sábado, 21 de março de 2015

Dias De Ronin

Quando entrei na faculdade me perguntava se estaria empregado ao término do curso. Esse é o objetivo, não? Arrumar emprego? Para isso que passamos anos estudando, prestamos vestibular, e entramos na graduação. Bom, era meu propósito. Queria me formar e após isso poder trabalhar, ser independente, ganhar meu próprio dinheiro, me tornar adulto, enfim trilhar meu próprio caminho. 


Nunca tive ambições acadêmicas. Não queria ser intelectual, nem tinha pretensão de ser chamado de doutor. Era apenas um cara, sem conhecimento técnico sobre nada, que queria aprender uma profissão e arrumar um emprego de nível superior, no qual pudesse trabalhar usando mais o esforço do cérebro do que o do corpo. Sei que um faz parte do outro, mas vocês entenderam o que eu quis dizer.


O tempo passou e o grande dia chegou. Em dezembro de 2014, minhas aventuras universitárias chegaram ao fim, após a defesa da monografia. Missão cumprida. Mas meu objetivo de arrumar um trampo fora conquistado? Não. Tentei, mas não deu. Com a conclusão do curso veio o fim da minha vida de estagiário. Após isso... Bem, na verdade, me encontro neste exato momento. No presente, vivo no mar de marasmo e desesperança chamado desemprego. Sei que não sou o único, mas isso também não me é lá muito confortante. Conheço alguns colegas que estão no mesmo barco. É a história típica de um recém formado, que por falta de vagas no mercado de trabalho sente medo, insegurança e questiona se seus anos de estudo foram em vão. 


Se estou preparado para o próximo desafio? Creio que sim, mas a oportunidade ainda não veio, apesar de procurar por ela. É claro que certos graduandos graças a QI, beleza, sorte, nepotismo, ou, até mesmo mérito, conseguem sair da faculdade empregados. Mas não é meu caso e, obviamente, irei retratar minha experiência. 


Nos primeiros dias de janeiro de 2015, início dessa nova fase, confesso que até curti o ócio devido ao meu cansaço. Estava precisando de umas férias, pois o ano de 2014 foi bastante exaustivo, por conta de estágios e monografia. Tanto é que sequer tive tempo de escrever neste blog. Mas logo os dias começaram a ficar repetitivos e entediantes. Estava sentindo falta de algo.




Inicialmente imaginei que fosse falta de contato humano. Porém, por mais inacreditável que possa parecer, consegui uns encontros com umas garotas. Mesmo acompanhado, algo continuava me incomodando.  O problema não era o vazio da solidão, com o qual já estava acostumado. Sozinho consigo viver, mas entediado não. 




Esse maldito vazio produtivo começou a me incomodar. Uma voz na minha cabeça ficava repetindo em um loop infinito “Give me a mission. I need a mission.”, ironicamente em inglês, visto que não tenho fluência, o que me impossibilita de me candidatar a vagas pró-anglofônicas. Nesse período, tive um sonho em que aparecia uma mulher feliz que me avistava e dizia para me animar e eu respondia "Não preciso de autoajuda, mas sim de um emprego." Pior que o meu eu de carne e osso concordava com sua versão onírica. Logo, precisava fazer algo que me mantivesse ocupado para parar com esses pensamentos em tempo integral, de modo a preservar minha sanidade.



Estava com uma ansiedade tão grande que até tive insônia por um tempo. Se bem creio que isso se devia mais aos dias de calor aqui no Rio do que aos pensamentos constantes em relação a minha situação atual como formado e desempregado. Ou, talvez, fossem as duas coisas. Para solucionar esse problema, comecei a caminhar pelas manhãs. Assim, pelo menos, tinha um motivo para sair de casa e ver outras formas de vida, além claro, de conseguir como benefício manter a forma. Saia tão cedo para caminhar que podia ver o sol nascendo e nisso aprendi que a vida pode ser maravilhosa. Foi uma boa ideia. Gastar toda a energia acumulada me garantiu umas boas noites de sono.


Também desenterrei meu ukulele, que estava empoeirado por um ano, dados os meus compromissos acadêmicos e profissionais. Sozinho, treinei alguns ritmos e aprendi novos acordes, mas música que é bom, nada. Até o momento só sei tocar “Parabéns pra você” e “Brilha brilha estrelinha". Vai demorar até eu poder fazer uns dedilhados que sempre sonhei em fazer.



Já que não sou mais estudante, resolvi também aprender coisas novas com ajuda do YouTube. Afinal, somar novos conhecimentos ao currículo é sempre bom. Ah, e claro, fui em algumas entrevistas de emprego. Afinal quando você esta desempregado todo dia é dia de procurar emprego. Alguns lugares pareciam legais, mas não fui aprovado. Outros não pareciam legais, mas também não fui aprovado. O fato é que a quantidade de vezes em que sai de casa rumo a uma entrevista foi insignificante comparado ao número de e-mails que enviei nos últimos meses. É frustrante não ser aprovado ou chamado.




Por último, minha mais recente atividade anti-ócio foi criar um site, meio que um portfólio, com algumas pérolas da minha vida acadêmica e profissional. Pessoalmente, acho inútil, mas ao menos agora tenho uma página politicamente correta e sem zoeiras para mostrar textos meus discrepantes com o espírito livre que por aqui predomina e que já me colocou em algumas saias justas. Agora, quando algum recrutador me encher o saco pedindo algo que escrevi, mando meu site e pronto: eles tem acesso a tudo que escrevi na vida. Pelo menos o que consegui salvar do limbo dos meus e-mails e notebook.



Estas foram as maneiras que encontrei para preencher meu vazio. Foi o que deu para fazer, considerando minha realidade. Nunca poderia seguir as dicas que certos sites dão para recém-formados, como viajar, aprender idiomas, fazer cursos. Ótimas ideias, mas esquecem que é bem complicado fazer isso sem dinheiro. Pelo visto Lancaster Dodd, personagem de Philip Seymour Hoffman em O Mestre, estava ao sugerir que é impossível viver sem servir a nenhum mestre. Que venha o próximo o quanto antes. Minhas economias estão acabando.



PS: Ronin é um samurai sem mestre.

4 comentários:

  1. Anônimo15/4/15

    D+ o seu retorno, também quero criar um blog, tu ganha dinheiro com ele? Até mais.

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    1. Obrigado! O que é bom sempre volta. rs
      Não ganho dinheiro não. Só escrevo por diversão. Uma boa semana e não deixe de seguir a página no Facebook. ;)

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    2. Anônimo30/4/15

      Não sou materialista, mas um retorno financeiro seria legal. É muito bom ler você, um excelente feriado para nós.

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