutá-los, mesmo não tendo ocupação alguma no momento. Não me julgue mal. Sei que isso não justifica, mas sei que tem gente que faz coisa pior.


Entretanto tudo isso é passado. Traquinagens de moleque. Não posso negar a minha realidade atual: bem ou mal sou um estudante de jornalismo. Parto do pressuposto de que um dia serei jornalista. Por todas essas longas estradas nas quais adquiri conhecimento que percorri, sempre questionei a utilidade prática de certas coisas que aprendia. Sejamos honestos: existem coisas que estudamos somente para fazer prova e tirar boa nota. No mundo real não possuem valia. Não é o caso do diálogo. Embora eu não tenha a aula ”diálogo” sei que tê-lo constantemente com as pessoas é importante não só para profissão como para vida. Como jornalista devo saber escutar as pessoas mesmo discordando inteiramente das ideias delas. Não custa nada ouvir o outro lado. Estando livre, porque não estabelecer um diálogo com um desconhecido?
Sempre fui bom ouvinte apesar de não falar muito durante as conversas. Por razões desconhecidas as pessoas sentem-se à vontade conversando comigo. Eu devia ser psicólogo. Só não me peçam para guiar os rumos de uma conversa. Se depender só de mim, um bate-papo eventual e não programado se encerra em menos de um minuto. Digamos que eu tenho mais perfil de comentarista do que de apresentador.


Voltando a história, não cedi ao impulso de fugir. O homem aproximou-se, sentou-se do meu lado e começou a conversar comigo. Não demorou muito para ele tirar a Bíblia da sua maleta. Tenho que compartilhar a sensação que tive: acho que o cara resolveu conversar comigo porque pensou que eu era um delinquente que estava ali com a intenção de assaltar alguém. Eu estava de boné, camiseta e bermuda. Mesmo sem essas roupas eu tenho cara de marginal. Ele deve ter pensado que valia a pena tentar me salvar. Ou melhor: salvar outras pessoas de algum mal que eu pudesse cometer a elas. Devo relembrar que estou apenas especulando. Um velho hábito de um misantropo que não confia em ninguém.
Eu lhe ouvi atenciosamente. Para minha enorme surpresa eu lhe escutei sem fazer as minhas caretas de deboche costumeiras. Realmente ele me deu coisas a pensar como a ganância do homem e o individualismo existente na nossa sociedade. Enquanto conversava com ele pude perceber que os seus olhos eram amarelados, já desgastados pelo tempo. Certamente eles viram mais coisas do que os meus. Até por isso eu respeitei o que ele me dizia. Seus olhos me transmitiam maturidade e experiência, coisas que eu, um jovem mancebo, ainda pouco possuo.
Contudo o que mais me impressionou nele foi sua fé. Um homem velho com tanta fé e eu novo sem nenhuma. Ele realmente acredita que um dia teremos o paraíso na terra. O homem me contou a sua história de vida: após anos de serviço e lealdade trabalhando como um bom funcionário, seus antigos patrões lhe demitiram e ele agora luta na justiça pelos benefícios a que tem direito. Em seguida ele me mostrou uma passagem na Bíblia que dizia que um dia a terra seria dominada pelos mansos. Ele acreditava nisso de verdade. Guardei para mim o pensamento de que duvidava que isso fosse se concretizar. Já fui tantas vezes o pacato cara legal que perdeu para gente chamativa, gananciosa e com "sangue nos olhos", que duvido que essa reversão de domínios se realize. Embora eu tenha menos tempo de vida do que aquele homem as minhas experiências me tornaram mais cético do que ele. E pelo visto ele já sofreu mais do que eu por conta de sua serenidade. Por isso sua fé me impressionou bastante.
Outro assunto que chamou a minha atenção na conversa com o homem foi o que ele me disse sobre o diabo. Segundo ele, o tinhoso não aparece para nós na forma vermelha e caricata construída pelo imaginário popular. Ele usa diversos disfarces para nos iludir e seduzir. No momento eu achei aquilo cômico e segurei o meu riso. No dia seguinte, olhando o álbum de fotos de uma bela garota que acabei de conhecer, pude vê-la posando bem sexy numa foto, fantasiada de diabinha. Assustei-me com aquilo. Espero ser apenas coincidência e não um aviso...


Por fim ele me convidou para ir visitar sua igreja. Falei que não estava interessado e ele não insistiu no assunto. Recomendou-me algumas coisas para eu pesquisar na Bíblia por conta própria. Não sei se eu vou fazê-lo algum dia. Só sei que não o fiz nessa semana como disse a ele que faria. O homem se despediu e para meu espanto, foi embora andando lentamente pelo mesmo caminho pelo qual veio. Esperava que ele continuasse em frente para falar com outras pessoas, mas isso não aconteceu. Tive a estranha sensação de que ele havia surgido para falar especificamente comigo.
Devo ter blasfemado em alguns momentos dessa história. Se estivéssemos na Idade Média eu provavelmente estaria queimando em uma fogueira neste momento. Desculpa aí se ofendi a religião de alguém gente. Para não falar mais bobagens foi concluir o texto de uma vez. A verdade é que acredito que algo acontece a nós após a morte. Algo como a incineração ou a reciclagem de nossas almas, reaproveitadas em corpos novos. Talvez até mesmo possamos adquirir a vida eterna no paraíso. No purgatório saberemos a resposta. Tenho a ligeira impressão de que caso eu esteja errado em relação ao meu ceticismo, lá irão me mostrar uma gravação dessa longa conversa que tive com o homem dos olhos amarelados. E para completar um anjo irá me dizer “Você foi avisado, lhe mandamos um mensageiro”.

PS: Perdão por esse hiato inesperado no fim do ano. Andei um pouco ocupado cumprindo as responsabilidades que a vida adulta exigem de mim. Além disso, andei ocupado vivendo. Não posso me esquecer de fazer isso de vez em quando.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Termo Unidimensional

Conheci o termo unidimensional assistindo um filme de comédia. Talvez eu já tenha me deparado com a palavra unidimensional antes, mas creio que nessas oportunidades nunca lhe prestei a atenção adequada. Vendo o filme despretensiosamente, enfim pude captar direito o sentido dessa palavra. Ele se chamava Waiting... e aqui no Brasil, foi lançado com o título A Hora do Rango. Para definir o filme usando poucas palavras, posso dizer que ele é uma comédia B ambientada em um restaurante. Nada de mais, apenas mais um besteirol americano como tantos outros que assisti. Pelo menos cumpriu sua missão. Fez-me rir em alguns momentos.
Em uma das cenas o personagem Bishop, interpretado pelo grande Chi McBride, diz a dois colegas de trabalho do restaurante que eles eram muito unidimensionais. Tais rapazes faziam um tipo bem comum no Estados Unidos: garoto branco com pinta de rapper. Aposto que a imagem do Eminem apareceu na cabeça de vocês. Não estou me referindo a ele e nem desejo criticá-lo (admito: curto muito o seu som), mas para uma melhor compreensão podem usá-lo como referência. Aí já dá para imaginar como eles se comportavam durante o filme: usavam roupas largas, viviam chapados e usavam aquele linguajar típico dos manos do hip-hop. Bishop que era meio que o guru espiritual, o cara sábio do grupo, sintetizou tudo. Eles eram de fato bastante unidimensionais.


Meu interesse aqui é associar o termo unidimensional ao comportamento humano. Logo, usarei esse poderoso adjetivo somente para qualificar pessoas. Dadas as devidas justificativas, vamos a brincadeira.
Comecemos pela terminologia. Unidimensional, uma dimensão. Uma pessoa unidimensional é aquela que vive numa só dimensão, num só mundinho. No exemplo citado, os dois caras estavam o tempo todo com a cabeça voltada ao universo do rap. Minha crítica não está no fato dos caras serem brancos e gostarem de rap. Eles podiam até ser negros, não faria a menor diferença para o assunto que pretendo tratar. Critico apenas o comportamento unidimensional o tempo todo. Só falar daquilo, viver daquilo, respirar aquilo. Nada contra, mas acho que o mundo consegue ser bem maior do que a cultura que um gênero musical específico tem a oferecer. Inúmeras dimensões nos são oferecidas. Dimensões que valem a pena serem exploradas. Para que ficar presa a uma só?


Revelarei um desejo meu: pretendo estudar Psicologia algum dia só pra compreender melhor a alma humana. Apesar de não gostar muito de conviver com as pessoas sou bastante curioso a respeito delas. É por isso que me pareceu interessante discutir sobre comportamentos unidimensionais. Não estou livre disso porque já apresentei esse tipo de comportamento em algumas ocasiões. Mesmo assim, não me considero uma pessoa unidimensional. Não de forma integral. Abomino a unidimensionalidade permanente. Tanto é que já havia reparado que não gostava do comportamento contínuo de algumas pessoas, muito antes de assistir ao filme e prestar atenção nesse adjetivo. O problema é que meu pensamento de repúdio dispersava-se rapidamente por falta de um termo que definisse as situações.
Há tempos eu me incomodava com pessoas que agiam sempre da mesma maneira. Falavam sempre sobre os mesmo assuntos. Conversar com esse tipo de gente me dava uma sensação esquisita de déjà vu. Apesar disso, eu não encontrava uma palavra boa o suficiente para defini-las. Sentia uma certa vergonha dessa minha limitação gramatical. Eu devia ler mais coisas além de quadrinhos e filmes (pornôs) legendados.


Com o termo unidimensional no meu banco de palavras é possível agora, lançar a minha teoria. Ela é aberta, incompleta, inacabada e certamente algum estudioso sabidão já deve ter elaborado um estudo detalhado sobre o assunto. Mas isso não me impede de dizer o que acho, usando apenas as minhas singelas observações de mundo. 
O que não falta é gente unidimensional no mundo. Não sou nenhum gênio por sacar isso. Basta olhar em volta ou lembrar direito de algum conhecido. Duvido que só eu tenha tido um amigo que fala o tempo todo sobre o clube do coração. Ou um que só se interessa por desenhos animados. Que chega até a decorar o tema de abertura dos seus animes prediletos. Os exemplos são variados. Em comum, eles têm o fato de que essas pessoas vestem a camisa dos seus gostos particulares continuamente. Chega uma hora que ela começa a feder, afastando quem está em volta.


Voltarei a usar o exemplo dos rappers do início do texto. O rap se enquadra na categoria música. A música é uma das maiores formadoras de comportamentos unidimensionais no planeta. Estilos musicais distintos moldam comportamentos distintos. Projetam personalidades. Todo mundo conhece um amigo que é aficionado por uma única banda ou gênero musical. Se falarmos perto dele de outra banda ou estilo musical diferente ele já torce o nariz e tenta mudar de assunto, puxando a sardinha para o seu lado, ou melhor, para o seu interesse. Estou aqui no planeta Terra desde os anos 90. Nesse pouco tempo de existência já pude perceber que de vez em quando surge uma modinha musical capaz de proporcionar comportamentos unidimensionais na juventude desmiolada, acrítica e sem personalidade. Já presenciei a época dos pagodeiros, dos micareteiros, dos sertanejos universitários, dos emos de cabelo lambido, dos emos de calça colorida...
Não podia deixar passar a oportunidade de criticar aqui algo que sempre me incomodou muito: comportamento unidimensional nas escolas. Usarei-o como exemplo para falar como um determinado lugar pode invisivelmente direcionar as ações dos seus frequentadores. Algo que sempre me incomodou em instituições de ensino são as infinitas conversas relativas ao ensino. As garotas principalmente vivem iniciando papos chatos sobre tarefas, notas, provas e testes. Os momentos que mais odeio são as ocasiões pós-prova em que as CDFs ficam relembrando todas as questões, como se isso mudasse o resultado final. Tudo bem conversar de vez em quando sobre o ato de estudar, mas fazer isso o tempo todo é um saco mesmo estando num lugar dedicado ao estudo. Me pergunto porque não variar os assuntos pra variar. Serviria para descontrair, aliviar a cabeça. A conversa paralela é boa de vez em quando. Nem sempre ela é um problema. As pessoas deviam parar de se prenderem tanto aos lugares e atividades em comuns na hora de conversar.         

      
Ser unidimensional é se ver limitado por um só interesse, meus caros. Quando o próximo desconhece esse interesse ou simplesmente não se interessa por ele a conversa se torna improdutiva e corre o risco de se encerrar logo. Dependendo da paciência de um ou de outro se encerra até a amizade. Portanto amiguinhos, se algum dia eu lhes chamar de unidimensional, saiba que não estou lhes fazendo um elogio.
Não sei se sou eu que sou rabugento, mas às vezes acho uma chatice esse discurso de afirmação pessoal. É até legal, mas não o tempo todo. Fazer parte de um grupo é bom para a construção da identidade, mas não se deve viver preso integralmente a sua “tribo”, como os professores de Geografia gostam de dizer. Agindo assim corre-se o risco de não ser compreendido ou até mesmo de ser ignorado.
É por isso que pessoas interessantes para mim são aquelas que são imprevisíveis. O privilégio de se conviver com esse tipo de gente é que a qualquer momento elas podem aparecer com algo novo a ser dito ou mostrado, coisas que às vezes não se relacionam diretamente com o lugar que frequentamos, mas que mesmo assim conseguem se mostrar interessantes. Não sei se sou uma pessoa assim, mas tento ser. É por esse motivo que digo tantas frases soltas e incoerentes. Corro o risco de parecer louco, mas acho que a imprevisibilidade sempre vale a pena. Entre o imprevisível e o unidimensional previsível, prefiro a primeira opção.