sábado, 17 de setembro de 2016

Diário De Bordo

Olá, mundo.
Como estão vocês? Sei que faz tempo que não dou as caras por aqui...
Vamos lá... Por onde começo? 
Em primeiro lugar, como já devem ter percebido, ainda estou vivo, bem e com alguma sanidade, obrigado.
Acredito que faz-se necessário explicar os motivos da minha ausência prolongada. Logo, farei a seguir um resumo do que andei fazendo por aí, dos rumos que andei tomando. Quem sabe, assim talvez eu consiga reencontrar a boa e velha motivação que me impulsiona a estar presente aqui.
 

O ano de 2016 tem sido bem louco para mim. Vivi umas aventuras bem bizarras, que, sem dúvida, dariam ótimas histórias para compartilhadas. Contudo não posso negar que cheguei à vida adulta. Tal destino, inevitável na vida de qualquer homem, envolve responsabilidades e principalmente falta de tempo para fazer várias coisas de que gosto, tal qual escrever em um blog inútil e fantasma que não me dá dinheiro. É preciso ter prioridades e infelizmente, sacrifícios devem ser feitos.
Andei trabalhando (de verdade), o que me deu alguma estabilidade financeira, apesar dos inevitáveis perrengues da profissão que escolhi para exercer no mundo moderno. Além disso, voltei a estudar, o que é engraçado, já que havia dito no dia da defesa da minha monografia, a dois anos atrás, que minhas aventuras acadêmicas tinham chegado ao fim. Mas não irei me desculpar pela minha mentira. O futuro não está escrito. Tenho direito de mudar de ideia quando quiser. Assim o fiz.


Somadas, essas duas atividades têm tomado muito do meu tempo, corpo e mente. Rola um desgaste, o que é natural. Nos fins de semana fico só o osso. Falta-me energia vital. Mal saio; costumo ficar em casa vendo filmes ou lendo livros. Cabe dizer, que nunca li tanto quanto nesse ano. Ler é um prazer que tinha deixado de lado, confesso, já fazia alguns anos. Comprei até uma estante para organizar meus livros novos. Depois disso, diria que minha transição de pseudocult para cult está quase completa. Falta-me assistir filmes franceses com mais frequência.
Além disso, "Tenho ouvido muitos discos. Conversado com pessoas." Resolvi enfim dar uma chance a essa tal de MPB, a qual sempre ouvi falar mas que nunca dei muita bola. Deixei meus álbuns de rock internacional depressivos de lado e passei o ano ouvindo Belchior, Ivan Lins, Roberta Sá, Chico, Gil, Caetano, Djavan, MPB4, Zé Ramalho, dentre outros. Curti. De fato, nosso povo produz grandes artistas e eu devia ter valorizado eles antes. Demorou, mas enfim fiz isso. Inclusive, cheguei a ir alguns shows para prestigiá-los ao vivo.
Também andei conversando com pessoas, por incrível que pareça. Até fora da internet. Embora meu saldo de amizades esse ano tenha ficado negativo (perdi mais amigos do que ganhei), os que ficaram andam bem presentes e significativos. Trocar ideias com os outros é algo que nunca dei muito valor, mas que estou começando a compreender, embora ainda ache muito gente chata (a recíproca se faz verdadeira). Isso não significa que eu tenha me transfigurado de "mudo" para "a alma da festa". Falo só com quem conheço e tenho intimidade e olhe lá. Com o resto do mundo, só respondo por educação mesmo. Ás vezes, nem isso.
Apesar dessas mudanças, no fundo mantive-me o mesmo cara de sempre. Vivo travando as minhas velhas guerrinhas particulares contra a humanidade (e perdendo, é claro). Por exemplo,  esse ano me expulsei de um grupo no Facebook que eu mesmo criei, por mal comportamento, já que havia causado a discórdia, embora eu estivesse com a razão. Resquício das minhas Deloquices juvenis.
É duro ser calmo num mundo que quer te ver com sangue nos olhos. É difícil manter a pose de niilista quando no fundo você se importa, ao passo que quem posa de pró-ativo, às vezes, não quer nada. Vivemos num mundo de aparências. Só tento não deixar ninguém perceber minha verdadeira natureza, caso contrário se aproveitariam disso. Todo mundo quer um herói! Alguém que resolve o problema dos outros em um passe de mágica. Eu evito esse tipo de papel. Só quero uma vida tranquila. Apesar de ficar na minha, não sou nenhum banana. Nunca fui.
Apesar de tudo é preciso continuar. Não sou perfeito, nunca serei, mas posso evoluir mais. Há muito a aprender ainda. Toca o barco.


PS: Sei que o texto dessa semana foi meio vago (considerando até mesmo a falta de critério habitual dos temas deste blog). Prometo que semana que vem escrevo sobre algo "de verdade".

sábado, 5 de março de 2016

A Admiradora Inesperada

Fui assistir no cinema o filme do Deadpool na semana de estreia. Sozinho, mas não por falta de tentativas. Fiz uns convites aqui e ali, contudo só ouvi desculpas esfarrapadas, o velho papo furado de sempre. Sempre me perguntam: "Porque você não convida alguém?". Até convido, porém nem sempre aceitam. Ou enrolam muito. Já perdi muitos programas legais por ficar esperando os outros. Se há algo que todos esses anos da minha existência errática me ensinaram é que não dá para viver aguardando a vontade alheia. Tem horas que você simplesmente deve ir. Mesmo que só.


Fui no sábado. Tijuca. Dia quente. Pelo caminho, as ruas estavam cheias de pedestres. Havia até mesmo rapazes do Exército distribuindo panfletos sobre a prevenção do zika vírus, a praga da vez. Peguei um por mera educação, já que acabei nem lendo. A aventura mal havia começado, mas eu já estava achando o passeio desgastante por conta do calor. Suava igual a um porco. Também, pudera: inventei de ir com calça comprida e uma camisa preta com o logo do Batman. Não sou miliciano não, moçada. Sou apenas mais um fã do Cavaleiro das Trevas. Sei que o Deadpool é da Marvel e o Batman, da DC, mas o que importa? Era só uma camiseta.


Cheguei ao andar onde ficava o cinema, no alto do shopping, e lá, uma fila considerável distanciava-me do meu ingresso. Filas de bilheteria de cinema sempre me causam angústia. Sempre fico paranoico, achando que os ingressos vão se esgotar exatamente na minha vez de comprar, dada a minha sorte. Embora isso só tenha acontecido comigo duas vezes na vida, esse medo é recorrente. Quando você está acompanhado, tudo bem esperar duas horas até a próxima sessão, principalmente se a companhia for boa. Mas quando você está sozinho é preferível ir embora e tentar assistir ao filme outro dia.


Pelo visto, naquele fim de semana, várias pessoas tiveram a mesma ideia que eu e resolveram assistir ao filme do mercenário tagarela. Sofri na fila uns quinze minutos, pois o ar condicionado fraco não estava ajudando muito. Mas enfim chegou a minha vez. Quando a moça da bilheteria (geralmente, a única pessoa a quem dirijo uma palavra nesses passeios solitários) me perguntou qual lugar eu queria, levei um susto. Quase todos tinham sido escolhidos. Só restavam uns quatro pontinhos verdes, indicando que não estavam ocupados, sendo que dois destes eram para deficientes físicos. Acabei optando por um lugar no fundão (O1) e sai satisfeito.


Era tempo de comprar o lanche. Ainda faltava uma hora para começar o filme. Nunca compro nada na bomboniere do cinema já que o preço da pipoca, me perdoem o trocadilho é bastante salgado. O combo com refrigerante sai bem mais caro que o ingresso. Não sou nenhum pão-duro, mas o preço que cobram é uma grana considerável que dá para ser melhor aproveitada comprando mais comida em outro lugar, gastando menos. Além disso, tem o fato de que eu não sou mais estudante. Logo, pelo menos até eu me tornar idoso, tenho que pagar inteira (a menos que me torne um mau exemplo corrupto como você que falsifica carteirinha de estudante). Sendo assim, fui até aquela rede de lojas de varejo que rima com "bananas" comprar algumas porcarias para comer.
Na hora de pagar, deparei-me com outra fila. Dessa vez maior do que a do cinema e com consumidores bem mais agitados e cheios de manias. Uma mulher, que estava atrás de mim, não parava de esbarrar com a bolsa nas minhas costas, como se tal ato birrento e infantil fizesse a fila andar mais rápido. O ar condicionado da loja também não ajudava muito o que me gerava suor, cansaço e estresse. Porém o que me mais me incomodava eram as pessoas. Os ditos consumidores. A classe média em carne viva no seu modo operacional capitalista. Mexiam em cada em cada produto, por mais inútil que fosse, como se fossem crianças encantadas com os diferentes tipos de doce em uma doceria. Além disso, tinha a tal que ficava me esbarrando com a bolsa durante o percurso inteiro.
Tenho um ligeiro problema de raiva que disfarço bem. Entenda: no meu ponto de vista, sou normal, o resto do mundo que é louco. Logo, para não parecer um desequilibrado, tento me controlar. Existe gente de todo tipo e a gente não pode fazer nada, a não ser aceitar. E por mais que às vezes eu não curta o jeito de outra pessoa, tento não estragar o dia de ninguém sendo grosseiro ou inconveniente. Contudo, já estava no meu limite. A situação era uma prova de fogo. Desafiavam a minha paciência. 
Até que chegara a minha vez, mas adivinhem, a caixa deu defeito. O sistema caiu ou algo do tipo. Já irritado, acabei sendo atendido em outro caixa depois da mulher da bolsa, que estava atrás de mim na fila. O operador ainda veio me perguntar se eu queria por o meu CPF na nota fiscal. Sem olhar para ele, só balancei a cabeça negativamente pensando "Por favor, anda logo, quero sair daqui". Com certo esforço, me controlei e não descontei minha raiva no trabalhador, vítima de uma má gerência visível. Com a loja cheia, podiam deslocar mais funcionários para as caixas.
Sai de lá com as minhas gordices em uma sacola, olhei para o relógio e vi que faltavam dez minutos para o filme começar. Subi tranquilo, visto que era lugar marcado. Uma fila bem grande para entrar na sala já havia se formado, o que era natural, já que os ingressos tinham se esgotado. Fui ao banheiro mijar e jogar água no rosto. Voltei para o hall do cinema e a fila ainda não tinha começado a andar. Resolvi encostar-me em uma parede com sombra, longe da claridade, mas fora da fila, de modo que quando ela andasse eu entraria ao final depois de todos que nela se encontrassem. Se não deu para perceber não gosto muito de gente. Procuro me distanciar sempre que possível de muvuca. Gosto de espaço, respirar um ar só meu. Além disso, havia saído sozinho de casa. Ainda tinha que me ver obrigado a ficar em fila vendo casal de namorado se beijar e grupinho de amigos rir? Nada contra, mas bom para eles, não para mim. Só queria ficar em paz, longe da felicidade alheia.
Fiquei na minha, distraído, como quem não quer nada, ouvindo uns sambas do Cartola salvos no celular. Foi aí que do nada observei uma garota que eu nunca havia visto antes na vida andando até a minha direção. Era uma completa desconhecida. Imaginei que ela tivesse me confundindo com alguém, fosse perceber o erro ao chegar perto e recuasse. Ou que fosse alguma maluca esquecível que eu conheci pela internet e que mandei para aquele lugar buscando vingança. Nova, ela parecia ser adolescente. Devia ter de uns 16 anos para cima. Ela era clara, tinha penteado curto, e usava camisa branca e uma saia preta com bordados. Meio indiezinha. Visual pouco convencional para a idade. Nenhuma Audrey Hepburn, mas uma gracinha. Até bonita. Timidamente, ela me disse:
— Eu estava ali na fila com meus amigos te vi e te achei lindo. Posso te dar um abraço?
Fiquei sem reação. Por aquela eu não esperava. Desconfiado ainda, pensei que fosse alguma pegadinha. Mas permiti. Agradeci o elogio. Abracei-a. Imaginei por um segundo que talvez houvesse uma motivação mais obscura, como se ela fosse tentar me esfaquear igual em cenas de traição de filmes épicos ou mesmo colar algum papel com dizeres idiotas nas minhas costas mas acabou que não. Foi só um abraço mesmo.


E ela se foi. Fiquei ali, estupefato, ainda tentando entender a situação. Ao meu lado um casal que observara a cena tentava segurar o riso. A fila andou, perdi ela de vista e acabei entrando depois na sala, depois que a maioria já havia ingressado. Cheguei até a encontrar um conhecido nesses instantes. Tenho uma maldição de shoppings. Sempre que vou a um, encontro algum conhecido. Nem sempre alguém próximo, mas um mero rosto familiar que em algum momento fez parte da minha história, bem, mal ou de forma indiferente.
Enfim entrei para assistir ao bendito filme do Deadpool. Enquanto os intermináveis comerciais e trailers passavam, comecei a analisar seriamente a oportunidade perdida. Até me sentar na poltrona ainda não me tinha caído a ficha. Pensei na burrada que tinha feito. Fui um completo banana. Não falei nada. Um homem com 25 anos na cara e ainda todo sem jeito. Nem para pedir o número da garota ou sequer o básico: ter perguntado o nome dela. A coitada, provavelmente, deve ter se sentido rejeitada. Vivo reclamando de falta de sorte e quando do nada me surge algo real e promissor, jogo essa oportunidade por água abaixo. Lastimável.


Vivo me maldizendo por conta de falta de oportunidades. Deixei uma inédita passar. Sim, admito que nunca antes na vida uma garota se aproximou de mim para fazer qualquer tipo de elogio. Geralmente as desconhecidas (e pensando melhor, as conhecidas também) que se aproximam de mim na rua querem algum tipo de favor, informação ou dinheiro. Nunca houve antes uma admiradora da minha (risadas de fundo de plateia) beleza. Pelo menos, não dessa forma explícita.
Sentando na poltrona de canto de sala, abri o refrigerante e o gás os fez trasbordar melando o chão. Mais uma para somar ao meu festival de trapalhadas do dia. Pensei, "Sou um maldito, essa garota merece coisa melhor". Daí um casal pediu para eu trocar de lugar com eles, para que um senhor pudesse se sentar ao lado do filho. Sem comentar sobre a sujeira que fiz, malandro, aceitei na hora. Acabei vendo o filme em uma cadeira no meio da sala. Um lugar melhor. Não tive culpa: eu estava na minha, eles que fizeram a proposta.
Decerto fora um dia de aprendizados. Às vezes, mesmo em um dia, aparentemente, ruim podem acontecer coisas boas. De onde menos se espera. Tal qual encontrar um copo d'água no meio do deserto. Entendem o que quero dizer? Quanto ao filme, Deadpool, mote da minha aventura, até que foi bom, cumpriu minhas expectativas. Só creio que com o passar dos anos ele vai acabar adquirindo um sentimento nostálgico para mim por conta de toda essa experiência. É capaz de lembrá-lo como "o dia em que deixei ela ir embora". Depois do filme, como um bom stalker, até esperei na saída do cinema com a vã esperança de encontrá-la novamente. Queria ao menos saber seu nome. Pois é, acho que nunca mais.

PS: Me ausentei esse tempo todo porque tava resolvendo coisas da minha vida pessoal. Mas agora vamos lá, semanalmemte, até o fim do semestre com historinhas bem gostosas de se ver. The Pharaoh is back!