domingo, 8 de setembro de 2013

Imersão Literária

Ganhei convites para a Bienal do Livro. Mais uma vez, para variar, convidei pessoas para ir comigo que recusaram ou disseram que iam pensar no caso. Entre a negação e a indecisão, optei por ir só. Melhor do que ficar em casa se lamentando. Fui, sem pensar duas vezes.


Dentro do ônibus, já fui entrando no clima da aventura. O destino da maioria dos passageiros era o mesmo que o meu: a Bienal do Livro, no Riocentro. Como a viagem era longa, resolvi me entreter, escutando a conversa alheia, sem claro, falar nada. Não iria me intrometer na conversa dos outros. Além disso, sempre é bom lembrar que um homem sábio fala pouco e ouve muito. 
Minha atenção se deteve em dois grupos. O primeiro era formado por um cara e uma garota. Não formavam um casal, pois era visível que o cara era gay. O outro grupo era formado por três amigas universitárias. Percebi isso, pois elas conversavam sobre desventuras e trivialidades da vida acadêmica.
Eu tinha a posse de três convites. Um, obviamente, era para mim e os outros dois iriam sobrar, já que fui sozinho. Havia levado os convites extras para dá-los para alguém. Quis fazer uma boa ação, trazer alegria para um transeunte qualquer. Ia dá-los para as meninas, mas como elas eram três e os convites eram dois, resolvi não fazê-lo. Isso poderia criar algum tipo de atrito entre elas. Não seria eu o causador de um racha, em um grupo tão simpático.
A outra opção, até o momento, era o “casal”. Contudo, decidi não presenteá-los. Não eram merecedores. Motivo: estavam caçoando de um colega de trabalho deficiente. Tenho um senso de humor bastante liberal, mas com limites. Não acho engraçado caçoar de um deficiente. Sem contar que o ato foi feito pelas costas. Não me importo se a pessoa é gay ou heterossexual. Se ela agir como babaca, terá meu desprezo. Simples. Não os censurei, mas também não dei a eles meus convites.


Ao chegar ao Riocentro, dei os dois convites sobressalentes para a primeira dupla que avistei. Isso antes de resolver cogitar uma análise minuciosa da alma dos mesmos. Ouvi os agradecimentos que a formalidade e a boa educação exigem. Andei um pouco e enfim adentrei ao evento.
Ao entrar, me surpreendi com o quanto o lugar estava cheio. E olha que era sábado e feriado. Havia muitas pessoas, realmente interessadas em livros. Não sei porquê, mas sempre tive a impressão de que as pessoas liam pouco. Mito derrubado. Além disso, devo admitir, que esboçara estereótipos dos leitores que porventura iria encontrar na Bienal. Imaginava que ia me deparar com um monte de garotas de óculos e cabelo preso, além de uns garotos parecidos com o Harry Potter.


Contudo, havia todo tipo de pessoa: jovens, adultos, crianças, roqueiros, cristãos, hipsters, nerds. Foi a primeira vez que fui a um lugar em que consegui encontrar três pessoas vestindo uma camiseta do Alice in Chains, uma das minhas bandas favoritas. Nada mal para um evento literário e, de certo modo, restrito.


Não que a Bienal seja elitista. O fato é que, no Brasil, um livro custa bem caro e, para mim, não faz muito sentido ir até uma grande feira de livros se você não for comprar nenhum. Deixei de ir ao evento em outras oportunidades por este motivo. Na verdade, eu só havia ido à Bienal do Livro uma única vez, quando era criança. Pelo que me lembro, sequer ganhei um livro. Entretanto, para uma criança, só o passeio já vale a pena. Na Bienal deste ano, por exemplo, vi uma criança feliz contando para mãe que havia visto o Ziraldo e o Mauricio de Sousa.


Porém, devo ressaltar que alguns expositores estavam dando descontos bastante generosos. Comprei dois livros com 20% de desconto cada. Outros, porém, se aproveitaram da ocasião, fazendo propaganda enganosa. Em dado momento do passeio, avistei um stand que dizia vender todos os seus livros com desconto de 50%. Estranhei, pois considerando a oferta, o lugar estava com pouco movimento. Interessei-me por um livro de história do cinema e perguntei o preço. A vendedora disse que custava 80 reais. Com ou sem o desconto estava demasiadamente caro para mim. Meti o pé.
Fui andando pela Bienal e como esperado, me vi cercado de livros por todas as partes. Era impossível fazer uma análise minuciosa de todo lugar, como pretendia. Desisti e fui escolhendo os stands e livros que queria ver por puro instinto. Mesmo assim, me senti desorientado, sem a menor ideia de para aonde ir. Não sou um assíduo frequentador de livrarias. Na verdade, sequer sou um assíduo leitor de livros. Leio muita porcaria, mas só na internet. No presente momento da minha vida, estou tentando fazer as pazes com os impressos, por isso fui à Bienal. Fui sem saber o que queria e acabei comprando dois livros que conhecia apenas de nome. Na próxima vez que eu for, farei uma lista previamente, antes de ir a caça.


Devo destacar que o público de quadrinhos ainda tem grande força. Na Bienal, os stands relacionados a quadrinhos e mangás estavam lotados. A maioria tinha até fila para entrar. Não me surpreende. Quadrinhos e literatura andam lado a lado.
O que estranhei mesmo foi a presença dos stands de algumas empresas na Bienal. Empresas de segmentos incompatíveis com a literatura, como telecomunicações, energia e internet. Quem sou eu para barrar alguém mas o que elas tinham a ver com livros? Tão incoerente quanto a Ivete Sangalo no Rock in Rio. Sem contar o One Direction. Sério: vi One Direction em vários pontos da Bienal do Livro. O que é One Direction? Francamente? Vou soar bobo e infantil com minha resposta clichê, mas ela é sincera: não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. Não tenho mais paciência para discutir certos modismos.
Após ter comprado dois livros, vaguei pelos três enormes pavilhões da Bienal do Livro evento a esmo, sempre esbarrando em um monte de pessoas pelo caminho. Por um lado, isso até que foi bom. Passo tanto tempo trancafiado no meu quarto que, às vezes, acho realmente que sou especial. É bom sair e ficar no meio da muvuca de vez em quando, para ter noção do quão sou insignificante. Tal qual uma formiguinha em um formigueiro. Por essas e outras, sou a favor de experiências coletivas.


Sem contar a questão existencial. Eu existo! Sei disso, porque outras pessoas me viram. Tem dias que me sinto como um fantasma, morto há muito tempo... Dois vendedores me chamaram de “bróder”, provavelmente, por causa da minha atual barba setentista, que remete à blaxpoitation. Outros me chamaram de “professor”, talvez pela boina e óculos que eu estava usando. Por último, um garoto, do nada, veio apertar minha mão e me parabenizar pela camisa do mangá Bakuman, que eu trajava. Não se vê muitas pessoas com uma camisa dessas por ai. Eu pelo menos nunca vi.


Acho que interagi com mais seres humanos em uma tarde na Bienal do que no último mês inteiro na faculdade. Gostei, pretendo voltar. Por motivos literários e não literários. Pena que só daqui a dois anos. Quem sabe, na próxima vez, um livro meu pode estar lá à venda. Quem sabe.

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